quinta-feira, 6 de março de 2014
« - Eu, minha mãe! ... - disse ele cascalhando uma risada. - A minha vida bem a sabe. De dia, leio; de noite, escrevo e durmo. Ninguém conquista corações a lidar com a traça das livrarias dos frades. O deus do amor não ousa penetrar com os seus dardos no arnês das capas encoiradas dos livros que me defendem. »
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Livros do bolso europa américa, Lisboa, 1971., p. 151
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Heaven Knows I'm Miserable Now
I was happy in the haze of a
drunken hour
But heaven knows I'm miserable now
I was looking for a job,
And then I found a job
And heaven knows I'm miserable now
In my life
Why do I give valuable time
To people who don't care
If I live or die?
Two lovers entwined pass me by
And heaven knows I'm miserable now
I was looking for a job,
And then I found a job
And heaven knows I'm miserable now
In my life
Oh, why do I give valuable time
To people who don't care
If I live or die?
What she asked of me
At the end of the day
Caligula would have blushed
"You've been in the house
Too long", she said
And I naturally fled
In my life why do I smile
At people who I'd much rather
Kick in the eye?
I was happy in the haze of a drunken hour
But heaven knows I'm miserable now
"You've been in the house
Too long", she said
And I naturally fled
In my life
Why do I give valuable time
To people who don't care
If I live or die?
But heaven knows I'm miserable now
I was looking for a job,
And then I found a job
And heaven knows I'm miserable now
In my life
Why do I give valuable time
To people who don't care
If I live or die?
Two lovers entwined pass me by
And heaven knows I'm miserable now
I was looking for a job,
And then I found a job
And heaven knows I'm miserable now
In my life
Oh, why do I give valuable time
To people who don't care
If I live or die?
What she asked of me
At the end of the day
Caligula would have blushed
"You've been in the house
Too long", she said
And I naturally fled
In my life why do I smile
At people who I'd much rather
Kick in the eye?
I was happy in the haze of a drunken hour
But heaven knows I'm miserable now
"You've been in the house
Too long", she said
And I naturally fled
In my life
Why do I give valuable time
To people who don't care
If I live or die?
mantear
verbo transitivo
1. fazer saltar (alguém) sobre uma manta segura pelas quatro pontas
2. chamar (o touro) com a capa
3. figurado importunar
verbo intransitivo
lavrar a terra em mantas
torvar
verbo transitivo
1. irritar; inquietar; perturbar
2. antiquado impedir
verbo intransitivo
tornar-se carrancudo; irritar-se; perturbar-se
(Do latim turbāre, «idem»)
«Pareceu-lhe de repente que alguma coisa acabava de passar por diante da janela, do lado de fora.
''Quem é? Será o feitor?...'', pensou o velho, ouvindo os passos no vestíbulo.'' Talvez a minha velha não tivesse fechado bem a porta.''
O cão ladrou no pátio; ele atravessou o vestíbulo, em seguida, como depois contou o velho, procurou a porta, transpôs o limiar, pôs-se a caminhar ao longo da parede, às apalpadelas, topou com um barril e, novamente hesitante, parecia procurar o ferrolho.
Eis que o encontrara. O velho sente um calafrio por todo o corpo. O espírito mau entra com cara de homem.
Dutlov sabia já que era ele. Quer fazer um sinal da cruz, mas não o consegue. Ele aproxima-se da mesa, coberta com um tapete, tira-o, lança-o ao chão e precipita-se para o fogão.
Então o velho reconheceu que o espírito mau tinha tomado a figura de Polikuchka. Mostrava os dentes, as suas mãos balouçavam; subiu ao fogão, caiu sobre Dutlov e tentou estrangulá-lo.
-É o meu dinheiro! - disse Ilicht.
''Deixa-me!'', quis Semen articular, mas sem o poder fazer.
Polikey oprimia-lhe o peito com todo o peso de uma montanha. Dutlov sabia que uma oração o obrigaria a largar a presa, sabia qual era, mas não a podia sequer murmurar.»
Leão Tolstoi. Polikuchka. Livros de bolso Europa-América., p. 104/5
-É o meu dinheiro! - disse Ilicht.
''Deixa-me!'', quis Semen articular, mas sem o poder fazer.
Polikey oprimia-lhe o peito com todo o peso de uma montanha. Dutlov sabia que uma oração o obrigaria a largar a presa, sabia qual era, mas não a podia sequer murmurar.»
