Nós sombras, oh, nós sombras!
Sombras de algozes
Agarrados ao pó dos vossos crimes -
Sombras de vítimas
A desenhar o drama do vosso sangue numa parede.
Oh, nós desvalidas borboletas do luto
Presas numa estrela que continua a arder tranquila
Enquanto nós temos de dançar em infernos.
Os nossos titeriteiros já só sabem a morte.
Áurea ama que nos alimentas
Para tal desespero,
Ó sol, desvia a tua face
Pra também nós nos afundarmos -
Ou deixa que sejamos o espelho dos dedos erguidos
Duma criança exultante
E da leve ventura duma libélula
Sobre o beiral dum poço.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 67