«O meu sofrimento tinha origens corporais ou então, pelo menos, tinha a ver com o corpo. Não conseguia dormir, embora em casa e no escritório passasse o tempo a sonhar. Quando sentia dores de cabeça não conseguia comer e, por isso, bebia ainda mais. Era como se tivesse saído de mim próprio e, apenas à noite, quando me via ao espelho com a vela na mão esquerda, completamente bêbado, é que reconhecia a minha identidade. Nessa altura parecia-me que me tornara forte demais para mim mesmo.
Agora só muito raramente é que estava com Bertha. Receava que ela ouvisse os meus monólogos. Ela queria que eu procurasse um médico, mais precisamente um psiquiatra. Este considerar-me-ia uma presa e enviar-me-ia de um colega para outro, até acabar num asilo de loucos. Para isso não precisava de ajuda.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 106/107