domingo, 24 de março de 2013
«A maior parte das pessoas só morre no último momento; outras começam a fazê-lo e a agarrar-se a isso com vinte anos de antecedência e às vezes mais. São os felizes do mundo.»
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 46
Nesta profissão de sermos mortos
«Nesta profissão de sermos mortos não devemos mostrar-nos difíceis; temos de proceder como se a vida vá continuar, o mais duro é isto, esta mentira.»
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 45
«Mas a partir de Outubro acabaram-se de vez as pequenas abertas e a geada tornou-se cada vez mais espessa, densa, mais tuberosa, recheada de granadas e balas. Depressa entrámos em plena borrasca, e aquilo que procurávamos não ver, a nossa própria morte, surgia em cheio à frente e já não conseguíamos ver mais nada.»
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 43/44
«Fazia-se bicha para ir morrer. O próprio general já não encontrava acampamentos sem soldados. Acabávamos por nos deitar em pleno campo, generais ou não. Os que ainda tinham um resto de sentimento, perderam-no.»
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 41
Miosótis
«Flor Miosótis significa recordação, fidelidade e amor verdadeiro. É também conhecida como “Não-me-esqueças.»
(...)
«Segundo a lenda europeia, o jovem apaixonado era um cavaleiro que ao tentar apanhar a flor Miosótis para oferecer à sua amada, caiu no rio e se afogou devido ao peso da armadura que usava. Desde então, a flor simboliza o amor sincero e desesperado.
A explicação do nome "não-me-esqueças" da flor pode ser explicada por algumas lendas. Uma delas diz que num belo dia de Primavera, dois jovens apaixonados se encontravam à margem de um rio. Nas águas turbulentas, a jovem avistou um ramo de miosótis flutuando e ficou maravilhada pela beleza da flor. O seu amado, mergulhou então para apanhar as flores e oferecê-las à sua namorada. No entanto, quando tentou voltar para a margem, foi arrastado pela forte correnteza. Esta lenda conta que pouco antes de desaparecer ele gritou para a sua amada: "Não me esqueça, me ame para sempre!". A partir desse dia a flor miosótis passou a crescer nas margens dos rios, para que mais ninguém tivesse que morrer por sua causa.
Uma outra lenda conta que Adão, quando estava no Jardim do Éden dando nome às plantas, esqueceu-se de uma planta muito pequenina, que interpelou Adão para saber qual seria o seu nome. Adão então disse que seria “Não-me-esqueças”, para que ele nunca mais a esquecesse.
A flor Miosótis (Não-me-esqueças) é conhecida também em outras línguas como: “Forget-me-not” (Inglês), “Vergissmeinnicht” (Alemão), “Nomeolvides” (Espanhol), “Nontiscordardimé” (Italiano).
A flor Miosótis foi utilizada como emblema secreto da Maçonaria, para que os maçons pudessem se identificar durante as perseguições às lojas maçônicas na Alemanha.
É uma flor que simboliza a caridade e a fraternidade.
Dizem que as lágrimas derramadas nas pétalas pela Virgem Maria deram a cor azul à flor. Existem Miosótis também nas cores branca e rosada. São plantas rasteiras que se dão bem em baixas temperaturas e surgem na primavera.»
trouxe-mouxe
elemento da locução adverbial
a trouxe-mouxe a torto e a direito, confusamente, a esmo, atabalhoadamente
sábado, 23 de março de 2013
Um minuto de silêncio
"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver.
23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse e... Foi assim."
(Traduzido por Rodrigo Robleño)
23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse e... Foi assim."
(Traduzido por Rodrigo Robleño)
sexta-feira, 22 de março de 2013
AVES CLANDESTINAS
Há aves de quem nos queremos lembrar
ou que nunca vimos, aves desempossadas
cobertas por campanários de literatura
Aves clandestinas numa curva adjacente
imponderadas pelo desgaste das palavras
como veias carregadas de tinta subversiva
Aves que espalhavam ideias como sangue
e escondiam tipografias por turnos
na encenação decisiva dos incêndios
Tiago Patrício. O Livro das Aves. Edições Quasi, 2009,.p. 42
«O sol não nascera. O mar apenas se distinguia do céu pelo leve preguear das águas, semelhantes a um tecido finamente enrugado. Lentamente, à medida que o céu clareava, uma barra de sombra desceu no horizonte, separando o céu do mar, e o grande tecido cinzento ficou marcado por grossas linhas que se agitavam sob a superfície, perseguindo-se num ritmo infindável.
Ao aproximarem-se da praia as ondas erguiam-se, tomavam forma e desfaziam-se arrastando pela areia um ténue véu de espuma branca. A ondulação detinha-se, partia de novo, suspirando como alguém que dorme e cujo sopro vai e vem sem que a sua consciência o saiba. Pouco a pouco, a barra escura do horizonte clareou como as impurezas de um vinho antigo que se depositassem numa garrafa, deixando transparecer o seu vidro. Lá ao fundo, também o céu se tornou translúcido, como se nele se houvesse desprendido um sedimento branco, ou o braço de uma mulher reclinada no horizonte erguesse ao alto uma lâmpada. Faixas de branco, amarelo e verde alongaram-se sob o céu como longas folhas de um leque. Depois a mulher ergueu a lâmpada ainda mais alto: o ar inflamado pareceu cindir-se em fibras vermelhas e amarelas, elevando-se da superfície verde num frémito ardente, como as chamas envoltas em fumo de uma fogueira. Pouco a pouco, todas as fibras se fundiram numa única massa incandescente e o cinzento do céu transformou-se num milhão de átomos de um suave azul. A superfície do mar tornou-se transparente e as grandes linhas escuras quase desapareceram no ondular das águas e na sua cintilação. O braço que sustinha a lâmpada continuou a subir devagar até que uma grande labareda surgiu.