Leão Tolstoi. Polikuchka. Livros de bolso Europa-América., p. 104/5
quarta-feira, 5 de março de 2014
terça-feira, 4 de março de 2014
História de Inverno
A mulher de água
traz limos nas espáduas
Tem olhos de lagoa
e o corpo como um rio.
Traz musgo sobre os seios
e a sua voz dá frio,
o seu olhar magoa.
Mas não lhe sei o nome.
Estende os cabelos de água
no inverno dos meus olhos,
dorme na minha sorte
por toda a noite insone.
Faz um rumor de chuva,
tem um sabor de morte.
Mas não lhe sei o nome.
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 73
traz limos nas espáduas
Tem olhos de lagoa
e o corpo como um rio.
Traz musgo sobre os seios
e a sua voz dá frio,
o seu olhar magoa.
Mas não lhe sei o nome.
Estende os cabelos de água
no inverno dos meus olhos,
dorme na minha sorte
por toda a noite insone.
Faz um rumor de chuva,
tem um sabor de morte.
Mas não lhe sei o nome.
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 73
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«Filha: tendes escutado
quanto deixo convencido
esse tão tirano estado
de viver com um marido
cruel e mal inclinado.
Não vos fieis de propostas
nem das suas aparências.
Por não darmos más respostas,
nos propõem mil conveniências:
depois quebram-nos as costas.
Sempre foi o mais perfeito
o estado de celibato.»
Paula da Graça. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 76
quanto deixo convencido
esse tão tirano estado
de viver com um marido
cruel e mal inclinado.
Não vos fieis de propostas
nem das suas aparências.
Por não darmos más respostas,
nos propõem mil conveniências:
depois quebram-nos as costas.
Sempre foi o mais perfeito
o estado de celibato.»
Paula da Graça. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 76
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«SE POR DAR LUSTRE...»
Se por dar lustre aos pesares
Vossas lágrimas teimosas
Correm por margens de rosas,
Porque não cabem nos mares,
A submergir esses ares
Subiram rios crescendo,
E certo o naufrágio sendo,
A fineza deslustrais,
Porque podendo amar mais,
Deixareis de amar morrendo.
Deixai que o mar se dilate,
Que o rio se precipite,
Que o vento se fortifique,
Que em água a nuvem desate,
Sem que vós neste combate
Balas de neve esgrimindo,
Que as estrelas vão ferindo,
De neve e fogo tomeis
As armas com que ofendeis,
De amor os raios cobrindo.
Soror Madalena da Glória. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 63-64
Vossas lágrimas teimosas
Correm por margens de rosas,
Porque não cabem nos mares,
A submergir esses ares
Subiram rios crescendo,
E certo o naufrágio sendo,
A fineza deslustrais,
Porque podendo amar mais,
Deixareis de amar morrendo.
Deixai que o mar se dilate,
Que o rio se precipite,
Que o vento se fortifique,
Que em água a nuvem desate,
Sem que vós neste combate
Balas de neve esgrimindo,
Que as estrelas vão ferindo,
De neve e fogo tomeis
As armas com que ofendeis,
De amor os raios cobrindo.
Soror Madalena da Glória. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 63-64
Tenho amor, sem ter amores.
Soror Madalena da Glória. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 59
«Ó morte, aonde estás? Tu me socorre,
Que um infeliz descansa quando morre.»
Soror Madalena da Glória. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 57
Que um infeliz descansa quando morre.»
Soror Madalena da Glória. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 57
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Que a dor só vive em mim, que eu já não vivo.
Soror Madalena da Glória. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 57
Quero morrer de esquecida.
Soror Violante do Céu. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 39
Razão
Se achásseis paciência
teríeis consolação;
deitai fora a paixão,
agasalhai a prudência:
muitas voltas dá o tempo
no que impossível parece:
dar-vos-á contentamento
no que vos entristece.
Joana da Gama. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 23
teríeis consolação;
deitai fora a paixão,
agasalhai a prudência:
muitas voltas dá o tempo
no que impossível parece:
dar-vos-á contentamento
no que vos entristece.
Joana da Gama. Antologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 23
Não condenemos os pensamentos de ninguém, antes de os examinar de raiz.
«Não condenemos os pensamentos de ninguém, antes de os examinar de raiz.
Olhemos antes para o céu daquele dia 26 de Março de 1828.
Que formoso nascia o sol! Que chilreado de aves, e perfumado das auras pernoitadas nas urnas das flores!
