«Os antigos profetas e os maiores santos experimentaram em si mesmos, muitas vezes, essa alternativa de paz e de perturbação.»
in Imitação de Cristo
Livro Segundo. O mundo interior, p. 58
domingo, 5 de abril de 2015
«O nosso amor-próprio deturpa os nossos julgamentos.»
in Imitação de Cristo
Livro Segundo. O mundo interior, p. 23
Livro Segundo. O mundo interior, p. 23
«Mais facilmente se vence o inimigo quando não consentimos que entre pelas portas da nossa alma, mas logo que bate a elas lhe saímos ao encontro.»
in Imitação de Cristo
Livro Segundo. O mundo interior, p. 21/22
Livro Segundo. O mundo interior, p. 21/22
sábado, 4 de abril de 2015
COMO EU COSTUMAVA DIZER
"Como eu costumava dizer
o amor é mais difícil de nascer nos mais idosos
porque já percorreram
os mesmo velhos trilhos muitas vezes
e depois quando a manhosa agulha se apresenta
não tomam o desvio
e devoram a velha via errada enquanto
o alegre tandem segue em voo
e o maquinista da locomotiva a vapor não reconhece
as novas buzinas eléctricas
e os velhos correm sob o impulso ferrugento
cujo fim se encontra
na erva morta onde
as latas ferrugentas e as molas de colchão e as lâminas de barbear usadas jazem
e a via acaba abruptamente
ali mesmo
embora as chulipas de madeira continuem por uns metros
e os velhos
dizem para si próprios
Bem
Deve ser este sítio
onde temos de nos deitar
E deitam-se mesmo
enquanto a bela carruagem iluminada prossegue lá ao longe
no alto
no cimo da colina
com as janelas cheias de céu azul
e namorados
com flores
e longos cabelos ondulantes
e todos a rirem-se
e a dizerem adeus e
a perguntarem-se a si próprios o que aquele cemitério
onde a via acaba
é"
o amor é mais difícil de nascer nos mais idosos
porque já percorreram
os mesmo velhos trilhos muitas vezes
e depois quando a manhosa agulha se apresenta
não tomam o desvio
e devoram a velha via errada enquanto
o alegre tandem segue em voo
e o maquinista da locomotiva a vapor não reconhece
as novas buzinas eléctricas
e os velhos correm sob o impulso ferrugento
cujo fim se encontra
na erva morta onde
as latas ferrugentas e as molas de colchão e as lâminas de barbear usadas jazem
e a via acaba abruptamente
ali mesmo
embora as chulipas de madeira continuem por uns metros
e os velhos
dizem para si próprios
Bem
Deve ser este sítio
onde temos de nos deitar
E deitam-se mesmo
enquanto a bela carruagem iluminada prossegue lá ao longe
no alto
no cimo da colina
com as janelas cheias de céu azul
e namorados
com flores
e longos cabelos ondulantes
e todos a rirem-se
e a dizerem adeus e
a perguntarem-se a si próprios o que aquele cemitério
onde a via acaba
é"
-"Como Eu Costumava Dizer"
- Lawrence Ferlinghetti
- D Quixote, 1972
- Lawrence Ferlinghetti
- D Quixote, 1972
sexta-feira, 3 de abril de 2015
"Evolução
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade".
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade".
- Antero de Quental, "Sonetos"
8.
«Se tiveres o coração recto e puro, tudo contribuirá para o teu bem e para o teu aperfeiçoamento.
Todas as tuas perturbações e desgostos vêm de que ainda não morreste perfeitamente para ti mesmo, nem te separaste das coisas da Terra. Não há que mais contamine e embarace o coração do homem do que o amor desordenado das criaturas.»
in Imitação de Cristo
Livro Segundo. O mundo interior.
3.
