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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

É IMPRÓPRIO SER FAMOSO

É impróprio ser famoso
Pois não é isso que eleva.
E não vale a pena ter arquivos
Nem perder tempo com manuscritos velhos.

O caminho da criação é a entrega total
E não fazer barulho ou ter sucesso.
Infelizmente, nada significa
Como uma alegoria andar de boca em boca.

Mas é preciso viver sem pretensões,
Viver de tal modo que no fim de contas
Venha até nós um amor ideal
E ouçamos o apelo dos anos que hão-de vir.

O que é preciso é rever
É o destino, não antigos papéis;
Lugares e capítulos de uma vida inteira
Anotar ou emendar.

E mergulhar no anonimato,
E ocultar nele os nossos passos,
Como foge a paisagem na neblina
Em plena escuridão.

Que outros nesse rasto vivo
Seguirão o teu caminho passo a passo,
Mas tu próprio não deves distinguir
A derrota da vitória.

E não deves por um só instante
Recuar ou trair o que tu és,
Mas estar vivo, e só vivo,
E só vivo - até ao fim.


Boris Pasternak. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 97/8

domingo, 20 de dezembro de 2015


Embriaguez


Sob o salgueiro onde se enleia a hera,
procuramos refúgio da intempérie.
A envolver-nos os ombros um capote.
Em torno de ti cercam-te os meus braços.


Mas não. No abraço as plantas
não se entontecem de hera, mas de embriaguez.
Estendamos então este capote
sob nós em toda a amplidão.




em Doutor Jivago, de Boris Pasternak, tradução de Augusto Abelaira (romance) e de Moura Pimenta (poemas), Porto: Público, colecção Mil Folhas, 2002, p. 569.

domingo, 2 de dezembro de 2012

 
 
(...)
 
«E não deves por um só instante
Recuar ou trair o que tu és,
Mas estar vivo, e só vivo,
E só vivo - até ao fim.»
 
 
 Boris Pasternak. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 98
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