«Sofrera muito durante a vida, agora estava livre.»
Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 303
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
«Eu não conheço Deus, conheço-me a mim: não passo dum ferreiro mal acabado, de cabeça e coração duros. Mas se fosse eu que tivesse feito o mundo, tê-lo-ia criado melhor.»
Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 284
Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 284
Etiquetas:
deus,
Nikos Kazantzakis,
Os irmãos inimigos
«O coração do homem é um ninho de lagartas. Sopra-lhes em cima, Senhor, e transforma-as em borboletas.»
Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 279
Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 279
Etiquetas:
Nikos Kazantzakis,
Os irmãos inimigos
terça-feira, 1 de setembro de 2015
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
«Mas se a bandeira me ficar nos dentes,
Poderei rir de quem me corta as mãos!»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 453
Poderei rir de quem me corta as mãos!»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 453
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
versos soltos
«Onde se deita o meu amor ausente...»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 450
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
verso solto
«Conto as almas, uma a uma,
Pelo lume dos cigarros.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 407
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
poetas portugueses
SINCERIDADE
Deixa que eu beije
Teus olhos que me viram!
Mas não beijes os meus
Que te mentiram...
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 400
Teus olhos que me viram!
Mas não beijes os meus
Que te mentiram...
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 400
Etiquetas:
amor,
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poema
«Sempre onde há rosas, há-de haver serpentes.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 383
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
verso solto
«A flor que as roseiras dão...»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 374
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
verso solto
«Escutai naquela cama
A oração da malcasada!»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 362
Etiquetas:
autores portugueses,
excerto,
Pedro Homem de Mello,
poesia
«É neve o seu cabelo.
Conta setenta primaveras.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 348
Conta setenta primaveras.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 348
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
versos soltos
«Amar por amar não posso.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 341
Etiquetas:
amor,
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
verso solto
«Lembro-me de tanta gente
Que nem me lembro de ti.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 339
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
versos soltos
” «El arte nunca debe menospreciar sentimientos o utilizarlos para ganar dinero».”
Cineasta Francis Ford Coppola critica comercialización del arte. Juventudrebelde.cu, 2011
Cineasta Francis Ford Coppola critica comercialización del arte. Juventudrebelde.cu, 2011
Etiquetas:
citações,
Francis Ford Coppola
«Mordem na minha garganta
Apelos que ninguém quer.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 325
Apelos que ninguém quer.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 325
Etiquetas:
Pedro Homem de Mello,
versos soltos
«Os que nos roubam só têm fome,»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 324
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
verso solto
domingo, 30 de agosto de 2015
«Beleza que era beleza
Só porque era juventude.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 299
Etiquetas:
Pedro Homem de Mello,
poetas portugueses,
versos soltos
«Amar, mentindo sempre.
Eis a divisa.
Mentir,
Mentir,
Mentir,
Até mais não.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 269
Etiquetas:
autores portugueses,
excerto,
Pedro Homem de Mello,
poesia
[um poema de LEÓN FELIPE]
UIVOS
Passam os dias e os anos, a vida corre
e a gente não sabe por que vive...
Passam os dias e os anos, a morte chega
e a gente não sabe por que morre.
E um dia o homem põe-se a chorar sem mais nem menos,
sem saber por que chora...
e o que significa uma lágrima.
E tão-pouco alguém por si o sabe.
E quando mais tarde a gente abala para sempre,
sem saber quem é
nem o que veio cá fazer...
pensa que talvez tenha vindo apenas chorar
e uivar como um cão...
pelo cão de ontem que se foi,
pelo cão de amanhã que virá
e partirá também sem saber para onde
e por todos os pobres cães mortos do mundo.
Porque: não é o homem um pobre cão perdido e solitário sem dono e sem domicilio conhecido?...
E não pode o Homem chorar e uivar no Vento
sem mais nem menos... porque sim
como uiva o mar... Por que uiva o mar?
Senhor Arcipreste... por que uiva o mar?
e a gente não sabe por que vive...
Passam os dias e os anos, a morte chega
e a gente não sabe por que morre.
E um dia o homem põe-se a chorar sem mais nem menos,
sem saber por que chora...
e o que significa uma lágrima.
E tão-pouco alguém por si o sabe.
E quando mais tarde a gente abala para sempre,
sem saber quem é
nem o que veio cá fazer...
pensa que talvez tenha vindo apenas chorar
e uivar como um cão...
pelo cão de ontem que se foi,
pelo cão de amanhã que virá
e partirá também sem saber para onde
e por todos os pobres cães mortos do mundo.
