sábado, 29 de dezembro de 2012
«Cada distância tem o seu silêncio»
Antonio Gamoneda. Descrição da Mentira. Tradução de Vasco Gato. Edições Quasi, 2003., p. 43
armistício
armistício
armistício In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-12-29].
Disponível na www:http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/armist%C3%ADcio
nome masculino
cessação das hostilidades por comum acordo dos beligerantes por um prazo determinado, a partir de certo dia e hora; trégua ou suspensão de hostilidades |
(Do latim diplomático armistitĭu-, «deposição das armas»)
armistício In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-12-29].
Disponível na www:
armistício
armistício In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-12-29].
Disponível na www:http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/armist%C3%ADcio
nome masculino
nome masculino
cessação das hostilidades por comum acordo dos beligerantes por um prazo determinado, a partir de certo dia e hora; trégua ou suspensão de hostilidades |
(Do latim diplomático armistitĭu-, «deposição das armas
armistício In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-12-29].
Disponível na www:
cessação das hostilidades por comum acordo dos beligerantes por um prazo determinado, a partir de certo dia e hora; trégua ou suspensão de hostilidades
(Do latim diplomático armistitĭu-, «deposição das armas»)
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
''(...), viúva expulsa dos teus lençóis.''
Antonio Gamoneda. Descrição da Mentira. Tradução de Vasco Gato. Edições Quasi, 2003., p. 34
''Aquilo que aconteceu não é mais que destruição.''
Antonio Gamoneda. Descrição da Mentira. Tradução de Vasco Gato. Edições Quasi, 2003., p. 30
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Adão e Eva
Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a cara lhe pedia.
- E cada um de nós sonhou que o achara...
E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente,
... Se deu, e se dará continuamente:
Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.
- Meu nome é Adão...
E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!
Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram
Sobre um leito de terra, cinza e pó!
Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!
Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri,
Sede que nada mata, ânsia sem fim!
- Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.
Assim toda te deste,
E assim todo me dei:
Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado...
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.
E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam
Às linhas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos,
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo!
... Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.
Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado,
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!
E assim Eva e Adão se conheceram:
Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
Os veios de oiro que o meu barro trouxe...
Eu, os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade
Os sinais da tua pele,
O gosto do teu sangue doce...
Depois...
Depois o quê, amor? Depois, mais nada,
- Que Jeová não sabe perdoar!
O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada...
Continuamos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a cara lhe pedia.
- E cada um de nós sonhou que o achara...
E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente,
... Se deu, e se dará continuamente:
Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.
- Meu nome é Adão...
E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!
Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram
Sobre um leito de terra, cinza e pó!
Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!
Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri,
Sede que nada mata, ânsia sem fim!
- Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.
Assim toda te deste,
E assim todo me dei:
Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado...
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.
E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam
Às linhas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos,
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo!
... Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.
Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado,
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!
E assim Eva e Adão se conheceram:
Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
Os veios de oiro que o meu barro trouxe...
Eu, os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade
Os sinais da tua pele,
O gosto do teu sangue doce...
Depois...
Depois o quê, amor? Depois, mais nada,
- Que Jeová não sabe perdoar!
O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada...
Continuamos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!
José Régio
O vinho...
«O vinho dá-nos o conhecimento dos estados de alma. Tomamos conhecimento de tudo e de nada, ao mesmo tempo. O vinho confere novo brilho à cortesia. Se fores apreciador de vinho és também apreciador de mulheres e um defensor daquilo que lhes é caro. As relações entre homem e mulher, mesmo as mais complexas, revelam-se com toda a simplicidade, desabrochando de dentro de um copo de vinho como se fossem flores. Todas as canções dedicadas ao vinho devem ser reconhecidas como legítimas.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 24
«Muitas pessoas que se mostram arrogantes sofrem de falta de coragem, muitas que são orgulhosas sofrem de falta de orgulho e muitas, ainda, que são fracas, não possuem força de ânimo para reconhecer a sua fraqueza. Muitas vezes os fracos comportam-se como fortes, os despeitados como satisfeitos, os humilhados como orgulhosos, os vaidosos como modestos; é o que acontece comigo, por exemplo, que nunca me vejo ao espelho, e isso apenas por vaidade, posto que o espelho é para mim insolente e malcriado.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 14
domingo, 16 de dezembro de 2012
«Os habitantes de Valdrada sabem que todos os seus actos são ao mesmo tempo esse acto e a imagem especular, q que pertence a especial dignidade das imagens, e esta sua consciência proíbe-os de se abandonarem por um só instante ao acaso e ao esquecimento. Mesmo quando os amantes dão voltas aos corpos nus pele contra pele procurando a maneira de se colocarem para ter um do outro maior prazer, mesmo quando os assassinos empurram a faca para dentro das veias negras do pescoço e quanto mais sangue grumoso jorrar mais afundam a lâmina que desliza entre os tendões, não é tanto o seu unir-se ou trucidar-se que importa quanto o unir-se ou o trucidar-se das suas imagens límpidas e frias no espelho.»
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990., p. 55
«Assim entre os que por acaso se encontram juntos a abrigar-se da chuva debaixo de um pórtico, ou se apinham devaixo dos toldos de um bazar, ou param para ouvir a banda no coreto da praça, consumam-se encontros, seduções, ligações, cópulas, orgias, sem que troquem uma palavra, sem que se toquem com um dedo, quase sem se olharem.»
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990., p. 53
“I meet you. I remember you. Who are you? You’re destroying me. You’re good for me. How could I know this city was tailor-made for love? How could I know you fit my body like a glove? I like you. How unlikely. I like you. How slow all of a sudden. How sweet. You cannot know. You’re destroying me. You’re good for me. You’re destroying me. You’re good for me. I have time. Please, devour me. Deform me to the point of ugliness. Why not you? Why not you in this city and in this night, so like other cities and other nights you can hardly tell the difference? I beg of you.''
