«Em O Pobre Tolo, esse autoretrato
de Pascoaes «em desenho de lágrimas e riso» ou «em
trágica ironia de si mesmo», temos o arauto do «Saudosismo»
desencantado da sua aposta na doutrina do renascimento da Pátria
pela via e pela força da «saudade revelada».
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
domingo, 25 de fevereiro de 2018
''Pensar em si e pensar fora de si''
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
«A dificuldade de pensar reflecte-se em certos defeitos
típicos da sua escrita de pensador – alguns dos quais só o são
relativamente ao paradigma científico do discurso filosófico –,
tais como: a falta de rigor lógico, a descontinuidade, a
desarticulação e o desconcerto do discurso; a derivação repentina
e despistante; o pensar anárquico e confuso, tumultuoso e
emaranhado, sincopado e fragmentário; a imprecisão conceptual
e a instabilidade terminológica; o abuso da hipérbole e da
expressão absoluta; a indefinição, a oscilação, a contradição e a
suspensividade; a sobreposição ou a mistura indiscriminada dos
planos epistemológicos e dos registos da linguagem: poético e
filosófico, racional e irracional, físico e metafísico, o dito sublime e o vulgar, o genial e o infantil, o sério e o jocoso.»
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
« Ler
com a preocupação de compreender significou essencialmente, para
nós, explorar hermeneuticamente o sentido dos textos, entendidos
como «terra» onde aquele se enraíza e oculta e de onde se abre para
um «céu» de esplendor e desocultação.»
O Pensamento de Teixeira de Pascoaes
Estudo hermenêutico e crítico .Dissertação de Doutoramento em Filosofia
Apresentada à Faculdade de Filosofia de Braga,
da Universidade Católica Portuguesa ,Braga– 1 9 9 4
“…o poeta deve ser mais um fabulador (fazedor de mitos) do que um versificador (fazedor
de versos); porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações. E ainda que lhe aconteça
fazer uso de sucesso reais, nem por isso deixa de ser poeta, pois nada impede que algumas
das coisas, que realmente aconteceram, sejam, por natureza verosímeis e possíveis e, por
isso mesmo, venha o poeta a ser o autor delas”
Aristóteles, Poética, 1551 a 27, ed. portuguesa, pp. 115-116
Aristóteles, Poética, 1551 a 27, ed. portuguesa, pp. 115-116
“Afirmo por vezes que um poema – eu diria também uma pintura ou uma estátua, mas
não considero artes a escultura e a pintura, apenas trabalho aperfeiçoado de
artesanato – é uma pessoa, um ser humano vivo, pertencente pela presença corpórea e
autêntica existência carnal a outro mundo para o qual a nossa imaginação o projeta e
que o aspecto com que se nos apresenta, ao lermo-lo neste mundo, nada mais é do que a
sombra imperfeita da realidade da beleza que alhures é divina”
Fernando Pessoa, Páginas íntimas e de auto-interpretação. Texto estabelecido e prefaciado por G. R.
Lind e J. do Pardo Coelho. Lisboa, Ática, 1966, p. 139.
(...)
«Preservar de decadência morte e ruína
O instante real de aparição e de surpresa
Guardar num mundo claro
O gesto claro da mão tocando a mesa »
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra poética II, p. 116
«Preservar de decadência morte e ruína
O instante real de aparição e de surpresa
Guardar num mundo claro
O gesto claro da mão tocando a mesa »
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra poética II, p. 116
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Sophia de Mello Breyner Andresen
Provérbio do Malinké
«Um homem pode enganar-se em sua parte de alimento
Mas não pode
Enganar-me na sua parte de palavra»
sábado, 24 de fevereiro de 2018
Os três princípios do Sensacionismo:
1. Todo o objecto é uma sensação nossa.
2. Toda a arte é a conversão duma sensação em objecto.
3. Portanto, toda a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação
(PESSOA, F., 168)
1. Todo o objecto é uma sensação nossa.
2. Toda a arte é a conversão duma sensação em objecto.
3. Portanto, toda a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação
(PESSOA, F., 168)
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«Todas as coisas no mundo exterior têm um paralelo interior. A realidade torna-se
sonho; a acção, inacção; a posse, cansaço; o amor, contemplação. E a forma como o mundo
interior é construído é pelo uso de uma linguagem própria.