Porque: não é o homem um pobre cão perdido e solitário sem dono e sem domicilio conhecido?...
E não pode o Homem chorar e uivar no Vento
sem mais nem menos... porque sim
como uiva o mar... Por que uiva o mar?
Senhor Arcipreste... por que uiva o mar?
(in 'O Sapateiro de Van Gogh', tradução de Rui Caeiro, &etc, 1993 - original de 'El Ciervo y otros poemas', 1982)
Etiquetas:
León Felipe,
poema,
poesia,
rui caeiro,
tradução
sábado, 29 de agosto de 2015
«E pensar eu que foi para o teu rosto
Que eu, homem, inventei a flor do nardo!»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 237
Que eu, homem, inventei a flor do nardo!»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 237
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
versos soltos
«E uma dança
Nascia de eu falar ao teu ouvido...»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 197
Nascia de eu falar ao teu ouvido...»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 197
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
versos soltos
«E um cravo pára a meio da brancura...»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 193
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
verso solto
«Caiu-me a noite no peito.
Disse-lhe adeus. Era tarde.
Estava o sonho desfeito!»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 182
Disse-lhe adeus. Era tarde.
Estava o sonho desfeito!»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 182
Etiquetas:
autores portugueses,
excerto,
Pedro Homem de Mello,
poesia
«Dizias-me ao partir, chorando: - É cedo.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 179
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
verso solto
«Não dizem nunca roubo, mas, esmola.
Não dizem vício e amor, mas, sofrimento.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 177
Etiquetas:
Pedro Homem de Mello,
poetas portugueses,
versos soltos
«E as nossas mãos brincavam com o lume
À beira da impaciência
E do ciúme...»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 164
Etiquetas:
autores portugueses,
excerto,
Pedro Homem de Mello,
poesia
«Saudades o que são? São cinzas frias
Que foram fogo e luz no coração;»
Anrique Paço D' Arcos. Poesias Completas. 2.ª Edição. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2006., p.
Etiquetas:
Anrique Paço D' Arcos,
poetas portugueses,
saudade,
versos soltos
«Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 66
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
verso solto
«E havia um cristal no vento
E havia um cristal no mar.
E havia no pensamento
Uma flor por esfolhar...»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 56
Etiquetas:
excerto,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
poetas portugueses
«Tive presságios de adeus.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 42
Etiquetas:
autores portugueses,
Pedro Homem de Mello,
verso solto
QUANDO O VENTO
DOBROU TODO O SALGUEIRO...
Quando o vento dobrou todo o salgueiro
E as folhas caíram sobre o tanque
Disseste-me em segredo:
- A vida é como as folhas
E a morte como as águas!
Depois, à nossa frente,
Um pássaro cortou com o seu voo azul
Os caminhos do vento.
E tu disseste ainda:
-O amor é como as aves...
Mas quando aquele pássaro, ferido
Já não sei por que bala,
Veio cair no tanque,
Mais negros e mais fundos os teus olhos
Prenderam-se nos meus!
E não disseste nada...
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 35
DOBROU TODO O SALGUEIRO...
Quando o vento dobrou todo o salgueiro
E as folhas caíram sobre o tanque
Disseste-me em segredo:
- A vida é como as folhas
E a morte como as águas!
Depois, à nossa frente,
Um pássaro cortou com o seu voo azul
Os caminhos do vento.
E tu disseste ainda:
-O amor é como as aves...
Mas quando aquele pássaro, ferido
Já não sei por que bala,
Veio cair no tanque,
Mais negros e mais fundos os teus olhos
Prenderam-se nos meus!
E não disseste nada...
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983., p. 35
Etiquetas:
autores portugueses,
Morte,
Pedro Homem de Mello,
poema,
poesia,
vida
«De tanto pensar na morte
Mais de cem vezes morri.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983
Mais de cem vezes morri.»
Pedro Homem de Mello. Poesias Escolhidas. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1983
Etiquetas:
autores portugueses,
excerto,
Morte,
Pedro Homem de Mello,
poesia,
versos soltos
«...Compreendi então que nunca mais
a poderia deixar quando me beijou
pela primeira vez e a sua boca sabia a
esperma ainda fresco»
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 71
a poderia deixar quando me beijou
pela primeira vez e a sua boca sabia a
esperma ainda fresco»
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 71
Etiquetas:
excerto,
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
A LUA E MARILYN
(...)