Um disco de fogo ardeu no rebordo do horizonte e o mar à sua volta tornou-se um esplendor de ouro.
A luz feriu as árvores no jardim, e as folhas agora transparentes iluminaram-se uma a uma. Um pássaro cantou alto. Houve uma pausa. Depois outro pássaro retomou, mais baixo, o mesmo canto. O Sol deu contornos às paredes da casa e poisou como a ponta de um leque numa persiana branca, deixando uma dedada de sombra azul sob a folhagem próxima da janela de um quarto. A persiana estremeceu ao de leve, mas dentro de casa tudo permaneceu vago e sem substância. Lá fora, os pássaros cantavam as suas melodias vazias.»
Ao aproximarem-se da praia as ondas erguiam-se, tomavam forma e desfaziam-se arrastando pela areia um ténue véu de espuma branca. A ondulação detinha-se, partia de novo, suspirando como alguém que dorme e cujo sopro vai e vem sem que a sua consciência o saiba. Pouco a pouco, a barra escura do horizonte clareou como as impurezas de um vinho antigo que se depositassem numa garrafa, deixando transparecer o seu vidro. Lá ao fundo, também o céu se tornou translúcido, como se nele se houvesse desprendido um sedimento branco, ou o braço de uma mulher reclinada no horizonte erguesse ao alto uma lâmpada. Faixas de branco, amarelo e verde alongaram-se sob o céu como longas folhas de um leque. Depois a mulher ergueu a lâmpada ainda mais alto: o ar inflamado pareceu cindir-se em fibras vermelhas e amarelas, elevando-se da superfície verde num frémito ardente, como as chamas envoltas em fumo de uma fogueira. Pouco a pouco, todas as fibras se fundiram numa única massa incandescente e o cinzento do céu transformou-se num milhão de átomos de um suave azul. A superfície do mar tornou-se transparente e as grandes linhas escuras quase desapareceram no ondular das águas e na sua cintilação. O braço que sustinha a lâmpada continuou a subir devagar até que uma grande labareda surgiu.
Um disco de fogo ardeu no rebordo do horizonte e o mar à sua volta tornou-se um esplendor de ouro.
A luz feriu as árvores no jardim, e as folhas agora transparentes iluminaram-se uma a uma. Um pássaro cantou alto. Houve uma pausa. Depois outro pássaro retomou, mais baixo, o mesmo canto. O Sol deu contornos às paredes da casa e poisou como a ponta de um leque numa persiana branca, deixando uma dedada de sombra azul sob a folhagem próxima da janela de um quarto. A persiana estremeceu ao de leve, mas dentro de casa tudo permaneceu vago e sem substância. Lá fora, os pássaros cantavam as suas melodias vazias.»
quinta-feira, 21 de março de 2013
OS PINTASSILGOS DE MIRANDELA
Nasci numa casa com gaiolas brancas
espalhadas pelo Verão
Era o meu pai vivo e o meu avô estival
entrava pela hora mais terna
enquanto encarregado das gaiolas
e a minha infância inteira decrescia
no canto da casa dos pássaros
O alpendre era de uma inclinação natural
com avô e pássaros encostados à sombra dos álamos
e as gaiolas casas que os abrigavam
do frio, da fome e dos gatos bravos
A minha alegria era quente como a terra
e contava ensinar ao meu filho bisneto
a tracção pelos grilos, caracóis
e pintassilgos na doçura das borboletas
Em Mirandela havia um vale junto a um rio
com pomares e o cheiro de figos fáceis
Os pintassilgos divididos na abundância
eram como crianças atrás das amoras
que inspiram as flores de uma música sucessiva
O Pintassilgo é a mais bela ave silvestre
e se não pudesse manter as gaiolas em casa
era como se não houvesse onde permanecer
Eles amotinavam-se nas minhas barbas
desalojam corvos e os dragões dos poemas
fazem a tarde parecer tão antiga e adormecer
como a infanta primavera em que o meu avô
era o estio e os bisnetos existiam mesmo
e os nossos olhos acariciavam os pássaros,
que é tão tarde agora para dizer aqueles que morriam
exaustos a contar os meses atrás das grades
Tiago Patrício. O Livro das Aves. Edições Quasi, 2009,.p. 33/4
espalhadas pelo Verão
Era o meu pai vivo e o meu avô estival
entrava pela hora mais terna
enquanto encarregado das gaiolas
e a minha infância inteira decrescia
no canto da casa dos pássaros
O alpendre era de uma inclinação natural
com avô e pássaros encostados à sombra dos álamos
e as gaiolas casas que os abrigavam
do frio, da fome e dos gatos bravos
A minha alegria era quente como a terra
e contava ensinar ao meu filho bisneto
a tracção pelos grilos, caracóis
e pintassilgos na doçura das borboletas
Em Mirandela havia um vale junto a um rio
com pomares e o cheiro de figos fáceis
Os pintassilgos divididos na abundância
eram como crianças atrás das amoras
que inspiram as flores de uma música sucessiva
O Pintassilgo é a mais bela ave silvestre
e se não pudesse manter as gaiolas em casa
era como se não houvesse onde permanecer
Eles amotinavam-se nas minhas barbas
desalojam corvos e os dragões dos poemas
fazem a tarde parecer tão antiga e adormecer
como a infanta primavera em que o meu avô
era o estio e os bisnetos existiam mesmo
e os nossos olhos acariciavam os pássaros,
que é tão tarde agora para dizer aqueles que morriam
exaustos a contar os meses atrás das grades
Tiago Patrício. O Livro das Aves. Edições Quasi, 2009,.p. 33/4
cabotino
nome masculino
1. cómico ambulante
2. actor pouco competente na sua profissão
3. figurado indivíduo que alardeia qualidades que não tem
(Do francês cabotin, «idem»)
«(...)»