O absurdo do mundo é tentarmos perceber o absurdo do mundo. Em vez disso, Pessoa deixa-nos a hipótese de refazermos o mundo, cada um de nós à nossa maneira. Sim, isso implica que nos afastemos do mundo exterior para o mundo interior, mas, no sentido em que nenhum mundo faz sentido, porque é que o mundo exterior é melhor do que o mundo interior?»
Nuno Hipólito.O SENSACIONISMO É UM NÃO-EXISTENCIALISMO (IEMO Grupo Interdisciplinar de Estudos Pessoanos e Modernistas)
O absurdo do mundo é tentarmos perceber o absurdo do mundo. Em vez disso, Pessoa deixa-nos a hipótese de refazermos o mundo, cada um de nós à nossa maneira. Sim, isso implica que nos afastemos do mundo exterior para o mundo interior, mas, no sentido em que nenhum mundo faz sentido, porque é que o mundo exterior é melhor do que o mundo interior?»
Nuno Hipólito.O SENSACIONISMO É UM NÃO-EXISTENCIALISMO (IEMO Grupo Interdisciplinar de Estudos Pessoanos e Modernistas)
Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e
necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a
banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo
para mim por fora. E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para
mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos
Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma
rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem
aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar
diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o
sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem
enigmas, que é o que não pode ter solução .»
(PESSOA, F., Livro do Desassossego p. 350)
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Toda a obra de Pessoa é de base ontológica, desde logo porque se baseou na
criação de personagens que não eram ele e que, como ele próprio disse, retiravam dele as
suas qualidades para o deixar como o resto dessa mesma subtracção. Assim escreve Pessoa
a Casais Monteiro no início de 1935:
[…] pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples.»
(PESSOA, F., 1935)
[…] pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples.»
(PESSOA, F., 1935)
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«O problema central da filosofia é a filosofia que a si própria se põe como
problema.» Por que precisamos de filosofia?
A ideia fundamental do ser, ou da realidade, ou da verdade, eis o que procuramos na Filosofia. A Filosofia é a demanda do ser. O que é o Ser, o que é a realidade? Este é o problema da filosofia»
(PESSOA, F., 1908: 52).
A ideia fundamental do ser, ou da realidade, ou da verdade, eis o que procuramos na Filosofia. A Filosofia é a demanda do ser. O que é o Ser, o que é a realidade? Este é o problema da filosofia»
(PESSOA, F., 1908: 52).
«Eu era um poeta animado pela filosofia, não um filósofo com faculdades
poéticas. Eu adorava admirar a beleza das coisas, delinear –
imperceptivelmente através do assombrosamente pequeno - a alma poética
do universo.
A poesia está em tudo – no mar e na terra, no lago e na margem do rio. Está na cidade também – não o neguem – isto é evidente para mim, aqui sentado: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no ruído dos carros nas ruas, em cada minuto, cada momento comum, no movimento ridículo do trabalhador, que, no lado oposto da rua pinta a placa do talho.»
(PESSOA; F., 1906: 22)8
A poesia está em tudo – no mar e na terra, no lago e na margem do rio. Está na cidade também – não o neguem – isto é evidente para mim, aqui sentado: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no ruído dos carros nas ruas, em cada minuto, cada momento comum, no movimento ridículo do trabalhador, que, no lado oposto da rua pinta a placa do talho.»
(PESSOA; F., 1906: 22)8
«O Existencialismo não foi só de Sartre, mas foi Sartre que o desenvolveu
tecnicamente e lhe deu relevância e credibilidade. Antes dele, Kierkegaard e Nietzsche
tinham-lhe dado início e génio. Vejamos que o Existencialismo não é uma escola do PósGuerra,
antes uma teoria que nasce na viragem do Século XIX para o Século XX. Kierkegaard
morre em 1885 e Nietzsche em 1900. Enquanto escola de pensamento, o Existencialismo
revolta-se contra o papel do individuo diluído e oprimido pela sociedade e pela religião e
só depois se desenvolve para dar o papel principal ao próprio indivíduo – desta forma
impondo o subjectivismo ao objectivismo da escola Positivista.»
