quinta-feira, 20 de agosto de 2015

João Moita 8 poemas

O mundo é a tua vigília.
Levas milénios acordado,
velando a tua esperança.
Velas, teus acólitos seguram
as tuas pálpebras.
Esperas o impossível:
que se erga da terra um rumor que embale.

*

À força de êxtases,
a fé podou o amor.

Quando veio o desejo,
brincámos com a fome dos corações.

*

A descrença celebra o seu apóstata,
reclama o seu arado:

chegará o tempo da sega,
mas cultive-se primeiro o amor,
essa deformação.
                           Se espigar,
haverá fome por mantimento
e uma colheita tardia
para a distração.

*

Não escrevia para não roubar tempo à leitura: aprendia a humildade. Agora escrevo, aprendo a humilhar-me.

*

Se falham o primeiro voo,
as aves não chegam a voar.
Delas não se pode dizer
que tinham o voo por condição.
Inata só a altura do ninho
e a vertigem do solo.
O resto é conquista das asas.

*

Uma consciência tranquila dorme de noite, mas de dia é uma insónia insuportável.

*

Os mastins dormiram esta noite
junto ao leito do nosso amor.
Partiram antes da alba
para paragens menos desoladas
com as marcas dos nossos dentes
sobre o dorso.

*

Fiquei em silêncio até já ter dito tudo
e só depois me ergui da fogueira-

Tive de queimar a pele para ferver o sangue.


in Fome, Lisboa, Enfermaria 6, 2015: 14, 18, 19, 31, 36, 40, 47, 55


A escrita


“Quando conscientemente, aos treze anos de idade, tomei posse da vontade de escrever – eu escrevia quando era criança, mas não tomara posse de um destino – quando tomei posse da vontade de escrever, vi-me de repente num vácuo. E nesse vácuo não havia quem pudesse me ajudar. Eu tinha que eu mesma me erguer de um nada, tinha eu mesma que me entender, eu mesma inventar por assim dizer a minha verdade. Comecei, e nem sequer era pelo começo. Os papéis se juntavam um ao outro – o sentido se contradizia, o desespero de não poder era um obstáculo a mais para realmente não poder: a história interminável que então comecei a escrever (com muita influência de O Lobo das Estepes de Hermann Hesse), que pena eu não ter conservado: rasguei, desprezando todo um esforço quase sobre-humano de aprendizagem, de autoconhecimento. E tudo era feito em tal segredo. Eu não contava a ninguém, vivia aquela dor sozinha. Uma coisa eu já adivinhava: era preciso tentar escrever sempre, não esperar um momento melhor porque este simplesmente não vinha. Escrever sempre me foi difícil, embora tivesse partido do que se chama vocação. Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir”. (Em A Descoberta do Mundo).



“Não escrevi muito sobre mim nestes dias, em parte por preguiça (durmo tanto e tão profundamente durante o dia, tenho mais peso enquanto durmo), em parte também por medo de trair o conhecimento que tenho de mim. Este medo justifica-se, porque uma pessoa só devia permitir fixar na escrita a sua autopercepção quando o puder fazer com a maior integridade, com todas as consequências secundárias e também com toda a verdade. Porque se isto não acontecer — e eu de qualquer maneira não sou capaz de o fazer — o que está escrito irá, de acordo com a sua própria finalidade e com o poder superior do que foi fixado, tomar o lugar daquilo que se sentia apenas vagamente, de tal modo que o sentimento verdadeiro desaparecerá enquanto o não valor do que foi anotado será reconhecido tarde de mais”. (Em Diário).
''Não sei como é que aprendi a ler; só me lembro das minhas primeiras leituras.''

Rousseau

hodiernamente


advérbio

no tempo de agora; actualmente; modernamente

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

"E é na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc...
A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.
Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita.
A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.
A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensaguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc....
E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão paracer-se-à com a fome de luz?..."

Teixeira de Pascoaes, "Trechos dum livro inédito" (1911), in "A Saudade e o Saudosismo", pp.12-13.

A Vida não Cabe numa Teoria

«A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas.

Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.

Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.

