quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
''o prazer e a dor são afecções imediatas do querer''
''Assim, o conhecimento que tenho da vontade está relacionado com o conhecimento que tenho do corpo e eu sou vontade. Perante estes pressupostos, a necessidade, quer seja interior ou exterior, pode ser uma fonte de mágoa se não for satisfeita. Para Schopenhauer, o melhor modo de lidar com esta falta é o ser humano conformar-se com a dor, ver a sua condição como destino e não manter a esperança nas suas expectativas, sendo o fatalismo uma forma de consolo. De certa forma, e a partir desta ideia do autor, podemos acrescentar que se virmos nobreza nos nossos padecimentos, se formos capazes de lhes dedicar um infortúnio que nos é superior, o sofrimento ganha uma dignidade consoladora.''
Magda Andreia Delgado Fernandes in O Belo como Consolação – a Ilusão perante a dor, 2011., p 10
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não se atribui ao artista a função de gritar sofrimento ou de silenciá-lo, mas apenas de apresentá-lo, segundo a concepção de Franz Rosenzweig.
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"Os gostos e os desgostos
levam ao poema
como podem levar
ao precipício
o poema fala do precipício
lá haverá choro
e ranger de dentes
e não haverá Kleenex
nem o Dr. Abílio Loff
o meu querido dentista
o poema fala do precipício
evitado a tempo
o mau poema não mata
(mais vale burro vivo
que sábio morto)"
levam ao poema
como podem levar
ao precipício
o poema fala do precipício
lá haverá choro
e ranger de dentes
e não haverá Kleenex
nem o Dr. Abílio Loff
o meu querido dentista
o poema fala do precipício
evitado a tempo
o mau poema não mata
(mais vale burro vivo
que sábio morto)"
-"Caras Baratas: Antologia"
- Adília Lopes
- Adília Lopes
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
“Não adianta tentar – afirmou ela. – Não se pode acreditar
em coisas impossíveis. (Alice)
– Eu diria que não tens treinado muito – retorquiu
a Rainha. – Quando eu era mais nova, treinava sempre
meia hora por dia. Ora, às vezes chegava a acreditar
em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”
CARROLL, Lewis (1978), Alice do Outro Lado do E spelho, Sintra: Europa-América,pág.70
em coisas impossíveis. (Alice)
– Eu diria que não tens treinado muito – retorquiu
a Rainha. – Quando eu era mais nova, treinava sempre
meia hora por dia. Ora, às vezes chegava a acreditar
em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”
CARROLL, Lewis (1978), Alice do Outro Lado do E spelho, Sintra: Europa-América,pág.70
“(…) sempre resisti ao poder do tempo graças a um
impulso interior que eu próprio não entendo muito bem,
sempre me fechei à chamada actualidade, na esperança
(…) de descobrir que todos os momentos do tempo
existiram simultaneamente, caso em que nada do que
a história conta seria verdade, os acontecimentos não
aconteceram, estão à espera de acontecer no momento
em que pensarmos neles (…)''
SEBALD, W. G. (2004), Austerlitz, Lisboa: Teorema, pág.96
impulso interior que eu próprio não entendo muito bem,
sempre me fechei à chamada actualidade, na esperança
(…) de descobrir que todos os momentos do tempo
existiram simultaneamente, caso em que nada do que
a história conta seria verdade, os acontecimentos não
aconteceram, estão à espera de acontecer no momento
em que pensarmos neles (…)''
SEBALD, W. G. (2004), Austerlitz, Lisboa: Teorema, pág.96
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
''distribuía os pássaros que serviam de isca''
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 184
«(...) ao longe, ouviam-se uivar os chacais, também eles atormentados pelo amor e pela fome.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 291
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« - O anjo não é mais que um diabo que se foi aperfeiçoando, estás a ouvir?»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 290
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Nikos Kazantzakis
«Ora o que eu pretendo afirmar é que o homem deve viver a sua juventude até ao fim, todas as paixões viris, abrir o ventre a todos esses ídolos e descobrir depois que, afinal, estavam cheios de palha e de vento; ficar por fim vazio, purificar-se em seguida e não ter mais a tentação de olhar para trás; só então estará em condições de apresentar-se perante Deus. A esse chamo eu um lutador.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 289
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« - Ri-te ou zanga-te; desoprime esse coração, mas ouve bem, sou eu que te falo, o gato escaldado, portanto tens o dever de o escutar. Há sete dias que te vejo andar para aí à volta do fogo de Deus, como uma borboleta noctívaga. Ora eu não quero que tu te queimes - tu, não é bem o termo -, a juventude. Tenho pena dessas faces ainda envoltas em penugem, desses lábios ainda não saciados de beijos e blasfémias, dessa alma ingénua que anda por toda a parte atrás do fogo a ver se se queima. Não, eu não permitirei que isso aconteça. Estás à beira do abismo, mas não te deixarei cair.
