(...)
«Quando alguém nos toca
Toca um muro de lamentações.
Como o diamante o vosso lamento corta a nossa dureza
Até que ela cai e se faz coração brando -
Enquanto vós emperdenis.
Quando alguém nos toca
Toca as encruzilhadas da meia-noite
Ressonantes de nascimento e morte.
Quando alguém nos atira -
Atira ao Jardim do Éden -
O vinho das estrelas -
Os olhos dos amantes e toda a traição -
Quando alguém nos atira com ira
Atira leões de corações partidos
E de borboletas de seda.
Cuidado, cuidado
Não atireis com uma pedra em ira -
A nossa mistura está repassada do espírito.
Endureceu no mistério
Mas pode acordar com um beijo.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 69