domingo, 22 de abril de 2012
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O tempo move-se, some-se.
«O tempo move-se, some-se. À janela do quarto, o homem vê esse movimento do tempo a sumir-se. Olha para os arrozais verdes do verão que passam de uns dias para os outros, mudando, amadurecendo; as laranjas que se tornam amarelas quando a terra arrefece devagar, por dentro; os sobreiros de repente em carne viva.»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 101
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as crianças cresceram todas
«Mas uma delas começou a beber, e depois o coração estoirou, e ficou apenas para os outros como uma memória incómoda. Parece que sim, que tinha demasiada imaginação, e levaram-na ao médico e ele disse: aguente-se, e ela não se aguentou. Era uma criança. Não, não, nessa altura já tinha crescido, bebia pelo menos um litro de brandy por dia. Nada mau, para uma antiga criança. A verdade é que era uma criança, e não se aguentou quando o médico disse: aguente-se. E as ruas são tão tristes. Precisam de mais luz. Mas nesta, por exemplo, já puseram mais luz, e mesmo assim é triste. É até mais triste que as outras. Estou tão triste. Vamos para férias, para o pequeno paraíso. Contaram-me que ele tinha uma alegria tão grande que não podia agarrar num copo: quebrava-o com a força dos dedos, com a grande força da sua alegria.»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 56/7
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Lugar Lugares
« Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para o outro, e encontravamo-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído. E diziam: este é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom. E então a gente ama as mitologias delas. À parte isso o lugar era execrável. As pessoas chiavam como ratos, e pegavam nas coisas e largavam-nas, e pegavam umas nas outras e largavam-se. Diziam: boa tarde, boa noite. E agarravam-se, e iam para a cama umas com as outras, e acordavam. Às vezes acordavam no meio da noite e agarravam-se freneticamente. Tenho medo - diziam. E depois amavam-se depressa e lavavam-se, e diziam: boa noite, boa noite. Isto era uma parte da vida delas, e era uma das regiões (comovedoras da sua humanidade, e o que é humano é terrível e possui uma espécie de palpitante e ambígua beleza.»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 53/4
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«Talvez isso seja a inocência. Talvez só no mar nos seja concedido morrer verdadeiramente, morrer como nenhum homem pode.»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 48/9
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 48/9
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Annemarie
«Annemarie sentou-se à minha mesa. Vi logo o tamanho da sua solidão: tinha o tamanho do mundo. Ela era a criatura mais só do mundo. E a sua história apareceu - simples, tenebrosa - entre as nossas duas cervejas. Todas as histórias pessoais são simples e tenebrosas. Não me comovi. Comovido já eu estava: com as coisas, comigo, com a chuva sobre a cidade. Talvez houvesse uma irónica alegoria em nós os dois ali sentados diante dos belos copos frios, compreendendo ambos tão facilmente o que nos acontecia e iria acontecer que não tínhamos pressa. Poderíamos morrer ali mesmo. Esperávamos.»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 29
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«O sangue é negro desde a raiz. Porque ninguém sabe onde a corrupção completa a inocência.»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 17
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 17
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«Uma vez fui ao médico.
- Doutor, estou louco - disse. - Devo estar louco.
- Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos?
- Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
- Não preciso de remédios - disse eu. - Sei histórias tenebrosas da vida. De que me servem os barbitúricos?»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 10
- Doutor, estou louco - disse. - Devo estar louco.
- Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos?
- Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
- Não preciso de remédios - disse eu. - Sei histórias tenebrosas da vida. De que me servem os barbitúricos?»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006., p. 10
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« - Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio...»
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006
Herberto Helder. Os Passos Em Volta. Assírio & Alvim, Lisboa, 2006
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Nós, que tanto nos amávamos, nunca tínhamos trocado uma palavra afectuosa
«Nós, que tanto nos amávamos, nunca tínhamos trocado uma palavra afectuosa. Brincávamos e arranhávamo-nos como feras. Ele, fino, irónico, polido. Eu, o bárbaro. Ele, dominando-se, esgotando com à-vontade todas as manifestações da sua alma num sorriso. Eu, brusco, irrompendo num riso deslocado e selvagem.»
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p.10
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« Como é amargo separarmo-nos lentamente daqueles que amamos!»
