segunda-feira, 12 de outubro de 2015
«JOVEM LITERATO
Senhor Almeida Garrett, ilustre vate. Já leu a minha peça?
GARRETT
Já. (Para o CRIADO.) Dá cá esses papéis. (Para o LITERATO.)
Aqui tem a sua peça.
LITERATO
Mas não leu! Prometeu-me que punha cruzes em tudo o que não gostasse. Não vejo cruzes nenhumas.
GARRETT
Se pusesse cruzes me tudo o que não gosto, a sua peça ia parecer um cemitério.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 65
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«Fico pálido quando a pátria cora.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 61
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1º DEPUTADO
«Tem talento a mais para ser boa pessoa. É o que eu penso. E mais uma coisa: ele tem a política da alma, que é uma espécie de condescendência que leva os outros a concordar com ele. Esquecemo-nos de nós mesmos pelo prazer de lhe agradar. Mas isto não é bondade. É sangue-frio.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 59
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«As mulheres não são de papel, como tu as inventas.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 42
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GARRETT
«O que produz o amor não se sabe. (Começam a entrar os amigos e a rodeá-los.) Há três espécies de mulheres neste mundo: a mulher que se admira, a mulher que se deseja e a mulher que se ama. Pode-se admirar uma mulher sem a desejar; e pode-se desejar sem a amar.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 38
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Truão
nome masculino
1. bobo
2. figurado pessoa que diverte as outras; palhaço
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«És a minha desgraça, Garrett. Hei-de acabar no asilo por te ter conhecido.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 37
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 37
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"O amor é o único mito de pura exaltação que a humanidade conheceu. O único que parte do coração do desejo e visa a sua satisfação total. O único grito de angústia capaz de se metamorfosear em canto de alegria. Com o amor, o maravilhoso perde o carácter sobrenatural, extraterrestre ou celeste que possui em todos os mitos, regressando de algum modo à sua origem para se inscrever nos limites da existência humana.
Dando corpo às aspirações primordiais do indivíduo, o amor oferece uma via de transmutação que culmina no acordo da carne e do espírito, tendente a fundi-los numa unidade superior. O desejo, no amor, longe de perder de vista o ser de carne que lhe deu origem, sublima o seu objecto numa espécie de sexualização do universo que restabelece no homem uma coesão anteriormente inexistente.
O amor não admite a menor restrição: tudo ou nada, sendo o tudo a vida e o nada a morte."
Ernesto Sampaio. ''Fernanda"
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
« Maja (levantando-se um pouco) Vais-me deixar sentar nos teus joelhos - como antigamente?»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 41
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 41
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«MAJA (...) Mas, hoje em dia, tens um olhar tão cansado - um olhar de derrota ... - nas raríssimas ocasiões em que te dás ao trabalho de olhar para mim.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 40
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 40
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«IRENE (depois de um momento de silêncio) Que poemas escreveste depois disso? Em mármore, claro. Desde o dia em que eu te deixei?
RUBEK Não fiz mais poemas desde esse dia...Só andei a modelar coisas sem importância.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 35
RUBEK Não fiz mais poemas desde esse dia...Só andei a modelar coisas sem importância.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 35
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«IRENE Caí-te aos pés e servi-te, Arnold. (Com o punho cerrado na direcção dele:) Mas tu...!Tu...!
RUBEK (na defensiva) Eu nunca te fiz mal, Irene, nunca.
IRENE Fizeste. Feriste-me profundamente.
RUBEK (recua) Eu?
IRENE Sim, tu! Mostrei-me completamente, sem reservas, para que me completasses (docemente:) e tu não me tocaste uma única vez!
RUBEK Irene, não compreendes que muitas e muitas vezes a tua beleza este a pontos de me levar à loucura?»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 33/4
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«Cuidado para não os empanturrares! Ossos frescos mas sem muita carne, hum? E certifica-te que estão crus e sangrentos!»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p.
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p.