-Mas de que abismo?
-Do abismo de Deus.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 288
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«Não passava de um bruto que jamais se cansava de comer, beber e de andar abraçado a mulheres. Vendera a alma ao Diabo e o corpo andava sem dono, à rédea solta; ria-me de Deus que, para mim, não passava dum espantalho bom para meter medo aos pássaros idiotas e impedi-los de ir debicar nos jardins.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 285
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«A morte é obra de Deus; o ponto onde Deus toca no Homem. Mas a decadência é uma coisa infame e pérfida;»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 284/5
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 284/5
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Um poema de Rosa Alice Branco
Dias melhores
A mulher espera as noites e também os dias,
esperta o lume enquanto, esperta a espera.
Há umas quantas coisas que a prendem, coisas
que arrecadou para a vida e já não servem.
Quem serve é ela e serve a Deus desfiando o rosário
pelos que já lá estão.
Por aqui vai-se indo, vai-se levando a vida
para o outro lado enquanto se esperam dias melhores,
dias mecânicos, a labuta dos músculos, a cabeça em paz
e a noite cansada, os pensamentos cansados,
o sofrimento cansado só quer estender o corpo
até de manhã. Quando mal nunca pior,
o café quente, o pão acabado de fazer
como se fosse cedo e as mãos na sua azáfama
pudessem fazer os dias gloriosos as noites luminosas
com que sonhou e já não servem. Agora só a espera
e as coisas que foi arrecadando para a morte.
em Da Alma e dos Espíritos Animais, Porto: Campo das Letras, 1ª edição, 2001, p. 14.
''Porta no trinco e nada nas mãos.
Há muito que é tudo o que resta.''
Há muito que é tudo o que resta.''
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Raquel Nobre Guerra
Um poema de R. Lino
Tríptico encontrado nas grutas de Kabir-Dá ou o verdadeiro espaço da ficção
I
não mais será quem do dizer se afastou.
uma breve camisa aberta
por ser perto o verão
um som antigo de cor macia
a língua calada e a boca à espera.
esse que dos olhos já refeito se aproximou
saberá quantos os dentes e a boca para dizê-los
e ainda quanto de exemplo têm valor
as histórias ao ritmo do sangue
outra a vida e os sentidos,
únicos e rigorosos os bafejantes elos.
II
horas e horas serão a fio como os dias;
as páginas sem cor dos jornais
por consultar sobre a mesa ao fim da tarde
ficam entre as linhas e os círculos
impossíveis à sombra de cada esquina.
com o sono a pé sobre os tempos
que os fusos já não marcam
limita-se a vida entre a morte
e o que para ela já ocorre.
III
a luz é pouca e os gestos sombrios.
sob os pés caem húmidos os passos
e o corpo esquece,
como se cair e não estar de pé
fosse modo de travessia.
de um sentido em desequilíbrio
a destruição sublinha o sangue
que se oferece mais fundo
sob o vulcão em que se adensa a visita.
os postais não dizem
para os que ficaram lá em cima
à porta das luzes
onde é possível anunciar que se não dorme;
vendidos porventura por dois moços
com a fome e provavelmente encardidos,
ninguém dirá como estão marcados
de tudo quanto ficou
por ser lá em baixo.
em Atlas Paralelo, Porto: Gota de Água/Imprensa Nacional Casa da Moeda, colecção Plural, 1984, pp. 13-15.
Carl Tanzler era um radiologista alemão que afirmava ter nove graduações universitárias, dizia ter sido um capitão de um submarino e um inventor. Pelo que se sabe hoje, ele era apenas um homem excêntrico que abandonou sua esposa e filhos na Alemanha para trabalhar noUnited States Marine Hospital, na Flórida (EUA), em 1927.
