quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

(...)

«Assim pensa sorrindo: « A ti, indestrutível, tem
De pôr-te à prova outra palavra», e di-la alto,
A jovem águia, olhando Germânica:
«És tu, eleita,
Tu que tudo amas, e para carregares um fardo
Pesado de ventura te fizeste forte,


Desde o tempo em que tu, escondida na floresta e ébria
De doce sono da papoila em flor, não atentavas
Em mim, muito antes que outros mais humildes
sentissem,
O orgulho da virgem e espantadas perguntassem de quem e
donde tu eras,
Mas tu mesma o não sabias. Eu é que te reconheci,
E em segredo, enquanto sonhavas, deixei-te
Ao partir ao meio-dia um sinal amigo,
A flor da boca, e sozinha te puseste a falar.
Mas expediste também profusão de palavras em ouro
Ó afortunada, com os rios, e eles correm inesgotáveis
Pra todas as regiões. Pois quase como o da Santa
Que é a mãe de tudo o traz ao abismo,
A quem os homens chamam a Oculta,
O teu peito está cheio
De amor e dor
E de presságios e de paz.»





Friedrich Hölderlin. Poemas. Prefácio, Selecção e trad. Paulo Quintela. Relógio D' Água, Lisboa, 1991, p. 393-395

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