sexta-feira, 6 de abril de 2012
As canas
CANTO DÉCIMO TERCEIRO
De criança sempre gostei de canas
e roubava-as do rio
ainda verdes.
Deixava-as depois estendidas ao sol durante todo o verão
e recolhia-as, ligeiras,
como o sussurro dos mosquitos.
Quando no inverno
os ossos estalavam de frio
e os gatos tossiam sobre o damasqueiro
corria até ao sótão
e metia as mãos no meio das canas quentes
ainda com todo aquele sol em cima.
[in O Mel, de Tonino Guerra, trad. de Mário Rui de Oliveira, Assírio & Alvim, 2004]
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