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,
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« (é presico tempo
para que o sol e a chuva sepultem os mortos)»
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 59
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engaço
nome masculino
1. | instrumento agrícola, dentado, para juntar feno, estrume, mato, etc., ancinho |
2. | parte que fica do cacho de uvas, depois de esbagoado |
(De origem obscura)
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bardo
nome masculino
1. | tapume formado por silvas ou ramos de outras plantas; barda |
2. | fila de videiras ligadas a estacas e arames que formam um suporte vertical |
3. | curral onde pernoita o gado miúdo; redil |
(De barda)
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lusco-fusco
nome masculino
o anoitecer; crepúsculo vespertino |
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O DEUS-CABRÃO
O campo é um país de verdes mistérios
para o rapazinho que vem passar o Verão. A cabra, se come
dumas flores, incha-lhe a barriga e não pára de correr.
Quando o homem gozou com uma rapariga
-têm pelos em baixo - o bebé incha-lhe a barriga.
Enquanto guardam as cabras, armam-se em fortes e troçam uns dos outros,
mas, ao cair da noite, cada um começa a olhar por cima do ombro.
Os rapazes sabem ver se a cobra passou ali
pelo rastro sinuoso que deixa na terra.
Mas se a cobra passou no meio da erva
ninguém a vê. São as cabras que se plantam
na erva por cima da cobra e que gozam deixando-se chupar.
As raparigas também gozam quando se deixam tocar.
Quando a lua aparece, as cabras nunca mais param quietas,
é preciso arrebanhá-las e tocá-las para casa,
senão empina-se o cabrão. Dá um salto no meio do prado,
esventra as cabras todas e desaparece. Com os calores, as raparigas
metem-se pelos bosques dentro, sozinhas, de noite,
e o cabrão, se balem deitadas na erva, vem a correr ter com elas.
Mas a lua que desponte: empina-se e esventra-as.
E as cadelas que ladram à lua
é porque sentiram o cabrão aos saltos
no alto dos montes e farejaram o cheiro do sangue.
E os animais agitam-se dentro das cortes.
Somente os mantins mais fortes roem a corda com os dentes
e um deles solta-se e corre atrás do cabrão
que o salpica e embebeda com um sangue mais vermelho que o fogo,
e depois dançam todos, de pé nas patas traseiras e a ulular à lua.
Quando de manhã o canzarrão regressa pelado e a rosnar,
os aldeãos chegam-no à cadela à força de pontapés no traseiro.
E à rapariga que vagueia ao lusco-fusco e aos rapazes que regressam
já noite cerrada com uma cabra perdida dão-lhe cachaços.
Emprenham as mulheres os camponeses e derreiam-se sem con-
templações.
Andam sempre fora, dum lado para o outro, de dia e de noite,
e não têm medo
de ir cavar mesmo à luz da lua ou de acender uma fogueira
de gravetos no escuro. Por isso a terra verde
é tão bela e, sachada, tem as cores,
ao romper do dia, dos rostos dourados pelo sol. Vai-se para a vin-
dima
e come-se e canta-se; na desfolhada
dança-se e bebe-se. Ouvem-se raparigas a rir-se
pois alguém falou no cabrão. Lá em cima, nos bosques,
entre as cristas pedregosas, os aldeãos viram-no:
procurava a cabra e dava marradas nos troncos das árvores.
Porque, quando um animal não sabe trabalhar
e só serve para a cobrição, tem prazer em destruir.
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 43-45
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«(...) quando o sol
nascia já o dia era velho para eles.»
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 31
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''Um perfume de terra e vento envolve-nos na escuridão,''
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 29
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''Os desesperados morrem assim.''
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 29
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ensimesmado
adjetivo
1. | concentrado em si mesmo |
2. | recolhido |
3. | absorto nos próprios pensamentos; pensativo; meditabundo |
(Particípio passado de ensimesmar-se)
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domingo, 15 de abril de 2012
«Vossas lágrimas são lágrimas dos olhos, nada mais, e as minhas virão, quando eu estiver só, das plantas dos meus pés, de minhas raízes, e serão mais ardentes do que o sangue.»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 150/1
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 150/1
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LEONARDO
Que vidros cravam minha língua
(presa!)
Porque eu te quis esquecer,
e pus um muro de pedra
entre a tua casa e a minha.
É verdade. - Não te lembras?
E quando te vi de longe,
enchi meus olhos de areia.