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«O Existencialismo é um Humanismo»
Jean-Paul Sartre, L'Existentialisme est un humanisme, Nagel, 1946
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
«Com tanto coração entre as mãos
e tanta
apavorada solidão!»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 369
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«É somente
um homem sem trabalho.
Algo que nada conta e a que ninguém
grita: »
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 369
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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
«Teu sangue é a manhã que nunca mais termina.»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 361
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«Os beijos florirão
sobre as almofadas.»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 361
sobre as almofadas.»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 361
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«os mais obscuros mortos anseiam levantar-se»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 359
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«Atirai para as margens do vosso coração,
o sentimento medido, os afectos parciais.»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 359
o sentimento medido, os afectos parciais.»
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 359
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« os beijos não se acumulam em tua boca
angustiada de já tanto os conter »
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 354
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verso solto
«Não há extensão maior que esta ferida »
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 354
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«Como o touro, nasci só para o luto »
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 351
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''areia amarga''
Miguel Hernandez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 350
«dá-me a tua mão, sim, dá-me a tua mão quer na vida quer na morte,
assim na terra como no céu.»
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 341
assim na terra como no céu.»
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 341
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''É O MEDO À DOR E NÃO A DOR QUE COSTUMA TORNAR-NOS
ASSUSTADOS E CRUÉIS,''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 340
ASSUSTADOS E CRUÉIS,''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 340
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''a dor é lei da gravidade da alma''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 340
(...)
«quero dizer que a dor é uma longa viagem,
é uma longa viagem que nos aproxima sempre onde quer que vás,
é uma longa viagem, com estações de regresso,
com estações que não voltarás nunca a visitar,
onde nos encontramos com pessoas, imprevistas e casuais, que ainda não
[sofreram.
As pessoas que não conhecem a dor são como igrejas por benzer,»
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 341
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''Se o coração perdesse o fundamento''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 338
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«Há homens que se enterram somente
para que os pisem; (...)»
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 337
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''E EIS QUE ERA A SOLIDÃO MINHA ÚLTIMA TENTAÇÃO''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 337
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''praia de solidões onde o céu e o mar fossem estátuas''
Luis Rosales. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 334
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domingo, 18 de fevereiro de 2018
Antologia Palatina, VII. 286:
“Infortunado Nicanor, consumido pelo mar espumoso, jazes, nu, numa praia estrangeira, ou nalgum rochedo; partindo, perdeste aquelas ricas moradas, bem como a esperança da pátria, Tiro. Nenhum dos teus bens te foi entregue. Ai, infeliz, estás morto, sofrendo com os peixes e com o mar.”
“Infortunado Nicanor, consumido pelo mar espumoso, jazes, nu, numa praia estrangeira, ou nalgum rochedo; partindo, perdeste aquelas ricas moradas, bem como a esperança da pátria, Tiro. Nenhum dos teus bens te foi entregue. Ai, infeliz, estás morto, sofrendo com os peixes e com o mar.”
Antologia Palatina, IX. 95:
“Coberta pelos flocos da neve invernal, uma galinha envolvia os filhos, no ninho, com as asas, até que o frio a matou. Na verdade, permanecia ao frio, fazendo frente às nuvens do céu. Procne e Medeia, vós que fostes mães, envergonhai-vos, no Hades, ao saberdes das acções das aves.”
“Coberta pelos flocos da neve invernal, uma galinha envolvia os filhos, no ninho, com as asas, até que o frio a matou. Na verdade, permanecia ao frio, fazendo frente às nuvens do céu. Procne e Medeia, vós que fostes mães, envergonhai-vos, no Hades, ao saberdes das acções das aves.”