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«Não é vaidade, é costume de actor e veia de amante parecer melhor do que sou.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 36
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«Quando era criança apanhei um puxão de orelhas por ter comprado na Feira da Ladra um retrato de Napoleão.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 30
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Esse ar de Clorinda mata-mouros
GARRETT
«(...) Esse ar de Clorinda mata-mouros, de que eu me ria ao almoço, parece-me deslumbrante à merenda. À ceia não sei que pensamento te vou dedicar. Não há feitios indeléveis. Mas deve-se ser homem apesar da sorte. Diz-me a sorte que te ame; e o homem diz-me que te deixe. Como numa contradança nos chegamos e nos afastamos. Somos impúdicos e depois virtuosos. A educação corrige a condição do amor. Mas o amor é incorrigível.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 26
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«(...) De resto estou pior de aturar. O meu génio acorda pela manhã com um esgar e um bocejo. Ou faço vítimas ou não faço nada.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 24
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«Flirtava com seis, não namorava com nenhuma.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 23
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«(...) São precisas as trevas para acender o coração. E o exílio é sempre mais noite que dia.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 22
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«Só gostei de mulheres lindíssimas. Acho que foi por isso que nunca amei de verdade.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 22
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«LUÍSA
Tens olhos de amigado. Verdes e falsos. Bem sei que estás viúvo duma amante, e eu não te quero mal por isso. Cada um cria em casa a ave de que mais gosta. Uns criam pombas, outros criam corvos. A mancebia e ninho de corvos e põe ovos de corvos na cama.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 17
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«Fedorento é o que cheira e não quer comer por engulho e desespero da servidão.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 19
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''condenado à burla das ambições e ao mérito fingido''
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 19
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«Não gosto de donzelas; são, em geral, doidas por jóias e pão de ló.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 17
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 17
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« GARRETT
Não. Mas que importa? As asas não são sérias nos ombros. Só os chumaços o são.
2º JANOTA
Onde aprendeste a ser tão arrogante?
GARRETT
Não sou arrogante. Sou um homem de quem não se tem pena. Há coisa mais escandalosa para os portugueses? Querem-nos a pedir à porta dos ministérios ou nas escadas das igrejas. Querem-nos calados e em farrapos. Se temos talento, tem que ser às escondidas. Se temos dinheiro é no Banco de Londres, porque aqui parece mal. Se temos mulher, tem que ser feia e mal vestida, senão chamam-nos cornudos. Não sou arrogante, sou feliz.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 17
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GARRETT
«Argumento com lógica, a ironia é lenta como uma procissão porque a ironia quer-se ponderada para parecer justa e não cruel. Sou claro sem vulgaridade, sou elevado sem afectação, sou, enfim, verdadeiro sem ferir a vaidade dos outros. Sou um mestre mas não ensino ninguém: apenas os assombro.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 16
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GARRET
«Não se imita a sinceridade. Eu sou tudo, porque amo tudo o que faço, o que sou, o que desejo.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 16
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GARRETT
«(....) Eu não namoro, amo. Eu não namoro, galanteio. Eu não namoro, faço jardinagem. Já me viste no meu quintal com rosas de trepar. E rosas brancas de musgo.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 15
«(....) Eu não namoro, amo. Eu não namoro, galanteio. Eu não namoro, faço jardinagem. Já me viste no meu quintal com rosas de trepar. E rosas brancas de musgo.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 15
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« 1º JANOTA
Estás muito azedo, Garrett. Ou despeitado. Qual foi a mulher que te resistiu?