«Gostaria de me encontrar depois contigo num dos
manicómios desta cidade (há vários e vai ser
difícil escolher)
Talvez nos pudéssemos dedicar aí a cultivar rosas
amarelas e fragantes
nos jardins da nossa inconsistência.»
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 63
Etiquetas:
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
DOUGLAS MORRISON
JAMES
1943-1971
cogumelos vermelhos com pintas brancas cresciam
livremente sobre a sepultura
estava inchado mas os seus olhos perdidos algures no
Pacífico
conservavam o mesmo brilho de sempre
Instalei-me o melhor que pude tinha chovido há
pouco e a relva estava molhada
Premi o botão do gravador e
fiz-lhe a primeira pergunta: - Jim
segundo a Agência Noticiosa do Paraíso ocorreram
incidentes lamentáveis durante o teu último
concerto
em Jerusalém
que te masturbaste freneticamente para cima da
assistência enquanto entoavas um salmo do
Antigo Testamento
-O espectador é um animal agonizante-
comentou -
foi uma reacção contra o onanismo de Deus
-O que é a loucura Jim?
-É teres-te esquecido da mala de viagem no útero
da tua mãe
e quereres voltar atrás para a recuperar
ou semeares arroz nas planícies dos teus olhos quando
já não há lágrimas para chorar
Passei então a explorar
a sua infância em Melbourne na Florida os tempos
do Whiskey a Go-Go em Los Angeles
as suas ligações mal conhecidas com o profeta Isaías
-Jim a como está o grama de marijuana no Paraíso?
-A um dólar e dez cents - disse ele.
-Jim uma última pergunta
Que sentido faz um poeta depois de morto? ... -
Não cheguei a ouvir a sua resposta porque entretanto
acordei
estava deitado na minha cama os primeiros raios de
sol penetravam como que a medo pelas frin-
chas das persianas
um pássaro cantava no telhado
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 51/2
JAMES
1943-1971
cogumelos vermelhos com pintas brancas cresciam
livremente sobre a sepultura
estava inchado mas os seus olhos perdidos algures no
Pacífico
conservavam o mesmo brilho de sempre
Instalei-me o melhor que pude tinha chovido há
pouco e a relva estava molhada
Premi o botão do gravador e
fiz-lhe a primeira pergunta: - Jim
segundo a Agência Noticiosa do Paraíso ocorreram
incidentes lamentáveis durante o teu último
concerto
em Jerusalém
que te masturbaste freneticamente para cima da
assistência enquanto entoavas um salmo do
Antigo Testamento
-O espectador é um animal agonizante-
comentou -
foi uma reacção contra o onanismo de Deus
-O que é a loucura Jim?
-É teres-te esquecido da mala de viagem no útero
da tua mãe
e quereres voltar atrás para a recuperar
ou semeares arroz nas planícies dos teus olhos quando
já não há lágrimas para chorar
Passei então a explorar
a sua infância em Melbourne na Florida os tempos
do Whiskey a Go-Go em Los Angeles
as suas ligações mal conhecidas com o profeta Isaías
-Jim a como está o grama de marijuana no Paraíso?
-A um dólar e dez cents - disse ele.
-Jim uma última pergunta
Que sentido faz um poeta depois de morto? ... -
Não cheguei a ouvir a sua resposta porque entretanto
acordei
estava deitado na minha cama os primeiros raios de
sol penetravam como que a medo pelas frin-
chas das persianas
um pássaro cantava no telhado
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 51/2
Etiquetas:
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
«Eu sou a má consciência do meu século. Tenho a
cabeça cheia de ratos e não consigo ver-me livre
deles. Nenhum raticida (o trigo roxo inclusive) se
revelou ainda eficaz.»
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 50
cabeça cheia de ratos e não consigo ver-me livre
deles. Nenhum raticida (o trigo roxo inclusive) se
revelou ainda eficaz.»
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 50
Etiquetas:
excerto,
jorge de sousa braga
«A não ser que se tomem as devidas providências
dentro em breve será celebrada na catedral de S.
Marcos a primeira missa submarina para alguns
cardumes de peixes boquiabertos.»
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 48
dentro em breve será celebrada na catedral de S.
Marcos a primeira missa submarina para alguns
cardumes de peixes boquiabertos.»