Mas por vezes o travesso vento primaveril,
Ou a combinação das palavras num livro de acaso,
Ou o sorriso de alguém puxavam-me de repente
Para a vida que não se realizou.
Nesse ano teria acontecido isso e aquilo,
Nessoutro - isto: viajar, ver, pensar
E lembrar, e em novo amor
Entrar, como num espelho, com a consciência obtusa
Da traição e com, ainda ontem não a tinha,
Uma pequena ruga...
Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992.
3
Anoitece, e no céu azul muito escuro
Onde há pouco a igreja de Jerusalém
Resplandecia com misteriosa magnificiência,
Apenas duas estrelas sobre a confusão dos ramos,
E a neve esvoaça de algures sem ser do alto,
Mas como se da terra se erguesse,
Preguiçosa, terna, com cautela.
O meu passeio foi-me estranho nesse dia.
Quando saí, ofuscou-me
O limpo reflexo sobre coisas e rostos,
como se por todo o lado as pétalas pousadas
Dessas rosas pouco grandes amarelo-rosadas,
Cujo nome eu esqueci.
O frio ar seco e sem vento de Inverno
De tal modo acariciava e guardava cada som
Que me parecia: o silêncio não existe.
E na ponte, pela balaustrada ferrugenta
Enfiavam as mãos com pequenas luvas
As crianças, para alimentar patos sôfregos e matizados
Que mergulhavam na brecha cor de tinta.
E eu pensei: não pode ser
Que um dia eu esqueça isto.
E se um caminho difícil está à minha frente,
Eis um leve peso, que posso
Carregar comigo para na velhice, na doença,
Quem sabe, na miséria - recordar
O pôr do sol exaltado, e a plenitude
Das forças da alma, e o fascínio da vida querida.
1914-1916
Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 47
carpideira
nome feminino
1. pessoa a quem se paga para chorar os defuntos durante os funerais
2. figurado mulher que anda sempre a lastimar-se
3. figurado lamúria; choradeira
1. pessoa a quem se paga para chorar os defuntos durante os funerais
2. figurado mulher que anda sempre a lastimar-se
3. figurado lamúria; choradeira
«Desgraçados dos que possuem o juízo todo.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 477
COMO SE
meia-noite no quarto a luz pisca
abro esta janela para mim
o sonho bruxuleia quase extinto
faço como se não tivesse frio
faço tudo como se fosse amanhã
porquê acreditar quando se discursa
porquê acreditar que aqui agora é Verão
a palavra esquarteja-se na minha boca
juntam-se estorninhos por cima de mim
-céus o que eu também estou a dizer -
só aranha caça moscas de Outono
será que alcanço uma morte digna
1974
Pátkai Tivadar.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 47
Luto Branco
a Cskonai Attila
Acumula-se, como nos lábios fria
nicotina, nos arbustos o amarelo de morte,
em roto casaco as árvores envoltas:
nevoeiro: - luto branco do nosso parque!
Os lagos são máscaras de prata geladas,
como a calma no rosto de minha mãe!
Distintivos - murchar das folhas, das equimoses
na folhagem do bosque, no meu rosto.
Unha escavadora, a Lua sob os olhos nossos;
flores do Dia dos Mortos:
caem-nos crisântemos nos braços
-consoladores!- na neve dos nossos ossos!
Troncos em fila para um Deus severidade,
pensamentos desarmados
-deforma-se a máscara de prata do lago:
degelo - soluça síroco.
Calma severa no rosto de minha mãe;
planta árvores de folha-distintivo
na colina sagrada de crisântemos:
que eles se elevem aos país-ave.
E acumula-se ainda, como nos lábios fria
nicotina, nos arbustos o amarelo de morte,
e em roto casaco as árvores envoltas
-nevoeiro! - luto branco do nosso parque!
Géczi János.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.23
quarta-feira, 20 de março de 2013
«-A pobreza precisa de alegria, meu filho - disse a velha. - A dor necessita de distracção, senão devora-nos. Mais vale nós a devorarmos.- Enquanto falava, batia com o punho numa pedra. - A mim, que estou a divertir-me, a Morte já me fez sobrer bem. Como vingar-me daquele miserável?
já não posso conceber filhos, senão ela havia de ver.»
já não posso conceber filhos, senão ela havia de ver.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 437
«Morremos por ser homens sem lenda, sem grandeza, sem mistério», dirá por sua vez o próprio Céline. E talvez seja esta a fonte das desgraças do homem moderno.
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 13
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Viagem ao fim da noite
bípedes em busca de uma côdea
«Céline fala pelos não-judeus e faz-se vítima: « Nada tenho de especial contra os Judeus enquanto judeus, ou seja, galfarros como os outros bípedes em busca de uma côdea...Não me incomodam nada. Um judeu vale tanto como um bretão, assim em bloco, em igualdade de circunstâncias, como um tipo de Auvergne, um franco-monhé, um 'filho de Maria''...É possível...Contra o racismo judaico é que me revolto, é que sou mau e fervo até às profundezas das cuecas!...Vocifero! Faço estrondo! parêntesis Para o Judeu, lembrem-se disto...quem não for judeu é animal!»
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10
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Viagem ao fim da noite
Louis-Ferdinand Céline
«Mas em Céline, homem de obcecações e ódios irreprimíveis, nunca existiu meio termo. Céline não hesitou em mostrar-se desabrido e fanático.»