Mas, se montava a cavalo,
em tua porta me achava -
Tornou-se-me o sangue negro,
com alfinetes de prata.
E o sonho me foi cobrindo
as carnes da erva daninha.
Pois a culpa não é minha.
A culpa, a culpa é a terra
e do cheiro que desprendem
teus peitos e tuas tranças.
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 137
Que vidros cravam minha língua
(presa!)
Porque eu te quis esquecer,
e pus um muro de pedra
entre a tua casa e a minha.
É verdade. - Não te lembras?
E quando te vi de longe,
enchi meus olhos de areia.
Mas, se montava a cavalo,
em tua porta me achava -
Tornou-se-me o sangue negro,
com alfinetes de prata.
E o sonho me foi cobrindo
as carnes da erva daninha.
Pois a culpa não é minha.
A culpa, a culpa é a terra
e do cheiro que desprendem
teus peitos e tuas tranças.
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 137
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MÃE
Enquanto se vive, luta-se.
Noivo
Sempre te obedecerei.
MÃE
Com a tua mulher procura ser carinhoso e, se te parecer preocupada ou arisca, faz-lhe uma carícia que a magoe um pouco: um abraço forte, uma mordida - e logo um beijo suave.Que ela não se aborreça, mas sinta que tu és o macho, o amo, o que manda. Assim aprendi com o teu pai. E como não o tens, sou eu que tenho de te ensinar essas valentias.»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 112
Enquanto se vive, luta-se.
Noivo
Sempre te obedecerei.
MÃE
Com a tua mulher procura ser carinhoso e, se te parecer preocupada ou arisca, faz-lhe uma carícia que a magoe um pouco: um abraço forte, uma mordida - e logo um beijo suave.Que ela não se aborreça, mas sinta que tu és o macho, o amo, o que manda. Assim aprendi com o teu pai. E como não o tens, sou eu que tenho de te ensinar essas valentias.»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 112
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« Pois sou louca por não ter gritado tanto quanto o meu coração precisa.»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 92
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MULHER
«Porque me olhas assim? Tens um espinho em cada olho.»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 87
«Porque me olhas assim? Tens um espinho em cada olho.»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 87
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LEONARDO
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 73/4
«Calar e consumir-se, é o maior castigo a que nos podemos condenar. De que me serviu a mim o orgulho, e o não te olhar, e o deixar-te acordada noites e noites? De nada! Serviu para abrasar-me. Porque tu acreditas que o tempo cura e as paredes tapam, e não é verdade, não é verdade! Quando as coisas chegam ao fundo, não há quem as arranque!»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 73/4
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«Que os rios do mundo
Levem a tua coroa!»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 66
Levem a tua coroa!»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 66
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(...)
CRIADA
«Será que não te queres casar? Fala. Ainda estás em tempo de te arrepender. (Levanta-se)
Noiva
São nuvens. Um mal-estar por dentro.
Quem não o tem?»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 64/5
CRIADA
«Será que não te queres casar? Fala. Ainda estás em tempo de te arrepender. (Levanta-se)
Noiva
São nuvens. Um mal-estar por dentro.
Quem não o tem?»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 64/5
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anágua
nome feminino
saia branca que algumas mulheres usam sobre a combinação |
(Do taino naguas, «idem», pelo castelhano enagua, «idem»)
SOGRA
Dorme, meu rosal,
que o cavalo se põe a chorar.
As patas, feridas,
as crinas, geladas,
e dentro dos olhos
um punhal de prata.
Entravam no rio,
ai, ai, como entravam!
O sangue corria
mais forte do que a água.
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 28
Dorme, meu rosal,
que o cavalo se põe a chorar.
As patas, feridas,
as crinas, geladas,
e dentro dos olhos
um punhal de prata.
Entravam no rio,
ai, ai, como entravam!
O sangue corria
mais forte do que a água.
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960., p. 28
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«Meus mortos, cheios de erva, sem fala, reduzidos a pó.»
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960
Frederico Garcia Lorca. Bodas de Sangue. Teatro Moderno. Tradução de Cecília Meireles. AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960
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sexta-feira, 13 de abril de 2012
A obra conseguida
«A obra conseguida só pode ser ««puro ritmo», uma vez que o artista não é aquele que «conhece a natureza humana», mas sim o que «possui blocos de realidade, experiências significativas que lhe ritmam e cadenciam e subtendem o discurso».