Antologia Palatina, VII. 351:
“A ti, que tremeste diante do dever, a tua própria mãe, que te tinha dado a vida, Demétrio, deu-te a morte, enterrando um ferro no fundo dos teus flancos. E agarrando o ferro molhado, cheio do sangue do filho, dizia, rangendo ruidosamente os dentes espumosos, olhando com ar irritado como uma Lacedemónia: «Deixa o Eurotas e vai para o Tártaro! Já que conheceste a miserável fuga, não és meu filho, nem Lacedemónio!»”
“A ti, que tremeste diante do dever, a tua própria mãe, que te tinha dado a vida, Demétrio, deu-te a morte, enterrando um ferro no fundo dos teus flancos. E agarrando o ferro molhado, cheio do sangue do filho, dizia, rangendo ruidosamente os dentes espumosos, olhando com ar irritado como uma Lacedemónia: «Deixa o Eurotas e vai para o Tártaro! Já que conheceste a miserável fuga, não és meu filho, nem Lacedemónio!»”
Antologia de Planudes, 133:
“Porque elevas para o Olimpo, mulher, uma mão impudente, deixando cair piedosamente de uma ímpia cabeça a cabeleira? Vendo com inquietação, ó mãe de inúmeros filhos, toda a cólera de Leto, chora agora a tua disputa amarga e insensata. Das tuas filhas, uma palpita perto de ti, outra jaz sem vida, a uma outra, ainda, ameaça a dura morte. E este ainda não é, para ti, o fim dos sofrimentos: jaz também o enxame viril dos teus filhos mortos. Ó tu, que choras a desgraçada descendência, que te possas tornar numa pedra sem vida, Níobe, atormentada pela dor.”
“Porque elevas para o Olimpo, mulher, uma mão impudente, deixando cair piedosamente de uma ímpia cabeça a cabeleira? Vendo com inquietação, ó mãe de inúmeros filhos, toda a cólera de Leto, chora agora a tua disputa amarga e insensata. Das tuas filhas, uma palpita perto de ti, outra jaz sem vida, a uma outra, ainda, ameaça a dura morte. E este ainda não é, para ti, o fim dos sofrimentos: jaz também o enxame viril dos teus filhos mortos. Ó tu, que choras a desgraçada descendência, que te possas tornar numa pedra sem vida, Níobe, atormentada pela dor.”
a “Literatura é, por excelência, uma riquíssima galeria de afirmações temperamentais”
Carlos Selvagem, “Literatura e
Política (meditação à margem)”
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
MUTISMO DE PABLO
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318
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«Não se fez o povo para o ministro mas o ministro para o povo »
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318
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«Não se fez o doente para o médico mas o médico para o doente »
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 318
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''Não se fez o homem para a cidade mas a cidade para o homem''
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317
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verso solto
«(...)
deixamo-nos morrer para que outros ocupem as mesmas privações nos mes-
[mos lugares.
Somos sempre os mesmos e estamos enterrados todos juntos, quietos, não
[muito fundos,»
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317
deixamo-nos morrer para que outros ocupem as mesmas privações nos mes-
[mos lugares.
Somos sempre os mesmos e estamos enterrados todos juntos, quietos, não
[muito fundos,»
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 317
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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
«Pois cada um de nós - o seu viver difícil - não faz falta
se ficam as palavras.»
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 315
se ficam as palavras.»
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 315
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QUE BEM SEI O QUE ANSEIO
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 314
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«Aquelas mãos frias que tudo guardavam »
Luis Felipe Vivanco. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 314
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domingo, 11 de fevereiro de 2018
«Nunca pude esquecer seus lisos ombros »
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 310
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IMPROVISO N.º 3
(México)
Um dia ver-nos-emos entre os mortos,
mas para além dos mortos, luz escassa
para rememorar sobre este mundo
perdurável: os montes soalheiros,
os mares refulgentes e as nuvens
que andam vogando pelos céus perfeitos
de teu país. Falar é sempre terno
se houver com quem. Uma vida inteira
sem esperança ergue-se dos lábios
como um viveiro de rosas refugiado
sob zimbros antigos. Quanta invicta
decadência. Pensemos no amanhã
nutrindo-nos de ontem. Teu corpo longe
com a madeixa escura sobre o alto
paredão da tua fronte, também rosa
à sombra pausada de ti mesmo.