Aníbal Fernandes
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10
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Viagem ao fim da noite
tartufo
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tartufo
nome masculino
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)
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tartufo In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-20].
Disponível na www:
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tartufo
nome masculino
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)
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tartufo In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-20].
Disponível na www:
nome masculino
indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)
terça-feira, 19 de março de 2013
CADA VEZ MAIS LINDO
O espelho de gelo todo ensanguentado
significa amor
distância
o pátio da prisão
coberta de neve
vejo
o luar desenterrado
e cai cai
sobre a minha sombra
cai a neve sem parar
Biró József.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.15
''a noite de LUAR cheira a PÃO''
Biró József.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.13
«Colocou palavras milagrosas
No tesouro da minha memória.»
Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 43
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poetas acmeístas russas.,
versos soltos
3
SOMBRA
Que sabe certa mulher
Sobre a hora da morte?
O. Mandelshtam
Sempre mais elegante, mais rosada, mais alta que todas,
Para que vens ao de cima do fundo dos anos tombados
E a memória rapace diante de mim faz tremular
O teu perfil transparente por trás dos vidros do coche?
Como se discutia nessa altura - tu, anjo ou pássaro!
Uma pequena palha te chamou o poeta.
Para todos por igual através das negras pestanas
Dos olhos em abismo fluía a terna luz.
Oh sombra! Perdoa-me, mas o tempo claro,
Flaubert, a insónia e os lilases tardios
De ti - bela de 1913 -
E do teu dia indiferente e sem nuvens
Me fizeram lembrar ...Mas tais recordações
A mim não me ficam bem. Oh sombra!
9 de Agosto de 1940. De noite.
Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 33
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poetas acmeístas russas.
AOS DEFENSORES DE ESTALINE
São estes que gritavam «Solta
Barrabás para nós na festa», estes
Que mandaram a Sócrates beber
Veneno na estreiteza muda da prisão.
Despejar-lhes a mesma bebida
Na boca inocentemente difamatória,
A estes queridos amantes das torturas,
Peritos na fabricação de órfãos.
1962
Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992
sábado, 16 de março de 2013
Homem cretense
«Haviam-se sentado num banco. «Como te chamas?», indagou o rapaz. «Noémia». «Fala, Noémia, a vida deve ser-te difícil. Tem confiança em mim, sou cretense.» «Que é isso de cretense?» « Um homem ardente.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 415
«A vida é curta, digamos o que temos a dizer enquanto é tempo.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 414
sexta-feira, 15 de março de 2013
quarta-feira, 13 de março de 2013
«Nunca encontrei uma rapariga que soubesse o que é a música...»
Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 19
«Cesare Pavese, um homem em busca da Morte.»
Manuel de Seabra no prefácio
Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 10
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Cesare Pavese,
escritor,
poeta italiano
Consulta o teu coração e decide o que te parecer melhor.
«Lê esta carta e faze o que Deus te inspirar. Não há esperança. Ainda desta vez se luta para nada. Consulta o teu coração e decide o que te parecer melhor.»
Franziu as sobrancelhas, o lábio superior arregaçou-se-lhe, descobrindo o dente rebelde.
«Grande desgraça há-de haver se consultar o coração», resmungou. «O mundo explodirá».
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 376
Franziu as sobrancelhas, o lábio superior arregaçou-se-lhe, descobrindo o dente rebelde.
«Grande desgraça há-de haver se consultar o coração», resmungou. «O mundo explodirá».
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 376
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Nikos Kazantzakis
títere
nome masculino
1. boneco que se move por meio de cordéis e articulações; marioneta
2. figurado, pejorativo pessoa que se deixa manipular por outrem; bonifrate
3. popular aquele que gosta de provocar o riso; palhaço; bufão
4. popular janota; casquilho
(Do castelhano títere, «idem»)
«-Compreendi que, tendo-se medo de qualquer coisa, seja um leão, ou um homem, ou uma miragem, nos devemos lançar de cabeça, sempre em frente. Logo o medo desaparece. Deixa-nos e vai pegar-se a outro, ao leão, ao homem, ou à miragem. Eis aqui o segredo.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 356
«(...) - Causo-te repugnância, Cate? - disse-lhe baixo, troçando. Sentiu-se apanhada de surpresa e baixou os olhos e a voz. - Porquê? - balbuciou, ela que só truncava as conversas.
-Éramos novos, - recordei. - As coisas nunca acontecem a tempo.»
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa,
p. 154
«-Este governo, - continuava o velho, - não pode durar mais.
-Mas é por isso que dura. Todos dizemos «Está morto» e ninguém faz nada.
- Tu que dizes? Que é que se há-de fazer? - perguntou Cate muito séria.
Calaram-se todos e olharam-me.
- Matar, - disse. - Tirar-lhes o poder. Continuar a guerra aqui em casa, enquanto aquelas cabeças não mudarem. Só ficarão tranquilos quando sentirem as bombas.»
-Mas é por isso que dura. Todos dizemos «Está morto» e ninguém faz nada.
- Tu que dizes? Que é que se há-de fazer? - perguntou Cate muito séria.
Calaram-se todos e olharam-me.
- Matar, - disse. - Tirar-lhes o poder. Continuar a guerra aqui em casa, enquanto aquelas cabeças não mudarem. Só ficarão tranquilos quando sentirem as bombas.»
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa, p. 150
«É idiota não nos vermos quando temos esse direito (É melhor queimar depois o papel.) Desejava conhecê-lo e ter consigo uma franca conversa. Passe no domingo pela estrada da montanha e sente-se no muro do último atalho. Saudações de solidariedade.»
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa,
p. 98
«Era doce o barulho da chuva.»
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa, p. 95
indócil
revérbero
revérbero In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-13].
