domingo, 29 de novembro de 2015
''Sigla dá-lhe um beijo convencional de despedida.''
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 62
sábado, 28 de novembro de 2015
"Quando estou felizmente apaixonado, a minha vida fica cheia de prazer imediato e nem o passado nem o futuro me preocupam. Se o meu coração fica vazio, os meus pensamentos viram-se para o passado ou para o futuro, que acaba em morte, e a tristeza envolve-me. Por isso o amor é a única salvação do tempo pernicioso, salva-nos do passado e do futuro; pára o tempo no dia feliz de hoje.
Se o tepo pára para alguém que está apaixonado, isso quer dizer que a única forma de parar o tempo é estar constantemente apaixonado. E como é impossível estar constatemente apaixonado por uma mulher, estou constantemente a apaixonar-me por mulheres diferentes."
Alexandre Puchkine. "Diário Secreto (1836-1837)"
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
"Olhar esta ausência que é a única possível porque está escrita dentro de mim e, opaca, se estende no insensível curso do tempo.
Ver nela os erros repetidos e não ter coragem de lhes pôr termo. Não passar do vómito, de projectos vagos do que já hoje deveria estar consumado.
Quem arrumou a mesa onde escrevo trocou todos os lugares de todas as coisas.
Deixou intacto apenas o crâneo branco, meu interlocutor visível desde há alguns dias. O que ele me diz, digo-o eu há meses, há anos. Ele é uma pedra por onde passou o hálito de um ser. É enquanto passa que o hálito corrói.
Ninguém já pode numa das mãos os meus olhos e beijar com a outra a minha face agónica. É tarde na noite e no tempo. Ouço em mim o murmurar exterior do silêncio abafando cada vez mais o borbulhar dos gestos que reservara para mim. Quem outrora esperei sobe agora todos os degraus que eu não quero subir,
Devo olhar-me bem para me aniquilar melhor."
Ver nela os erros repetidos e não ter coragem de lhes pôr termo. Não passar do vómito, de projectos vagos do que já hoje deveria estar consumado.
Quem arrumou a mesa onde escrevo trocou todos os lugares de todas as coisas.
Deixou intacto apenas o crâneo branco, meu interlocutor visível desde há alguns dias. O que ele me diz, digo-o eu há meses, há anos. Ele é uma pedra por onde passou o hálito de um ser. É enquanto passa que o hálito corrói.
Ninguém já pode numa das mãos os meus olhos e beijar com a outra a minha face agónica. É tarde na noite e no tempo. Ouço em mim o murmurar exterior do silêncio abafando cada vez mais o borbulhar dos gestos que reservara para mim. Quem outrora esperei sobe agora todos os degraus que eu não quero subir,
Devo olhar-me bem para me aniquilar melhor."
-"Aventuras de Um Crâneo e Outros Textos"
- Mário Botas
- Mário Botas
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
«SIGLA: Guardavas as nódoas negras...o meu cheiro...Tudo o que ficava na pele era sagrado. (Sorriso:) Estupor de palavra, sagrado!»
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 61
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«Nada disse. Nada disse, por cobardia.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 201
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«Com os olhos que não dormem, da saudade...»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 131
montear
verbo transitivo
caçar no monte
verbo intransitivo
fazer montaria, andar à caça no monte
caçar no monte
verbo intransitivo
fazer montaria, andar à caça no monte
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«São jóias da Morte os teus cabelos...»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 120
«São dois abismos a beijar-se...»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 119
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«Saboreio o teu cheiro como um corvo.»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 118
«...a terra que fez noite nos teus olhos...»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 117
freiras-flores
«Têm pouca luz aquelas flores. São freiras-flores.»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 116
«Nem sossegou na vida nem na morte.»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 110
«Tomara eu que o vento se calasse.»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 110
sábado, 21 de novembro de 2015
"Nenhum gato reconheceu Ulisses no
seu regresso a casa. Nem consta
que algum brincasse com os novelos
que a mulher dobava e desdobava
durante a longa ausência para
iludir os pretendentes. Por isso
me soa estranha a Odisseia e o
regresso a Ítaca sem o festivo içar
da cauda dum gato."
seu regresso a casa. Nem consta
que algum brincasse com os novelos
que a mulher dobava e desdobava
durante a longa ausência para
iludir os pretendentes. Por isso
me soa estranha a Odisseia e o
regresso a Ítaca sem o festivo içar
da cauda dum gato."