E eu sem ti e sabendo-te no mundo
quase só com o tempo necessário
para ferir-me e fugir. Colher a rosa
ou deixá-la emurchecer na haste
do seu ensimesmamento? Quem soubera!
Viver é cometer aqueles erros
que nunca humanamente se reparam.
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 309
Um dia ver-nos-emos entre os mortos,
mas para além dos mortos, luz escassa
para rememorar sobre este mundo
perdurável: os montes soalheiros,
os mares refulgentes e as nuvens
que andam vogando pelos céus perfeitos
de teu país. Falar é sempre terno
se houver com quem. Uma vida inteira
sem esperança ergue-se dos lábios
como um viveiro de rosas refugiado
sob zimbros antigos. Quanta invicta
decadência. Pensemos no amanhã
nutrindo-nos de ontem. Teu corpo longe
com a madeixa escura sobre o alto
paredão da tua fronte, também rosa
à sombra pausada de ti mesmo.
E eu sem ti e sabendo-te no mundo
quase só com o tempo necessário
para ferir-me e fugir. Colher a rosa
ou deixá-la emurchecer na haste
do seu ensimesmamento? Quem soubera!
Viver é cometer aqueles erros
que nunca humanamente se reparam.
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 309
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«(...) Só um cigarro
é então, nas mãos laboriosas
ao enrolar-se e acender-se, um passatempo
subtil, um abandono reflexivo,
um desertar que ninguém nos censura,
e com os olhos claros recolhemos
a música, o fragrante privilégio
da estação, a água, chove, chove,
suave e firmemente, e nós fumamos,
enquanto o pensamento se aprofunda,
se faz distante, ausente, perdidiço,
e fora vai chovendo lentamente
e ficamos mais isolados, mais absortos:
um ser dono de tudo, um não ser nada.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 308/9
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''porque a vida é isso, força cega''
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 307
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verso solto
«(...)
baixo os olhos
e pousa-se o coração como uma ave
nos laboriosos campos delicados
da cor do mel,
olho mais fundamente
e quase já não vejo outra carícia
que não seja a beleza.
É o silêncio
o que me impregna inteiro esta distância,
de onde as coisas se incorporam
à sua divindade.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 306/7
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« Olho as alturas
e só vejo o sol omnipresente
a estender-me as mãos luminosas
como qualquer enamorado.
A vida ou nada.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 306
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«(...) o homem cala-se.
Já não são as palavras docemente
o que quer dizer os seus suspiros,
nem o rumor desta brisa matutina
que lhe recorda tanto o outro tempo
de sua felicidade e suas mágoas;
já não é ele quem dirige, já não quer
nem sabe possuir: são os enigmas
falando por si sós, »
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 305
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REQUINTE DO CAMPO
As pedras colocadas sobre as pedras
e em cima desse muro primitivo
uma oliveira branca.
Não sei porque será que certas coisas
que nada dizem quase,
que bem analisadas não são coisa
digna de nada,
causam no meu ânimo um fluxo
de inextinguível paz.
Dir-se-ia que minhas raízes sinto
dentro desses contornos depurados
que não são nada,
dentro dessa velhice
de tão firme humildade
como se uma incitação familiar
ali me retivesse.
Algo como uma voz que me dissesse
de dentro de mim mesmo:
esta fé encantadora
é a pobreza.
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 304
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«(...)
Por isso digo:
Isto será preciso para mim?
Não se poderá buscar outra grandeza?
Ser homem terá de ser isso somente,
alguém que vai deixando no seu banho
a pele antiga?
Que deixou de ter cheiro de pessoa,
de ter o cheiro da humanidade?
Porque se confundiu com a higiene
tal desamor? Não quero confundir-me.
Não quero nada, nada, dessas gentes
que me rodeiam. Quero um fogo santo.
Quero crer, crer, em quanto quero
crer, na amizade, nesse privilégio
desta ambição humana de ser homem.