Disponível na www:http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/rev%C3%A9rbero
nome masculino
1. | ato ou efeito de reverberar; reflexo luminoso; resplendor |
2. | parte do forno que faz refletir o calor |
3. | lâmina metálica curva, refletora |
4. | aparelho destinado à iluminação da via pública |
(Derivação regressiva de reverberar)
revérbero In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-13].
Disponível na www:
Uma rapariga como outra qualquer
«-Tão-pouco julgava, desculpe, que você se entendia com Concia.
Giannino ficou um pouco taciturno e voltou aos vidros.
-Uma rapariga como outra qualquer, - disse finalmente. - Mas é muito ignorante. O velho tirou-a do carvoeiro. A velha Spanó
queria apanhá-la em casa.
- É arrogante?
-É uma criada.
-Mas é bem feita, à parte o focinho.
- Diz bem, - anuiu Giannino pensativo. - Esteve tanto tempo nos estábulos a guardar porcos, que tem um pouco o focinho dos animais.
Éramos crianças quando andávamos com o velho Spanó pela montanha, e ela levantava a saia para sentar a pele nua sobre a erva, como os cães. Foi a primeira
mulher que toquei. Sobre as nádegas tinha calo e crosta. »
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa., p. 67
Elena
«Stefano gostaria que ela viesse de manhã e lhe entrasse na cama como uma mulher e não como um sonho que não pede palavras nem compromissos. As pequenas demoras de Elena, a excitação das suas falas, a sua presença simples, davam-lhe desejos.»
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa, p. 39
sábado, 9 de março de 2013
«Todos vós, pessoas importantes e ajuizadas,
sujais as calças com medo.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 156
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Nikos Kazantzakis
o olho de vidro
«O capitão Elias era também um sobrevivente da revolução de 1821, espécie de torre fendida e coberta de ervas, empoleirada num monte, sem portas nem janelas, com as seteiras em ruínas. As balas tinham-lhe transformado em crivo o corpo atarracado. Falava com voz selvática, tonitruante. Um simples bom-dia bastava para assustar. Certo paxá arrancara-lhe o olho de vidro, o primeiro que apareceu em Creta. Era com esse olho que ele fitava as pessoas que não lhe agradavam. Mas, nas horas solenes, tirava-o, punha-o num copo de água e apresentava-se unóculo perante Paxá ou o Metropolita, para lhes lembrar (diziam) a revolução de 1821. Zarolho nesse dia, encaminhava-se para casa de Metropolita, entre dois outros notáveis e apoiando-se pesadamente à bengala.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 148/9
A FIDELIDADE DAS PALAVRAS
A fidelidade das palavras
já não sonho com ela, vão
e vêem, fogem, troçam,
que terias, se não fôssemos nós,
na tua boca branca de calcário, na tua
língua seca, selas zumbem, sibilam,
até eu lhes dizerm a essas traidoras,
sonoras, ciciadas, mudas, que seríeis
vós se eu não insistisse
em seguir-vos o rasto leviano?
Hans-Ulrich Treichel. Como se fosse a minha vida. Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1993) revista, completada e apresentada por João Barrento. Quetzal Editores., p. 58
já não sonho com ela, vão
e vêem, fogem, troçam,
que terias, se não fôssemos nós,
na tua boca branca de calcário, na tua
língua seca, selas zumbem, sibilam,
até eu lhes dizerm a essas traidoras,
sonoras, ciciadas, mudas, que seríeis
vós se eu não insistisse
em seguir-vos o rasto leviano?
Hans-Ulrich Treichel. Como se fosse a minha vida. Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1993) revista, completada e apresentada por João Barrento. Quetzal Editores., p. 58
PRIMEIRO AMOR
Uma boca que me tocava
Que me arrastava para as silvas
Aqui decapitei borboletas e moscas
Enterrei sob a erva daninha três desejos
Frios de gelo só eu os conheço
Hans-Ulrich Treichel. Como se fosse a minha vida. Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1993) revista, completada e apresentada por João Barrento. Quetzal Editores., p. 56
quinta-feira, 7 de março de 2013
DESCOBERTA
Sentir? Nunca senti nada
Manhã nem noite
Alguma vivi
Sangro de uma ferida inventada
Que em mim próprio abri
Nada me vai ferir do que fizerdes
Nem o beijo nem o pontapé
Que podeis dar-me
Se em mil pedaços me despedaçardes
Eu é que não vou dilacerar-me
Hans-Ulrich Treichel. Como se fosse a minha vida. Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1993) revista, completada e apresentada por João Barrento. Quetzal Editores., p. 46
NAS MARGENS DO DORDOGNE
Os cães uivam
chamam a noite. Com todo
o desespero dos animais.
O rio arrasta-se até
às estrelas. Nós pomos
as pedras no barco.
Hans-Ulrich Treichel. Como se fosse a minha vida. Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1993) revista, completada e apresentada por João Barrento. Quetzal Editores., p. 43
«O sofrimento mais profundo, o tédio, (...)»
Hans-Ulrich Treichel. Como se fosse a minha vida. Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1993) revista, completada e apresentada por João Barrento. Quetzal Editores., p. 32
REGRAS DA CASA
Nunca omitir os infortúnios
e contar cada história até
ao fim. Tapar com panos
os espelhos; facas debaixo
da mesa. Consolar a coruja e
trinchar o morcego.
Nunca perder a raiva, aconteça
o que acontecer. Deixar entrar
quem quer que seja.
Hans-Ulrich Treichel. Como se fosse a minha vida. Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1993) revista, completada e apresentada por João Barrento. Quetzal Editores., p. 16
terça-feira, 5 de março de 2013
Epicuro (341-270 a.C)
"Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, igualmente, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que Deus não os impede?"