-"O Segundo Olhar"
- Inês Lourenço
- Inês Lourenço
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"A alma e o mundo estão confundidos um com o outro, de maneira que eu tento fazer a história dessas percepções, desse sentimento. Essa é que é a nossa história, uma história real. A história de uma personagem que existe e se desenvolve não é comigo, embora eu adore esses grandes, sei lá, Rousseau, por exemplo. Rousseau foi um dos primeiros que perceberam que contra a história dele era contar, refazer a história do mundo, para que ele correspondesse àquilo que ele imaginava que seria a sua vocação."
Eduardo Lourenço / José Jorge Letria. "Eduardo Lourenço: A História é a Suprema Ficção"
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segunda-feira, 16 de novembro de 2015
"(amamos a infelicidade com desespero. Não usamos perfumes nem cremes para mascarar o corpo, não usamos filhos para a sobrevivência, aliás nem filhos temos, e eu não os poderei ter, quanto ao mano, as mulheres das revistas não engravidam com o seu esperma, temos esta casa e dinheiro para acordarmos todos os dias sós. Confortavelmente sós. Temos os corpos dos outros, temos sempre os corpos dos outros, como num filme mudo, andam calados pelo ecrã, mostram-se em cada passada, somos os espectadores dessa passagem)"
Rui Nunes. "A Boca na Cinza"
«Por toda a parte há gente que tem fome enquanto outros lambem os beiços, enfartados. Por toda a parte há lobos e cordeiros: ou comes ou és comido. Só uma lei permanece inviolável no mundo: a lei da selva.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 194
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 194
«SIGLA: Não há nada pior do que enganar a memória. E tu fazes por isso, Nina.
(...)
SIGLA: Enches buracos.
(...)
SIGLA: Cruzas...Inventas enredos, os tais enredos. E depois saem fantasmas.
(...)
SIGLA: Fantasmas...escreve aí, anda! Eu para ti passo a vida a carregar os fantasmas que tu inventaste.»
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 58
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MATAR O TEMPO
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 54
''em pinceladas negras imita lágrimas de rímel''
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 49
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«(...) À força de guardarmos o sono dos outros acabamos por perder o nosso.
TRALÁLÁ: O nosso, vírgula! Eu cá, graças a Deus, durmo que nem uma pedra!»
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 47
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« TRALÁLÁ: Com sabidonas é que eu me entendo.»
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 44
José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 44
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domingo, 15 de novembro de 2015
"Outrora o relógioa tocava nas asas das borboletas e o fecundo pó depositava-se-me na boca. O tempo, em Cuma, tem sabor a saliva. Há quem espere por nós para morrer docemente entre as silvas, a camisa branca manchada de um mosto acre, enquanto as abelhas zumbem em torno dos cachos de amoras, embaciando-os. Pedi boleia na estrada que vai de Cuma para onde."
-"Quem da Pátria Sai a Si Mesmo Escapa?"
- Rui Nunes
-"Quem da Pátria Sai a Si Mesmo Escapa?"
- Rui Nunes
"Não passe este prospecto sem o ter lido todo.
Não passe uma porta se encontrar alguém que chora do outro lado.
Observe bem antes que o acusem de homicídio,
que uma sombra urgente o abrace sem mágoa, o
confunda com outro,
lhe faça sinais e convide para a cama...
Não passe uma porta se encontrar alguém que chora do outro lado.