Tradução e introdução de Carlos Leite
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 17
Tradução e introdução de Carlos Leite
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 17
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quinta-feira, 12 de abril de 2012
Trabalhar Cansa
«Trabalhar Cansa tem como leitmotiv a solidão, em que se repetem obsessivamente os temas da evasão e da fuga, a vida é um cárcere, repetição inútil, destino inelutável.»
Tradução e introdução de Carlos Leite
Cesare Pavese. Trabalhar Cansa. Tradução e introdução de Carlos Leite. Edições Cotovia, Lisboa, 1997., p. 15
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prorromper
verbo
intransitivo
1. | sair com ímpeto |
2. | manifestar-se
repentinamente |
(Do latim prorumpĕre, «idem»)
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sexta-feira, 6 de abril de 2012
«Quem poderá deter
O instante que não pára de morrer?»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958., p. 71
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«A matilha de cães que nos persegue
Ignora o rumo dos oásis verdes.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958., p. 70
Ignora o rumo dos oásis verdes.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958., p. 70
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Sophia de Mello Breyner Andresen
«E eu fecho os olhos para não te ver.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958., p. 32
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958., p. 32
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verso solto
«Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda que a tua.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958., p. 30
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É o teu rosto ainda que eu procuro
Através do terror e da distância
Para a reconstrução de um mundo puro.
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958
Através do terror e da distância
Para a reconstrução de um mundo puro.
Sophia de Mello Breyner Andresen. Mar Novo. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1958
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As canas
CANTO DÉCIMO TERCEIRO
De criança sempre gostei de canas
e roubava-as do rio
ainda verdes.
Deixava-as depois estendidas ao sol durante todo o verão
e recolhia-as, ligeiras,
como o sussurro dos mosquitos.
Quando no inverno
os ossos estalavam de frio
e os gatos tossiam sobre o damasqueiro
corria até ao sótão
e metia as mãos no meio das canas quentes
ainda com todo aquele sol em cima.
[in O Mel, de Tonino Guerra, trad. de Mário Rui de Oliveira, Assírio & Alvim, 2004]
terça-feira, 3 de abril de 2012
''tudo me dava um tédio obscuro e atormentado''
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 250/1
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«(...) invejava a erva que cresce junto às pedras dos mortos.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 250
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«Eu ia triste: o amanhecer, a aparição espiritual da aurora, enche de melancolia, depois das noites tomadas de vinho, fartas de carne.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 249
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«Vede-a. Estava em acto de adultério.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 249
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«Do tecto caíam folhas de rosas húmidas.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 243
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«Eu escutava, encostado a uma árvore, na escuridão, concentrado e triste (...)»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 242
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segunda-feira, 2 de abril de 2012
domingo, 1 de abril de 2012
Maria de Magdala
« Maria de Magdala, aí e em Tiberíade, tinha tido uma vida apaixonada e impura: uma exaltação inexplicável era a essência daquele ser; tinha espasmos, contracções, entusiasmos perturbados: julgava acalmar a impetuosidade da sua natureza febril pelo amor dos homens;»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 226
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maria de magdala
«(...) as mulheres iam presas da luz imortal dos seus olhos.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 224/5
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excerto
«Ah! lâminas douradas do Templo, túmulos negros, dos Herodes, com relevos de folhagens, como eu vos dera por um dos pequenos regatos azulados, que dormem e sonham, na espessura amada das searas de Corazin! Porque não conheço melhor alegria, do que andar pelas estradas da Galileia: vêem-se os casais escurecidos pela sombra das figueiras, das vinhas, os pomares das nogueiras, de romãzeiras estreladas de vermelho (...)»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 223
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Prosas Bárbaras
Salvador Dali, em entrevista ao L’Express, um ano depois da criação de “Daligramme” para a Lancel
“Em que é que Gala é tão excepcional?
Fez-me ganhar todo o dinheiro que tenho.
E que mais?
Foi a primeira com quem fiz amor. Não é que eu goste muito de fazer amor, mas tinha 29 anos e achava-me impotente. Gala revelou-me a mim mesmo. Nunca fiz amor com mais ninguém.” (L’Express, 06.04.1971)
Fez-me ganhar todo o dinheiro que tenho.
E que mais?
