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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

"Quando alguém desce, abaixo do campanário, os degraus, então o silêncio é vida; pois quando o corpo é vida; pois quando o corpo a tal ponto se destaca, depressa se forma uma figura do homem. As janelas de onde tocam os sinos parecem portas da beleza. Sim, as portas, parecendo ainda natureza, são à imagem das árvores da floresta. A pureza, que é simplicidade, é também bela."

-"Pelo Infinito"
- Friedrich Hölderlin 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A loucura e a criação não são de todo incompatíveis; veja-se o caso do poeta Hölderlin, que escreveu poemas de beleza suprema, depois de enlouquecer.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

«Meu caro! Que seria a vida sem esperança? Uma Faísca que salta do carvão e se apaga; e não seríamos nós como uma rajada de vento, que se ouve em estação inóspita, e que por um momento assobia para depois deixar de se ouvir?»


Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 39

terça-feira, 17 de maio de 2011

Passei a viver mais deliberadamente só

«Passei a viver mais deliberadamente só, e o suave espírito da juventude quase tinha desaparecido por completo da minha alma. Tornara-se-me evidente o estado deplorável do século, a partir de coisas que conto e de outras, que não conto, e faltava-me também o doce consolo de encontrar o meu mundo numa alma, de abraçar a minha espécie numa criatura amável.»



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 39

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Oh, a mim,...

«Oh, a mim, a mim a grandeza dos antigos dobrava-me, como uma tempestade, a cabeça, arrancava-me a floração do rosto, e muitas vezes ficava, sem que ninguém me visse, banhado em mil lágrimas, como um abeto abatido sobre um ribeiro, de copa murcha mergulhada nas águas. Como gostaria de ter comprado com o meu sangue um momento da vida de um grande homem!»


Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 34
«Onde poderia eu encontrar refúgio, senão nos amados dias da juventude?»


Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 33

domingo, 15 de maio de 2011

«Andava errante como um fogo-fátuo, agarrando tudo, sendo por tudo agarrado, mas só momentaneamente, e as forças inúteis esgotavam-se em vão. Sentia em todo o lado que algo me faltava e não era capaz de encontrar o meu objectivo.»



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 28

sábado, 14 de maio de 2011

«Quantas vezes estiveste perto de mim quando há muito tempo te encontravas longe, me transfiguraste com a tua luz e me aqueceste tanto, que o meu coração apático se reanimou, como a fonte seca quando tocada por um raio vindo do céu! »



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 27/8
«Oh, um Deus é o homem quando sonha, um mendigo quando pensa e quando o entusiasmo desaparece fica como um filho pródigo, expulso de casa pelo pai, e olha para os míseros tostões que a compaixão lhe deu pelo caminho.»



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 23

Medito e encontro-me só

«Neste cume estou muitas vezes, ó meu Belarmino! Mas um momento de reflexão derruba-me. Medito e encontro-me só, como dantes, com todas as dores da mortalidade. e o asilo do meu coração, o mundo eternamente uno, desaparece; a Natureza recusa-me os seus braços, e fico diante dela como um estranho e não a entendo.»



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 23
«Unir-se a tudo o que vive, regressar ao todo da Natureza, em feliz esquecimento próprio, é o mais elevado pensamento e a maior das alegrias, é o sagrado cume do monte, o lugar do eterno descanso, onde o meio-dia perde o seu ar abafado e o trovão a sua voz e o mar embravecido se assemelha à ondulação dos campos de trigo.»


Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 23
«Agora todas as manhãs compareço nas alturas do istmo de Corinto e a minha alma, qual abelha entre flores, voa frequentemente num vaivém entre os mares, os que à direita e à esquerda refrescam o sopé dos meus montes ardentes.»



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 21

quarta-feira, 11 de maio de 2011

       O amado solo da Pátria de novo me enche de alegria e de sofrimento.


Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 21
      «Outrora os povos partiram da harmonia das crianças; a harmonia dos espíritos será o princípio de uma nova história do mundo. Os homens começaram a par da felicidade das plantas e cresceram, cresceram até amadurecer; a partir de então, continuaram a fermentar incessantemente, por dentro e por fora, até que o género humano, agora infinitamente desagregado, se apresenta como o caos, de tal modo que todos os que ainda sentem e vêem ficam com vertigens; porém a beleza foge da vida dos homens para as alturas do espírito; torna-se ideal tudo o que era Natureza, e se a árvore, por baixo, está seca e degradada, há ainda nela uma copa fresca que dela saiu e verdeja à luz do Sol, como outrora o tronco nos dias de juventude; é ideal o que foi Natureza. Neste ideal, nesta divindade rejuvenescida se conhecem os poucos que são uma unidade, porque neles há unidade, e a partir deles começa a segunda idade do mundo - » (Carta 26)



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 13

Carta a Susette Gontard

«É em Susette que o Autor reconhece a sua Diotima, e Susette, que já conhece o Hipérion, vê também em Hölderlin o seu Autor. A versão definitina é escrita em Frankfurt e é objecto de conversas entre ambos. Que Susette não estava de acordo em que a heroína morresse ficou documentado na carta 199.» 