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 48
Etiquetas:
excerto,
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
«& a visão da primeira bomba no céu de Hiroshima:
fez-me crescer momentâneamente a água na boca
assim como à milhares de apreciadores de cogumelos.»
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 44
fez-me crescer momentâneamente a água na boca
assim como à milhares de apreciadores de cogumelos.»
Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 44
Etiquetas:
excerto,
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
«Era quase tão bela como a Vénus de Milo. Um dia,
cortou os braços a sangue frio.
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 36
cortou os braços a sangue frio.
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 36
Etiquetas:
excerto,
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
Um tufão chamado Marilyn varreu recentemente uma
das ilhas do Japão, tendo deixado um rasto de inúme-
ros cabelos loiros presos nas árvores.
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 32
das ilhas do Japão, tendo deixado um rasto de inúme-
ros cabelos loiros presos nas árvores.
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 32
Etiquetas:
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
HOMENAGEM AOS MORTOS DA GRANDE
GUERRA
Uns caíram porque não tinham pernas
Outros caíram porque foram empurrados
Outros ainda caíram porque tinham que cair
Eu cheguei atrasado como sempre
(quase duas décadas depois)
e só tive tempo para enxugar os olhos
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 21
GUERRA
Uns caíram porque não tinham pernas
Outros caíram porque foram empurrados
Outros ainda caíram porque tinham que cair
Eu cheguei atrasado como sempre
(quase duas décadas depois)
e só tive tempo para enxugar os olhos
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 21
Etiquetas:
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
DE MANHÃ VAMOS TODOS ACORDAR COM
UMA PÉROLA NO CU
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991.,
UMA PÉROLA NO CU
Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991.,
Etiquetas:
jorge de sousa braga,
poetas portugueses
«Nem a tristeza
Me pesa
Se te encontras a meu lado.»
José Régio. Música Ligeira. Volume Póstumo. Portugália Editora. 1ª edição: 1970. p. 55
Etiquetas:
excerto,
José Régio,
poetas portugueses
tela
Calam-se as vozes, pensam-se saudades.
José Manuel Capêlo. corpo-terra. Trelivro, Lisboa, 1982., p. 75
José Manuel Capêlo. corpo-terra. Trelivro, Lisboa, 1982., p. 75
Etiquetas:
José Manuel Capêlo,
poesia,
poetas portugueses
«Não precisavas de mais nada
a não ser
os necessários comprimidos
que te aguentavam o coração
ou, todos os amigos
de que precisavas e não vinham
ou, o grande amor que há dentro
da tua alma refugiada no pano de pó.»
José Manuel Capêlo. corpo-terra. Trelivro, Lisboa, 1982., p. 61
Etiquetas:
excerto,
José Manuel Capêlo,
poesia,
poetas portugueses
em times square
Rasgaram-se as rosas
no encadeado dos dedos
bem como o apetite
de quem tem raiva nos olhos...
Parti à procura da luz
que vinha do sexo
(por onde me debruçava)
acabando por encontrar a
tua face
enamorada de outras rugas!
Times Square
não tinha mudado de sítio
nem tão pouco
as mãos dos pobres
que se estendiam a cada canto.
Quando plenamente te ris-te
compreendi que tinha
outro céu
à minha frente...
22.Outubro.1981
Lisboa/Portugal
José Manuel Capêlo. corpo-terra. Trelivro, Lisboa, 1982., p. 56
Etiquetas:
José Manuel Capêlo,
poesia,
poetas portugueses
«Puxo de vários cigarros e fumo-os avidamente.
No meio deles, reparo
há metade do meu vazio
como no choro de uma criança
que não tivesse lágrimas
como nas badaladas dum sino
que não tivesse horas.»
José Manuel Capêlo. corpo-terra. Trelivro, Lisboa, 1982., p. 20
No meio deles, reparo
há metade do meu vazio
como no choro de uma criança
que não tivesse lágrimas
como nas badaladas dum sino
que não tivesse horas.»
José Manuel Capêlo. corpo-terra. Trelivro, Lisboa, 1982., p. 20
Etiquetas:
excerto,
José Manuel Capêlo,
poesia
«Se me dói o ventre de não amar.»