Foi a primeira com quem fiz amor. Não é que eu goste muito de fazer amor, mas tinha 29 anos e achava-me impotente. Gala revelou-me a mim mesmo. Nunca fiz amor com mais ninguém.” (L’Express, 06.04.1971)
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Gala Éluard Dalí,
Salvador Dali
''Há aqueles que se rebelam contra a luz; não conhecem
os seus caminhos, nem frequentam as suas veredas. Na escu-
ridão, assaltam as casas que, de dia, haviam determinado
assaltar; eles não conhecem a luz. Porque a manhã é, para
eles, como a sombra da morte: se alguém os reconhece, soço-
bram aos terrores da sombra da morte.''
JOB, 24: 13,16,17
«, (...) onde o crepúsculo fechara já as suas pálidas cortinas.''
Truman Capote. Contos Completos. Tradução do inglês por José Vieira de Lima. Sextabre Editora, 1ª edição, 2008., p. 112
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''Pelas janelas abertas, entrava o canto rendilhado dos insectos, para além das diversas cadências nocturnas, presenças que sempre haviam acompanhado Preacher ao longo da sua vida - tão familiares todas elas...Oh, a sua cabana parecia-lhe agora tão bela; tudo aquilo que, com o tempo, acabara por desprezar, parecia-lhe agora tão maravilhoso...! Os seus olhos, afinal, estavam tão enganados!''
Truman Capote. Contos Completos. Tradução do inglês por José Vieira de Lima. Sextabre Editora, 1ª edição, 2008., p. 109
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quinta-feira, 29 de março de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
«(...) não havia nada que mais a perturbasse do que sentir-se cercada de escuridão.»
Truman Capote. Contos Completos. Tradução do inglês por José Vieira de Lima. Sextabre Editora, 1ª edição, 2008., p. 62
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Middy
«Middy, sempre retraída, sempre em segundo plano, disse, num jeito nervoso: «Appleseed, não devias estar para aí a contar as coisas pessoas e privadas da nossa família assim dessa maneira.»
Truman Capote. Contos Completos. Tradução do inglês por José Vieira de Lima. Sextabre Editora, 1ª edição, 2008., p. 45
Truman Capote. Contos Completos. Tradução do inglês por José Vieira de Lima. Sextabre Editora, 1ª edição, 2008., p. 45
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sábado, 17 de março de 2012
quinta-feira, 15 de março de 2012
Um Segredo
Meu pai tinha sandálias de vento
só agora o sei.
Tinha sandálias de vento
e isto nem sequer é uma maneira de dizer
andava por longe os olhos fugidos a expressão em
[nenhures
com as miraculosas instantaneidades que nos fazem
[estar em todos os sítios.
Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando
mas toda a sua ausência era
o malogro de o ser
só agora o sei.
Andava por longe ou sentíamo-lo longe
vem dar no mesmo
e no entanto víamo-lo sempre
ali plantado de imobilidade absorta
no cepo de carvalho raiado de negro
a que o caruncho comera o miolo
como as lagartas esvaziam as maçãs
estranhamente quieto murcho resignado
no seu estranho vadiar
os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói
como um apelo perdido uma coragem abortada.
Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso
[tingida
ausência era
altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste
tristeza sim tristeza solene e irremediada
só agora o sei.
Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares
sulco azul
que nada distingue do azul onde foi sulcado
e por isso nem é águia nem ao menos
o que do seu voo resta para que
o sonho se faça real.
Meu pai era um homem com as nostalgias
do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a
[víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs
e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias
miraculosamente leves soltas imaginosas
indo de acaso em acaso de astro em astro
eram de vento as suas sandálias fabulosas
levando-o aonde mais ninguém poderia chegar.
Os outros não o sabiam nem eu o sabia
só o víamos sentado no cepo velho
raiado de negro como uma estrela fossilizada
por isso tudo era para ele mais irremediável e triste
sei-o agora tarde de mais
tarde de mais é uma dor de remorso
que me consome víscera a víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs.
Mas de qualquer maneira existe um segredo
de que ambos partilhamos
ciosamente avaramente indecifradamente
como os astutos conspiradores
que fazem do seu segredo
um mágico tesouro inviolado.
Um segredo simples:
o que sentiste pai
sinto-o eu agora por ambos
sinto-o por ti
sinto-o por mim.
Ainda que por ele devorados.
Fernando Namora, in 'Nome Para Uma Casa'
só agora o sei.