Se há-de cuidar-se que o Criador daquela manhã tinha sido o mesmo que fizera as trevas e os homens da noite passada!»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Livros do bolso europa américa, Lisboa, 1971., p. 117
Olhemos antes para o céu daquele dia 26 de Março de 1828.
Que formoso nascia o sol! Que chilreado de aves, e perfumado das auras pernoitadas nas urnas das flores!
Se há-de cuidar-se que o Criador daquela manhã tinha sido o mesmo que fizera as trevas e os homens da noite passada!»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Livros do bolso europa américa, Lisboa, 1971., p. 117
«Duniacha aquecia cera amarela e deitava-a em água fria. Para que faria ela spusk*? Não sei, mas faziam-na todas as vezes que a barina se achava indisposta, e àquela hora estava quase doente.
*Esta preparação de azeite e de cera amarela quente e deitada em água fria é considerada pelo povo como um específico contra a enxaqueca e as nevralgias. Espalha-se sobre a cabeça do doente.
Leão Tolstoi. Polikuchka. Livros de bolso Europa-América., p. 86
Elegia de Coimbra
Gela a lua de março nos telhados
e à luz adormecida
choram as casas e os homens
nas colinas da vida.
Correm as lágrimas ao rio,
a esse vale das dores passadas,
mas choram as paredes e as almas
outra dores que não foram perdoadas.
Aos que virão depois de mim
caiba em sorte outra herança:
o oiro depositado
nas margens da lembrança.
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 57
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3
Fosse outro o mundo e outra a comum fortuna,
nunca as lágrimas comprado o pão da vida
e no estrume do coração colhida
fosse por fim achada a flor da sina:
seios, irmãos da concha dos dedos,
seria então a cor da minha oca o roxo em teus
[mamilos.
Mas assim, meu amor, pra que degredos
gerarias em carne a nossos filhos?
pra que fome de sonhos e ínvios trilhos?
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 55
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«vem, lume perdido
florir-me os olhos.»
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 49
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Cantiga do Ódio
O amor de guardar ódios
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 47
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3
Quem soprou na gândara
a última chama?
Se quiseres, ó morte,
abro-te os lençóis
e dou-te a minha cama.
Vai meu coração
pelas aldeias moiras
onde pena e erra,
peregrinação
ao tojo da terra.
Caminheiro cansado
sem nenhum bordão,
onde houver um sonho
para ser sonhado
está meu coração.
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 43
a última chama?
Se quiseres, ó morte,
abro-te os lençóis
e dou-te a minha cama.
Vai meu coração
pelas aldeias moiras
onde pena e erra,
peregrinação
ao tojo da terra.
Caminheiro cansado
sem nenhum bordão,
onde houver um sonho
para ser sonhado
está meu coração.
Carlos de Oliveira. Obras de Carlos de Oliveira. Editorial Caminho, Lisboa, 1992., p. 43
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Ao luar, à boca da caverna funda.
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 67
«Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração!»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 64
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«Doo-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 63
E a dor é já de pensar,»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 63
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«O amante sem amante,
Ora amado, ora traído...»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 61
Ora amado, ora traído...»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 61
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domingo, 2 de março de 2014
«Maria Adelaide não chegara ao estado de adulta, talvez pelo muito amor que tinha pelo pai e que julgava inspirar pelo facto de ser criança. As crianças têm com frequência a nostalgia de serem nómadas e, como consequência disso, quando adultas, o sonho de levar uma vida amorosa sem peias e com um toque incestuoso faz com que sejam atraídas pela renúncia ao conforto e ao bem-estar. Depois havia outro motivo, que os alienistas não suspeitaram. Foi o da ascensão social da família numa época em que a sua natureza sexual não estava plenamente desenvolvido, Nem estaria nunca. É uma mulher-menina e nisto está a sua força de atracção: o seu estado virginal comove com a maior das seduções.
Tudo isto fez o processo da sua neurose obsessiva. Quando o pai se torna rico e bem sucedido na sociedade, Maria Adelaide, adolescente ou criança ainda, sente essa elevação social como uma perda. Desfaz-se em graças domésticas, é incansável, carinhosa, bem educada. Casa-se com o rapaz com futuro que lhe é destinado e que a obriga a viver de maneira elegante e refinada. Mudam-se para o palácio de São Vicente, onde ela se torna na mulher mais invejada e querida de Lisboa. Mas a sua impotência manifesta-se nas crises de mau-humor e fechando-se às escuras no salão, donde despede os amigos e os admiradores. A segurança que demonstrava, desaparece. E, de repente, Maria Adelaide sofre uma crise de exuberância infantil, com a sua fase de sexualidade sem controlo, com um ódio profundo a qualquer convenção social que trave a sua expansão. Um pouco como Julieta, mas sem a idade de Julieta. Não é amor, é o arrastamento do ideal que o nosso ambiente de cultura e estilo pomposo só serve para despistar. Volta-se contra o marido e a gente dele, os amigos bem colocados, bem sucedidos. Durante um período que podia ter sido longo, ela sofre do complexo do convite; sai muito, é vista na ópera, nos chás, no teatro, com uma vulgaridade de exibição que se diria a partir dum sentimento de inferioridade. Torna-se susceptível, odienta, passa à acção quanto no seu inconsciente está à mercê de múltiplas excitações.