Ésquilo (525-456 a.C.)
O Pai da Tragédia
"O dever do poeta, diz Ésquilo a respeito do mito de Fedra, é ocultar o vício, não propagá-lo e trazê-lo à cena. Com efeito, se para as crianças o educador modelo é o professor, para os jovens o são os poetas. Temos o dever imperioso de dizer somente coisas honestas".
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Em cada instante ele morria e, no entanto não conseguia morrer.
«Uma dor infinita tinha expressão no cansaço e lassidão dos seus movimentos. Não estava morto, mas não era vivo, não era velho, mas também não era novo. A mim parecia-me ter centenas de milhares de anos, mas também me parecia que devia estar vivo eternamente, e eternamente morto-vivo. Em cada instante ele morria e, no entanto não conseguia morrer.»
Robert Walser. O passeio e outras histórias. Granito Editores e Livreiros, 1ª edição, Porto, 2001, p., 45
«Naquele Inverno tinha havido pouco peixe. A aldeia das
dunas tinha ficado despovoada. Os tectos de zinco e palha deixavam entrar a
chuva. Um dia, o mar invadiu a taberna. Eu bebia aguardente. Segurei-me a uma
mesa de junco, e conheci N. Andava nua nas noites de temporal. Os barcos
conheciam-na. O último olhar dos afogados ia para ela.»
Nuno Júdice. Poesia Reunida. 1967-2000 Prefácio de Teresa
Almeida. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 65
longas pestanas orvalhadas
«A viúva ergueu os olhos de longas pestanas orvalhadas e fitou-o. Queria interrogá-lo e tinha medo, ouvi-lo e sentia vergonha.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 67
«(...) Mastrapas libertou o infeliz marido, que ela todas as noites prendia a uma coluna do leito, por era ciumenta e receava (oh, conhecia bem os homens!) que ele se escapulisse à socapa e fosse encontrar-se na cozinha com a gorda Amezina, de úberes de vaca. Amarrava-o à hora de se deitarem e desatava-o quando ele queria ir urinar durante a noite. Mas levava ainda a corda em volta do tornozelo, enquanto a mulher segurava a outra ponta, bem apertada na mão, com medo que o marido se desviasse do bom caminho.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 50
timorato
adjetivo
1. que receia ofender alguém
2. tímido
3. que receia errar ou falhar; cuidadoso; escrupuloso
4. receoso; medroso
(Do latim timorātu-, «idem»)
«Em que mundo estonteante vivemos, ou vamos viver, se a
comunidade, os cidadãos e a opinião pública não só admitem, mas, infelizmente,
ainda aplaudem abertamente o que ofende a sensibilidade requintada, o sentido do gosto, da beleza e
da mediania, o que se impõe de forma doentia e, dando-lhe um ar ridiculamente
acanalhado como que brada a mais de cem metros em redor, aos quatro ventos: ‘’Eu
sou fulano tal. Tenho tanto e tanto dinheiro e posso permitir-me dar nas vistas
com grosseria. É claro que, com as minhas exibições de fausto idiota, não passo
de um labrego e dum simplório sem sensibilidade; mas ninguém pode proibir-me de
ser grosseiro e presunçoso’’. Será que os caracteres dourados, brilhando e
refulgindo ao longe de forma ignóbil, mantêm alguma relação aceitável e
sinceramente plausível, ou algum laço de parentesco normal – com o pão? De modo
nenhum! Mas o que acontece é que a odiosa jactância e a ostentação já começaram
um pouco por toda a parte e, com uma
lamentável e terrível inundação, foram sempre acumulando progressos, arrastando
consigo a insensatez, a impureza e a tolice, espalhando-as pelos quatros cantos
do mundo, até que levaram na maré o meu honrado padeiro, corrompendo-lhe o bom
gosto que até então manifestara e minando a sua tradicional modéstia. Não
hesitaria em dar muito, em sacrificar mesmo o meu braço ou a minha perna
esquerda, se assim pudesse contribuir para recuperar o antigo e bom sentido da
probidade, a antiga e boa fragilidade, se pudesse devolver ao país e às pessoas
aquela modéstia e honradez que, com pesar de todos os que sinceramente se
importam, se perderam consideravelmente. Maldita seja a mórbida fantasia de se
querer parecer mais do que se é. »
Robert Walser. O passeio e outras histórias. Granito Editores e Livreiros, 1ª edição, Porto, 2001, p., 31/32
frugalidade
nome feminino
1. moderação na alimentação
2. temperança; sobriedade
3. simplicidade de costumes
(Do latim frugalitāte-, «idem») frugalidade
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
ÁRIA I
Para onde quer que nos voltemos na tempestade de rosas,
a noite iluminava-se de espinhos, e o trovão
da folhagem, antes tão leve nos arbustos,
segue-nos agora de perto.
Onde quer que se apague o incêndio das rosas,
a chuva inunda-nos o rio. Oh, noite tão distante!
Mas uma folha que nos encontrou é levada pelas ondas
e segue-nos até à foz.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 93
XV.
Tem o seu triunfo a morte, o amor é festejado,
e o grande Tempo e o tempo futuro.
A nós nenhum triunfo é dado.
À nossa volta só um afundar de astros. Eco de luz, sem voz.
Mas, sobre o pó, a canção do futuro
soará além de nós.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 85-87
Tem o seu triunfo a morte, o amor é festejado,
e o grande Tempo e o tempo futuro.
A nós nenhum triunfo é dado.
À nossa volta só um afundar de astros. Eco de luz, sem voz.
Mas, sobre o pó, a canção do futuro
soará além de nós.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 85-87
VI.