Tinha sandálias de vento
e isto nem sequer é uma maneira de dizer
andava por longe os olhos fugidos a expressão em
[nenhures
com as miraculosas instantaneidades que nos fazem
[estar em todos os sítios.
Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando
mas toda a sua ausência era
o malogro de o ser
só agora o sei.
Andava por longe ou sentíamo-lo longe
vem dar no mesmo
e no entanto víamo-lo sempre
ali plantado de imobilidade absorta
no cepo de carvalho raiado de negro
a que o caruncho comera o miolo
como as lagartas esvaziam as maçãs
estranhamente quieto murcho resignado
no seu estranho vadiar
os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói
como um apelo perdido uma coragem abortada.
Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso
[tingida
ausência era
altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste
tristeza sim tristeza solene e irremediada
só agora o sei.
Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares
sulco azul
que nada distingue do azul onde foi sulcado
e por isso nem é águia nem ao menos
o que do seu voo resta para que
o sonho se faça real.
Meu pai era um homem com as nostalgias
do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a
[víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs
e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias
miraculosamente leves soltas imaginosas
indo de acaso em acaso de astro em astro
eram de vento as suas sandálias fabulosas
levando-o aonde mais ninguém poderia chegar.
Os outros não o sabiam nem eu o sabia
só o víamos sentado no cepo velho
raiado de negro como uma estrela fossilizada
por isso tudo era para ele mais irremediável e triste
sei-o agora tarde de mais
tarde de mais é uma dor de remorso
que me consome víscera a víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs.
Mas de qualquer maneira existe um segredo
de que ambos partilhamos
ciosamente avaramente indecifradamente
como os astutos conspiradores
que fazem do seu segredo
um mágico tesouro inviolado.
Um segredo simples:
o que sentiste pai
sinto-o eu agora por ambos
sinto-o por ti
sinto-o por mim.
Ainda que por ele devorados.
Fernando Namora, in 'Nome Para Uma Casa'
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sábado, 10 de março de 2012
«Agasalhava todos os pássaros na véspera dos temporais.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 197
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 197
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«(...), dou-te as visões que são a poesia do movimento na alma»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 186
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 186
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''Tens uma complicação infinita de asas que te impede o voo.''
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução
por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 186
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«Eu tenho ainda por ti aquele amor servil e adulador, que se glorifica quando abdica, que tem um êxtase quando se dá a uma humilhação. Quando te afastas, quando me deixas, fico triste, amorteço-me, toda esta grande alma de chama, que te quer tão bem, se definha, e apenas ficam as brasas, ainda quentes, ainda vermelhas, mas já inertes, e cheias de negro - justamente como o corpo dum amor abandonado.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 183
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''A minha história é triste, luminosa e terrível, imunda e meiga''
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução
por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 182
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«Agora, de Inverno, no campo, as noites são ásperas e hostis. Toda a natureza está impassível e entorpecida, esperando a fermentação violenta das seivas. As árvores erguem os braços nus, miseráveis, e suplicantes. E as águas, que no Outono estavam quietas e pálidas, e que em Maio faziam claras murmurações, tão melódicas como o ritmo dum idílio latino, têm agora vozes vingativas e más. O vento é rouco e lento como um canto católico de ofícios: as chuvas caem de cima, como escárnios triunfantes e ruidosos.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 181
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domingo, 4 de março de 2012
« E, como a alma adormece, calam-se os seus gemidos. Mas quando desperta, ou seja pelo amor, ou pela vergonha, ou pela paixão, ou pelo dever, ou pela paternidade, ou pelo remorso, começa logo a pobre alma, chorando aflita, torturando-se, e pedindo com as mãos postas às estrelas um refúgio sereno!»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 180
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EN UNA TEMPESTAD
Huracán, huracán, venir te siento,
Y en tu soplo abrasado
Respiro entusiasmado
Del señor de los aires el aliento.
En las alas del viento suspendido
Vedle rodar por el espacio inmenso,
Silencioso, tremendo, irresistible
En su curso veloz. La tierra en calma
Siniestra; misteriosa,
Contempla con pavor su faz terrible.
¿Al toro no miráis? El suelo escarban,
De insoportable ardor sus pies heridos:
La frente poderosa levantando,
Y en la hinchada nariz fuego aspirando,
Llama la tempestad con sus bramidos.