Ana Maria Botelho. Céu de Linho. Sociedade de Expansão Cultural, Lisboa, 1972.p 89
Etiquetas:
Ana Maria Botelho,
poetas portugueses,
poetisa,
verso solto
FOI UM BURBURINHO NA CIDADE
NINGUÉM TINHA PÃO PARA A CRIANÇA
QUE QUERIA MAIS PÃO
O jornal dias depois
divulgou a notícia:
Ana Maria Botelho. Céu de Linho. Sociedade de Expansão Cultural, Lisboa, 1972., p. 83
NINGUÉM TINHA PÃO PARA A CRIANÇA
QUE QUERIA MAIS PÃO
O jornal dias depois
divulgou a notícia:
«Encontradas misteriosamente mortas, uma mulher e uma criança num quarto alugado de um terceiro andar da Avenida Almirante Reis. Estavam trancadas as portas. A Senhora Fulana de Tal moradora no segundo andar do mesmo prédio, deu pelo triste sucesso, ao atender de manhã no patamar da escada o padeiro, por sentir um cheiro nauseoso que vinha de cima. Preveniu imediatamente a esquadra. O Chefe Tal está procedendo a investigação para esclarecer a origem deste acto tão desumano e tresloucado.»
Ana Maria Botelho. Céu de Linho. Sociedade de Expansão Cultural, Lisboa, 1972., p. 83
Etiquetas:
Ana Maria Botelho,
poetas portugueses,
poetisa
«Gemer não vale a pena
traz saudades»
Ana Maria Botelho. Céu de Linho. Sociedade de Expansão Cultural, Lisboa, 1972.p. 67
traz saudades»
Ana Maria Botelho. Céu de Linho. Sociedade de Expansão Cultural, Lisboa, 1972.p. 67
Etiquetas:
Ana Maria Botelho,
excerto,
poetas portugueses
«Hoje não senti
O frio da minha alma.»
Ana Maria Botelho. Céu de Linho. Sociedade de Expansão Cultural, Lisboa, 1972.p 33
Etiquetas:
Ana Maria Botelho,
excerto,
poesia,
poetas portugueses
A MINHA POEIRA AO VENTO
Ana Maria Botelho. Céu de Linho. Sociedade de Expansão Cultural, Lisboa, 1972.
Etiquetas:
Ana Maria Botelho,
livros de poesia,
poesia,
títulos
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
«Olhou por cima do ombro para a hóstia branca da Lua que vogava na poeira revolvida pelo vento.»
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 220
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 220
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
John Steinbeck
«A Lua, duma frialdade de pedra, subiu ao céu e seguiu Joseph.»
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 219
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 219
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
John Steinbeck
«O seu espírito era como uma estrada poeirenta»
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 202
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
imagens,
John Steinbeck
''longas linhas ziguezagueantes''
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 201
«Caminhava na direcção que a memória lhe indicava.»
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 199
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 199
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
John Steinbeck
''Temos de utilizar a água para proteger o coração (...)''
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 199
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
John Steinbeck
«Porque será que a terra parece vingativa, agora, que está morta?»
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 198
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
John Steinbeck
«Lançou água sobre as cicatrizes deixadas pelos pés de Elizabeth ao escorregar.»
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 198
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 198
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
John Steinbeck
«A camisa escurecia-lhe com a transpiração.»
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 197
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 197
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
imagens,
John Steinbeck
''Os seus olhos seguiram as cicatrizes da água (...)''
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 197
John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 197
Etiquetas:
a um deus desconhecido,
excerto,
imagens,
John Steinbeck
FRANCISCO DUARTE MANGAS acerca de CESARE PAVESE
«A memória da luta parece infinita. Tecida na mais íntima matéria perecível, tão frágil, afinal, é de verdade. Sempre que releio Pavese, paro nas colinas: vício absurdo, eu sei.»
[Virá a Morte e Terá os Teus Olhos]
Tu não sabes as colinas
onde se derramou o sangue.
Todos nós fugimos
todos nós largámos
a arma e o nome. Uma mulher
olhava para nós quando fugíamos.
De nós só um
parou de punho cerrado,
olhou para o céu vazio,
inclinou a cabeça e morreu
contra o muro, em silêncio.
Agora é um trapo de sangue
e um nome. Uma mulher
espera-nos nas colinas.
[Virá a Morte e Terá os Teus Olhos]
Tu não sabes as colinas
onde se derramou o sangue.
Todos nós fugimos
todos nós largámos
a arma e o nome. Uma mulher
olhava para nós quando fugíamos.
De nós só um
parou de punho cerrado,
olhou para o céu vazio,
inclinou a cabeça e morreu
contra o muro, em silêncio.
Agora é um trapo de sangue
e um nome. Uma mulher
espera-nos nas colinas.