Crer nesta luz da minha consciência
que nunca deixa, nunca, de alumiar-me,
como uma tocha viva, como um dardo
que acabam de lançar cada manhã
de sobre uma açoteia silenciosa.
Quero crer que está repleto o homem
de um projecto divino e misterioso,
de um projecto que não estará jamais escrito
em nenhuma parede, crer que existe
a razão de viver humanamente
sem que nos mande ninguém, sem que ninguém
levante mais a voz, crer que é verdade
que cada homem é dono de si mesmo
qual de uma parte umbrosa e pensativa:
crer em mim.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 303
Por isso digo:
Isto será preciso para mim?
Não se poderá buscar outra grandeza?
Ser homem terá de ser isso somente,
alguém que vai deixando no seu banho
a pele antiga?
Que deixou de ter cheiro de pessoa,
de ter o cheiro da humanidade?
Porque se confundiu com a higiene
tal desamor? Não quero confundir-me.
Não quero nada, nada, dessas gentes
que me rodeiam. Quero um fogo santo.
Quero crer, crer, em quanto quero
crer, na amizade, nesse privilégio
desta ambição humana de ser homem.
Crer nesta luz da minha consciência
que nunca deixa, nunca, de alumiar-me,
como uma tocha viva, como um dardo
que acabam de lançar cada manhã
de sobre uma açoteia silenciosa.
Quero crer que está repleto o homem
de um projecto divino e misterioso,
de um projecto que não estará jamais escrito
em nenhuma parede, crer que existe
a razão de viver humanamente
sem que nos mande ninguém, sem que ninguém
levante mais a voz, crer que é verdade
que cada homem é dono de si mesmo
qual de uma parte umbrosa e pensativa:
crer em mim.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 303
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«(...), começam outros
que chegam a roer com novo afinco
as migalhas do queijo amarelento
que tresanda a morte. Morte, morte,
é tudo quanto vemos nas mãos
da avidez. A morte é a senhora
deste enxame de moscas enlutadas
que tudo consomem como um sopro
que a ninguém redimiu.
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 302
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um osso miserável: a riqueza
«(...) O pobre, o poderoso,
a dama e o bobo, quatro cães lebreiros
farejam desde a noite ao amanhecer
o mesmo bocado evanescente,
um osso miserável: a riqueza.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 302
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«A grande cidade é selva e apenas selva.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 301
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verso solto
«Porque todos os convidados dos cocktails dos Chamberlayne se esquecem absolutamente de que há muito mais gente, cá fora da sala de estar, com razões de ser próprias que excedem qualquer pretexto de escapatória espalhafatosa para as psicoses dos Chamberlayne e anexos. Sob o ponto de vista de cada uma das personagens centrais da peça, as outras são pretextos de evasão à vacuidade própria; o casal necessita mesmo de se sentir incompatível, afectivamente divorciado, como justificação de experiências, aparentemente convictas, que cada qual procura fora da vida conjugal.»
Irene Gaspar in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 124
Irene Gaspar in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 124
«Eliot recorta a sua profissão de fé num fundo de quotidiano contemporâneo. Honra lhe seja. E não há dúvida que consegue uma profunda sugestão dramática de dois dos seus grandes tópicos poéticos: a vacuidade interna e a solidão externa das relações humanas (neste caso, as mais íntimas possível, as relações de cônjuges) quando representadas abstractamente, fora do contexto de um ideal criador.»
Irene Gaspar in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 115
« Virginia Woolf foi, como se sabe, a delicada prosadora que, sob influência de Bergson e Proust, introduziu na literatura inglesa o romance introspectivo de captação da «corrente de consciência» e do ritmo essencial do Tempo...Mas os seus problemas específicos de mulher, embora educada em círculos selectos, sugeriram-lhe preocupações que transcendiam muitas vezes a análise desproporcionadamente introspectiva de «To the Ligththouse» ou « The Waves».
Tradução de Irene Gaspar. A Irmã de William Shakespeare in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 118
''(...) uma língua precisa e clara para se entender e fazer entender-se.''
