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sexta-feira, 27 de março de 2015
«Não queremos ser obrigados a estender a mão. Temos vergonha de fazer isso. Queríamos apenas ser como os outros. Ter um lar, direito à vida...
VÍTOR (aborrecido) - Um orgulho estúpido. E ainda mais estúpido quando vem de uns miseráveis que não têm dinheiro para ter orgulho.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 142
«(...) Ao menos, não é preciso pôr uma máscara antes de sair à rua, dizer coisas que não se sentem, sorrir quando apetece chorar ou lamentar-se quando se tem vontade de rir. Miséria por miséria, que não precise de me curvar, de tirar o chapéu quando não me apetece.»
«Não podemos começar um mundo novo com analfabetos.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 127
«1.º VAGABUNDO - Quero uma mulher. E por que não? (Para o 2.º Vagabundo) tu sabes o que é a solidão? O que é uma pessoa ver-se só, sem ninguém?...Mesmo que seja para o chatear.
2.º VAGABUNDO - Mas tu sempre viveste só. És um vagabundo...
1.º VAGADUNDO - (indignado) - E que sabes tu de mim? Sou vagabundo por causa de uma mulher. Para fugir dela, para a esquecer, acabei por fugir de mim mesmo, e...
3.º VAGABUNDO - É o último desejo de um condenado. Acho que deve respeitar-se, doutor.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 123
2.º VAGABUNDO - Mas tu sempre viveste só. És um vagabundo...
1.º VAGADUNDO - (indignado) - E que sabes tu de mim? Sou vagabundo por causa de uma mulher. Para fugir dela, para a esquecer, acabei por fugir de mim mesmo, e...
3.º VAGABUNDO - É o último desejo de um condenado. Acho que deve respeitar-se, doutor.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 123
«Um conquistador de corações frágeis.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 101
«1.º VAGADUNDO (desconsolado ) - Mas continuo com fome. Antes queria ter ficado a dormir. Custa menos.
2.º VAGABUNDO - De que espécie é a tua fome? É uma fome assim...muito grande? (Faz o gesto.)
1.ºVAGABUNDO - É fome, fome...Só fome.
1.º VAGABUNDO -É fome de amor. É também fome de amor.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 94
PERSONAGENS
«1.º VAGABUNDO, 40 anos. Sonhador. Problema de solidão.
2.º VAGABUNDO, 50 anos. Descrente. É o que protesta.
3.º VAGABUNDO, 25 anos. Ingénuo e um pouco estúpido. Desejo de viver.
CRISÁLIDA, meia-idade. Inconsequente. Só pensa em festas e chás-canasta.
MARIA ANTONIETA a Rainha de França.
EDUARDO, químico amador. Meia-idade. O homem que está a fazer uma bomba.
COELHO, 50 anos. Banqueiro.
VÍTOR, 49 anos. O vidente.
JÚLIA, 45 anos. Parteira-enfermeira.
AMÉLIA, 38 anos. Doméstica.
TERESA, uma rapariga. Filha de Crisálida.
ALFREDO, uma personagem com três falas.
DIABO, bem-vindo como se fosse o tio Sam. Cheio de anéis.»
Miguel Barbosa. O Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 88
animal despolitizado
«O OPERÁRIO - Idiota! Não tem uma opinião política! Não sabe nada de nada. É como um animal despolitizado. Só sabe estender a pata.»
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 49
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 49
«O SUICIDA - Sim, suicidemo-nos todos. Podemos lutar com as varejeiras, gordas, inchadas? Mas eu vingo-me de quem posso. Sempre que as agarro corto-lhes o voo, prendo-as...Tiro-lhe as asas. Impossibilito-as de voar, de morder. O que me fizeram a mim. Cortaram-me as asas...(Começa a lançar a corda ao tecto.)
quarta-feira, 25 de março de 2015
«O MESTRE-ESCOLA - Grande alma! (Para o Suicida) Que achas, Suicida?
SUICIDA (pensativo) - Enorme! Pareceu-me enorme! (Noutro tom) Vou-me suicidar.
TODOS - Ainda não. Ainda não. Espera.
O CAPITALISTA - Alma demasiado grande para um mundo tão pequeno. São pessoas assim que fazem com que a gente ainda acredite na humanidade. Um homem rico unicamente preocupado em auxiliar os outros. Deve ser o Tenreiro.»
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 35
domingo, 15 de março de 2015
«O PÉRICLES (gritando) - Vejo vampiros!
O SUICIDA - Onde, ó Péricles? É no ar?!
O PÉRICLES - Sim, no ar. Andam vampiros no ar. À nossa volta.
O SUICIDA - São moscas (faz menção de apanhar uma que passa.) Sou o Rei! O imperador das moscas. (Abre a mão lentamente como se tivesse medo que ela fugisse). Domino-as, apanho-as no ar. Escravizo-as. Nunca falho. Tenho a mão. A mão para as moscas...E só as largo quando quero. Separo-as do mundo, do sol, da vida. Foi o que me fizeram a mim. Fechado num quarto escuro, sem janelas, a morrer de fome. Maldito mundo, malditas pessoas, e como tinha medo daquela maldita miséria! O mundo, as moscas, tudo contra mim!...(Puxa duma corda). Vou-me suicidar.»
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 29
«Há coisas que, se a gente não souber, não doem. O que não se sabe não dói...»
Miguel Barbosa. Os Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 28
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