Etiquetas:
Cesare Pavese,
Francisco Duarte Mangas,
poesia,
poetas portugueses
A fome apátrida das aves
livro de Francisco Duarte Mangas
Etiquetas:
Francisco Duarte Mangas,
livros de poesia,
poetas portugueses,
títulos
Bonjardim
1.
Uma janela de guilhotina
golfava na rua, vozes
de barítono rouco e contralto
agreste, num vibrato de raivas
do libreto diário, onde há muito
ou há pouco, se teriam amado.
2.
Ao entrar no quiosque
nesta tarde de névoa, para
comprar um jornal qualquer, uma criança
pediu algo que não entendi. Seria
uma moeda para um chiclet? Perguntei
ao homem sentado atrás das
revistas do coração e dos diários
da bola, de quem seria a criança, como
se pudesse ser de alguém, um ser
tão súbito, nascido da genealogia
indecifrável da tarde.
3.
Vindo do Marquês, o autocarro
chiava na curva estreita, soltando
os seus vapores de gasóleo, e
num portal surgia um gato pardo
para o qual me inclinei, sabendo
que fugiria ao contacto
da minha mão, ou apenas ao
esboço de carícia, como fazem
os gatos, tão fugidios na presença
de estranhos. Mas o animal no
instante do recuo, aceitou o
deslizar dos meus dedos,
em troca de amáveis energias. E
uma longa saudade subiu-me pelo
braço, no arquear festivo
daquele pequeno tigre.
Post-Card
(os velhos, os pombos, os gatos)
Alguns habitantes queixam-se dos pombos. Do mal
que fazem às fachadas, às estátuas, à pintura
dos automóveis. Os pombos não voam a gasolina
e têm humaníssimos hábitos como a gula, as
rivalidades do cio, a sede e a urgência
de defecar. Detestam coleiras, gaiolas, amparos
de casota, ausência de jardins
e adornos de penas alheias. E por este divino
despojamento recebem, às vezes,
algum milho displicente dádiva
de crianças para a fotografia, ou de benignos
velhos reformados. Algumas mulheres continuam
a socorrer os antiquíssimos (e terrestres) gatos
vadios. Gatos da minha infância. Dos muros,
das traseiras, dos quintais - o Sindbad, a Pardoca - com
restos de arroz em papéis engordurados. Carinhosas
velhas, atentas à famélica e materna condição
das ninhadas, enquanto os pombos e os velhos
debicam espaços de pedra onde levavam asas
e entre todos assoma, por instantes,
a decaída aliança entre o Céu e a Terra.
Ária
É belo o tempo de Inverno,
no silêncio, a lenha húmida
das maternas canções da chuva.
Na lentidão de Janeiro
fica mais longe a morte. As aves
habitam nos beirais
como príncipes destronados.
Glenn Gould
a Thomas Bernhard
Procuras o som, a morte de ti mesmo,
centro do teu corpo a percussão que sonhas
límpida,
respiras como as cordas vibram
nessa invenção de vozes
mutuamente perseguidora.
Célere e luminoso expulsas da pauta
os ornatos falsos, os amantes fáceis,
desapossado estás de ti e possuído
pela audível construção impossivelmente perfeita
Steinway Glenn, Glenn Steinway só para Bach.
1.
Uma janela de guilhotina
golfava na rua, vozes
de barítono rouco e contralto
agreste, num vibrato de raivas
do libreto diário, onde há muito
ou há pouco, se teriam amado.
2.
Ao entrar no quiosque
nesta tarde de névoa, para
comprar um jornal qualquer, uma criança
pediu algo que não entendi. Seria
uma moeda para um chiclet? Perguntei
ao homem sentado atrás das
revistas do coração e dos diários
da bola, de quem seria a criança, como
se pudesse ser de alguém, um ser
tão súbito, nascido da genealogia
indecifrável da tarde.
3.
Vindo do Marquês, o autocarro
chiava na curva estreita, soltando
os seus vapores de gasóleo, e
num portal surgia um gato pardo
para o qual me inclinei, sabendo
que fugiria ao contacto
da minha mão, ou apenas ao
esboço de carícia, como fazem
os gatos, tão fugidios na presença
de estranhos. Mas o animal no
instante do recuo, aceitou o
deslizar dos meus dedos,
em troca de amáveis energias. E
uma longa saudade subiu-me pelo
braço, no arquear festivo
daquele pequeno tigre.