A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar. »

Miguel Torga, in "Diário (1941)"

A Essência da Poesia

«Não aprendi nos livros qualquer receita para a composição de um poema; e não deixarei impresso, por meu turno, nem sequer um conselho, modo ou estilo para que os novos poetas recebam de mim alguma gota de suposta sabedoria. Se narrei neste discurso alguns sucessos do passado, se revivi um nunca esquecido relato nesta ocasião e neste lugar tão diferentes do sucedido, é porque durante a minha vida encontrei sempre em alguma parte a asseveração necessária, a fórmula que me aguardava, não para se endurecer nas minhas palavras, mas para me explicar a mim próprio. Encontrei, naquela longa jornada, as doses necessárias para a formação do poema. Ali me foram dadas as contribuições da terra e da alma. E penso que a poesia é uma acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da Natureza. E penso com não menor fé que tudo se apoia - o homem e a sua sombra, o homem e a sua atitude, o homem e a sua poesia - numa comunidade cada vez mais extensa, num exercício que integrará para sempre em nós a realidade e os sonhos, pois assim os une e confunde. E digo igualmente que não sei, depois de tantos anos, se aquelas lições que recebi ao cruzar um rio vertiginoso, ao dançar em torno do crânio de uma vaca, ao banhar os pés na água purificadora das mais elevadas regiões, digo que não sei se aquilo saía de mim mesmo para se comunicar depois a muitos outros seres ou era a mensagem que os outros homens me enviavam como exigência ou embrazamento. Não sei se aquilo o vivi ou escrevi, não sei se foram verdade ou poesia, transição ou eternidade, os versos que experimentei naquele momento, as experiências que cantei mais tarde. De tudo aquilo, amigos, surge um ensinamento que o poeta deve aprender dos outros homens. Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é necessário atravessar a solidão e aspereza, a incomunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar com hesitação ou cantar com melancolia, mas nessa dança ou nessa canção acham-se consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de serem homens e de acreditarem num destino comum. »

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer" (Discurso na entrega do Prémio Nobel)

O Orgulho e a Vaidade

«O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito, a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em acção.»


 Fernando Pessoa, in "Da Literatura Européia"

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Andrei Tarkovsky & Margarita Terekhova on the set of The Mirror (1975, dir. Andrei Tarkovsky)


«A calma e o desgosto eram tão grandes que lhe oprimiam o peito e o isolamento era completo - um círculo impenetrável.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 150
«Cheira a podridão da cabeça aos pés. Todos nós cheiramos a podridão!»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 264
«O ódio», afirmava ele, « é o único caminho que nos pode conduzir ao amor.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 262

«De que será feito o corpo humano para dar e receber tanta felicidade? E os lábios? Aproximarmo-nos deles, um pedaço de carne, pode abalar-nos o espírito.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 258
«O odor dos sovacos dessas mulheres subia-lhe ainda às narinas: urina, especiarias e almíscar.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 257
«Será que o Demónio tomou conta de mim e me quer arrastar? Foi sempre ele quem governou a minha vida, não fui eu. Fala-me de liberdade, mas de que liberdade? Só ele, o Demónio que vive em nós, é livre.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 257

''uma serpente lustrosa''


«(...) corpos devorados pela fome, de grandes olhos de veludo cheios de deuses mortos e de resignação.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 253

''ventres esfaimados''

''corou de cólera''

Carnificina

«À frente, banhado em lágrimas, caminhava o espectro sangrento da Liberdade, arrastando atrás de si a imortal canalha: a Fome, a Pilhagem, o Fogo e a Carnificina.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 250/1

''terra úbere''

Audrey Hepburn & Shirley Maclaine




« - O mundo já não tem fim, pois todos juntos formamos um só mundo.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 237

«Será o meu coração doente incapaz de se abrir?»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 235

parlapatices



"Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós mesmos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada”.

Cesare Pavese


«O seu velho coração cedia. Recomeçava a interrogar-se: Deveria continuar ou não? Teria tomado a decisão que convinha? Conduziria ela à libertação? Deus deixara-o livre e ele fizera a sua escolha. Nesse momento, estava certo de ter seguido o bom caminho, mas agora, que quase chegara ao fim, os joelhos dobravam-se-lhe e novas vozes se levantavam do fundo do seu ser: «Atenção, padre Yannaros, vais ser enganado! Como podes tu fiar-te em gente que não crê em Deus?»



Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 230

«A morte tornou-se a sua única esperança.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 229

«Não pensava em nada, fumava cigarro após cigarro e, com a cabeça voltada para cima, fitava o céu, de olhos vazios.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 228
«Onde irias tu, passarinho sem miolos? Estás bem aqui, sossega duma vez.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 220

« - Pedras, deserto e fome, eis o que tu és, infeliz Grécia!»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 220

THE KISS (1896) - The first kiss scene in history of film, shared between May Irwin and John C. Rice.