GARRETT
Nenhuma. Elas não resistem. Quer dizer: nem a toleima dum dândi as faz desistir do homem que está por baixo dum espartilho como este.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 14
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«GARRET
Conheces nada. O mau gosto não se conhece. Há sempre mais. O bom gosto é como as trufas. Os porcos dão com elas nem que estejam a cem metros de distância, debaixo das folhas.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 12
Conheces nada. O mau gosto não se conhece. Há sempre mais. O bom gosto é como as trufas. Os porcos dão com elas nem que estejam a cem metros de distância, debaixo das folhas.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 12
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quarta-feira, 7 de outubro de 2015
"Esta manhã deste século
entre anjos caídos
a lava da voz humana
podem ouvir neste local da terra
de nome de animal de patas obscenas
como um búzio da cabeça ao sexo
e do sexo à flor do espasmo
vem do murmúrio do caos
e rebenta em sílabas de abelhas nos ouvidos
agora atravessa mil novecentos e oitenta e sete
e todos os meus anos bêbados
vai de um pólo ao outro da memória
e regressa como um tiro no tempo"
António José Forte. Uma Faca nos Dentes.
entre anjos caídos
a lava da voz humana
podem ouvir neste local da terra
de nome de animal de patas obscenas
como um búzio da cabeça ao sexo
e do sexo à flor do espasmo
vem do murmúrio do caos
e rebenta em sílabas de abelhas nos ouvidos
agora atravessa mil novecentos e oitenta e sete
e todos os meus anos bêbados
vai de um pólo ao outro da memória
e regressa como um tiro no tempo"
António José Forte. Uma Faca nos Dentes.
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terça-feira, 6 de outubro de 2015
14 estranhos e desconhecidos transtornos psicológicos
1. Delírio de Capgras
2. Síndrome de Fregoli
3. Delírio de negação ou de Cotard
4. Paramnésia reduplicativa
5. Síndrome da mão estranha
7. Síndrome de Jerusalém
8. Síndrome de Paris
9. Fuga dissociativa
10. Síndrome do sotaque estrangeiro
A pessoa que sofre com a síndrome do sotaque estrangeiro fala sua língua materna com sotaque estrangeiro. É uma doença pouco frequente e costuma ocorrer depois de um forte traumatismo craniano ou alguma lesão que afete os núcleos cerebrais da fala.
11. Síndrome de Estocolmo
11. Síndrome de Estocolmo
12. Síndrome de Lima
13. Síndrome de Stendhal
14. Síndrome de Diógenes
Dizem que viveu em um barril de vinho nas ruas de Atenas. Era famoso por seu descaramento e desenvoltura em seus intercâmbios com Alexandre, o Grande. Conta-se que, em uma ocasião, Alexandre, o Grande, disse a Diógenes “Peça-me o que quiser” e Diógenes respondeu “Afaste-se, pois está me tirando o sol”.
Informação aqui.http://melhorcomsaude.com/14-estranhos-desconhecidos-transtornos-psicologicos/?utm_medium=social
Informação aqui.http://melhorcomsaude.com/14-estranhos-desconhecidos-transtornos-psicologicos/?utm_medium=social
Há mil portas atrás
quando eu era uma miúda solitária
numa casa grande com quatro
garagens e era verão
desde sempre,
da noite deitada na relva,
com os trevos a enrugarem-se por cima de mim
as estrelas sábias deitadas sobre mim,
a janela da minha mãe um funil
de calor amarelo a escorrer
a janela do meu pai, meia fechada,
um olho onde adormecidos passavam,
e as tábuas da casa
eram macias e brancas como a cera
e provavelmente um milhão de folhas
velejavam nos seus caules estranhos
enquanto os grilos faziam tiquetaque em uníssono
e eu, no meu corpo recém estreado,
que ainda não era o de uma mulher,
dizia às estrelas as minhas perguntas
e pensava que Deus poderia mesmo ver
o calor e a luz pintada,
cotovelos, joelhos, sonhos, boa noite.
Anne Sexton
( tradução Maria Sousa)
quando eu era uma miúda solitária
numa casa grande com quatro
garagens e era verão
desde sempre,
da noite deitada na relva,
com os trevos a enrugarem-se por cima de mim
as estrelas sábias deitadas sobre mim,
a janela da minha mãe um funil
de calor amarelo a escorrer
a janela do meu pai, meia fechada,
um olho onde adormecidos passavam,
e as tábuas da casa
eram macias e brancas como a cera
e provavelmente um milhão de folhas
velejavam nos seus caules estranhos
enquanto os grilos faziam tiquetaque em uníssono
e eu, no meu corpo recém estreado,
que ainda não era o de uma mulher,
dizia às estrelas as minhas perguntas
e pensava que Deus poderia mesmo ver
o calor e a luz pintada,
cotovelos, joelhos, sonhos, boa noite.
