(México)
Um dia ver-nos-emos entre os mortos,
mas para além dos mortos, luz escassa
para rememorar sobre este mundo
perdurável: os montes soalheiros,
os mares refulgentes e as nuvens
que andam vogando pelos céus perfeitos
de teu país. Falar é sempre terno
se houver com quem. Uma vida inteira
sem esperança ergue-se dos lábios
como um viveiro de rosas refugiado
sob zimbros antigos. Quanta invicta
decadência. Pensemos no amanhã
nutrindo-nos de ontem. Teu corpo longe
com a madeixa escura sobre o alto
paredão da tua fronte, também rosa
à sombra pausada de ti mesmo.
E eu sem ti e sabendo-te no mundo
quase só com o tempo necessário
para ferir-me e fugir. Colher a rosa
ou deixá-la emurchecer na haste
do seu ensimesmamento? Quem soubera!
Viver é cometer aqueles erros
que nunca humanamente se reparam.
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 309
domingo, 11 de fevereiro de 2018
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