«Não deves pôr muita confiança no homem frágil e mortal, ainda que te seja útil e amável; e também não deves entristecer-te muito quando ele alguma vez se levanta contra ti e te mostra oposição. Os que hoje estão da tua parte, amanhã podem ser teus inimigos, amanhã podem ser teus amigos. Os homens variam como o vento.»
Livro Segundo. O mundo interior.
quarta-feira, 1 de abril de 2015
«Que mais te impede e perturba senão as angústias do teu coração não dominadas?»
in Imitação de Cristo
3.
«Quanto mais e melhor souberes, com mais rigor serás julgado se não viveres santamente. Não te desvaneças, pois, em alguma arte ou ciência, mas teme o saber que adquires. Se te parece que sabes muito, pensa que muito mais é o que ignoras. Não presumas de alta sabedoria, mas confessa francamente a tua ignorância. Para que te queres ter em mais que os outros, havendo tantos que de ti são superiores? Se queres saber e aprender alguma coisa com utilidade, deseja ser ignorado e tido em nenhuma conta.»
sexta-feira, 27 de março de 2015
«Não queremos ser obrigados a estender a mão. Temos vergonha de fazer isso. Queríamos apenas ser como os outros. Ter um lar, direito à vida...
VÍTOR (aborrecido) - Um orgulho estúpido. E ainda mais estúpido quando vem de uns miseráveis que não têm dinheiro para ter orgulho.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 142
«(...) Ao menos, não é preciso pôr uma máscara antes de sair à rua, dizer coisas que não se sentem, sorrir quando apetece chorar ou lamentar-se quando se tem vontade de rir. Miséria por miséria, que não precise de me curvar, de tirar o chapéu quando não me apetece.»
«Não podemos começar um mundo novo com analfabetos.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 127
«1.º VAGABUNDO - Quero uma mulher. E por que não? (Para o 2.º Vagabundo) tu sabes o que é a solidão? O que é uma pessoa ver-se só, sem ninguém?...Mesmo que seja para o chatear.
2.º VAGABUNDO - Mas tu sempre viveste só. És um vagabundo...
1.º VAGADUNDO - (indignado) - E que sabes tu de mim? Sou vagabundo por causa de uma mulher. Para fugir dela, para a esquecer, acabei por fugir de mim mesmo, e...
3.º VAGABUNDO - É o último desejo de um condenado. Acho que deve respeitar-se, doutor.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 123
2.º VAGABUNDO - Mas tu sempre viveste só. És um vagabundo...
1.º VAGADUNDO - (indignado) - E que sabes tu de mim? Sou vagabundo por causa de uma mulher. Para fugir dela, para a esquecer, acabei por fugir de mim mesmo, e...
3.º VAGABUNDO - É o último desejo de um condenado. Acho que deve respeitar-se, doutor.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 123
«Um conquistador de corações frágeis.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 101
«1.º VAGADUNDO (desconsolado ) - Mas continuo com fome. Antes queria ter ficado a dormir. Custa menos.
2.º VAGABUNDO - De que espécie é a tua fome? É uma fome assim...muito grande? (Faz o gesto.)
1.ºVAGABUNDO - É fome, fome...Só fome.
1.º VAGABUNDO -É fome de amor. É também fome de amor.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 94
PERSONAGENS
«1.º VAGABUNDO, 40 anos. Sonhador. Problema de solidão.
2.º VAGABUNDO, 50 anos. Descrente. É o que protesta.
3.º VAGABUNDO, 25 anos. Ingénuo e um pouco estúpido. Desejo de viver.
CRISÁLIDA, meia-idade. Inconsequente. Só pensa em festas e chás-canasta.
MARIA ANTONIETA a Rainha de França.
EDUARDO, químico amador. Meia-idade. O homem que está a fazer uma bomba.
COELHO, 50 anos. Banqueiro.
VÍTOR, 49 anos. O vidente.
JÚLIA, 45 anos. Parteira-enfermeira.
AMÉLIA, 38 anos. Doméstica.