Instruída no amor
por dez mil livros,
ensinada pela transmissão
de gestos pouco mutáveis
e juras tolas –
mas só aqui
iniciada no amor –
quando a lava descia
e o seu bafo nos tocava
no sopé do monte,
quando por fim a cratera exausta
revelou a chave
para estes corpos fechados –
Entrámos em quartos amaldiçoados
e iluminámos o escuro
com as pontas dos dedos.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 85-87
SOMBRAS ROSAS SOMBRAS
Sob um céu estranho
sombras rosas
sombras
numa terra estranha
entre rosas e sombras
numa água estranha
a minha sombra
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 81
*
Quando alguém parte, tem de deitar
ao mar o chapéu com as conchas
apanhadas ao longo do Verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o resto de vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar bem a faca nas ondas
e afundar o sapato,
coração, âncora e cruz,
e ir-se com o cabelo ao vento!
Depois, regressará,
Quando?
Não perguntes.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 75
Quando alguém parte, tem de deitar
ao mar o chapéu com as conchas
apanhadas ao longo do Verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o resto de vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar bem a faca nas ondas
e afundar o sapato,
coração, âncora e cruz,
e ir-se com o cabelo ao vento!
Depois, regressará,
Quando?
Não perguntes.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 75
domingo, 10 de fevereiro de 2013
«Uma mão cheia de dor perde-se para lá da colina.»
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 51
DESPRENDE-TE, CORAÇÃO
Desprende-te, coração, da árvore do tempo,
soltai-vos, folhas, dos ramos esfriados,
outrora abraçados pelo sol,
soltai-vos como lágrimas de olhos largos de longes.
Esvoaça ainda a madeixa dias inteiros ao vento
na fronte tisnada do deus do campo,
sob a camisa aperta o punho
já a ferida aberta.
Por isso resiste, quando o dorso macio das nuvens
voltar a curvar-se para ti,
não te iludas se o Himeto te encher
de novo os favos.
De pouco vale o lavrador uma erva na seca,
de pouco um verão, face à nossa grande estirpe.
E que testemunha afinal o teu coração?
Entre ontem e amanhã balança,
silencioso e estranho,
e o seu bater
é já a sua queda para fora do tempo.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 25
soltai-vos, folhas, dos ramos esfriados,
outrora abraçados pelo sol,
soltai-vos como lágrimas de olhos largos de longes.
Esvoaça ainda a madeixa dias inteiros ao vento
na fronte tisnada do deus do campo,
sob a camisa aperta o punho
já a ferida aberta.
Por isso resiste, quando o dorso macio das nuvens
voltar a curvar-se para ti,
não te iludas se o Himeto te encher
de novo os favos.
De pouco vale o lavrador uma erva na seca,
de pouco um verão, face à nossa grande estirpe.
E que testemunha afinal o teu coração?
Entre ontem e amanhã balança,
silencioso e estranho,
e o seu bater
é já a sua queda para fora do tempo.
Ingeborg Bachmann. O Tempo Aprazado. Edição bilingue. Selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento. Assírio & Alvim, Lisboa, 1992., p. 25
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
«Ela queria deixá-lo, mas sentia compaixão por ele.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 113
«Tem de se ter sido mau, para se sentir vontade de ser bom. E tem de se ter tido uma vida desordenada, para se desejar pôr a sua vida em ordem. Portanto, ser ordenado leva à desordem, ser virtuoso leva ao vício, ser monocórdico leva à eloquência, ser mentiroso leva à sinceridade, os últimos são os primeiros e o mundo e a vida das nossas qualidades têm forma redonda (...)»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 112
«Por muito sólido que seja, o corpo do Cretense não pode suportar a sua alma, não pode...Deus fez mal em não nos conceder corpo de aço, a nós Cretenses, para nos ser possível resistir cem, duzentos anos e mais, até à liberdade da nossa ilha.»
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 9
Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 9
sábado, 26 de janeiro de 2013
«(...)
Não me causa dor
que os amieiros junto à água
tenham novamente o que silvar.
Estou ciente de que
a margem daquele lago
permanece bonita
como se ainda vivesses.»
Wislawa Szymborska. Alguns gostam de poesia. Selecção, introdução e tradução do polaco Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves. Cavalo de Ferro, Lisboa, 1ª ed. 2004., p. 221
Não me causa dor
que os amieiros junto à água
tenham novamente o que silvar.
Estou ciente de que
a margem daquele lago
permanece bonita
como se ainda vivesses.»
Wislawa Szymborska. Alguns gostam de poesia. Selecção, introdução e tradução do polaco Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves. Cavalo de Ferro, Lisboa, 1ª ed. 2004., p. 221
Um parecer na questão da pornografia
Não há maior devassidão que o pensamento.
É uma frivolidade que, semelhante à erva daninha
polinizada pelo vento, invade o canteiro das margaridas.
Nada é sagrado para quem pensa.
O chamar atrevido das coisas pelo nome,
as análises dissolutas, as sínteses perniciosas,
a perseguição feroz foliã do facto nu e cru,
o apalpar lascivo de assuntos controversos,
a desova das ideias - disso é que eles gostam.
À luz do dia ou pela calada da noite,
encontram-se a dois, em triângulos ou círculos.
Não importa a idade ou o sexo do parceiro.
Os olhos brilham, as faces ardem.
O amigo desencaminha o amigo.
Filhas degeneradas corrompem o pai.
O irmão prostitui a irmã mais jovem.
É-lhes mais doce
o fruto proibido da árvore do conhecimento
do que as nádegas cor-de-rosa das revistas ilustradas,
no fundo, ingénua pornografia.
Os livros que os divertem não têm figuras.
A única variedade está em certas frases
com o lápis ou a unha marcadas.
