«Rezei à arvore», disse a criança.
«Reza sempre a uma árvore», disse o jardineiro, pensando no Calvário e no Éden.
«Rezo à árvore todas as noites.»
«Reza a uma árvore.»
O arame escorregou nos dentes.
«Eu rezo àquela árvore.»
O arame rebentou.
(...)
«Deus cresce em lugares estranhos», disse o velho. «As árvores d'Ele vêm ficar a lugares estranhos.»
À medida que ele ia desenrolando a história dos doze passos da cruz, a árvore acenou os ramos à criança. Uma voz de apóstolo elevou-se dos pulmões poluídos.
Então içaram-no a uma árvore e espetaram-lhe cravos na barriga e nos pés.
Havia o sangue do sol do meio-dia no tronco da antiga, manchando a casca.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p.24/5