TERESA, uma rapariga. Filha de Crisálida.
ALFREDO, uma personagem com três falas.
DIABO, bem-vindo como se fosse o tio Sam. Cheio de anéis.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 88
animal despolitizado
«O OPERÁRIO - Idiota! Não tem uma opinião política! Não sabe nada de nada. É como um animal despolitizado. Só sabe estender a pata.»
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 49
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 49
«O SUICIDA - Sim, suicidemo-nos todos. Podemos lutar com as varejeiras, gordas, inchadas? Mas eu vingo-me de quem posso. Sempre que as agarro corto-lhes o voo, prendo-as...Tiro-lhe as asas. Impossibilito-as de voar, de morder. O que me fizeram a mim. Cortaram-me as asas...(Começa a lançar a corda ao tecto.)
quinta-feira, 26 de março de 2015
«(...) mas por que gostas tu de mim, também tu, se tudo isto, para ti, são defeitos?
AFONSO - Não me faças perder a cabeça! Tu é que transformas em defeitos essas vantagens.
MARIA HELENA - Claro! ainda não ofereci o seu exclusivo monopólio ao indigitado meu dono.
AFONSO - Entende-me por uma vez, Maria Helena: o que não posso compreender, nem suportar, é que te comprazas em tomar as aparências duma rapariga leviana...»
José Régio. Obra Completa. Teatro I. Sou um homem moral. Edição Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005., p. 214
«MEFISTÓFELES - Não se despreza o que se deseja.»
José Régio. Obra Completa. Teatro I. Três máscaras. Edição Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005., p. 57
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 26
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«Uma rapariga desocupada, abúlica, quase um objecto, limitando-se a estar ali. Essa passividade de cão de guarda era enervante.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 23
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''boca tímida e deslumbrada de uma criança''
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 20
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Como foi possível escrever eu isto? Tenho os membros espessos da insónia. É a fadiga que nos amolece.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 18
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«Estou a escrever de madrugada e começo a sentir-me fatigado.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 17
«(...), essas cogitações foram-me turvando, envilecendo, fazendo de mim este cínico irascível que parece cuspir nas pessoas e confunde ternura com pieguice. Se assim não fosse, eu teria sido para Clarisse outro homem. O homem de que ela necessitava e a que, como ser humano solitário e desesperado, tinha direito.»
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Eram cavalos viciados no chicote.
«Eram cavalos viciados no chicote. Cavalos que mantinham de pé, por tenacidade e não por orgulho, a sua agonia. Talvez a minha dureza lhes soubesse a verdade. Talvez a preferissem às palavras embuçadas, aos afagos corrompidos, que deixam o travo duma fraude maior ainda.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 13
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« a extravagância rude das atitudes.»
«A minha insociabilidades seria, pois, uma estratégia.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 12
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«Tais excentricidades, ou como lhes queiram chamar, porque eram temidas, tornavam-se uma comodíssima justificação para todos os caprichos que me davam na gana e permitiam-me ser tão independente, azedo e solitário, quanto as vagas de neurastenia o exigiam. A neurasteria e, por fim, a petulância.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 11
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quarta-feira, 25 de março de 2015
«O MESTRE-ESCOLA - Grande alma! (Para o Suicida) Que achas, Suicida?
SUICIDA (pensativo) - Enorme! Pareceu-me enorme! (Noutro tom) Vou-me suicidar.
TODOS - Ainda não. Ainda não. Espera.
O CAPITALISTA - Alma demasiado grande para um mundo tão pequeno. São pessoas assim que fazem com que a gente ainda acredite na humanidade. Um homem rico unicamente preocupado em auxiliar os outros. Deve ser o Tenreiro.»
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 35
Uma criança disse: «Dá-me aquele ramo de estrelas maduras.»