Foi nessa altura que, numa noite em que recebiam, em Santa Comba, Manuel cantou o fado. Era o que se chama um bom rapaz, não muito inteligente, sem estudos nem propensões. Uma nova escala de valores desencadeia o conflito entre a pessoa educada e sensível e o desejo que não completamente recusa o instinto de morte. Amar o Manuel, fugir de casa, cortar com a família, é uma forma de suicídio. Ela própria pede que a considerem morta. Escreve isso numa cartinha graciosa, pequenina, com uma ilustração dum par que tanto pode ser de camaradas de escola como namorados muito jovens. É a carta duma criança de dez anos.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 219
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«Uma mulher, quando começa a perceber que é infalível, como o Papa, torna-se um instrumento de tortura.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 219
«Maria Adelaide, se não é louca, é destemida; tem o seu lado de bravia, como a mulher domada de Shakespeare.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 218
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 218
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«A cozinha denegrida pelo fumo da lareira, a arca do pão, o enchido no fumeiro, tudo lhe recordava o tempo em que, criança, passava as férias na Beira-Alta com os irmãos. Era esse retorno que a tranquilizava, porque nada é mais benéfico para um espírito perturbado do que o regresso à casa protectora onde se nasceu, onde se criaram as raízes das primeiras recordações. Maria Adelaide, grande depressiva, maltratada por emoções que iam além das suas forças debilitadas pelo culto da civilização, sentia-se amada e protegia entre a gente simples do Roção.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 213
«As mulheres amoráveis são todas; mas porque pressentem alguma humilhação na forma como são despedidas do coração dos homens, o que é justo porque o coração dos homens engana de noite e de dia, elas criam um calor de vingança até no que elas é expansão das melhores virtudes.»
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domingo, 23 de fevereiro de 2014
Ela queria amar.
«Ela queria amar. Incapaz de tolerar a frustração da idade e de tudo aquilo que a condenava e a excluía como objecto de amor, Maria Adelaide recorria a uma agressão destruidora que atingia o marido, os amigos, a sociedade denunciante. Mas, ao mesmo tempo que se sentia livre de amar, a violência das emoções despojava-a do sentimento do amor.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 194
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«Não se sente traído, quem ama não sente a traição, mas só tem o objectivo de recuperar a mulher ou o que dela resta.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 193
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«(...) Quando um homem dá importância a uma mulher toma este ar distraído.
-O sentimento trágico é o que temos quando percebemos que os homens poderosos não estão preocupados com as decisões deles. Precisam de decidir rapidamente coisas que levariam muito tempo a reflectir. Se reflectissem eram filósofos e não políticos. Total: o sentimento trágico da vida é uma reacção pessoal.
-As mulheres não têm reacções pessoais?
-Elas não são pessoas, são um padrão.
-Um padrão de quê?
-De qualquer coisa. Estão sujeitas às escolas de charme desde que nasceram e acreditam que só isso as pode salvar.
-Salvar de quê?
-De tudo, absolutamente tudo. Da raiva e das verrugas. Dum marido chato e pobre e de filhos malcriados.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 185
-O sentimento trágico é o que temos quando percebemos que os homens poderosos não estão preocupados com as decisões deles. Precisam de decidir rapidamente coisas que levariam muito tempo a reflectir. Se reflectissem eram filósofos e não políticos. Total: o sentimento trágico da vida é uma reacção pessoal.
-As mulheres não têm reacções pessoais?
-Elas não são pessoas, são um padrão.
-Um padrão de quê?
-De qualquer coisa. Estão sujeitas às escolas de charme desde que nasceram e acreditam que só isso as pode salvar.
-Salvar de quê?
