terça-feira, 24 de março de 2015

COMPOSTO PARA A SUBMERGÊNCIA


"O tempo corre nas paredes livremente
mas não toma a direcção da morte: ela esteve aqui
desde o princípio, uma vocação adormecida
debaixo do estuque.
A manhã nasce viciada nos brandos venenos
que os móveis destilam, haverá pombas
sobre o parapeito, o senhorio arrastará o chinelo
sob um eco que caminha pelo tecto.
Nada poderá perturbar a fluência da penumbra
nos cantos para onde se varre a casa
aos domingos. A pele respira tenuemente
mas não posso falar de tristeza.
Este é o meu endereço, um lugar composto
para a submergência."
-"Morada"
- Rui Pires Cabral
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