Herberto Hélder de Oliveira (Funchal, São Pedro, 23 de Novembro de 1930 - Cascais, 23 de março de 20151)
"Da cosmogonia helénica […] três ideias se destacam, basilares na formação intelectual do grego: a ideia do esforço como instrumento para atingir a perfeição, a ideia do amor universal, a ideia de ordem; por elas chegará o povo helénico a dominar os mais adversos materiais e a fazê-los exprimir todo o seu pensamento, a criar a harmonia da palavra no verso e na prosa, a estabelecer as leis físicas que regem o mundo; por elas o seu amor se estenderá a toda a Natureza e palpitarão de amor os mármores das estátuas e os versos dos poetas; por elas, finalmente, o grego criará a forma de governo em que se encontram e se fundem – a democracia de Atenas"
MAL ENTENDIDO
"Era o meu sangue e tu pensavas
que não importava. No centro
de uma pequena audiência, o ruído
dispersava desde a nossa mesa
de uma pequena audiência, o ruído
dispersava desde a nossa mesa
como um tumor a toda a volta.
Era o meu sangue, era o meu sangue,
tu não podias saber do que falavas.
Descias no túnel relapso, a tua boca
Descias no túnel relapso, a tua boca
num alastramento cada vez
mais fundo.
mais fundo.
Era o meu sangue,
que te faça bom proveito.
O mundo sob a superfície
que te faça bom proveito.
O mundo sob a superfície
não é silencioso."
-"Moradas"
- Rui Pires Cabral
- Rui Pires Cabral
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DOS MINERAIS
"Os livros são de natureza mineral.
Alguns bebem-se outros se proliferam
como água. Outros pedra, não frua,
rocha de onde brota a tua pele.
Passa por cima uma formiga.
Há capins vibrando
vento e sol com sombra
o musgo cresce, um mosquito
entra na tua boca e você cuspindo
cai na água que alguém
num cidade adiante
distante, talvez
sem mágoa
vira a página
bebe."
Alguns bebem-se outros se proliferam
como água. Outros pedra, não frua,
rocha de onde brota a tua pele.
Passa por cima uma formiga.
Há capins vibrando
vento e sol com sombra
o musgo cresce, um mosquito
entra na tua boca e você cuspindo
cai na água que alguém
num cidade adiante
distante, talvez
sem mágoa
vira a página
bebe."
-"A Casa dos Nietzscheanos"
- Júlia de Carvalho Hansen
- Júlia de Carvalho Hansen
terça-feira, 24 de março de 2015
COMPOSTO PARA A SUBMERGÊNCIA
"O tempo corre nas paredes livremente
mas não toma a direcção da morte: ela esteve aqui
desde o princípio, uma vocação adormecida
debaixo do estuque.
mas não toma a direcção da morte: ela esteve aqui
desde o princípio, uma vocação adormecida
debaixo do estuque.
A manhã nasce viciada nos brandos venenos
que os móveis destilam, haverá pombas
sobre o parapeito, o senhorio arrastará o chinelo
sob um eco que caminha pelo tecto.
Nada poderá perturbar a fluência da penumbra
nos cantos para onde se varre a casa
aos domingos. A pele respira tenuemente
mas não posso falar de tristeza.
Este é o meu endereço, um lugar composto
para a submergência."
que os móveis destilam, haverá pombas
sobre o parapeito, o senhorio arrastará o chinelo
sob um eco que caminha pelo tecto.
Nada poderá perturbar a fluência da penumbra
nos cantos para onde se varre a casa
aos domingos. A pele respira tenuemente
mas não posso falar de tristeza.
Este é o meu endereço, um lugar composto
para a submergência."
-"Morada"
- Rui Pires Cabral
- Rui Pires Cabral
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Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
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Herberto Helder
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O CORAÇÃO DO MENINO E O MENINO DO CORAÇÃO
O miúdo nasceu com as acertadas aparências. Só em altura de ensaiar primeiras
marchas lhe notaram o defeito, o enviesamento nos pezinhos, cada um não sendo como cada qual. Sobre as pegadas estrábicas a avó vaticinou:
- Este vai caminhar para dentro dele mesmo.
