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domingo, 21 de maio de 2023

 «Cheio de preocupação

sincera, amavelmente

um príncipe demonstra ao

bobo que não é tolo.»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 35

domingo, 7 de maio de 2023

 «Vem, coração, e com riso

expulsa a minha mágoa.»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 28

 «Como estou sempre ocupada,

não tenho tempo pr'a chorar,

mas tenho-o sempre para rir!»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 28

 « (...); se me odeiam,

ama-as o meu prazer, que 

o ódio não sabe odiar.»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 28

sábado, 6 de julho de 2019

Tiergarten

Título de uma pequena peça em prosa de 1911 de Robert Walser.





“Ninguém tem o direito de se comportar comigo como se me conhecesse”

Robert Walser
''Sabe porque não me tornei um escritor de sucesso?Quero dizer-lhe: é que não possuía um instinto social suficientemente desenvolvido. Não representei o suficiente para agradar à sociedade. Olhe que foi mesmo assim! Hoje vejo-o claramente. Entreguei-me demasiado aos meus prazeres pessoais. Sim, é verdade, sempre tive a tendência para me tornar uma espécie de vagabundo e quase não lutei contra ela. Esse lado subjetivo irritou os leitores d’ Os Irmãos Tanner. Para eles o escritor não deve perder-se na subjetividade. Acham pretensioso levar tão a sério a sua pessoa. Como está enganado o escritor que supõe que o mundo se interessa pelos seus assuntos privados. A minha estreia literária gerou logo a impressão de que os bons burgueses me aborreciam, de que não os achava bons o suficiente. E eles nunca o esqueceram. Consideraram-me sempre um zero à esquerda, um inútil. Deveria ter misturado nos meus livros um pouco de amor e de tristeza, de solenidade e de aprovação.” [ Robert Walser a Carl Seelig]''

Robert Walser e Kafka



''Os seus universos pareciam convergir de tal modo que quando Kafka publica os primeiros textos na revista Hyperion, muitos pensaram tratar-se de um pseudónimo de Walser a ponto de o editor ter que vir a público confirmar que Kafka existia mesmo. Já Walser nunca conheceu ou leu Kafka, não gostava que lhe dissessem que era admirado por este, nem que aludissem ao facto de que a sua escrita tinha admiradores e que era famoso. Tais ideias horrorizavam-no e, numa das conversas agora publicadas, Seelig escreve: “Nunca esquecerei uma manhã de Outono em que fomos a pé de Teufen a Speicher, atravessando um nevoeiro espesso como algodão. Disse-lhe que a sua obra literária duraria talvez tanto tempo como a de Gottfried Keller  [escritor suíço muito admirado por RW]. Estacou de súbito e, como que preso ao chão, olhou-me com extrema gravidade. Respondeu que, se eu queria preservar a sua amizade, nunca mais lhe repetisse semelhantes elogios. Ele, Robert Walser, era um zero e queria ser esquecido.”
 “sem Walser, Kafka jamais teria visto a luz do dia”

Escritor Elias Canetti

A viagem de inverno de Robert Walser

''Na família de homens estranhos, crepusculares, da qual fazem parte Kafka, Pessoa ou Bartleby, Robert Walser permanece o mais inexplicável.''



Ver aqui.

Robert Walser fotografado por Carl Seelig no asilo psiquiátrico de Herissau onde viveu durante 23 anos

domingo, 3 de dezembro de 2017

“Quando não devo pensar, aí é que eu penso, e quando é meu dever fazê-lo, não consigo.”

WALSER, Robert: A história de Helbling. In: Absolutamente nada e outras histórias. (tradução de Sérgio Tellaroli) SP, Ed 34, 2014.
“Coisas inteligentes, belas e sutis me ocorrem aos montes, mas toda vez que preciso pô- las em prática elas não dão certo ou me abandonam, e lá fico eu, com cara de jovem aprendiz incapaz de aprender”, diz um dos personagens, Helbling, um deslocado funcionário de banco às voltas, o tempo todo, com seus desajustes no mundo:

