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domingo, 7 de outubro de 2018
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
À memória de Raquel Moacir
A tua morte é sempre nova em mim.
Não amadurece. Não tem fim.
Se ergo os olhos dum livro, de repente
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
Sempre, cada dia, cada instante,
a tua morte é nova em mim,
sempre impossível.
E assim, até à noite final
irás morrendo a cada instante
da vida que ficou fingindo vida.
Redescubro a tua morte como outros
redescobrem o amor,
porque em cada lugar, cada momento,
tu estás viva.
Viverei até à hora derradeira a tua morte.
Aos goles, lentos goles. Como se fosse
cada vez um veneno novo.
Não é tanto a saudade que dói, mas o remorso.
O remorso de todo o perdido em nossa vida,
coisas de antes e depois, coisas de nunca,
palavras mudas para sempre, um gesto
que sem remédio jamais teve destino,
o olhar que procura e nunca tem resposta.
O único presente verdadeiro é teres partido.
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Adolfo Casais Monteiro
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quarta-feira, 12 de março de 2014
OLHAR
Límpidas serenidades de águas claras
com algas verdes, flutuantes, lentas,
em ondulações tenuíssimas e raras...
Desmaios da manhã, em claridade,
roçando, leve, a prata silenciosa
de um lago
vago....
Dormência funda; serena eternidade
como um sonho de esfinge misteriosa...
Ondas revoltas do mar
com cadáveres de naufrágios a boiar
de bruços, olhos mergulhados
e perdidos
na busca dos abismos desejados
e nunca conseguidos...
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 292
com algas verdes, flutuantes, lentas,
em ondulações tenuíssimas e raras...
Desmaios da manhã, em claridade,
roçando, leve, a prata silenciosa
de um lago
vago....
Dormência funda; serena eternidade
como um sonho de esfinge misteriosa...
Ondas revoltas do mar
com cadáveres de naufrágios a boiar
de bruços, olhos mergulhados
e perdidos
na busca dos abismos desejados
e nunca conseguidos...
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 292
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o sabor entre os dentes dos sabores todos da noite
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 287
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verso solto
Os cafés estão abertos nas casas como olhos que não podem ter sono
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 286
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MUNDO REMOTO
Noite opaca e impenetrável
noite que parece conter todos os caminhos
a possibilidade de todas as vitórias
os segredos de todas as interrogações
noite
afinal pasmada e morta
inerte e gelada
noite enganosa
esfinge vazia que dá a treva como um sinal que parece
esperar-nos e é só indiferença
noite
flexível como um corpo de prostituta a estrear
dando-se como ela de sentidos ausentes
de sentidos fechados e fingindo
opaca e impenetrável
opaca e insensível
derramando névoas que empapam os olhos de sonho
afinal porta falsa para qualquer parte
varanda irreal sem Ocidente nem Oriente sem Norte nem
Sul
afinal como um cenário pintado
muda e distante
alheia...
(...)
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 283
noite que parece conter todos os caminhos
a possibilidade de todas as vitórias
os segredos de todas as interrogações
noite
afinal pasmada e morta
inerte e gelada
noite enganosa
esfinge vazia que dá a treva como um sinal que parece
esperar-nos e é só indiferença
noite
flexível como um corpo de prostituta a estrear
dando-se como ela de sentidos ausentes
de sentidos fechados e fingindo
opaca e impenetrável
opaca e insensível
derramando névoas que empapam os olhos de sonho
afinal porta falsa para qualquer parte
varanda irreal sem Ocidente nem Oriente sem Norte nem
Sul
afinal como um cenário pintado
muda e distante
alheia...
(...)
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 283
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INOCÊNCIA
Eu que procuro a paz e a detesto
que sonho as Babilónias, já sabendo
o cansaço que delas hei-de ter,
eu que tudo amo...e nada quero,
embora sempre em busca doutra coisa,
donde tiro ainda a força dos meus braços?
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 277
que sonho as Babilónias, já sabendo
o cansaço que delas hei-de ter,
eu que tudo amo...e nada quero,
embora sempre em busca doutra coisa,
donde tiro ainda a força dos meus braços?
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 277
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terça-feira, 11 de março de 2014
a agonia lenta duma alma não minha.
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 277
terça-feira, 4 de março de 2014
Ao luar, à boca da caverna funda.
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 67
«Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração!»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 64
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«Doo-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 63
E a dor é já de pensar,»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 63
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«O amante sem amante,
Ora amado, ora traído...»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 61
Ora amado, ora traído...»
Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 61
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