Alberto Machado Cruz. Cultura Portucalente in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 116
«(...)à hereditariedade, segundo esses, deveriam os portugueses a incapacidade de concentração, a tibiesa da vontade, e ao clima, depressivo e ameno, o culto da facilidade e a incapacidade de esforços longos.»
«Mas há também o autêntico doente do perfeccionismo: o que não tendo recebido uma formação sólida, adquire uma falsa noção do desenvolvimento do saber, tudo quer abarcar e nada chega efectivamente a realizar, inibido em face das tarefas demasiado ambiciosas que se propõe, esquecendo o verdadeiro método de conhecimento por aproximações sucessivas. Este tipo adquirirá facilmente o complexo de tímido e do falhado, o que nunca sucederia se tivesse sido enquadrado num sistema de trabalho de objectivos modestos mas seguros e equilibrados.»
Rodrigo Bastos. Panorama: Difusão, Perfeccionismo e Ignorância in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 115
Rodrigo Bastos. Panorama: Difusão, Perfeccionismo e Ignorância in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 115
''A energia criativa que existe na rua não deve ser perseguida, mas sim integrada. Por vezes essa energia acaba por se dissipar apenas por não existir interlocução. ''
Vhils, em entrevista ao Jornal Público, 2018
Vhils, em entrevista ao Jornal Público, 2018
''A credibilização da arte urbana parece ocorrer a duas velocidades. Por um lado o universo canónico da arte tolera-a, mas ainda não a aceita totalmente. Por outro assiste-se a alguns efeitos perversos da sua disseminação, como a promoção de um tipo de muralismo ornamental sem conteúdo e até a aproveitamentos políticos na forma como se deseja melhorar a imagem de alguns bairros, sem que seja garantida a qualidade de vida dos habitantes.
Tudo isso é verdade. Existem alguns aproveitamentos políticos e haverá um excesso de eventos relacionados com essas práticas, mas também existem muitos bons exemplos de como se pode operar. O que noto é que claramente se abriu uma porta para que uma série de artistas que começaram a operar no espaço público validem o seu trabalho o que é mais do que legítimo. Independentemente desses desvios, tem-se vindo a conseguir que uma série de artistas encontrem o seu espaço, sendo parte da solução e não o problema, para a forma como o espaço público é experimentado. Nitidamente hoje existem várias tribos urbanas que podem contribuir de forma positiva para pensar a cidade, estabelecendo pontes e diálogos que há dez anos não existiam. A força da arte em espaço público é essa – alertar e criar relações, ligações e pontes entre pessoas e lugares muito diferenciados, promovendo a compreensão e até a auto-estima no caso de alguns lugares. Agora, como é evidente, tudo o que se fica pela mera fachada, não interessa muito. De qualquer forma se estamos aqui a questionar alguns destes processos é porque eles levantaram questões, independentemente de alguns erros. É preciso estar alerta, mas também não devemos temer a hipótese do erro.''
Vhils, em entrevista ao Jornal Público, 2018
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"The Angry Man of Jazz"
Charles Mingus
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«(...) as lógicas económicas, urbanistas e territoriais têm pontos em comum, com o capital no centro de tudo isso.)
