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segunda-feira, 11 de maio de 2015


«Tudo o que ela dissera me fluía à boca com o sabor de malogros e paixões. Nos últimos tempos, eu reagia por tudo e por nada. Tinha os nervos eriçados, sensíveis como um dente cariado.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 257

sábado, 9 de maio de 2015

«Para esses sonâmbulos, era eu o enfermo.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 244

«Escreveu a alguns, para endereços antigos, e como a via sofrer de tal modo com a desiludida expectativa de lhes receber uma resposta, proibi-a rudemente de persistir na tolice.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 242

«Sentia uma súbita fome. E um vazio em todas as vísceras.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 239

''alforge de excentricidades''

''lábios desbotados''

''apagar-lhe da memória as nódoas que tinham ficado para trás.''


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 214

«O seu olhar, então, quando lhe sacudia o mutismo, pousava, suave e indiferente, sobre a minha contida saturação.
-Que tal passaste a noite?
-Bem.
Fechava-se, um muro em volta, obrigando-me a ficar de fora.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 209

''dança sonâmbula''



«(...), tal como eu, não queria confessar que a solidão nos deixa as mãos estendidas e apavoradas dentro de um quarto escuro; daí, as suas fugas, o seu arzinho de bicho que se prepara para arranhar enquanto não está certo se deve confiar nos dedos que se estendem para o afago.»



Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 189


«Desejei muitas vezes ter alguém ( e só então reparava, com azeda amargura, quanto tinha sido até aí desastrado nas relações humanas, quanto conduzira as pessoas a respeitarem-me por entre uma gélida terra-de-ninguém, a temer-me e nunca a ter estima por mim), um amigo que interpretasse as incongruências do meu procedimento, humanizando-as  a meus olhos, ajustando-as, se fosse possível, à espécie de pessoa que eu julgava ser. Eu, por mim, de modo algum as poderia ajustar.»



Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 188

sexta-feira, 8 de maio de 2015


«Se aqueles breves raios de loucura passavam por Clarisse, se o mórbido desvario a conduzia a atitudes extremas é porque as patologias as previam, as regulamentavam. E se assim não fosse?
   Clarisse, ao reparar no meu silêncio taciturno, fez um sorriso de astúcia.
   -Nunca julguei que uma simples beliscadura te afectasse tanto...»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 183

«Que eram as pessoas? Ilhas. Ilhas isoladas e um braço estendido, a fazer de ponte, por onde se esperava que passasse alguém.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 183

« - Como  vês, não me devo queixar: passou por mim muita coisa, menos bolor...Aconteceu-me um pouco de tudo. Até a morte marcada por um despertador que, uma vez que lhe foi dada corda, ninguém o fará parar.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 180
«Nunca a sentira tão longe de mim. Tão desapegada. As suas palavras não me eram dirigidas. Era uma sensação desagradável. Achei-me a estimulá-la ao diálogo, numa tentativa ciumenta de a recuperar.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 178
«No entanto, Clarisse tinha de falar do passado. Arrumá-lo (tal como eu tentava arrumar o meu presente, unir o que fazia ao que sentia, sem, porém, o conseguir), esclarecê-lo para se libertar melhor. Ou então, era-lhe necessário, por orgulho, talvez, justificar certos aspectos contraditórios que se farejavam na sua vida.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 175

sexta-feira, 24 de abril de 2015

« - Procuro descobrir se há uma outra por detrás de ti. Uma outra Clarisse, a verdadeira.
   -Mas por que não há-de ser esta a verdadeira?
   -É o que pergunto em certos momentos.

(...)

  Fui possuído pela sensação de que, na maioria das vezes, eu era para Clarisse um inimigo atento ao mínimo deslize que lhe pudesse trair os defeitos. Tinha de me defender contra isso, tanto como das armadilhas do seu humor instável. »



Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 172

''cio das árvores a florir''


«Nem eu nem Clarisse falávamos, mas cada um de nós ia, decerto, com os nervos saturados do diálogo irritadiço dessa tarde, das frases que haviam ficado por dizer, reagrupando agora esses fragmentos talvez para os suavizar ou azedar mais ainda.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 168

«-Uma garota de nariz arrebitado. Caprichosa, volúvel, nem sempre fácil de aturar.
  -Volúvel? - repetiu Clarisse, numa inflexão interrogativa mas sonâmbula, como se recitasse uma frase vazia de sentido.
   -...E sobretudo uma garota que me puxa demasiadamente pela língua. Já devias saber que a loquacidade não está nos meus hábitos.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 166
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