Depois de aceitar o emprego, Carl acabou conhecendo Maria Elena Milagro de Hoyos, uma jovem cubana de 21 anos que se tornou sua paciente. Dizem que, ao vê-la, o radiologista soube que se tratava da mulher dos seus sonhos - literalmente. Ele contou para todos os seus conhecidos que sonhava com uma moça muito parecida todas as noites e que ela estava destinada a ser o amor de sua vida.
Ao ser examinada, Maria Elena foi diagnosticada com tuberculose - o que, na época, era praticamente uma sentença de morte. Desesperado com a possibilidade de perder sua alma gêmea, Carl tirou (muito) dinheiro do próprio bolso para salvá-la. Ele administrava tônicos 'especiais' na paciente, comprou uma máquina de raio-X de forma ilegal para levar à casa de Elena e a cobria de presentes e de declarações amorosas.
Apesar dos esforços do alemão, Elena morreu no dia 25 de outubro de 1931. Tanzler insistiu em pagar por um mausoléu onde o corpo da moça seria sepultado e, com a aprovação da família da morta, contratou um agente funerário para tratar o corpo. Com isso, ele conseguiu uma chave para ter acesso ao mausoléu.
Durante dois anos, Tanzler visitava Elena todas as noites. Como seus hábitos começaram a causar desconfiança, ele foi demitido do hospital e parou de ir ao cemitério.
Mas isso não quer dizer que ele desistiu. Eventualmente, ele tirou o corpo de Elena do mausoléu e a colocou em um laboratório que ele construiu a partir da carcaça de um avião. Usando gesso, cera, fios e olhos de vidro, Tanzler transformou os restos mortais da moça e a levou para sua casa - especificamente para sua cama.
Durante anos, o radiologista preservou o corpo de sua amada estufando seu abdômen com trapos, colocando cabelo de verdade em seu crânio e a banhando em perfume e óleos aromáticos para disfarçar seu odor. Ele também comprava diferentes roupas para ela - o que começou a levantar suspeitas na cidade. O que um homem que morava sozinho fazia com tantas roupas femininas?
Em outubro de 1940, a irmã de Elena confrontou Tanzler - ele, eventualmente, permitiu sua entrada em casa. Lá, a mulher encontrou uma 'boneca de cera', sem suspeitar se tratar do corpo da irmã, e alertou as autoridades. Só após exames, policiais perceberam que era Elena.
Durante a autópsia, eles notaram que o radiologista havia inserido um tubo no canal vaginal da morta para preservar sua vagina - no entanto, não se sabe se teria havido penetração.
Tanzler foi preso e, surpreendentemente, ganhou até apoio público - pessoas o viam como um romântico. Em seu julgamento, ele confessou que pretendia usar um avião para levar Elena até a estratosfera onde a radiação penetraria seus tecidos e faria com que eles voltassem à vida.
O radiologista não ficou muito tempo na cadeia - afinal, muitos de seus crimes haviam sido prescritos - e viveu o resto da vida sem incidentes (apesar de ter pedido o corpo de Elena de volta, o que foi negado, e de ter mantido uma máscara similar ao rosto da moça junto de si até o fim de seus dias).
Após o caso ter ganho notoriedade, o corpo de Elena foi exposto ao público em uma casa funerária. Após a exposição ser fechada, ela foi enterrada em um túmulo sem nome, para que pudesse, finalmente, descansar em paz.
“Quão rápido se muda também o mundo
Como formas de nuvens,
Todo o perfeito cai
De regresso ao arcaico.
Por sobre o mudar e o andar,
Mais largo e mais livre
Dura ainda o teu pré-cantar,
Ó deus da lira.
Não se conhecem as dores,
Não se aprendeu o amor,
E o que na morte nos afasta
não está desvelado.
Só a canção sobre a terra
consagra e celebra.”
Rilke, Sonetten an Orpheus (I. Parte, XIX)
Como formas de nuvens,
Todo o perfeito cai
De regresso ao arcaico.
Por sobre o mudar e o andar,
Mais largo e mais livre
Dura ainda o teu pré-cantar,
Ó deus da lira.
Não se conhecem as dores,
Não se aprendeu o amor,
E o que na morte nos afasta
não está desvelado.
Só a canção sobre a terra
consagra e celebra.”
