quarta-feira, 13 de março de 2013
Uma rapariga como outra qualquer
«-Tão-pouco julgava, desculpe, que você se entendia com Concia.
Giannino ficou um pouco taciturno e voltou aos vidros.
-Uma rapariga como outra qualquer, - disse finalmente. - Mas é muito ignorante. O velho tirou-a do carvoeiro. A velha Spanó
queria apanhá-la em casa.
- É arrogante?
-É uma criada.
-Mas é bem feita, à parte o focinho.
- Diz bem, - anuiu Giannino pensativo. - Esteve tanto tempo nos estábulos a guardar porcos, que tem um pouco o focinho dos animais.
Éramos crianças quando andávamos com o velho Spanó pela montanha, e ela levantava a saia para sentar a pele nua sobre a erva, como os cães. Foi a primeira
mulher que toquei. Sobre as nádegas tinha calo e crosta. »
Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa., p. 67