Observe bem antes que o acusem de homicídio,
que uma sombra urgente o abrace sem mágoa, o
confunda com outro,
lhe faça sinais e convide para a cama...
Portanto, leia em pormenor o papel; depois vêm-nos
reclamar e não estamos, compreenderá, para isso.
reclamar e não estamos, compreenderá, para isso.
Se lhe surgir alguma dúvida,
se lhe vier de repente um sorriso aos lábios ou pensar que lhe mentem,
rasgue o papel em mil pedaços, não se preocupe, há perdão
para o furtivo,
não constará no expediente, continue.
se lhe vier de repente um sorriso aos lábios ou pensar que lhe mentem,
rasgue o papel em mil pedaços, não se preocupe, há perdão
para o furtivo,
não constará no expediente, continue.
Momentos há em que rasgados os papéis mais fácil é.
mais bela é a leitura:
reconhece-se antes a palavra seguinte,
pronuncia-se com facilidade e verso e deixam de notar-se
as lentas torções do decassílabo.
mais bela é a leitura:
reconhece-se antes a palavra seguinte,
pronuncia-se com facilidade e verso e deixam de notar-se
as lentas torções do decassílabo.
Ao fundo, na expressão:
não se esqueça de apagar o cigarro, abir a alma,
murmurar à sua sombra algum silêncio:
apagar a luz, sentir entre os lençóis
o livro a fechar-se, ouvir as boas noites."
não se esqueça de apagar o cigarro, abir a alma,
murmurar à sua sombra algum silêncio:
apagar a luz, sentir entre os lençóis
o livro a fechar-se, ouvir as boas noites."
- Jesús Urceloy
-"Poesia Espanhola, Anos 90"
«Os perfumes na sombra têm uma voz de aparição.»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 77
«O luar bate nos poiais de pedra»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 76
«Queria dormir, dormir dias sem conto.»
António Patrício. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 64
''pode morrer tudo aos poucos''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 191
«Não são noites, são rios
de suor na almofada.
O mais está parado.
É uma ausência da alma.
Não são noites, são horas
hora a hora empurradas.
O mais está parado.
É uma ausência de lágrimas.
1964»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 160
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Fernando Assis Pacheco
''Doías-me nos olhos,''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 186
''coisa rúim de cinza e névoa e cinza''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 133
''nem sou sequer quem muda mas um outro''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 123
'' o mal de muita gente é que anda aos gritos''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 120
sábado, 14 de novembro de 2015
"Quem quer que se decida a falar da estupidez corre hoje o risco de ser insultado: podem acusá-lo de pretensiosismo ou de querer perturbar o curso da evolução histórica.
Eu próprio escrevi já há alguns anos:«Se a estupidez não se assemelhasse, a ponto de se confundir, com o progreso, o talento, a esperança ou o aperfeiçoamento, ninguém desejaria ser estúpido.» Isso foi em 1931; e não há quem se atreva a negar que o mundo conheceu, desde então, inúmeros progressos e aperfeiçoamentos! Assim tornou-se pouco a pouco impossível adiar a questão:«O que é. exactamente a estupidez?»"
-"Da Estupidez"
- Robert Musil
Eu próprio escrevi já há alguns anos:«Se a estupidez não se assemelhasse, a ponto de se confundir, com o progreso, o talento, a esperança ou o aperfeiçoamento, ninguém desejaria ser estúpido.» Isso foi em 1931; e não há quem se atreva a negar que o mundo conheceu, desde então, inúmeros progressos e aperfeiçoamentos! Assim tornou-se pouco a pouco impossível adiar a questão:«O que é. exactamente a estupidez?»"
-"Da Estupidez"
- Robert Musil
"Por entre os fios unidos dos cabos, o caminho turvo
Que sobe, que muda com a luz e o voo das cordas, -
Milhas e milhas de luar que vai e vem, tornando sincopada
A agitação murmurada, telepatia de fios.