Rilke, Sonetten an Orpheus (I. Parte, XIX)
domingo, 10 de janeiro de 2016
Blackstar
Blackstar
In the villa of ormen, in the villa of ormen
Stands a solitary candle, ah-ah, ah-ah
In the centre of it all, in the centre of it all
Your eyes
On the day of execution, on the day of execution
Only women kneel and smile, ah-ah, ah-ah
At the centre of it all, at the centre of it all
Your eyes, your eyes
Ah-ah-ah
Ah-ah-ah
In the villa of ormen, in the villa of ormen
Stands a solitary candle, ah-ah, ah-ah
In the centre of it all, in the centre of it all
Your eyes
Ah-ah-ah
Something happened on the day he died
Spirit rose a metre and stepped aside
Somebody else took his place, and bravely cried
(I’m a blackstar, I’m a blackstar)
How many times does an angel fall?
How many people lie instead of talking tall?
He trod on sacred ground, he cried loud into the crowd
(I’m a blackstar, I’m a blackstar, I’m not a gangster)
I can’t answer why (I’m a blackstar)
Just go with me (I’m not a filmstar)
I’m-a take you home (I’m a blackstar)
Take your passport and shoes (I’m not a popstar)
And your sedatives, boo (I’m a blackstar)
You’re a flash in the pan (I’m not a marvel star)
I’m the great I am (I’m a blackstar)
I’m a blackstar, way up, oh honey, I’ve got game
I see right so white, so open-heart it’s pain
I want eagles in my daydreams, diamonds in my eyes
(I’m a blackstar, I’m a blackstar)
Something happened on the day he died
Spirit rose a metre and stepped aside
Somebody else took his place, and bravely cried
(I’m a blackstar, I’m a star star, I’m a blackstar)
I can’t answer why (I’m not a gangster)
But I can tell you how (I’m not a flam star)
We were born upside-down (I’m a star star)
Born the wrong way ‘round (I’m not a white star)
(I’m a blackstar, I’m not a gangster
I’m a blackstar, I’m a blackstar
I’m not a pornstar, I’m not a wandering star
I’m a blackstar, I’m a blackstar)
In the villa of ormen stands a solitary candle
Ah-ah, ah-ah
At the centre of it all, your eyes
On the day of execution, only women kneel and smile
Ah-ah, ah-ah
At the centre of it all, your eyes, your eyes
Ah-ah-ah
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«(...) ficaram a olhar para o lume, com o pensamento muito longe dali.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 124
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«(...), e deitam pães à água com mercúrio dentro''
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 123
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 123
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«Não sentiam saudades da aldeia que dormia ao longe, para além da majestosa toalha de água.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 121
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 121
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«Pouco a pouco a conversa foi rareando (...)»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 117
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 117
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''o Mãos Sangrentas''
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 111
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«Precisamente neste momento encontrou o seu amigo dilecto, Joe Harper, em cujo olhar se via bem que tomara uma grave e triste decisão.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 109
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 109
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sábado, 9 de janeiro de 2016
«Durante quinze dias tinha-me encerrado no meu quarto, e rodeado dos livros em voga nesse tempo (há dezasseis ou dezassete anos); quer dizer, dos livros em que se tratava da arte de tornar os povos felizes, sábios e ricos, em vinte e quatro horas. Tinha então digerido –ou melhor, devorado – todas as lucubrações de todos esses empreiteiros da felicidade pública -, daqueles que aconselham a todos os pobres que se façam escravos, e daqueles que persuadem de que eles são todos reis destronados. – Não causará pois surpresa que eu me encontrasse então num estado de espírito vizinho da vertigem ou da estupidez.
Parecia-me tão-somente que senti, confinado na âmago do meu intelecto, o germe obscuro duma ideia superior a todas as fórmulas de boa dona de casa de que eu tinha recentemente percorrido o dicionário. Mas não era mais que a ideia duma ideia, qualquer coisa de infinitamente vago.
E saí com uma grande sede. Pois o gosto apaixonado das más leituras engendra uma proporcional necessidade de ar puro e refrescos.
Quando ia a entrar num botequim, um mendigo estendeu-me chapéu, com um desses olhares inolvidáveis que derrubariam os tronos, se o espírito agitasse a matéria, e se os olhos dum magnetizador fizesse amadurecer as uvas.
