Agora, aqui entre nós dois,
vem comigo, traz o teu corpo pela mão
e ceemos juntos e passemos um instante a vida
a duas vidas e dando uma parte à nossa morte.
Agora, vem contigo, faz o favor
de te queixar em meu nome e à luz da noite tenebrosa
em que trazes tua alma pela mão
e nas pontas dos pés fugimos de nós mesmos.
Vem a mim, sim, e a ti, sim,
com passo par, ver-nos os dois com passo ímpar,
marcar o passo da despedida.
Até quando voltarmos! Até à volta!
Até quando lermos, ignorantes!
Até quando voltarmos, despeçamo-nos!
Que me importam as espingardas?,
escuta-me.
Escuta-me -, que me importam,
se a bala circula já no nível da minha assinatura?
Que te importam as balas,
se a espingarda fumega já em teu odor?
Hoje mesmo pesaremos
nos braços de um cego a nossa estrela
e, depois de me teres cantado, choraremos.
Hoje mesmo, formosa, com o teu passo par
e a tua confiança a que chegou o meu alarme,
sairemos de nós próprios, dois a dois.
Até que sejamos cegos!
Até
que choremos de tanto voltar!
Agora,
entre nós, traz
a tua doce personagem pela mão
e ceemos juntos e passemos um instante a vida
e a duas vidas e dando uma parte à nossa morte.
Agora, vem contigo, faz o favor
de cantar
e tocar em tua alma, e bater palmas.
Até quando voltarmos! Até esse dia!
Até quando partimos, despeçamo-nos!
8 Nov. 1937
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 124/5