Vhils, Jornal Público, 2018
Vhils, Jornal Público, 2018
sábado, 10 de fevereiro de 2018
TESTAMENTO
Lego aos meus amigos
um azul cerúleo para voar alto
um azul cobalto para a felicidade
um azul ultramarino para estimular o espírito
um vermelhão para fazer circular o sangue alegremente
um verde musgo para acalmar os nervos
um amarelo ouro: riqueza
um violeta cobalto para sonhar
um garança que faz ouvir o violoncelo
um amarelo barite: ficção científica, brilho, resplendor
um ocre amarelo para aceitar a terra
um verde veronese para a memória da primavera
um anil para poder afinar o espírito pela tempestade
um laranja para exercer a visão de um limoeiro ao longe
um amarelo limão para a graça
um branco puro: pureza
terra de siena natural: a transmutação do ouro
um preto sumptuoso para ver Ticiano
uma terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra
uma terra de siena queimada para noção de duração
Maria Helena Vieira da Silva
Lego aos meus amigos
um azul cerúleo para voar alto
um azul cobalto para a felicidade
um azul ultramarino para estimular o espírito
um vermelhão para fazer circular o sangue alegremente
um verde musgo para acalmar os nervos
um amarelo ouro: riqueza
um violeta cobalto para sonhar
um garança que faz ouvir o violoncelo
um amarelo barite: ficção científica, brilho, resplendor
um ocre amarelo para aceitar a terra
um verde veronese para a memória da primavera
um anil para poder afinar o espírito pela tempestade
um laranja para exercer a visão de um limoeiro ao longe
um amarelo limão para a graça
um branco puro: pureza
terra de siena natural: a transmutação do ouro
um preto sumptuoso para ver Ticiano
uma terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra
uma terra de siena queimada para noção de duração
Maria Helena Vieira da Silva
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''Olhar para Dentro
Muito antes de a consciência do corpo e as relações entre mulheres e homens se terem tornado temas centrais da vanguarda artística internacional, Maria Lassnig decidiu fazer do seu corpo o foco da sua arte. O objectivo principal da sua “consciência do corpo” era dar forma visual às sensações corporais e explorar a percepção corporal. De forma humorística e séria ao mesmo tempo, plena de anseio mas impiedosa, a artista passou para o papel a percepção que tinha de si própria. Lassnig visualizava assim o que sentia. “Pintamos como somos”, afirmou a artista, confirmando a forma contraditória como conduzia um diálogo incondicional com as realidades externa e interna.
Os retratos que Lassnig insistentemente criava nos seus tempos de estudante, já revelavam o seu notável talento: um olhar questionador – agudamente perceptivo, impiedosamente crítico – dominava claramente estes auto-retratos e iria acompanhá-la durante décadas de trabalho. O auto-retrato, um género com longa tradição na história da arte a que Lassnig iria dar dimensões inteiramente novas, continuaria a ser o principal tema da artista.
Logo nos finais da década de 1940, Lassnig começou a criar as suas primeiras peças de “consciência do corpo”, a que a princípio chamou “experiências introspectivas”. Ao colocar o corpo feminino no centro do trabalho criativo, antecipou outros percursos semelhantes, tanto na Europa como na América. A sua linguagem simbólica e contorno de linhas não só definiram as formas dos objectos, mas rapidamente começam a comunicar tensão de uma forma extremamente poderosa e concentrada.
Artista-como-Sismógrafo
Maria Lassnig reagiu ao confronto radical com os movimentos internacionais contemporâneos – que se seguiu ao isolamento artístico da Áustria durante a Segunda Grande Guerra, período durante o qual Lassnig era ainda estudante – explorando, de forma entusiástica, conceitos que eram novos para ela: o uso intenso da cor, o Cubismo, o Surrealismo e – a partir de 1951 – a Arte Informal, todos deixaram marcas óbvias nas obras de Lassnig. Depois de ter ido viver para Paris, em 1960, Maria Lassnig libertou-se de restrições estilísticas e começou a pintar obras figurativas, em grande formato, onde a “consciência do corpo” era já um indício da abordagem que adoptaria em obras tardias.
No final da década de 1960, Lassnig mudou-se para Nova Iorque. O palpitante meio artístico da cidade, as posturas feministas e os grupos artísticos presentes, estimulam-na a seguir novos caminhos: fez filmes de animação onde usou desenhos de “consciência do corpo” para processar acontecimentos, anseios e experiências da sua vida privada. Em 1980, depois de uma estadia em Berlim, a artista—na altura com 60 anos—aceitou um convite da Universidade de Artes Aplicadas de Viena para ensinar Teoria do Design – Design Experimental na área da pintura. No regresso a Viena, para assumir o cargo, a sua pesquisa sobre a sensação corporal alargou-se às redes neurais. Os seus trabalhos descrevem com clareza a tensão interna que lhe permitia reagir como um sismógrafo.''
Cerca de 50 desenhos e aguarelas da artista austríaca Maria Lassnig, vão ser mostrados em Lisboa, no Museu Vieira da Silva
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