Ao mesmo tempo, ouvi uma voz que murmurava ao meu ouvido, uma voz que logo reconheci; era a um Anjo bom, ou dum bom Demónio, que me acompanha para toda a parte. Visto que Sócrates tinha o seu bom Demónio, porque não terei eu o meu bom Anjo, e porque não terei eu a honra, como Sócrates, de obter a minha licença de loucura, assinada pelo subtil Lélut e pelo sábio Baillarger?
Existe uma diferença entre o Demónio de Sócrates e o meu: o de Sócrates só se lhe manifestava para defender, advertir, coibir; o meu digna-se aconselhar, sugerir, persuadir. Esse pobre Sócrates não tinha senão um Demónio proibitivo; o meu é um grande afirmador, o meu é um Demónio de acção, ou Demónio de combate.
Ora a sua voz murmurava-me isto: "Só é igual a qualquer outro aquele que o prova, e só é digno da liberdade aquele que sabe conquistá-la."
Imediatamente, saltei sobre o mendigo. Com um único soco esmurrei-lhe um olho que ficou, num segundo, do tamanho duma bola. Parti as unhas a esmurrar-lhe os dentes, e como não me sentia suficientemente forte, pois nasci delicado e tenho feito pouco boxe, para derrubar rapidamente esse velho, segurei-lhe com uma das mãos o colete do fato, e com a outra agarrei-lhe o pescoço, e sacudi-lhe violentamente a cabeça de encontro à parede. Devo acrescentar que tinha antecipadamente inspeccionado os arredores com um golpe de vista, e que tinha verificado que nesse lugar afastado e deserto me encontrava, havia já algum tempo, fora do alcance de qualquer agente da polícia.
Tendo em seguida, com um pontapé dado nas costas e assaz enérgico para lhe partir as omoplatas, estendido por terra esse sexagenário enfraquecido, peguei num forte ramo de árvore que estava no chão, e bati-lhe com a energia obstinada dos cozinheiros que querem tornar tenro um bife.
De repente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência da sua teoria! -, vi aquela antiga carcaça voltar-se, levantar-se com energia que eu nunca teria suspeitado numa máquina tão singularmente desarranjada, e, com um olhar de ódio que me pareceu de bom augúrio, o malandrim decrépito atirou-se a mim, socou-me os dois olhos, partiu-me quatro dentes, e com o mesmo ramo de árvore malhou em mim como em centeio verde. – Com a minha medicação enérgica, tinha-lhe assim restituído o orgulho e a vida.
Então, eu fiz-lhe muitos sinais para lhe fazer compreender que considerava a discussão como finda, e levantando-me com a satisfação dum sofista do Pórtico, disse-lhe: "Senhor, sois o meu semelhante! Queira fazer-me a honra de partilhar comigo a minha bolsa; lembre-se, se é realmente filantropo, que é preciso aplicar a todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmola, a teoria que eu tive a mágoa de experimentar nas suas costas." »
Parecia-me tão-somente que senti, confinado na âmago do meu intelecto, o germe obscuro duma ideia superior a todas as fórmulas de boa dona de casa de que eu tinha recentemente percorrido o dicionário. Mas não era mais que a ideia duma ideia, qualquer coisa de infinitamente vago.
E saí com uma grande sede. Pois o gosto apaixonado das más leituras engendra uma proporcional necessidade de ar puro e refrescos.
Quando ia a entrar num botequim, um mendigo estendeu-me chapéu, com um desses olhares inolvidáveis que derrubariam os tronos, se o espírito agitasse a matéria, e se os olhos dum magnetizador fizesse amadurecer as uvas.
Ao mesmo tempo, ouvi uma voz que murmurava ao meu ouvido, uma voz que logo reconheci; era a um Anjo bom, ou dum bom Demónio, que me acompanha para toda a parte. Visto que Sócrates tinha o seu bom Demónio, porque não terei eu o meu bom Anjo, e porque não terei eu a honra, como Sócrates, de obter a minha licença de loucura, assinada pelo subtil Lélut e pelo sábio Baillarger?
Existe uma diferença entre o Demónio de Sócrates e o meu: o de Sócrates só se lhe manifestava para defender, advertir, coibir; o meu digna-se aconselhar, sugerir, persuadir. Esse pobre Sócrates não tinha senão um Demónio proibitivo; o meu é um grande afirmador, o meu é um Demónio de acção, ou Demónio de combate.