Post-Card
(os velhos, os pombos, os gatos)
Alguns habitantes queixam-se dos pombos. Do mal
que fazem às fachadas, às estátuas, à pintura
dos automóveis. Os pombos não voam a gasolina
e têm humaníssimos hábitos como a gula, as
rivalidades do cio, a sede e a urgência
de defecar. Detestam coleiras, gaiolas, amparos
de casota, ausência de jardins
e adornos de penas alheias. E por este divino
despojamento recebem, às vezes,
algum milho displicente dádiva
de crianças para a fotografia, ou de benignos
velhos reformados. Algumas mulheres continuam
a socorrer os antiquíssimos (e terrestres) gatos
vadios. Gatos da minha infância. Dos muros,
das traseiras, dos quintais - o Sindbad, a Pardoca - com
restos de arroz em papéis engordurados. Carinhosas
velhas, atentas à famélica e materna condição
das ninhadas, enquanto os pombos e os velhos
debicam espaços de pedra onde levavam asas
e entre todos assoma, por instantes,
a decaída aliança entre o Céu e a Terra.
Ária
É belo o tempo de Inverno,
no silêncio, a lenha húmida
das maternas canções da chuva.
Na lentidão de Janeiro
fica mais longe a morte. As aves
habitam nos beirais
como príncipes destronados.
Glenn Gould
a Thomas Bernhard
Procuras o som, a morte de ti mesmo,
centro do teu corpo a percussão que sonhas
límpida,
respiras como as cordas vibram
nessa invenção de vozes
mutuamente perseguidora.
Célere e luminoso expulsas da pauta
os ornatos falsos, os amantes fáceis,
desapossado estás de ti e possuído
pela audível construção impossivelmente perfeita
Steinway Glenn, Glenn Steinway só para Bach.
Etiquetas:
Inês Lourenço,
poesia,
poetas portugueses,
poetisa
Vítimas
O gato reinava no terraço
entre hidrângeas, sardinheiras e
muros, silencioso e súbito
na ferida que rasgaria
algum gorjeio. Muitas mortes de asa
incauta, na cobiça de larvas ou insectos
em sucessivos Maios, justificaram
o fulgor das garras, o espinho
certeiro entre veludos. Agora
que se foi o vivaz caçador, na garra
letal dos anos, novos bandos
de pardias inundam
o terraço sem gato.
Cantiga
O gosto irrecuperável dos frutos secos nos invernos da infância,
o estalido das cascas
quando partíamos
aquelas pulsações de madeira,
sarcófagos mais que perfeitos
arrancados a
algum coração de árvore.
Remorso
Durante a leitura nocturna
descia, às vezes, as escadas
e procurava no escuro, dentro
de um cesto, uma forma
redonda. Na quadra iluminada
do quarto, mordia depois a maçã
vermelha escura. Era enorme o ruído
dos dentes, no silêncio dessa hora
tardia e irremediável a culpa
de ter destruído aquela polpa húmida
de onde pendia o descarnado pé
no íntimo saber de pequenas sementes
que podia perfeitamente
ter apodrecido em paz.
As Tristes Claridades
O Verão expulsa o húmido alento
das casas. Desertas desfazem
o tépido novelo que as habita
em refúgio. Pastoras dos sentidos
estão agora de olhos cerrados. Ficará
algum pequeno insecto, predador
de ausências, até que alguma
lâmpada, de súbito acesa
lhe ilumine o corpo ressequido. Cinzas
que não voltam ao mar.
Prado do Repouso
Adoece os olhos este bric-à-brac marmóreo, os
esmaltes, as jarras, a caótica
cenografia dos jazigos, hoje
que todos garantem a sua última
propriedade horizontal. Habitamos
um corpo, tão fácil de ferir, túnica
de sangue, escudo de água, para
o fulgor da vida foi-nos dada
esta veste, não se sabe
para que perecível eternidade.
O gato reinava no terraço
entre hidrângeas, sardinheiras e
muros, silencioso e súbito
na ferida que rasgaria
algum gorjeio. Muitas mortes de asa
incauta, na cobiça de larvas ou insectos
em sucessivos Maios, justificaram
o fulgor das garras, o espinho
certeiro entre veludos. Agora
que se foi o vivaz caçador, na garra
letal dos anos, novos bandos
de pardias inundam
o terraço sem gato.
Cantiga
O gosto irrecuperável dos frutos secos nos invernos da infância,
o estalido das cascas
quando partíamos
aquelas pulsações de madeira,
sarcófagos mais que perfeitos
arrancados a
algum coração de árvore.