¡Qué nubes! ¡qué furor! El sol temblando
Vela en triste vapor su faz gloriosa,
Y su disco nublado sólo vierte
Luz fúnebre y sombría,
Que no es noche ni día...
¡Pavoroso calor, velo de muerte!
Los pajarillos tiemblan y se esconden
Al acercarse el huracán bramando,
Y en los lejanos montes retumbando
Le oyen los bosques, y a su voz responden.
Llega ya... ¿No le veis? ¡Cuál desenvuelve
Su manto aterrador y majestuoso...!
¡Gigante de los aires, te saludo...!
En fiera confusión el viento agita
Las orlas de su parda vestidura...
¡Ved...! ¡En el horizonte
Los brazos rapidísimos enarca,
Y con ellos abarca
Cuanto alcanzó a mirar de monte a monte!
¡Oscuridad universal!... ¡Su soplo
Levanta en torbellinos
El polvo de los campos agitado...!
En las nubes retumba despeñado
El carro del Señor, y de sus ruedas
Brota el rayo veloz, se precipita,
Hiere y aterra a suelo,
Y su lívida luz inunda el cielo.
¿Qué rumor? ¿Es la lluvia...? Desatada
Cae a torrentes, oscurece el mundo,
Y todo es confusión, horror profundo.
Cielo, nubes, colinas, caro bosque,
¿Dó estáis...? Os busco en vano:
Desparecisteis... La tormenta umbría
En los aires revuelve un oceano
Que todo lo sepulta...
Al fin, mundo fatal, nos separamos:
El huracán y yo solos estamos.
¡Sublime tempestad! ¡Cómo en tu seno,
De tu solemne inspiración henchido,
Al mundo vil y miserable olvido,
Y alzo la frente, de delicia lleno!
¿Dó está el alma cobarde
Que teme tu rugir...? Yo en ti me elevo
Al trono del Señor: oigo en las nubes
El eco de su voz; siento a la tierra
Escucharle y temblar. Ferviente lloro
Desciende por mis pálidas mejillas,
Y su alta majestad trémulo adoro.
LA NOTE
_Que n’ai-je un peu de voix ! J’ai le cruel ennui
De sentir mon poème en ma poitrine éclore,
Et dc ne pouvoir pas, plus créateur encore,
Comme j’ai mis mon cœur, mettre mon souffle en lui.
_Le chant aérien laisse, après qu’il a fui,
Des lèvres jusqu’au ciel tin sillage sonore
Ou l’âme, rajeunie et plus légère, explore
Les paradis anciens qu’elle pleure aujourd’hui.
_La ilote est comme une aile an pied du vers posée ;
Comme l’aile des vents fait trembler la rosée,
Elle le fait frémir plus sonore et plus frais.
_O vierges qu’effarouche un seul mot, le plus tendre,
Peut-être modulé daigneriez-vous l’entendre,
Vous qui l’osez chanter sans le dire jamais !
Sully Prudhomme
De sentir mon poème en ma poitrine éclore,
Et dc ne pouvoir pas, plus créateur encore,
Comme j’ai mis mon cœur, mettre mon souffle en lui.
_Le chant aérien laisse, après qu’il a fui,
Des lèvres jusqu’au ciel tin sillage sonore
Ou l’âme, rajeunie et plus légère, explore
Les paradis anciens qu’elle pleure aujourd’hui.
_La ilote est comme une aile an pied du vers posée ;
Comme l’aile des vents fait trembler la rosée,
Elle le fait frémir plus sonore et plus frais.
_O vierges qu’effarouche un seul mot, le plus tendre,
Peut-être modulé daigneriez-vous l’entendre,
Vous qui l’osez chanter sans le dire jamais !
Sully Prudhomme
L’INSPIRATION
Un oiseau solitaire aux bizarres couleurs
Est venu se poser sur une enfant ;
mais elle, Arrachant son plumage où le prisme étincelle,
De toute sa parure elle fait des douleurs.
_Et le duvet mœlleux, plein d’intimes chaleurs,
Épars, flotte au doux vent d’une bouche cruelle.
Or l’oiseau, c’est mon cœur ; l’enfant coupable est celle,
Celle dont je ne puis dire le nom sans pleurs.
_Ce jeu l’amuse, et moi j’en meurs, et j’ai la peine
De voir dans le ciel vide errer sous son haleine
La beauté dc mon cœur pour le plaisir du sien !
