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sábado, 10 de fevereiro de 2018



''Olhar para Dentro

Muito antes de a consciência do corpo e as relações entre mulheres e homens se terem tornado temas centrais da vanguarda artística internacional, Maria Lassnig decidiu fazer do seu corpo o foco da sua arte. O objectivo principal da sua “consciência do corpo” era dar forma visual às sensações corporais e explorar a percepção corporal. De forma humorística e séria ao mesmo tempo, plena de anseio mas impiedosa, a artista passou para o papel a percepção que tinha de si própria. Lassnig visualizava assim o que sentia. “Pintamos como somos”, afirmou a artista, confirmando a forma contraditória como conduzia um diálogo incondicional com as realidades externa e interna. 

Os retratos que Lassnig insistentemente criava nos seus tempos de estudante, já revelavam o seu notável talento: um olhar questionador – agudamente perceptivo, impiedosamente crítico – dominava claramente estes auto-retratos e iria acompanhá-la durante décadas de trabalho. O auto-retrato, um género com longa tradição na história da arte a que Lassnig iria dar dimensões inteiramente novas, continuaria a ser o principal tema da artista.

Logo nos finais da década de 1940, Lassnig começou a criar as suas primeiras peças de “consciência do corpo”, a que a princípio chamou “experiências introspectivas”. Ao colocar o corpo feminino no centro do trabalho criativo, antecipou outros percursos semelhantes, tanto na Europa como na América. A sua linguagem simbólica e contorno de linhas não só definiram as formas dos objectos, mas rapidamente começam a comunicar tensão de uma forma extremamente poderosa e concentrada.


Artista-como-Sismógrafo

Maria Lassnig reagiu ao confronto radical com os movimentos internacionais contemporâneos – que se seguiu ao isolamento artístico da Áustria durante a Segunda Grande Guerra, período durante o qual Lassnig era ainda estudante – explorando, de forma entusiástica, conceitos que eram novos para ela: o uso intenso da cor, o Cubismo, o Surrealismo e – a partir de 1951 – a Arte Informal, todos deixaram marcas óbvias nas obras de Lassnig. Depois de ter ido viver para Paris, em 1960, Maria Lassnig libertou-se de restrições estilísticas e começou a pintar obras figurativas, em grande formato, onde a “consciência do corpo” era já um indício da abordagem que adoptaria em obras tardias.

No final da década de 1960, Lassnig mudou-se para Nova Iorque. O palpitante meio artístico da cidade, as posturas feministas e os grupos artísticos presentes, estimulam-na a seguir novos caminhos: fez filmes de animação onde usou desenhos de “consciência do corpo” para processar acontecimentos, anseios e experiências da sua vida privada. Em 1980, depois de uma estadia em Berlim, a artista—na altura com 60 anos—aceitou um convite da Universidade de Artes Aplicadas de Viena para ensinar Teoria do Design – Design Experimental na área da pintura. No regresso a Viena, para assumir o cargo, a sua pesquisa sobre a sensação corporal alargou-se às redes neurais. Os seus trabalhos descrevem com clareza a tensão interna que lhe permitia reagir como um sismógrafo.''


Cerca de 50 desenhos e aguarelas da artista austríaca Maria Lassnig,  vão ser mostrados em Lisboa, no Museu Vieira da Silva

Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva


“Maria Lassnig – Ver não é tão importante como sentir”

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