Remorso
Durante a leitura nocturna
descia, às vezes, as escadas
e procurava no escuro, dentro
de um cesto, uma forma
redonda. Na quadra iluminada
do quarto, mordia depois a maçã
vermelha escura. Era enorme o ruído
dos dentes, no silêncio dessa hora
tardia e irremediável a culpa
de ter destruído aquela polpa húmida
de onde pendia o descarnado pé
no íntimo saber de pequenas sementes
que podia perfeitamente
ter apodrecido em paz.
As Tristes Claridades
O Verão expulsa o húmido alento
das casas. Desertas desfazem
o tépido novelo que as habita
em refúgio. Pastoras dos sentidos
estão agora de olhos cerrados. Ficará
algum pequeno insecto, predador
de ausências, até que alguma
lâmpada, de súbito acesa
lhe ilumine o corpo ressequido. Cinzas
que não voltam ao mar.
Prado do Repouso
Adoece os olhos este bric-à-brac marmóreo, os
esmaltes, as jarras, a caótica
cenografia dos jazigos, hoje
que todos garantem a sua última
propriedade horizontal. Habitamos
um corpo, tão fácil de ferir, túnica
de sangue, escudo de água, para
o fulgor da vida foi-nos dada
esta veste, não se sabe
para que perecível eternidade.
Etiquetas:
autores portugueses,
Inês Lourenço,
poesia,
poetisa
I Will kiss thy mouth
Do fundo da cisterna
a tua voz eleva-se e nenhuma
masmorra abafa este ardor
por ela aceso, no derradeiro véu,
a minha pele. Nem as proféticas
maldições, nem o teu repúdio,
nem a luxúria do tetrarca
me impedem de cumprir
o mandamento primeiro
da paixão: a colheita
da tua face.
Última véspera
Agora que um longo inverno se aproxima
com os seus labirintos de sombra,
regresso àquela véspera
de onde se parte sempre,
acesos os afluentes da espera
ou as fulvas crateras da guerrilha.
Agora que as asas do silêncio
se insinuam, na crescente mancha
dos espelhos, recebo os teus olhos
como um recém-nascido, vulnerável
e combalido pela luz recente, recebe
a água do seu primeiro banho.
Miramar
Acender um cigarro na praia, proteger
o difícil estertor da pequena chama. Anular
o vento na manga do teu casaco. Reter
preso entre os dedos o princípio breve
dessa efémera combustão.
Vagas
A colcha da cama desfeita é agora mais leve e mais clara.
As sandálias brancas enviaram
ao armário, a sombra
impermeável das botas. No lugar
do gorro de lã, demora-se hoje
um leve chapéu de palha. Algumas
plantas secaram, mas o calor dos
corpos libertou os lençóis
da sua humilde tarefa, lançando-os
longe como vagas de Agosto.
Do fundo da cisterna
a tua voz eleva-se e nenhuma
masmorra abafa este ardor
por ela aceso, no derradeiro véu,
a minha pele. Nem as proféticas
maldições, nem o teu repúdio,
nem a luxúria do tetrarca
me impedem de cumprir
o mandamento primeiro
da paixão: a colheita
da tua face.
Última véspera
Agora que um longo inverno se aproxima
com os seus labirintos de sombra,
regresso àquela véspera
de onde se parte sempre,
acesos os afluentes da espera
ou as fulvas crateras da guerrilha.
Agora que as asas do silêncio
se insinuam, na crescente mancha
dos espelhos, recebo os teus olhos
como um recém-nascido, vulnerável
e combalido pela luz recente, recebe
a água do seu primeiro banho.
Miramar
Acender um cigarro na praia, proteger
o difícil estertor da pequena chama. Anular
o vento na manga do teu casaco. Reter
preso entre os dedos o princípio breve
dessa efémera combustão.
Vagas
A colcha da cama desfeita é agora mais leve e mais clara.
As sandálias brancas enviaram
ao armário, a sombra
impermeável das botas. No lugar
do gorro de lã, demora-se hoje
um leve chapéu de palha. Algumas
plantas secaram, mas o calor dos
corpos libertou os lençóis
da sua humilde tarefa, lançando-os
longe como vagas de Agosto.
Etiquetas:
autores portugueses,
Inês Lourenço,
poesia,
poetisa
Subscrever:
Mensagens (Atom)