Ora a sua voz murmurava-me isto: "Só é igual a qualquer outro aquele que o prova, e só é digno da liberdade aquele que sabe conquistá-la."
Imediatamente, saltei sobre o mendigo. Com um único soco esmurrei-lhe um olho que ficou, num segundo, do tamanho duma bola. Parti as unhas a esmurrar-lhe os dentes, e como não me sentia suficientemente forte, pois nasci delicado e tenho feito pouco boxe, para derrubar rapidamente esse velho, segurei-lhe com uma das mãos o colete do fato, e com a outra agarrei-lhe o pescoço, e sacudi-lhe violentamente a cabeça de encontro à parede. Devo acrescentar que tinha antecipadamente inspeccionado os arredores com um golpe de vista, e que tinha verificado que nesse lugar afastado e deserto me encontrava, havia já algum tempo, fora do alcance de qualquer agente da polícia.
Tendo em seguida, com um pontapé dado nas costas e assaz enérgico para lhe partir as omoplatas, estendido por terra esse sexagenário enfraquecido, peguei num forte ramo de árvore que estava no chão, e bati-lhe com a energia obstinada dos cozinheiros que querem tornar tenro um bife.
De repente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência da sua teoria! -, vi aquela antiga carcaça voltar-se, levantar-se com energia que eu nunca teria suspeitado numa máquina tão singularmente desarranjada, e, com um olhar de ódio que me pareceu de bom augúrio, o malandrim decrépito atirou-se a mim, socou-me os dois olhos, partiu-me quatro dentes, e com o mesmo ramo de árvore malhou em mim como em centeio verde. – Com a minha medicação enérgica, tinha-lhe assim restituído o orgulho e a vida.
Então, eu fiz-lhe muitos sinais para lhe fazer compreender que considerava a discussão como finda, e levantando-me com a satisfação dum sofista do Pórtico, disse-lhe: "Senhor, sois o meu semelhante! Queira fazer-me a honra de partilhar comigo a minha bolsa; lembre-se, se é realmente filantropo, que é preciso aplicar a todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmola, a teoria que eu tive a mágoa de experimentar nas suas costas." »
- Charles Baudelaire , "O Spleen de Paris" (trad. port. da relógio d’Água)
"como é possível construir? individualizar? escolher?; se o corpo é tudo, a morte e os outros factos da vida podem significar? sobre esta areia ambígua, areia ou terra? o teu nome,, Jan, é uma violência, como outro nome qualquer; não sou chamado nem chamo, quando muito ressoam os movimentos dos lábios e das narinas,respirando; o barco de longe cumpre-se como espessura maior, tentativa para atingir o rígido perfil de um barco? ou uma ilha? uma dessas sombras que fizeram delirar os navegadores equivocados da minha pátria?
Jan, Jan, se quantas mortes morto? deste tempo e dia? de uma chuva extemporânea? do pulsar dos musgos? de que inverno antecipado?"
Jan, Jan, se quantas mortes morto? deste tempo e dia? de uma chuva extemporânea? do pulsar dos musgos? de que inverno antecipado?"
-"O Mensageiro Diferido"
- Rui Nunes
- Regra do Jogo, 1981 (1a Edição)
- Rui Nunes
- Regra do Jogo, 1981 (1a Edição)
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
«Mas eu sentia-me já apaixonado pela caça aos pássaros. Era uma tarefa que me agradava, me deixava independente e não fazia mal a ninguém, senão às pequenas aves. Comprei um bom material, e a conversa com velhos passarinheiros ensinou-me bastante. Ia sozinho para a caça, andava quase trinta verstas em redor, pela floresta de Kstovo, sobre as margens do Volga, onde encontrava os melharucos de Apolo, pequenos pássaros brancos, de comprida cauda e rara beleza, bastante apreciados pelos amadores.»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 183
«A primeira vez que conseguiu vender pássaros (...)»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 182
revoada
nome feminino
1. ato ou efeito de revoar
2. bando de aves a voar
3. figurado profusão; grande quantidade
às revoadas
de espaço a espaço, aos magotes, em bando
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Mas já fumas a erva-do-diabo?