Depois outra malconveniência se somou: o rapaz engrumava as falas, tatebitudo. Os outros não entendiam mais que cuspes e assobios, até os parentes o escutavam com riso parvo de quem finge concordância. Não há medo maior que não se entender humana a voz de outra humana pessoa. A mãe conduziu a criança ao hospital. O doutor lhe mergulhou o ouvido no peito e se
ensurdeceu de tanto coração. O menino tinha o pulsar à flor da pele. O médico parecia entusiasmado com o inédito do caso.
- Necessitamos que ele fique, para mais exames…
- Nem pensar. Esse menino entrou comigo, há de sair comigo.
-Mas a senhora nem faz ideia… temos de encontrar um nome para a doença dele.
- Como um nome?
- Essa doença: eu tenho que lhe encontrar um nome!
- Mas esse nome, será que esse nome vai curar a doença dele?
O médico sorriu. Ai, essa gentinha simples, tão exímia em ser pensada pelos outros. E assim, sorriso descaindo no lábio, ficou olhando mãe e filho se afastarem no corredor. O menino levava em sua mão, descaída como pétala, uma carta que ele mesmo redigira. Queria ter dado ao doutor esse papelinho que sua inabilidade enchera de letrinha. Com desatenta ternura, a mãe lhe tirou o papel dos dedos e o lançou no latão. A mania desse mirabolhante! Deveria ser outra dessas tantíssimas cartas que o tontinho fingia escrever para sua apaixonada
priminha.
-Você ainda se carteia com Marlisa?
O menino negou com veemência. A mãe sacudiu a cabeça. Enfim, quanto ela se
esforçara em vão. Valera a pena insistir ensinamentos em quem nunca aprendera? Também Marlisa, a visada sobrinha, jamais cedera a abrir tais cartas. Nem valia a pena espreitar a caligrafia do atarantonto. Uns andam na lua. No caso, a lua é que andava nele. Certa vez, o rabiscador daqueles engatafunhos desabou no fundo do tempo. O menino faleceu, em azulidão de pele, todo frio como se nenhuma luz dele tivesse vontade. Os médicos correram para levar o corpo e lhe administrarem a extrema-autópsia. Lhe arrancaram o
coração, o universátil músculo, enormíssimo como um planeta carnudo. O órgão ficou em vitrina, exposto às ciências e aos noticiários. Os cardiologistas disputavam, em sucessivos colóquios, um apropriado nome para baptizar a anormalidade. Passaram-se os dias, anónimos. Era um fim de tarde, a prima Marlisa, ao arrumar as poeiras da casa, deparou com o monte de inúteis cartas. Sopesou-as antes de as lançar ao fogo. Hesitou por um segundinho: o moço sabia abecedar uma simples linha? Pelo sim pelo talvez, ela se aventurou a espreitar o primeiro envelope. E ali se sentou em espanto, ruga na fronte, mãos enrolando um demorado cabelo. Ficou horas, no assentado degrau. Aquilo não
eram cartas mas versos de lindeza que nem cabiam no presente mundo. Marlisa inundou a tristeza, tingiram-se as letras. Quanto mais a prima primava em seguir leitura mais rimava com nenhuma outra mulher, toda ela fora do contexto de existir. A moça se apaixonava postumamente?
Mas ali, arremessada na escada, nem Marlisa imaginava o que, no simultâneo tempo, se passava com o coração do primo que Deus e a ciência guardavam. Pois que, na vitrina gelada do Hospital, mal se resgou o primeiro envelope, o coração do primo deflagrou em sobressalto. Um oh se estilhaçou nos visitantes. E à medida que Marlisa, mais longe que mil paredes, ia desfolhando versos, o coração mais se desembrulhava, tremelusco-fuscando. Até que, daquele novelo vermelho, se viu desprender um braço, mais adiante um pé e a redondez
de um joelho e mais argumentos que faziam valer o facto: aquele coração estava em flagrante serviço de parto! E se confirmava, vinda das entranhas do útero cardíaco, uma total recém criança.