Wislawa Szymborska. Alguns gostam de poesia. Selecção, introdução e tradução do polaco Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves. Cavalo de Ferro, Lisboa, 1ª ed. 2004., p. 199
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Pois o meu outrora delicado] corpo, já a velhice
me arrebatou, e brancos] se tornaram os cabelos, negros que eram.
Pesado o meu coração se tornou, não me suportam já as pernas,
em tempos ligeiras na dança, como pequenas corças.
Isso lamento a toda a hora; mas que fazer?
alguém que não envelhece é algo que não pode existir.
Safo
me arrebatou, e brancos] se tornaram os cabelos, negros que eram.
Pesado o meu coração se tornou, não me suportam já as pernas,
em tempos ligeiras na dança, como pequenas corças.
Isso lamento a toda a hora; mas que fazer?
alguém que não envelhece é algo que não pode existir.
Safo
Nós somos como as folhas que cria a florida estação
da Primavera, quando crescem depressa sob os raios do sol.
Como elas nos deleitamos num braço de tempo com as flores
da juventude, sem sabermos o que de mau ou de bom
nos virá dos deuses. Mas as negras Desgraças estão
ao nosso lado: uma delas segura o desfecho da áspera velhice;
a outra, o da morte. O fruto da juventude é tão breve
quanto é o tempo de o sol se espalhar sobre a terra.
Porém quando passa este fim de estação,
melhor do que ficar vivo é morrer logo.
Mimnermo
da Primavera, quando crescem depressa sob os raios do sol.
Como elas nos deleitamos num braço de tempo com as flores
da juventude, sem sabermos o que de mau ou de bom
nos virá dos deuses. Mas as negras Desgraças estão
ao nosso lado: uma delas segura o desfecho da áspera velhice;
a outra, o da morte. O fruto da juventude é tão breve
quanto é o tempo de o sol se espalhar sobre a terra.
Porém quando passa este fim de estação,
melhor do que ficar vivo é morrer logo.
Mimnermo
dois pequenos fragmentos de Arquíloco de Paros
Tal foi o desejo de amor, que me cobriu o coração
e cerrada treva sobre meus olhos derramou,
arrebatando do meu peito as débeis forças.
Miserável, jazo atolado no desejo,
inânime, e penosas dores, por vontade dos deuses,
me percorrem os ossos.
Na literatura grega...
«Na literatura grega, a imagem mais comum é a do homem (identificado com o poeta) que persegue a sua presa por campos verdejantes, desejando tão só a consumação do amor. Ela foge, mas sabem ambos que a própria fuga é um esquema para aumentar o desejo e dar mais prazer ao encontro, que no fim se revelará inevitável.»
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A flauta e a lira,
excerto,
literatura grega
domingo, 20 de janeiro de 2013
''Passa uma rapariga de fita verde no cabelo''
Wislawa Szymborska. Alguns gostam de poesia. Selecção, instrodução e tradução do polaco Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves. Cavalo de Ferro, Lisboa, 1ª ed. 2004., p. 175
''não há dois beijos parecidos''
Wislawa Szymborska. Alguns gostam de poesia. Selecção, instrodução e tradução do polaco Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves. Cavalo de Ferro, Lisboa, 1ª ed. 2004., p. 111
sábado, 19 de janeiro de 2013
«Idiota», cochichou ela..
«Idiota», cochichou ela ao salteador num tom sibilante, e quem assim cochichou sofria da doença do orgulho e estava linda de morrer quando disse aquilo.
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 91
O orgulho é muitas vezes o nosso único refúgio, mas não devemos recorrer a ele.
«O orgulho é muitas vezes o nosso único refúgio, mas não devemos recorrer a ele. Devemos libertar-nos do nosso orgulho, porque não passa de uma prisão gradeada, devemos falar com os mais humildes e tornarmo-nos livres. »
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 91
Ai-ai!
«Enquanto iam andando, ela, felizmente - valha-nos isso -, falou de Rilke, mas esse conhecimento que ela tinha de Rilke jamais seria suficiente para fazer dela a noiva ideal. Ai-ai! E, no entanto...!
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 91
«Às pessoas saudáveis faço o seguinte apelo: não teimem em ler apenas esses livros saudáveis, travem um conhecimento mais estreito, também, com a literatura dita doentia, que vos transmitirá, decerto, uma cultura edificante. As pessoas saudáveis deveriam sempre expor-se um pouco ao perigo. Senão, com que mil raios, para que serve ser saudável? Simplesmente para, num determinado dia, morrer de boa saúde? Que diabo de destino mais desconsolador...!»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 81
«Ele assegurou-nos expressamente que te estava muito grato. Antes de te ter conhecido, nunca sentira necessidade de chorar, mas agora sabia como se sente uma pessoa que chora, a dor da alma parecia-lhe um paraíso. Durante muito tempo não percebemos o que ele queria dizer, mas ele devia saber bem o que nos dizia e a expressão do seu rosto mostrava que o que dizia era uma evidência inequívoca. Foste, afinal, um anjo para ele, conquanto não o tenhas sabido, e foste-o precisamente por essa razão. Um dia, negaste-lhe qualquer coisa, ou seja, recusaste-te ocasionalmente a aceder a um pedido dele, e ele então foi-se embora, mas logo regressou. Isto não deve ter tido uma especial importância. És para ele, pois, o amor para lá de todas as palavras, só que tu própria nunca o percebeste. Para todos nós é sempre incómodo que nos atribuam um alto significado, Preferimos ser amados de uma forma moderada. Gostamos todos mais da comodidade. Ninguém gosta que o outro o considere como que sagrado, porque isso o obriga a ser um modelo.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 79
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