«E, com um ar triunfante, tirei do bolso um maço de cigarros e acendi um com satisfação.
- Muito bem, assim é que é - disse o avô, observando todos os meus gestos. - Mas já fumas a erva-do-diabo? Não achas que ainda é cedo?»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 173
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
«Tivera as melhores intenções e fora tratado como um cão - um verdadeiro cão. Mas ela havia de se arrepender um dia, talvez quando já fosse tarde de mais. Se ele ao menos pudesse morrer «temporariamente»!
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 72
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« - Oh! Tom! Então não é a primeira vez que estás noivo?
Vendo-a chorar, Tom desculpou-se:
-Não te apoquentes, Becky! Eu já não gosto dela.
-Gostas, gostas. Sabes perfeitamente que sim, Tom.
O rapaz tentou passar-lhe o braço em volta do pescoço, mas ela empurrou-o e, virando a cara para a parede, continuou a chorar. Tom tentou de novo, dizendo-lhe palavras meigas, mas continuou a ser repelido. Então, cedendo ao seu orgulho, muito mal disposto, olhando para a porta de vez em quando, à espera de que se arrependesse e fosse ter com ele. Não a vendo aparecer, pensou que podia ser injusto, e teve vontade de fazer nova tentativa de paz. Decidiu e entrou. Becky estava ainda sentada ao canto, a soluçar, de cara para a parede. Tom aproximou-se dela e ficou um instante com o coração confrangido, sem saber o que fazer, até que disse:
-Becky, não me dizes nada?
Mais soluços.
Tom tirou do bolso a sua melhor jóia, a maçaneta de metal de uma tenaz, e passou-a em volta dela para que a visse, dizendo:
-Não queres aceitar isto, Becky?
Ela atirou o presente para ao chão e Tom saiu da escola no propósito de lá não tornar naquele dia.
Pouco depois, Becky suspeitou da sua intenção. Correu à porta, mas não o viu. Deu a volta ao pátio e, quando se convenceu de que não estava ali, chamou:
-Tom! Vem, Tom!
Escutou atentamente, mas não teve resposta. À sua roda tudo era silêncio e solidão. Arrependida do que tinha feito, sentou-se e continuou a chorar, mas nessa altura já os outros alunos estavam de volta. Teve de esconder o seu desgosto e calar os lamentos do seu coração, carregado com a cruz de uma triste e longa tarde entre estranhos, sem ninguém com quem desabafar a sua tristeza.»
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As Aventuras de Tom Sawyer,
mark Twain
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
«O diabo hoje é o impreciso. Por diabo entendo a negatividade sem resgate, de que não pode vir nenhum bem. Nos discursos imprecisos, na genericidade, na vagueza de pensamento e de linguagem, especialmente se acompanhados de bazófia e de petulância, podemos reconhecer o diabo como inimigo da clareza, tanto interior como nas relações com os outros, o diabo como personificação da mistificação e da automistificação. Falo do impreciso, não do complicado; quando as coisas não são simples, não são claras, pretender a clareza e a simplificação a todo o custo é facilitismo, e é exactamente esta pretensão que obriga os discursos a tornarem-se vagos, ou seja, mentirosos. Em contrapartida o esforço de tentar pensar e exprimir-se com a máxima precisão possível justamente perante as coisas mais complexas é o único comportamento útil e honesto. Conseguir definir as suas próprias dúvidas é muito mais concreto do que qualquer afirmação peremptória cujos fundamentos assentem no vazio, na repetição de palavras cujo significado se gastou devido ao excesso de uso.»
(Italo Calvino, excerto de «Notas sobre a linguagem política», in 'Ponto Final, Escritos sobre Literatura e Sociedade', tradução de José Colaço Barreiros,Teorema Editora, 2003)
Um poema de Ana Duarte
A Minha Saia
A minha saia é debruada de
dentes brancos
— saia rodada com pregas
e esconderijos que se abrem
sobre os precipícios da infância
É uma saia alta como janelas
remendada pelas mãos cuidadosas dos amantes
Debaixo da minha saia há
uma caixa com botões e olhos
que encontrei no leito seco dos caminhos
há um girassol que me aquece
o farelo e o sal dos ossos
há uma colmeia e o crescente negro
da sombra a roçar os joelhos
Há o riso dos velhos
Som de cordas, velas de moinho,
fábulas e exércitos balançam
dentro da minha saia
quando danço
Debaixo da minha saia há também casas
onde recolho o vento, e delas se avista
o pescoço curvo de dois bois mansos
alisando o pasto
Rodo o corpo e a minha saia aponta para o sul
baixo-a para desenhar círculos na poeira
ergo-a para atravessar o rio
na hora em que
a maré sobe
sobe
sobe
sobe
em Criatura, nº 6, Lisboa: Núcleo Autónomo Calíope da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Novembro de 2011, pp. 9-10.