«Os anos dobavam, Kyra-Polyxeni embranquecera, os seios esvaziaram-se-lhe, (...)»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 214
«Isto é uma região bravia. Se não a amas, só te resta o ódio.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 144

''a memória do medo''

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 128

«Sentiu o frio da solidão e começou a chorar baixinho.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 119
«Sabes, Elizabeth, o facto de tu veres por baixo das aparências devia tornar-me menos solitário, mas não sucede assim. Quero dizer-te e não consigo.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 116

«Tu olhas demasiadamente perto, Elisabeth», disse vivamente. «Aprofundas as coisas em excesso.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 116

«Desde que me conheço, as festas fazem-me triste.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 114/5

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

«Os carvalhos deixavam cair folhas como a chuva e, apesar disso, continuavam revestidos de folhagem. Todas as noites o céu ardia sobre o mar e as nuvens acumulavam-se e estendiam-se, atacando e recuando como a treinar-se para o Inverno.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 95
Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.


Daniel Faria
«Joseph sentiu-se de repente tão cheio de tristeza que o peito lhe doeu.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 93
«Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre.»

Walt Whitman
(...) Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias. (...)

Herberto Helder

sábado, 15 de agosto de 2015

Paul Newman and Shirley MacLaine on the set of What a Way to Go! 1965.


O olhar dela encheu-se de pensamentos

«O olhar dela encheu-se de pensamentos: o seu espírito buscava a maneira de exprimi-os. «Compreendo», disse, « que você já está à procura de desculpas - desculpas como arbustos atrás dos quais se possa esconder, para não precisar de enfrentar os seus pensamentos.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 84
«Você não conhece esse homem. Vou-lhe falar dele, não para a assustar,  mas para que você não se assuste quando vier a conhecê-lo.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 84

«Não  há uma distância muito grande entre o desprezo e o amor.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 83

''dor extática''

p. 79
«Há ocasiões, Joseph, em que o amor pelas pessoas é forte e quente como uma grande dor.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 73

A amargura de ser mulher pode ser um êxtase.

«Pode haver dores mais agudas do que o prazer, Elizabeth, como uma hortelã-pimenta que nos queima a língua. A amargura de ser mulher pode ser um êxtase.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 71

Marlon Brando & Teresa Wright in The Men (1950, dir. Fred Zinnemann)


Será uma dor impossível de curar com um beijo.

«Quando fores crescida, Elizabeth, conhecerás a dor; mas não será o género de dor que tu pensas. Será uma dor impossível de curar com um beijo.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 70/1

«Sentia os braços e as mãos pesados e mortos, pendurados como pesos em cordas que partiam duns ombros cansados de suportá-los.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 70

«Pensei sem palavras»



«Pensei sem palavras», disse ele no seu espírito. «Um homem disse-me um dia que isso não era possível, mas pensei...Elizabeth, escuta-me. O Cristo pregado na cruz pode ser mais do quem um símbolo de toda a dor. Pode na verdade conter toda a dor. E um homem de pé no cume dum monte, de braços abertos, símbolo do símbolo, pode ser também um reservatório de toda a dor que jamais houve.»



John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 69

Quando uma futura Nobel da Literatura recebeu um raspanete

Doris Lessing na apresentação da antologia de vários autores, Declaration, entre os quais ela própria, em Outubro de 1957 
© DAILY 