E quando, finalmente, o parto se desfechou se viu que o menino nascera igual ao seu progenitor de peito. Fazia medo como um quimicava o outro a papel chapado. Em tudo se semelhavam menos no desenho do pé. Os pés do nascido eram divergentes, como quem viesse para procurar, fora de si, gente de outras estórias.
Em Contos do nascer da terra, de Mia Couto
Assombros
PREFÁCIO
Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama.
De doces mãos irreprimíveis.
— Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.
Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes —
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória
e absorvente melancolia
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.
Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
— Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?
Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
— Estas casas serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra
onde os próprios arquitectos se desfazem com suas mãos
múltiplas, as caras ardendo nas velozes
iluminações.
Falemos de casas. É verão, outono,
nome profuso entre as paisagens inclinadas.
Traziam sal, os construtores
da alma, comportavam em si
restituidores deslumbramentos em presença da suspensão
de animais e estrelas,
imaginavam bem a pureza com homens e mulheres
ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,
tocando uns nos outros —
comovidos, difíceis, dadivosos,
ardendo devagar.
Só um instante em cada primavera se encontravam
com o junquilho original,
arrefeciam o resto do ano, eram breves os mestres
da inspiração.
— E as casas levantavam-se
sobre as águas ao comprido do céu.
Mas casas, arquitectos, encantadas trocas de carne
doce e obsessiva — tudo isso
está longe da canção que era preciso escrever.
— E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.
Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
celestes que fulguram lentamente
até uma baía fria — que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
entre um incêndio,
junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.
In A Colher na Boca in Ofício Cantante, Assírio & Alvim, Lisboa, 2009
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama.
De doces mãos irreprimíveis.
— Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.
Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes —
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória
e absorvente melancolia
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.
Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
— Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?
Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
— Estas casas serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra
onde os próprios arquitectos se desfazem com suas mãos
múltiplas, as caras ardendo nas velozes
iluminações.
Falemos de casas. É verão, outono,
nome profuso entre as paisagens inclinadas.
Traziam sal, os construtores
da alma, comportavam em si
restituidores deslumbramentos em presença da suspensão
de animais e estrelas,
imaginavam bem a pureza com homens e mulheres
ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,
tocando uns nos outros —
comovidos, difíceis, dadivosos,
ardendo devagar.
Só um instante em cada primavera se encontravam
com o junquilho original,
arrefeciam o resto do ano, eram breves os mestres
da inspiração.
— E as casas levantavam-se
sobre as águas ao comprido do céu.
Mas casas, arquitectos, encantadas trocas de carne
doce e obsessiva — tudo isso
está longe da canção que era preciso escrever.
— E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.
Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
celestes que fulguram lentamente
até uma baía fria — que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
entre um incêndio,
junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.
In A Colher na Boca in Ofício Cantante, Assírio & Alvim, Lisboa, 2009
domingo, 22 de março de 2015
Poema da eterna presença
Estou, nesta noite cálida, deliciadamente estendido sobre a relva,
de olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito!
Essa incomensurável distância de meio metro
que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!)
O que me perturba é que o todo possa caber na parte,
que o tridimensional caiba no dimensional, e não o esgote.
O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim,
de mim, pobre de mim, que sou parte do todo.
E em mim continuaria a caber se me cortassem braços e pernas
porque eu não sou braço nem sou perna.
Se eu tivesse a memória das pedras
que logo entram em queda assim que se largam no espaço
sem que nunca nenhuma se tivesse esquecido de cair;
se eu tivesse a memória da luz
que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos que engoliram
continentes,
a minha pele lembrar-se-ia da temperatura das geleiras que galgaram sobre a
Terra.