Um poema de Vítor Nogueira
Dança
A conversa é sobre quem somos
e o que queremos. Não devíamos brincar assim
com facas. De onde vêm estes homens?
Por que fazem estes gestos?
Às vezes a vida é uma dança estruturada.
Tipos que nos deixam aproximar um pouco mais
cada dia que passa. Nunca sabemos
qual deles se vai abaixo a seguir. E onde.
Enquanto a dança vai e vem, escondemos o medo
com isto: fragmentos das nossas memórias,
energia fornecida à tempestade,
o cheiro a tabaco retardado.
em Mar Largo, Lisboa: &etc, 2009, p. 18.
Versões
Gostaria de descrever
Gostaria de descrever uma emoção simples
como alegria ou tristeza
mas não como os outros fazem
socorrendo-se de restos de chuva ou sol
Gostaria de descrever uma luz
que começa a nascer em mim
mas que sei não se assemelhar
a alguma estrela
pois não é tão brilhante
nem tão pura
e é incerta
Gostaria de descrever coragem
sem arrastar atrás de mim um velho leão
e também ansiedade
sem entornar um copo de água
para dizê-lo de outra maneira
desistiria de todas as metáforas
em troca de uma palavra
retirada do meu peito como uma costela
uma palavra
nascida dentro das fronteiras
da minha pele
mas aparentemente isso não é possível
e só para dizer – amo
eu ando às voltas como um louco
à procura de mãos cheias de pássaros
e a minha ternura
que apesar de tudo não é feita de água
pede água para a cara
e a raiva
diferente do fogo
pede-lhe emprestado
o tom eloquente
está tudo obscuro
está tudo obscuro
em mim
que homem de cabelo grisalho
irá separar de uma vez por todas
dizendo
isto é a essência
e isto é a matéria
adormecemos
com uma mão debaixo das nossas cabeças
e com a outra em inúmeros planetas
os nossos pés abandonam-nos
e entram na terra
com as suas pequenas raízes
que na manhã seguinte
arrancamos com dor
Zbigniew Herbert, «I would like to describe», em The Collected Poems: 1956-1998, Ecco: 2007.
versão de manuel a. domingos
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Escrevia Fernando Pessoa, há quase cem anos atrás:
«A nossa civilização corre o risco de ficar submersa como a Grécia (Atenas) sob a extensão da democracia, de cair inteiramente nas mãos dos escravos, ou então de ficar como Roma, não nas mãos de imperadores filhos do acaso e da decadência, mas de grupos financeiros sem pátria, sem lar na inteligência, sem escrúpulos intelectuais e sem causa em Deus.»
"Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
como almirante em vez de sensação?..."
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
como almirante em vez de sensação?..."
-"Amar É Pensar: Antologia de Poemas de Amor"
- Fernando Pessoa
- Fernando Pessoa
"Quando alguém desce, abaixo do campanário, os degraus, então o silêncio é vida; pois quando o corpo é vida; pois quando o corpo a tal ponto se destaca, depressa se forma uma figura do homem. As janelas de onde tocam os sinos parecem portas da beleza. Sim, as portas, parecendo ainda natureza, são à imagem das árvores da floresta. A pureza, que é simplicidade, é também bela."
-"Pelo Infinito"
- Friedrich Hölderlin
- Friedrich Hölderlin
domingo, 3 de janeiro de 2016
«(,,,) e, de repente, o medo invadiu-me.»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 164
« - O Senhor disse que o homem devia sofrer, então, que sofra! Não podes fazer nada, é esse o seu destino...
Escuto essas palavras com dissabor, exasperam-me: não posso suportar a infâmia, recuso-me a aceitar que sejam desconfiados, injustos e malcriados comigo; sei perfeitamente que não mereço tal atitude. »
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 162
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