“Não se arme em prima-dona até ser realmente uma prima-dona”. O conselho foi dado à romancista Doris Lessing (1919-2013) pela agente literária Margaret Macpherson, numa carta que hoje integra o recém-criado arquivo de escrita contemporânea (British Archive for Contemporary Writing) da universidade inglesa de East Anglia, à qual a autora de A Erva Canta (The Grass Is Singing, 1950), prémio Nobel da Literatura em 2007, legou uma parte substancial dos seus papéis pessoais.
Como se imaginará, Lessing ainda não era Nobel da Literatura quando Macpherson lhe recomendou que não se pusesse em bicos de pés. Na verdade, só receberia o prémio 58 anos mais tarde, aos 87. E quando soube que o tinha ganho, por jornalistas de televisão que a apanharam a sair de um táxi à porta de casa, há que dizer em seu benefício que parecia já ter aprendido a lição: não se dando quaisquer ares de diva, limitou-se a pousar a saca de compras no chão e a suspirar “Oh Christ”.
Mas a carta de Macpherson é de 7 de Agosto de 1949, quando Lessing, recém-chegada a Inglaterra vinda da então Rodésia do Sul, onde vivera desde criança, era ainda, aos 30 anos, uma escritora inédita, descontados alguns contos publicados em revistas sul-africanas. E o assunto da carta é justamente o que viria a ser o romance de estreia da autora, The Grass Is Singing, que esta tentava então vender ao editor britânico Michael Joseph. A correspondência, até hoje desconhecida, com esta agente literária constitui apenas uma pequena parte do arquivo pessoal de Doris Lessing que a universidade de East Anglia (UEA) possui.
Lessing tinha ligações antigas à UEA, que lhe atribuiu em 1985 um doutoramento honorário, e já em 2008 doara à universidade um significativo conjunto de documentos pessoais. E após a sua morte, cumprindo uma promessa feita ao académico e ensaísta Christopher Bigsby, professor de Estudos Americanos na UEA, com quem manteve uma longa amizade, deixou os restantes papéis que ainda conservava em casa.
Acondicionada em 60 caixas, esta documentação integra o arquivo de escrita contemporânea, criado por iniciativa de Bigsby, mas só poderá ser consultada, segundo instruções dos herdeiros de Lessing, quando o biógrafo oficial da escritora, o historiador Peter French, concluir a sua investigação e os libertar. A carta de Macpherson e alguma outra correspondência de Lessing, incluindo uma extensa e notável carta que a romancista endereçou em 1948 ao seu amante John Whitehorn, foram agora expostas na universidade e divulgadas pela UEA para assinalar a inauguração do arquivo.
“Muitos documentos estão já disponíveis para consulta pelos estudantes de Escrita Criativa, e também pelo público em geral, incluindo um maravilhoso conjunto de cartas que Lessing enviou ao seu amante antes de deixar a então Rodésia do Sul, hoje Zimbabwe”, disse Christopher Bigsby ao PÚBLICO, acrescentando que entre os últimos papéis da escritora, aos quais French tem neste momento acesso exclusivo, se contam sete diários manuscritos.
E o acervo do novo arquivo está longe de se circunscrever ao espólio de Lessing, ainda que este seja o seu núcleo mais importante. “Obtivemos os ficheiros de duas agências literárias, que incluem, entre muita outra correspondência, cartas de Nadine Gordimer [Nobel da Literatura em 1991], e tempos ainda, por exemplo, meia dúzia de cartas fascinantes de J. D. Salinger”, diz Bigsby.
O escritor alemão W. G. Sebald (1944-2001), o poeta inglês de ascendência húngara George Szirtes, o escritor malaio Tash Aw, ou o ficcionista e ensaísta indiano Amith Chaudhuri, professor de Literatura Contemporânea na UEA, são outros autores, de diversas gerações e proveniências geográficas já representados no arquivo. E Christopher Bigsby, que está actualmente em conversações com mais três ou quatro escritores, acredita que o acervo poderá crescer muito rapidamente nos próximos anos.