-De tudo, absolutamente tudo. Da raiva e das verrugas. Dum marido chato e pobre e de filhos malcriados.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 185
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«Não a julgava capaz de se apaixonar, mas sim de ser impelida a agir pelas suas decepções acumuladas.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 185
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XL
« - Há gente muito bem caçada neste mundo! - dizia Francisco Freire. Com bem caçado queria dizer uma pessoa com o seu lado de originalidade que confinava com a loucura. Para um homem são do juízo (que é o mais desconcertante dos homens) um manicómio é um lugar onde se tratam os doentes mentais e, sobretudo, onde a família os deposita para tranquilizar dela própria e para que não estorvem os casamentos das meninas da casa. Um louco faz uma má impressão e não há muitos rapazes que aspirem à mão de uma jovem, por bonita e decente que ela seja, se um irmão incómodo entra na sala com um barrete, feito de jornal, na cabeça. Além disso, pode fazer coisas mais assustadoras e que não têm nada de hilariante; como pegar num machado da carvoeira e levantá-lo à altura dos olhos do aterrado pretendente. É certo que, se estivesse na cidade de Erewhon, isso seria prova de perfeito juízo, e o dito irmãozinho podia chegar a um alto posto na sociedade, inspector fiscal ou qualquer coisa assim. Há uma quantidade de empregos disponíveis para pessoas destas, empregos que, em geral, são ocupados por gente sorumbática e rotineira. A propósito, alguém que é sorumbático tem muitas probabilidades de ser um louco perigoso. Maria Adelaide acusava o marido desse horrível defeito e recorria à genealogia dele para o comprovar. O pai e o avô do doutor Cunha eram tirânicos e desagradecidos com as mulheres. O avô chegou a ditar uma cláusula no testamento que o punha a salvo de ser enterrado junto da esposa. Amuavam frequentemente, mantendo-se calados durante dias e semanas. Um tio, que era mais fantasioso: apaixonou-se por uma espanhola que era artista ambulante e escrevia o nome dela nas paredes, e, cúmulo da insanidade, chegou a casar com ela. O doutor Egas Moniz tratara pelo menos uma prima de Alfredo da Cunha, e nessa família do Fundão havia casos de neurastenia delirante.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 183/4
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«(...) Sabia-se que para curar uma doença da alma era preciso ser-se filósofo. Sabia-se que a origem dessas doenças não era outra coisa senão um desejo violento por uma coisa que o doente encara como um bem. O dever do médico consistia em provar ao doente, por meio de sólidas razões, que aquilo que o doente deseja com tal ardor é um bem aparente. Ora, o paciente só parece curado quando o estado arcaico da sua natureza profunda é atingido pelo medo de ser expulso da terra da sua verdade imediata.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 181/2
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«Há decisões irrevogáveis, são as que coincidem com a liberdade.
Ninguém como a mulher preza a liberdade. O sucesso interessa-lhe menos do que ao homem e entende como vida agradável acreditar nos afectos. A literatura das mulheres não se desenvolveu tanto como quando nos anos 20 uma nova ambição ofusca o desejo do sucesso. É quando a forma de sentir do homem se aproxima da da mulher; ela tem prazer de resignação que nenhum outro iguala. É o sucesso que significa a perda da integridade e a desertificação do amor humano. Como Maria Adelaide descreve, a sua vida com Manuel parece-nos um pouco lírica. ''À tarde lia ao meu companheiro, ou ele lia a mim, livros dos melhores autores portugueses que por assinatura tínhamos conseguido de uma livraria de Lisboa.''»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 170
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«Essa mulher, '' que vivia num museu que o seu coração transformara num lar'', descobria a veia teatral do seu temperamento. Não interpreta uma personagem, cria uma personagem.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 168
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 168
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Uma mulher medíocre
«Uma mulher medíocre é capaz de destruir um homem de talento sem lhe deixar senão os pés dentro das botas.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 159
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sábado, 22 de fevereiro de 2014
Werewolf
Oh the werewolf, oh the werewolf
Comes stepping along
He don't even break the branches where he's gone
Once I saw him in the moonlight, when the bats were a flying
I saw the werewolf, and the werewolf was crying
Cryin' nobody knows, nobody knows, body knows
How I loved the man, as I teared off his clothes.
Cryin' nobody know, nobody knows my pain
When I see that it's risen; that full moon again
For the werewolf, for the werewolf has sympathy
For the werewolf, somebody like you and me.
And only he goes to me, man this little flute I play.
All through the night, until the light of day, and we are doomed to play.
For the werewolf, for the werewolf, has sympathy
For the werewolf, somebody like you and me
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