_Elle aime à balancer mes rêves sur sa tête
Par un souffle, et je suis ce qu’on nomme un poète.
Que ce souffle leur manque, et je ne suis plus rien.
Sully Prudhomme
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Prémio Nobel de Literatura 1901,
Sully Prudhomme
«Na arte só têm importância os que criam almas, e não os que reproduzem costumes.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 178
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 178
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«Quais podem ser as obras desta geração? Criações febris, convulsões cerebrais, idealistas e doentias, todo um pesadelo moral. Por isso, temos tido toda uma série de figuras melodramáticas, desde Fausto até Mr. de Camors.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 177
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Eça de Queiroz,
Prosas Bárbaras
«(...), com todo o sangue de Tácito - para pintar a cara macia do egoísmo humano.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 173
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Eça de Queiroz,
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Prosas Bárbaras
Que tardes!
«Que tardes! Da varanda via-se a serenidade virgiliana dos prados e dos rios.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 171
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 171
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autores portugueses,
Eça de Queiroz,
Prosas Bárbaras
«Outrora, nos dias já distantes da minha juventude e da minha infância, que passaram como um sonho e não voltam mais, sentia-me imensamente feliz sempre que chegava pela primeira vez a qualquer lugar desconhecido: quer fosse uma aldeia, vila, pequena cidade da província ou capital do distrito, em toda a parte o meu olhar infantil encontrava motivos para satisfazer a sua curiosidade.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 117
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escritor russo,
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Nikolai Gógol
«Como obstinado corvo, a alcunha plebeia lá ficará sempre a grasnar, proclamando com a sua voz a prodecência do pássaro.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 115
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 115
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escritor russo,
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Nikolai Gógol
fleuma
nome feminino
1. | impassibilidade; frieza; domínio das emoções |
2. | indiferença; falta de interesse |
3. | pachorra |
4. | um dos humores naturais, segundo a medicina
antiga |
(Do grego phlégma, -atos, «inflamação», pelo latim phlegma, -ătis, «idem»)
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« - Francamente, o senhor é como a pega do provérbio que só conhece um som, e o repete a cada instante.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 110
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escritor russo,
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Nikolai Gógol
fornicoques
nome masculino
plural
1. | popular cócegas |
2. | popular apetite; desejo; tentação |
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significados
sexta-feira, 2 de março de 2012
49.
«Pentesileia voltou para os bosques, anunciou o caçador,
dizendo que o seu corpo saiu das escadas do inferno.
Reconhecia-a. Tinha a cicatriz da espada gravada entre
os seios. »
(...)
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 55
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« (...) O olhar dela cai sempre
que lhe toco no peito, como as amoras no inverno.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 54
que lhe toco no peito, como as amoras no inverno.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 54
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jaime rocha,
poetas portugueses
34.
A mulher está agora, pela primeira vez, dentro
da morte, nessa linha de sombra que o cavalo
procura esmagar, incitado pelo chicote. Pela primeira
vez ela descobre o seu corpo subterrâneo, o sítio onde
esconde o sangue e os pedaços de carne que se vão
espalhando pela encosta, entre as ervas. O seu riso tem
um lado negro, um apelo que sai da cintura e que o
cavalo reconhece como um pó cego, entrando pelas narinas.
Pela primeira vez ela consegue ver a sua espada. Tudo se reflecte
no seu peito, a própria imagem do cavaleiro, a chuva, os
gritos dos corvos, as cigarras. Até o Verão se cola ali,
debaixo dos seios, e escorre como lágrimas, como pêssegos
que se destroem lentamente dentro de uma travessa.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 40
da morte, nessa linha de sombra que o cavalo
procura esmagar, incitado pelo chicote. Pela primeira
vez ela descobre o seu corpo subterrâneo, o sítio onde
esconde o sangue e os pedaços de carne que se vão
espalhando pela encosta, entre as ervas. O seu riso tem
um lado negro, um apelo que sai da cintura e que o
cavalo reconhece como um pó cego, entrando pelas narinas.
Pela primeira vez ela consegue ver a sua espada. Tudo se reflecte
no seu peito, a própria imagem do cavaleiro, a chuva, os
gritos dos corvos, as cigarras. Até o Verão se cola ali,
debaixo dos seios, e escorre como lágrimas, como pêssegos
que se destroem lentamente dentro de uma travessa.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 40
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