Defendendo que os arquivos de escritores “iluminam o processo de escrita, mostrando, através de esboços e da correspondência com agentes e outros escritores, como um romance parte de uma ideia até chegar ao produto final”, Bigsby observa que não é por acaso que este arquivo de escrita contemporânea, o primeiro com estas características a ser criado no Reino Unido, nasceu precisamente na sua universidade. “Foi criado aqui porque já tínhamos o Centro de Tradução Literária [British Centre for Literary Translation], que dispõe de várias centenas de traduções de obras de Doris Lessing, e também o mais antigo mestrado em escrita criativa do país, que produziu uma extensa lista de grandes escritores, como Ian McEwan, Kazuo Ishiguro, Anne Enright, ou ainda os autores de Rapariga Com Brinco de Pérola [Tracy Chevalier] e de O Rapaz do Pijama às Riscas [John Boyne]”.
A UEA promove ainda um importante festival literário internacional, e as gravações em vídeo das conversas com os seus convidados foram já integradas no novo arquivo de escrita contemporânea. São mais de 300 entrevistas, com autores como Margaret Atwood, Martin Amis, Seamus Heaney, P.D. James, Toni Morrison, Iris Murdoch, Harold Pinter ou Salman Rushdie.
Finalmente, lembra ainda Bigsby, a universidade está instalada em Norwich, que pertence à rede de cidades-refúgio para escritores perseguidos e é até hoje a única detentora do estatuto de Cidade da Literatura atribuído pela UNESCO.
“Não se arme em prima-dona”
A julgar pela pequena amostra agora divulgada da correspondência de Lessing, a documentação conservada na UEA parece ser de facto incontornável para qualquer actual ou futuro biógrafo de Lessing. Mesmo a breve carta profissional de Macpherson não é todo destituída de interesse, para lá da nota pitoresca de vermos uma hoje esquecida agente literária a passar um raspanete a uma futura Nobel da Literatura.
A razão principal da carta, que abre logo com um tom algo ríspido, é recordar a Lessing que já negociara os direitos daquele que viria a ser o seu livro de estreia, The Grass Is Singing, com a editora sul-africana Afrikaanse Pers Boekhandel (APB). Desesperada por não ver o livro impresso, Lessing, que acabara de chegar a Londres, mostrara-o ao editor inglês Michael Joseph. “É claro que não pode vender o livro a Michael Joseph”, escreve Macpherson, acrescentando que todos os livros que a sua agência negociava com a APB tinham contratos de cinco anos.
Indecisa em publicar o livro na África do Sul, a APB estava a tentar negociá-lo com a Harper (parte do que depois viria a ser o grupo HarperCollins), e é a avaliação da editora nova-iorquina que motiva a admoestação da agente. Pelo que se presume da sua carta, Lessing ter-se-ia queixado de que a editora americana pretendia que ela mudasse o tema do livro, cujo enredo se centra numa mulher, Mary Turner, que está casada com um colono branco e tem umaffaire com o seu criado negro, Moses, que acabará por a matar.
A agente replica que a Harper não quer nada alterar o tema do livro, mas apenas “encurtá-lo e focá-lo”, e aproveita para dar a Lessing algumas luzes sobre escrita de ficção: “Se ler qualquer grande romancista, ou, ainda melhor, se se lembrar de alguma das suas obras, verá que o que se destaca na sua memória são as cenas. Escrever por cenas é a arte de toda a ficção memorável”. E é só porque Lessing é tão “prometedora” que se dá ao trabalho de a “ajudar e aconselhar”, diz Macpherson, que a avisa, então, para não se armar em prima-dona, observando que “um livro amador e medíocre pode destruí-la do mesmo modo que um bom livro pode consagrá-la”. E conclui: “detestaria vê-la deitar fora esta oportunidade”.
Mas o curioso é que, alguns meses passados, já em 1950, a primeira edição deThe Grass Is Singing saiu mesmo em Londres com a chancela de Michael Joseph, um antigo agente literário da empresa Curtis Brown que se estabelecera como editor por conta própria. O PÚBLICO tentou perceber como fora contornado o obstáculo legal representado pelo anterior contrato com a APB e uma arquivista da UEA, Justine Mann esclareceu que Curtis Brown, que se interessara por Lessing ao ler alguns dos seus contos, tivera acesso ao contrato com a editora sul-africana e ficou “indignado” com os respectivos termos. “Escreveu aos editores, desafiando-os, eles cederam, e Lessing viu-se livre do contrato original, o que permitiu a Michael Joseph publicar o livro”, explica a arquivista.