Anne Sexton
( tradução Maria Sousa)
|| do esquecimento ||
"esqueço-te com a terna complacência do silêncio
habitual das horas no seu movimento
e no entanto restou um perfume quase imperceptível
do olhar por uma vez aceite
em mim, um olhar que julguei
fosse o meu amor, a ilusão
de um gesto que olhamos como
se nos pertencesse e no entanto
nos é alheio.
Eu havia contribuído integralmente.
A terra foi por um instante pura
através do teu corpo elástico e pausado."
Manuel de Castro. "Bonsoir, Madame"
habitual das horas no seu movimento
e no entanto restou um perfume quase imperceptível
do olhar por uma vez aceite
em mim, um olhar que julguei
fosse o meu amor, a ilusão
de um gesto que olhamos como
se nos pertencesse e no entanto
nos é alheio.
Eu havia contribuído integralmente.
A terra foi por um instante pura
através do teu corpo elástico e pausado."
Manuel de Castro. "Bonsoir, Madame"
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
domingo, 4 de outubro de 2015
Lisboa – 1996 © Paulo Nozolino
Paulo Nozolino
Fotógrafo português, Paulo Nozolino nasceu em 1955, em Portugal. A formação deste fotógrafo começou em 1970 quando frequentou o curso de pintura da Sociedade de Belas-Artes de Lisboa. Em meados dos anos 70 ingressou noLondon College Of Printing onde se graduou com o Higher Diploma in Creative Photography. No entanto, o seu interesse por fotografia tinha começado já em 1972. Em 1975, iniciou uma longa viagem pela Europa, Estados Unidos, América Latina, Médio Oriente e Ásia. Como fruto destas viagens resultam vários trabalhos para os Carnets de Route. Em 1978 regressou a Lisboa e colaborou com o jornal francês Liberation. Foi nesse ano que realizou a sua primeira viagem a Marrocos. A fascinação pela cultura árabe fez com que Nozolino realizasse várias viagens(1989-95) por países como Mauritânia, Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iémen. Destas viagens resultou o seu trabalho Penumbra (1996).
Paulo Nozolino vive em Paris e a sua credibilidade faz com que várias instituições lhe encomendem trabalhos (Suspiros de chumbo-1997, Teatro Nacional S. João, Porto) e que colabore com jornais como Le monde.
Ver informação aqui.
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Paulo Nozolino
eleiçoeiro
adjectivo
1. que se ocupa de eleições
2. referente a eleição
3. que visa captar votos
nome masculino
o que se ocupa de eleições
1. que se ocupa de eleições
2. referente a eleição
3. que visa captar votos
nome masculino
o que se ocupa de eleições
sábado, 3 de outubro de 2015
"Não defendo este partido, nem o outro; se ambos diferem à superfície e podem arrastar opiniões, aprofundemos nós um pouco mais e olhemos o substrato sobre que repousa a variedade; o mundo das formas levanta oposições que se desfazem à luz do entendimento; […]
Que vejo de comum ? O rebanho dos homens, ignorantes e lentos no pensar, que se deixam arrastar pelas palavras e com elas se embriagam; nos mais altos, a fuga das responsabilidades claramente assumidas, a recusa ao sacrifício de tudo ante a ideia, a disposição para manejarem a bondade e o heroísmo dos outros, o imoderado apetite do poder, o ódio cego ao adversário que procuram vencer por qualquer meio; a alimentar o fogo da acção as mesmas confusas noções, as mesmas frases de catecismo branco ou vermelho, os mesmos ritos, as mesmas superstições"
Que vejo de comum ? O rebanho dos homens, ignorantes e lentos no pensar, que se deixam arrastar pelas palavras e com elas se embriagam; nos mais altos, a fuga das responsabilidades claramente assumidas, a recusa ao sacrifício de tudo ante a ideia, a disposição para manejarem a bondade e o heroísmo dos outros, o imoderado apetite do poder, o ódio cego ao adversário que procuram vencer por qualquer meio; a alimentar o fogo da acção as mesmas confusas noções, as mesmas frases de catecismo branco ou vermelho, os mesmos ritos, as mesmas superstições"
Agostinho da Silva, “O Terceiro Caminho”, Diário de Alcestes [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 216-217.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
"Just as a painter needs light in order to put the finishing touches to his picture, "so I need an inner light, which I feel I never have enough of in the autumn."