Lá, no índex da noite, granito e aço -
Malhas tranparentes - imaculados degraus que cintilam -
Vozes sibilinas vacilam, fluxo hesitante
como se das cordas um deus emanasse...
E pelo meio deste cordame, tecendo com o seu apelo
Um arco sinóptico de todas as águas lá em baixo -
As suas gargantas labirínticas da história
Lançam uma resposta como se todosos barcos do mar
Se empenhassem num múrmurio vibrante tornado grito -
«Tem a certeza do teu amor - para lhe teceres a canção que oferecemos!"
- Das represas negras, sons imóveis chamaram,
E do seu sonho responderam sete oceanos."
-"A Ponte"
- Hart Crane
Que sobe, que muda com a luz e o voo das cordas, -
Milhas e milhas de luar que vai e vem, tornando sincopada
A agitação murmurada, telepatia de fios.
Lá, no índex da noite, granito e aço -
Malhas tranparentes - imaculados degraus que cintilam -
Vozes sibilinas vacilam, fluxo hesitante
como se das cordas um deus emanasse...
E pelo meio deste cordame, tecendo com o seu apelo
Um arco sinóptico de todas as águas lá em baixo -
As suas gargantas labirínticas da história
Lançam uma resposta como se todosos barcos do mar
Se empenhassem num múrmurio vibrante tornado grito -
«Tem a certeza do teu amor - para lhe teceres a canção que oferecemos!"
- Das represas negras, sons imóveis chamaram,
E do seu sonho responderam sete oceanos."
-"A Ponte"
- Hart Crane
9
não pude amar mais nada
não pude mais ninguém
e mesmo que te minta
é o contrário disso
e mesmo que te minta
é a verdade seca
posta ali às avessas;
não pude amar mais claro
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 110
não pude mais ninguém
e mesmo que te minta
é o contrário disso
e mesmo que te minta
é a verdade seca
posta ali às avessas;
não pude amar mais claro
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 110
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Barnett’s debut album, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit,
Dead Fox
Jen insists that we buy organic vegetables
And I must admit that I was a little sceptical
At first a little pesticide can't hurt
Never having too much money I get the cheap stuff
At the supermarket but they're all pumped up with shit
A friend told me that they stick nicotine in the apples
If you can't see me I can't see you
Heading down the highway hume
Somewhere at the end of june
Taxidermied kangaroos are littered on the shoulders
A possum jackson pollock is painted on the tar
Sometimes I think a single sneeze could be the end of us
My hay-fever is turning up
Just swerved into a passing truck
Big business over-taking, without indicating
He passes on the right, been driving through the night
To bring us the best price
If you can't see me I can't see you
More people die on the road than they do in the ocean
Maybe we should mull over culling cars
Instead of sharks or just lock them up in parks
Where we can go and view them
There's a bypass over holbrook now
Paid for with burgers no doubt
I've lost count of all the cows
There'll be no salad sandwiches
The law of averages says that we'll stop in the next town
Where the petrol price is down
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
''dores de Ausência''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 94
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ISSO, A WALTER
E vivo que me queres - matarás-me
se vivo te disser que me vi morto?
O cano da pistola tenta um vivo.
Assim eu só voltei para contar-te
que entre o vivo e o morto arrefeceu
aquilo que tu chamas céu da boca,
chão da morte no vivo, terrapleno
disposto para a casa duma bala.
Tu vivo me querias? Porém morto
venho de merda, sangue, frio, pó,
que é a vida que fica dessa morte
na pistola arrependida, na pistola.
Cala já. Não perguntes. Tenho medo
que ao som da tua voz acabe a minha.
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 69
''breves lágrimas inúteis na almofada''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 69
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quinta-feira, 12 de novembro de 2015
"O anjo não se preocupava muito com a minha revolta.
Eu só era o seu veículo, e ele tratava-me como veículo.