Mas não esqueci tudo.
Guardei a memória da treva, do medo espavorido
do homem da caverna
que me fazia gritar quando era menino e me apagavam a luz;
guardei a memória da fome;
da fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez estender os lábios sôfregos para mamar quando cheguei ao mundo;
guardei a memória do amor,
dessa segunda fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez desejar a mulher do próximo e do distante;
guardei a memória do infinito,
daquele tempo sem tempo, origem de todos os tempos,
em que assisti, disperso, fragmentado, pulverizado,
à formação do Universo.
Tudo se passou defronte de partes de mim.
E aqui estou eu feito carne para o demonstrar,
porque os átomos da minha carne não foram fabricados de propósito para mim.
Já cá estavam.
Estão.
E estarão.
António Gedeão, in 'Poemas Póstumos'
de olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito!
Essa incomensurável distância de meio metro
que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!)
O que me perturba é que o todo possa caber na parte,
que o tridimensional caiba no dimensional, e não o esgote.
O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim,
de mim, pobre de mim, que sou parte do todo.
E em mim continuaria a caber se me cortassem braços e pernas
porque eu não sou braço nem sou perna.
Se eu tivesse a memória das pedras
que logo entram em queda assim que se largam no espaço
sem que nunca nenhuma se tivesse esquecido de cair;
se eu tivesse a memória da luz
que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos que engoliram
continentes,
a minha pele lembrar-se-ia da temperatura das geleiras que galgaram sobre a
Terra.
Mas não esqueci tudo.
Guardei a memória da treva, do medo espavorido
do homem da caverna
que me fazia gritar quando era menino e me apagavam a luz;
guardei a memória da fome;
da fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez estender os lábios sôfregos para mamar quando cheguei ao mundo;
guardei a memória do amor,
dessa segunda fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez desejar a mulher do próximo e do distante;
guardei a memória do infinito,
daquele tempo sem tempo, origem de todos os tempos,
em que assisti, disperso, fragmentado, pulverizado,
à formação do Universo.
Tudo se passou defronte de partes de mim.
E aqui estou eu feito carne para o demonstrar,
porque os átomos da minha carne não foram fabricados de propósito para mim.
Já cá estavam.
Estão.
E estarão.
António Gedeão, in 'Poemas Póstumos'
O POEMA ENSINA A CAIR
O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
Luiza Neto Jorge
b.
aprende a falar — diz
a rosa: escreve de noite
e que o meu múltiplo sol
te guie inúmeros
os caminhos. põe-te numa sala
com a luz apagada
onde chegue acesa
a de uma outra, e
frágil,
ao papel que para ela
voltas. então, falas
das paixões, da pétala
que cai no interior
do coração
e navega na sombra do
sangue,
de assombro em
assombro.
a rosa: escreve de noite
e que o meu múltiplo sol
te guie inúmeros
os caminhos. põe-te numa sala
com a luz apagada
onde chegue acesa
a de uma outra, e
frágil,
ao papel que para ela
voltas. então, falas
das paixões, da pétala
que cai no interior
do coração
e navega na sombra do
sangue,
de assombro em
assombro.
Manuel Gusmão
sexta-feira, 20 de março de 2015
OS INSOLENTES
"Maud ficou uns momentos à janela, com os braços estendidos sobre o parapeito, de cabeça pendurada, numa atitude semelhante semelhante à de uma criança ociosa. Mas estava pálida, e parecia mortificada pelo aborrecimento.
Quando se voltou para o quarto e fechou a janela o ruído do vale parou bruscamente, como se se fechasse a comporta num rio."
Quando se voltou para o quarto e fechou a janela o ruído do vale parou bruscamente, como se se fechasse a comporta num rio."
-"Os Insolentes"
- Marguerite Duras
- Marguerite Duras
quinta-feira, 19 de março de 2015
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