― Leo Tolstoy in a letter to Nikolay Strakhov (September 23)
(Art: "Leo Tolstoy" by Leonid Osipovich Pasternak (1862-1945)
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SE QUISER UM TONTO SABER
Há um ar transparente, com remoto odor a pólvora e mansões de vidro e ferro e uma foto parada à porta;
E há uma viela por onde se desemboca na manhã do primeiro domingo da cidade perdida,
E um parque de árvores altas, com assentos à sombra e uma enorme fonte
Onde os miúdos deitam barcos esperançosos sem saberem que os olha de longe a tristeza;
E há uma ilha frente ao mar, com um hotel e um leito e dois jovens nus ao meio-dia azul que banha os mármores antigos;
E há um bosque vermelho, roxo, dourado,
Que daqui a nada vai ser completamente coberto pela neve
(A neve vista pela primeira vez através dos vidros da janela naquela noite de Outubro),
Onde também está o meu coração.
E há uma viela por onde se desemboca na manhã do primeiro domingo da cidade perdida,
E um parque de árvores altas, com assentos à sombra e uma enorme fonte
Onde os miúdos deitam barcos esperançosos sem saberem que os olha de longe a tristeza;
E há uma ilha frente ao mar, com um hotel e um leito e dois jovens nus ao meio-dia azul que banha os mármores antigos;
E há um bosque vermelho, roxo, dourado,
Que daqui a nada vai ser completamente coberto pela neve
(A neve vista pela primeira vez através dos vidros da janela naquela noite de Outubro),
Onde também está o meu coração.
Roberto Fernández Retamar
(tradução de Vasco Gato)
(tradução de Vasco Gato)
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quinta-feira, 1 de outubro de 2015
«Quando nós, os mortos, despertarmos»
Um epílogo dramático em 3 actos
Henrik Ibsen
Henrik Ibsen
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«Quando a arte de um dramaturgo é perfeita a crítica é supérflua.»
James Joyce, 1900
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[Verse 1]
And they're making children
And they're making love
With their old excuses
"We are built for reproduction"
But I find it soothing
When I am confined
I'm just fearing one day soon
I'll lose my mind
[Chorus]
Then I'll lose my children
Then I'll lose my love
Then I'll sit in silence
Let the pictures soak
Out of televisions
Float across the room
Whisper into one ear
And out the other one
[Verse 2]
Then I'll take my clothes off
And I'll walk around
Because it's so nice outside
And I like the way the sun feels
And when it's dark
I'll call out in the night for my mother
But she isn't coming back for me
Cause she's already gone
But you will not tell me that
Cause you know it hurts me
everytime you say it
And you know you're doing the right thing
You must know you're doing the right thing
[Bridge]
I have lost my children
I have lost my love
I just sit in silence
Let the pictures soak
Out of televisions (x5)
[Outro]
And they're making children
Everyone's in love
I just sit in silence
Let the pictures soak
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(...)
«A memória dos rios rasava a nossa espera
em minutos de carne.
Ao longe o céu, em vão a paz...»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 31
«A memória dos rios rasava a nossa espera
em minutos de carne.
Ao longe o céu, em vão a paz...»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 31
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«Depois gritámos adeus e perdemo-nos de novo.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 21
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verso solto
«Agora eu sabia que em cada manhã
nasceria o sol atrás dos teus ombros.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 13
nasceria o sol atrás dos teus ombros.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 13
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