«Da mesma espécie são os escritores, que aspiram à fama imortal, publicando livros. Todos me devem muito, sobretudo aqueles que só garatujam ninharias. Quantos aos que se submetem ao julgamento dum restrito número de sábios e que não recusam por juízes os Pérsio e os Lélio, parecem-me mais desgraçados do que felizes, porque se submetem a uma tortura constante; acrescentam, mudam, suprimem, repõem, refazem, consultam, guardam a sua obra nove anos sem nunca se satisfazer e conseguir a glória, vã recompensa que poucos recebem, à custa do sono, bem supremo, e de muitos sacrifícios, suor e trabalhos. Acrescentai a perda da saúde e da beleza, a miopia ou mesmo a cegueira, a inveja, a privação dos prazeres, a velhice precoce, a morte prematura, a morte prematura e tantas outras misérias.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 93