Estou de facto doente? Tem tanta coisa errada comigo, falta-me tudo na verdade. Seria eu um homem infeliz? Possuiria predisposições incomuns? Seria uma espécie de doença ocupar-se continuamente, como faço, de questões como essas? Seja como for, não é coisa muito normal. Hoje, mais uma vez cheguei ao banco com dez minutos de atraso. Não consigo mais chegar no horário correto, como os outros. Na verdade eu deveria estar sozinho no mundo, eu Helbling, e nenhum outro ser vivo. Nenhum sol, nenhuma cultura, eu, nu, no alto de um rocha, nenhuma tempestade, nem uma única onda sequer, nenhuma água, nenhum vento, nenhuma rua, nenhum banco, nenhum dinheiro, nenhum tempo, nenhuma respiração.''

WALSER, Robert: A história de Helbling. In: Absolutamente nada e outras histórias. (tradução de Sérgio Tellaroli) São Paulo, Ed 34, 2014.

pequeno conto no livro Absolutamente nada e outras histórias, A solicitação de emprego

(...) Tarefas grandes e difíceis não posso cumprir, e obrigações de natureza mais vasta são demasiado complexas para minha cabeça. Não sou particularmente sagaz e, o mais importante, não me agrada fatigar em demasia minha capacidade de compreensão; sou antes um sonhador que um pensador, antes um zero a esquerda que um auxílio, antes burro que perspicaz. Por certo, em sua instituição altamente ramificada, que imagino pródiga em funções e subfunções, há de haver um tipo de trabalho que possa ser realizado como num sonho. Sou, para dizê-lo francamente, um chinês, isto é, uma pessoa para a qual tudo que é pequeno e modesto parece belo e adorável, e terrível e pavoroso tudo quanto é grande e assaz desafiador. A paixão por ir longe neste mundo me é desconhecida.


WALSER, Robert: A solicitação de emprego. In: Absolutamente nada e outras histórias. (tradução de Sérgio Tellaroli) São Paulo, Ed 34, 2014.

“Assusta-me a ideia de ter sucesso na vida”, diz Walser

Benjamin pergunta ainda: “de onde vêm os personagens de Walser”? E, responde:

 ''Eles vêm da noite, quando ela está mais escura, uma noite veneziana, se se quiser, iluminada pelos precários lampiões da esperança, com um certo brilho festivo no olhar, mas confusos e tristes a ponto de chorar. Seu choro é prosa. O soluço é a melodia das tagarelices de Walser. O soluço nos mostra de onde vêm os seus amores. Eles vêm da loucura, e de nenhum outro lugar. São personagens que têm a loucura atrás de si, e por isso sobrevivem numa superficialidade tão despedaçadora, tão desumana, tão imperturbável. Podemos resumir numa palavra tudo o que neles se traduz em alegria e inquietação: todos eles estão curados. Mas não compreenderemos jamais como se processou essa cura, a menos que nos aventuremos no seu ‘Branca de Neve’, uma das mais profundas criações da literatura moderna, que bastaria para entendermos por que Walser, aparentemente o menos rigoroso dos escritores, foi o autor favorito do implacável Franz Kafka.''
“Fica-se horrorizado quando a arte não consegue nada mais belo do que revelar o seu ter, dever, querer, perante as almas que a olham.”
WALSER, Robert: Histórias de Imagens. Lisboa: Edições Cotovia, 2011
«Robert Walser sabia: escrever que não se pode escrever também escrever. Entre os muitos empregos subalternos que teve-balconista de livraria, secretário de advogado, bancário, operário em uma fábrica de máquinas de costura e, finalmente, mordomo em um castelo da Silésia —, Robert Walser se retirava de vez em quando em Zurique, para a Câmara de Escrita para Desocupados (o nome não pode ser mais walseriano, mas é autêntico) e aí sentado em uma velha banqueta, ao entardecer, à pálida luz de um lampião de querosene, servia-se de sua graciosa caligrafia para trabalhar como copista, para trabalhar como “bartebly”.»

VILA-MATAS, Enrique: Bartleby & Companhia: São Paulo: Cosac & Naify, 2004., pp. 11/2.
Se Walser tivesse mil leitores, o mundo seria um lugar melhor.

Hermann Hesse 
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