Noite opaca e impenetrável
noite que parece conter todos os caminhos
a possibilidade de todas as vitórias
os segredos de todas as interrogações
noite
afinal pasmada e morta
inerte e gelada
noite enganosa
esfinge vazia que dá a treva como um sinal que parece
esperar-nos e é só indiferença
noite
flexível como um corpo de prostituta a estrear
dando-se como ela de sentidos ausentes
de sentidos fechados e fingindo
opaca e impenetrável
opaca e insensível
derramando névoas que empapam os olhos de sonho
afinal porta falsa para qualquer parte
varanda irreal sem Ocidente nem Oriente sem Norte nem
Sul
afinal como um cenário pintado
muda e distante
alheia...
(...)
Adolfo Casais Monteiro in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 283