Outro ponto curioso da carta é o facto de o livro em causa só poder ser The Grass Is Singing, mas aparecer sempre referido como In Black and White (A Preto e Branco). Justine Mann confirmou que este foi, de facto, o título inicial da obra, e que só mais tarde Lessing optou pela citação de T. S. Eliot, retirada do longo poema Waste Land
“Amar vasta e variadamente”
Mas o mais extraordinário conjunto de cartas de Doris Lessing que a UEA conserva, num arquivo que inclui correspondência trocada com Ingmar Bergman, Raymond Carver, Iris Murdoch ou Muriel Spark, são as chamadasWhitehorn Letters, 110 cartas escritas entre 1943 e 1949 ao seu amante John Whitehorn, que conheceu em África quando este era um jovem cadete da força aérea britânica.
Algumas das cartas são dirigidas a um colega de unidade de Whitehorn, Coll MacDonald, ou a ambos, e Lessing escreveu ainda centena e meia de cartas a um amigo de John e Coll, Leonard Smith, vulgo Smithie, que mais tarde as venderia à universidade de Sussex. Numa carta de Janeiro de 1945, a escritora, que foi amante dos três enquanto estava casada com o seu segundo marido - o dirigente comunista Gottfried Lessing, que viria a morrer em 1979 no Uganda -, garante: “amo-vos a todos em indivisíveis porções de um terço”. Mas se teve uma paixão por Smithie, foi com John Whitehorn que manteve uma relação mais profunda e duradoura.
A carta a Whitehorn que a UEA tem neste momento exposta, datada de 28 de Setembro de 1948, é mais do que bastante para se adivinhar a importância do conjunto. Com quatro páginas dactilografadas, ficamos a saber, logo no início, que a jovem Doris fumava então dois maços de cigarros por dia. “Li o admirável ensaio de Lin Yutang sobre a futilidade de se deixar de fumar”, escreve. “É tão reconfortante virem-nos dizer que fumar é um acto espiritual, e não, como se poderia suspeitar, uma lamentável fraqueza”.
Toda a carta está repassada de humor e ironia. Lessing dedica duas páginas à política local, na ressaca da eleição desse ano, que devolvera o poder ao Partido da União (UP), de Godfrey Huggins. E trata com igual sarcasmo os vencedores e os vencidos do Partido Liberal, embora reconheça que, “de tempos a tempos”, um ou outro deputado liberal “lerá um livro”, já que por vezes se “levantam no Parlamento e fazem um discurso em que enunciam, com grande satisfação, alguma verdade que era um lugar comum por volta de 1800 com o ar de quem acabou de descobrir o segredo da vida”.
São também divertidos os parágrafos em que censura John Whitehorn por não ter sabido educar convenientemente a irmã mais nova, uma vez que esta tencionava casar-se aos 21 anos. “O modo certo de viver é amar vasta e variadamente até aos 30 anos, quando pomos de lado as infantilidades em favor do Lar”, argumenta Lessing. Curiosamente, a irmã de John, Katharine, que se celebrizaria como jornalista e colunista, acabou por só se casar mesmo aos 30 anos, em 1958, com o romancista Gavin Lyall.
Na mesma carta, de 1948, Lessing descreve-se como um aglomerado de “personagens conflituantes” e dá exemplos: “Uma porção do meu dia é dedicada a ser uma boa esposa e mãe: cozinho, crio o meu filho (...). Gasto outra porção a escrever. Cada vez melhor. Ainda virei a ser uma boa escritora (...). Durante as tardes, faço amor com o meu amante (...). E à noite frequento a política e os entretenimentos, sobretudo a política”. E conclui: “Ninguém pode dizer que a soma disto se assemelhe a um todo harmonioso, mas o que se há-de fazer?”.
Os arquivistas da UEA não descobriram ainda nada sobre mais este amante de Lessing, salvo o nome, que a romancista refere noutro passo da carta, quando observa que “o eu que cozinha com grande prazer e vê o bebé crescer não tem nada que ver com o eu que faz, com grande perícia, amor com John Parry”.
Não menos interessante - e tudo isto numa só carta! - é a parte em que Lessing confessa que anda a tentar escrever romances policiais e que pensou “escrever uma história de detectives inteiramente original acerca de um homem que encontra um corpo na sua carpete e que só descobre na última página que foi ele que o matou”. Infelizmente, explica, “dizem-me que já foi escrita”.


