(...)
«Despedida -
palavra a sangrar de duas feridas.
Ontem ainda palavra de mar
com o navio a afundar-se
como espada no meio -
Ontem ainda palavra trespassada
de morte de estrelas cadentes -
Garganta beijada da meia-noite
dos rouxinóis -
Hoje - dois trapos pendentes
e cabelo humano numa mão em garra
que rasgava -
E nós a sangrar depois -
a esvair-nos de sangue em ti -
mantemos a tua fonte nas nossas mãos.
Nós exércitos dos que se despedem
que construímos a tua escuridão -
até que a Morte diga: cala-te -
mas aqui é: continuar a sangrar!
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 99