Preparava a sua saída. As minhas crises aceleraram-lhe a cadência, e todas se fizeram uma só crise comparável à aproximação do parto. Mas parto monstruoso, que não beneficiava do instinto maternal e da confiança que daí resulta. Imagine-se uma partogénese, um casal formado por um só corpo e que dá à luz. Depois de uma noite em que pensei no suicídio, a expulsão teve enfim lugar na rua d'Anjoou. Durou sete dias em que o vale-tudo da personagem ultrapassava todos os limites por me forçar a escrever contra vontade."
-"O Livro Branco"/ "O Fantasma de Marselha"
- Jean Cocteau
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
"Imagem de juventude e aparente felicidade
ou, pelo menos, de irresponsável alegria,
que regressa tenaz à memória,
mesmo ao recordar que quase tudo foi mentira.
Nem velhos, nem jovens, mas sabíamos
que enganar-nos, que repetir a farsa, era o único,
o mais digno que restava de nós mesmos.
Vodka transparente, os teus olhos escuros,
entreabertos, enquanto te despia,
o ranger da cama e o corpo a quebrar-se.
Depois, meio adormecido, recordo-te a sair
nua, debaixo da trémula lâmpada,
luz verde, escassa, sobre as árvores e a piscina,
sombra na sombra e um baque na água.
Estrondo de palmeiras e pássaros estridentes
enquanto beijo nos teus lábios gotas cálidas,
o teu cabelo húmido, a carícia dos teus dedos.
Os nossos dois corpos juntos, os que chegam agora,
actores sem trabalho, estandartes inúteis,
derrotada ficção na guerra do tempo."
-"Poemas"
- Juan Luis Panero
domingo, 8 de novembro de 2015
"Antes que chegue a noite sobre o mar
e atire o vemto da nortada
as minhas húmidas cinzas para o nada.
Antes que os gastos gestos se dissolvam,
tal como um sorriso que se transforma em esgar
ou os cansados espasmos de um amor extinto.
Antes, ainda, como este sol sobre as ilhas,
tenaz ponto de luz, cor intensa,
que minhas palavras desenhem meu fantasma,
salvo e perdido, na pura intensidade da vida."
-"Poemas"
- Juan Luis Panero
e atire o vemto da nortada
as minhas húmidas cinzas para o nada.
Antes que os gastos gestos se dissolvam,
tal como um sorriso que se transforma em esgar
ou os cansados espasmos de um amor extinto.
Antes, ainda, como este sol sobre as ilhas,
tenaz ponto de luz, cor intensa,
que minhas palavras desenhem meu fantasma,
salvo e perdido, na pura intensidade da vida."
-"Poemas"
- Juan Luis Panero
«O único sítio de paz foi cavado anteontem. Entra-se por um lado, caga-se e sai-se pelo outro.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 50
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verso solto
«Eu sou uma brevíssima pátria de pés esfolados.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 50
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verso solto
6
As bombas - e tu se calhar crês que não - explodiam na mesa de cabeceira. Literalmente. Explodiam às três e às quatro. Morri numa sexta-feira, uma quinta, no dia seguinte davam-se massas ao faxina para recolher tudo para o balde - ossos, tripas, tudo.
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 49
«Dei-vos então o poder
de pisardes serpentes,»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 44/5
de pisardes serpentes,»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 44/5
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versos soltos
«Morremos dez vezes
para nascer dez vezes,»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 39
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versos soltos
«Eras tu, amor? - Era eu, era eu!»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 30
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«Não sei
se o que chamam amor é este apaziguamento.
Não sei se comias fogo. (...)»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 29
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excerto,
Fernando Assis Pacheco
«A tua nudez inquieta-me.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 28
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«Duros seios que esmago contra o peito»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 27
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«Loucas mãos: para o amor violento.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 23
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eclusa
''sistema de comportas que permite aos navios vencer a diferença de nível existente num troço de rio, canal ou entre dois lagos ou oceanos''
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