Perguntaram ao Dalai Lama

O que mais te surpreende na Humanidade? 

E ele respondeu:

 “Os homens … Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… … e morrem como se nunca tivessem vivido. ''

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Das duas uma

«Mas os poços da fantasia
        Acabam sempre por secar;»


Lewis Carroll. As aventuras de Alice no País das Maravilhas. Tradução e notas de Margarida Vale de Gato. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2009., p. 8

é insuportável que me beijes quando quero dormir

Sofia Vasconcellos e Sá. 

Título de Peça de Teatro

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

«Robert – As pessoas? Parece que andam estranhas,
olham umas para as outras de uma maneira estranha,
cumprimentaram-me de uma maneira estranha.»


Mário Abel Lopes da Costa. O Que Vi Quando Voltei da Lua - Peça de teatro
«D. Leonor – Prepara-as tu. Só há uma maneira de vencer o ardil, é preparar um ardil ainda maior.

D. Manuel - (Passa num instante da hostilidade ao exagero.) Minha querida mana, és a minha salvação!

D. Leonor – Deixa-me. Só te agradam as pessoas quando dizem o que te convém.»


Manuel Córrego. “O Casamento de D. Manuel I”
«D. Leonor – Cedes no acessório para alcançar o essencial.»


Manuel Córrego. “O Casamento de D. Manuel I”
«D. Leonor – Não te habitues a ver traidores em todos os que manifestam uma opinião diferente da tua.»


Manuel Córrego. “O Casamento de D. Manuel I”
«D. Manuel – Às vezes apetece-me...

D. Leonor – Mas não és capaz.

D. Manuel – Não quero sangue. O que mais detesto na vida é que haja sangue.

D. Leonor – Cada um só existe naquilo de que é capaz.»



Manuel Córrego. “O Casamento de D. Manuel I”

A Serbian Film




«Miloš é um actor porno aposentado, casado e com um filho. Para garantir a estabilidade financeira da sua família, aceita uma oferta apresentada por sua ex-colega de profissão Lejla para estrelar um "filme de arte". Vukmir, o diretor, quer Miloš no elenco para aproveitar sua capacidade de manter uma prolongada ereção sem estímulos físicos nem visuais.No início das filmagens, Miloš é levado a um orfanato e recebe um fone de ouvido, pelo qual ouvirá as instruções a serem seguidas. Em seguida, uma equipe de filmagem o segue para registrar suas reações diante de várias situações sexuais.Numa das cenas, o ator deve fazer sexo com uma mulher que sofreu abusos, enquanto uma menina vestida de Alice assiste a tudo. Em outra, um homem ajuda uma mulher a dar à luz e estupra a recém-nascida.Miloš se enfurece e decide abandonar o projeto. É sedado e acorda três dias depois, coberto de sangue e sem se lembrar do que aconteceu. Volta para o set de filmagem e descobre gravações mostrando que, nos dias anteriores, foi drogado para se manter num estado de permanente agressividade e excitação sexual, estuprando uma mulher algemada a uma cama, cortando seu pescoço e violando o cadáver. Outra cena mostra Lejla sendo violentada por um homem que introduz o pênis em sua boca até ela morrer asfixiada. Assistindo a mais gravações, Miloš descobre que foi levado a estuprar sua própria mulher, que estava sedada, e seu filho.Na cena, a mulher de Miloš recobra a consciência e consegue, com a ajuda do marido, enfrentar Vulkmir e o resto da equipe. Os dois conseguem matar o diretor e seus guarda-costas.Depois de se lembrar de tudo, Miloš resolve cometer suicídio. Sua mulher concorda e propõe a morte de toda a família. Ele mata a si mesmo, à mulher e ao filho com um tiro.Algum tempo depois, outro diretor de cinema chega ao local, com um ator pornô e uma equipe de cinema, e inicia uma filmagem dizendo: "comece pelo menino"»

Nem putas nem ladrões,

fábula da vida real, 2003

Manuel Córrego

Personagens

Zé Gato, taberneiro
Maria Gata, mulher taberneiro
Manel, bêbado
Navarro, contrabandista
Tóino, porqueiro
Maria de Fátima
Gama, ajudante de farmácia
Sebastião, guarda nacional republicano.
Ti ‘ Maria
Homens sentados nas mesas



Tânia Rico. “Vinho, Copos e Milagres” - Peça de Teatro
«LINDSAY
Por amor de Deus, senhor Brown. Não me mate. Eu faço tudo o que quiser…

BROWN
Tudo, tudo, mesmo tudo?

LINDSAY
(uma ténue esperança na voz) Sim

BROWN
Tens a certeza?

LINDSAY
Sim, senhor Brown

BROWN

Bem, já vi que me vais tratar por senhor até à morte. Não há nada a fazer.»


                                                                    (...)


BROWN
Vês, Lindsay, das coisas que beijei, mas não vivi. Não te vivi. Hoje de mim só resta o desencanto. Ainda têm sal, as tuas lágrimas?

(Aproxima-se e torna a lamber as lágrimas de Lindsay)

BROWN
Curioso, já não tens o sal da vida nas tuas lágrimas. Se calhar é porque te sentes mais morta que viva…

LINDSAY
(a chorar cada vez mais) Não…não…não…»


Luís Afonso Nunes da Graça. “Meia Dúzia de Maldades”  - Peça de Teatro
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