            Aqui tens o nosso Hipérion, querida! Este fruto dos nossos dias felizes dar-te-á pelo menos um pouco de alegria. Perdoa-me que Diotima morra. Por certo te lembras que na altura não fomos completamente unânimes nesse ponto. Eu achava que era necessário, devido a todo o conjunto de pressupostos. Meu Amor! toma tudo o que aqui e ali se diz dela e de nós, da vida da nossa vida, como um agradecimento, que ainda se torna tanto mais verdadeiro, quanto mais desajeitadamente se exprime. Tivesse eu podido formar, a teus pés, em mim gradualmente o artista, em silêncio e liberdade, sim penso que depressa o chegaria a ser - por isso anseia agora o meu coração, mergulhado em sofrimento, em sonhos e à luz do dia e muitas vezes em silencioso desespero. (Hölderlin)


«A linguagem das cartas «reais» é praticamente a mesma das ficcionadas, pois a vida aproximou-se do ideal e o fracasso deste reflectiu-se na vida e até premonitoriamente, se pensarmos que Susette vem realmente a morrer cedo e que Hölderlin lhe sobrevive no afastamento completo da vida «normal», no seu cemitério da Torre de Tübingen.»



Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p.9/10


      
«O homem gostaria de estar em tudo e acima de tudo, e a máxima inscrita no túmulo de Loyola:

         non coerceri maximo, contineri tamen a minimo

tanto pode referir-se ao pendor perigoso do homem, que tudo quer possuir e dominar, como ao estado máximo e magnífico que pode alcançar. Compete ao exercício livre da sua vontade decidir em que sentido ela deva valer.»




Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p.9

terça-feira, 22 de março de 2011

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Mas então quando morre,
esse a quem a beleza
mais tocava, de modo que na forma
era um milagre e os seres celestes o tinham
marcado, e quando, por recíproco enigma eterno,
não podem compreender-se um
ao outro os que viveram juntos
na memória, e não afasta só a areia
ou os prados e comove
os templos, quando a honra
do semideus e dos seus
se esvai e mesmo a sua face
o Altíssimo desvia, assim que em parte alguma um
imortal seja de ver no céu ou
na terra verde, o que se passa?


Friedrich Hölderlin

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

(...)

«Assim pensa sorrindo: « A ti, indestrutível, tem
De pôr-te à prova outra palavra», e di-la alto,
A jovem águia, olhando Germânica:
«És tu, eleita,
Tu que tudo amas, e para carregares um fardo
Pesado de ventura te fizeste forte,


Desde o tempo em que tu, escondida na floresta e ébria
De doce sono da papoila em flor, não atentavas
Em mim, muito antes que outros mais humildes
sentissem,
O orgulho da virgem e espantadas perguntassem de quem e
donde tu eras,
Mas tu mesma o não sabias. Eu é que te reconheci,
E em segredo, enquanto sonhavas, deixei-te
Ao partir ao meio-dia um sinal amigo,
A flor da boca, e sozinha te puseste a falar.
Mas expediste também profusão de palavras em ouro
Ó afortunada, com os rios, e eles correm inesgotáveis
Pra todas as regiões. Pois quase como o da Santa
Que é a mãe de tudo o traz ao abismo,
A quem os homens chamam a Oculta,
O teu peito está cheio
De amor e dor
E de presságios e de paz.»





Friedrich Hölderlin. Poemas. Prefácio, Selecção e trad. Paulo Quintela. Relógio D' Água, Lisboa, 1991, p. 393-395
«Porém insensato é
Perante o Destino o desejar.
Mas os mais cegos
São os filhos dos deuses. Pois o homem conhece
A sua casa, e ao animal foi dado saber onde
Deve construir a sua, mas àqueles coube-lhes
Na alma inocente o defeito
De não saberem para onde hão-de ir.»



Friedrich Hölderlin. Poemas. Prefácio, Selecção e trad. Paulo Quintela. Relógio D' Água, Lisboa, 1991, p. 373
(...)

Ó terra de Homero!
Debaixo da cerdeira purpúrea, ou quando
Na minha vinha os jovens pessegueiros,
Vindos de ti, reverdecem,
E a andorinha vem de longe e contando muitas coisas
Faz a casa nas minhas paredes, nos
Dias de Maio, também sob as estrelas
Eu penso em ti, ó Iónia! Mas os homens
Amam o que têm presente. Por isso eu
Vim ver-vos, ó Ilhas, e a vós,
Ó fozes dos rios, ó vós palácios de Tétis,
E a vós, ó bosques, e a vós, ó nuvens do Ida!

Mas não penso em ficar.
Descortês e difícil de conquistar é
A Mãe reservada que abandonei.
Dos filhos um, o Reno,
Quis à força atirar-se ao seu seio, e repelido,
Desapareceu na distância, ninguém sabe onde.
Mas eu não quereria partir dela assim,
E apenas pra vos convidar
Vim eu ter convosco, ó Graças da Grécia,
Ó filhas do céu,
Pra vos pedir, se a viagem não for longa de mais,
Que venhais a nossa casa, ó benignas!

Quando os ares sopram mais suaves,
E a manhã dispara sobre nós,
Pacientes de mais, setas de amor,
E nuvens leves florescem
Por sobre os nossos olhos tímidos,
Então diremos: Como é que vós,
Ó Cárites, vindes ter c 'os bárbaros?
Mas as servas do céu
São caprichosas
Como tudo o que nasce dos deuses.
Faz-se sonho àquele que queira
Apoderar-se dele com astúcia, e castiga aquele
Que à força se lhe queira igualar;
Muitas vezes surpreende aquele
Que nele mal tinha pensado.






Friedrich Hölderlin. Poemas. Prefácio, Selecção e trad. Paulo Quintela. Relógio D' Água, Lisboa, 1991, p. 367-369
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