Marguerite Duras, Hiroshima mon amour
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Who are you? You’re destroying me. You’re good for me. How could I know this city was tailor-made for love? How could I know you fit my body like a glove? I like you. How unlikely. I like you. How slow all of a sudden. How sweet. You cannot know. You’re destroying me. You’re good for me. You’re destroying me. You’re good for me.
Hiroshima mon amour (Alain Resnais, 1959)
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«Agora basta que oiça relinchar os cavalos e zunir os chicotes e logo me assalta uma trepidação amorosa: em Hipácia tive de entrar nas cavalariças e nas oficinas dos ferradores para ver as belíssimas mulheres que montam nas selas de coxas nuas e polainas nas pernas, e que mal se aproxima um jovem estrangeiro o deitam sobre montes de feno ou de serradura e o apertam com os rijos mamilos.
E quando a minha alma não pede outro alimento e estímulo que não seja a música, sei que de procurá-la nos cemitérios: os tocadores escondem-se nos túmulos; de uma cova para outra correspondem-se trinados de flautas e acordes de harpas.»
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990., p. 50
Reconhecei a minha lentidão e o animal que sangra docemente
dentro da minha alma.
(...)
Faríeis melhor residindo em pântanos. Eu já não sou o vosso mestre
mas sim a vossa profundidade a que talvez não chegareis.
(...)
a minha mãe é fértil na cobardia;
o meu coração, temível na doçura.
Antonio Gamoneda. Descrição da Mentira. Tradução de Vasco Gato. Edições Quasi, 2003., p. 14/15
''Estou velho de mim mesmo, (...)''
Antonio Gamoneda. Descrição da Mentira. Tradução de Vasco Gato. Edições Quasi, 2003., p.
AMOR À PORTUGUESA
(...)
«Dá-me os teus lábios. Aperta-me e não penses.
Eu e tu, minha querida, somos fracos
debaixo desta ponte, como de um cenho duro
duas lágrimas que o mundo não vê...»
Yevgeny Yevtushenko. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 165
Lágrimas
(Sliózy)
Lama no bairro dos subúrbios,
Atrás da mata o bater das rodas...
Há muito que esqueci o que é chorar;
Quem me fala do sabor das lágrimas?
Só às vezes de noite,
Não por medo do silêncio,
Por qualquer coisa, correm
Fios de lágrimas doces.
Dantes sabiam emocionadamente
Chorar no ombro uns dos outros.
Mas cada época tem as suas leis,
E nós vivemos outros tempos.
A cada dia a sua tempestade!
As flores abrem em terrível fosso...
As lágrimas humanas,
Nós conhecemos o vosso preço.
Konstantin Vanshenkin. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 151
''Queremos do homem não a centelha mas o fogo.''
Margarita Aliger. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 132
ZOYA
(Zoiá)
Nos princípios de Dezembro de 1941, na aldeia de
Petrishchev, perto de Verei, os alemães executaram uma
jovem do Komsomól, conhecida pelo nome de Tatiána.
Verificou-se mais tarde que se tratava de Zoyá
Kosmogemiánskaia, estudante de Moscovo.
(Dos Jornais)
Guarda para sempre o retrato de Zoyá.
Eu certamente nunca a poderei esquecer.
Este corpo de rapariga
não está morto
nem vivo.
É Zoyá em mármore
calada, deitada na neve.
Impiedoso laço apertou o teu pescoço fino.
Um poder desconhecido no teu rosto torcido.
Assim aguardas os namorados
de belos encantos ocultos,
por dentro iluminada com o secreto fogo feminino.
Só tu não recebeste uma carta dele, noiva da neve.
Ele - num capote de soldado,
para ocidente caminha.
Talvez não longe desse lugar terrível,
Onde caíam flocos de neve no teu peito duro de rapariga.
A força e a fraqueza unem-se em ti eternamente.
Tu estás fria, e a mim a tristeza queima-me.
Não rebentes em ti, não se enraiveça em ti a maternidade,
O terno companheiro de infância não tocou no teu ventre
frio de criança.
Tu jazes na neve.
Oh, como agora voltaste para nós,
Para orgulhosamente inclinarmos os nossos belos rostos puros
Ante a armadura do herói,
ante a dura, ferrugenta couraça,
Ante a sagrada beatitude da campa do guerreiro.
A figura da nossa amada, símbolo da verdade e da força.
Para que a nossa felicidade seja alta como a tua morte.
Pela tua campa gravada na neve,
Para Ocidente, para Ocidente! -
marcham,
resolutas,
as tropas.
Margarita Aliger. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 130/1
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
domingo, 9 de dezembro de 2012
«Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos.
- Viajas para reviver o teu passado? - era agora a pergunta do Kan, que também podia ser formulada assim: - Viajas para achar o teu futuro?
E a resposta de Marco: - O algures é um espelho em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu, descobrindo o muito que não teve nem terá.»
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990., p. 31
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Italo Calvino
(...)
«Nesta altura Kublai Kan interrompia-o ou imaginava interrompê-lo, ou Marco Polo imaginava que era interrompido, com uma pergunta como: - Caminhas sempre de cabeça virada para trás? - ou: - O que vês está sempre nas tuas costas? ou melhor: - A tua viagem só se faz no passado?»
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990., p. 30
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«A memória é redundante: repete os sinais para que a cidade continue a existir.»
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990., p. 23
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990., p. 23
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As cidades e a memória. 2.
O homem que cavalga longamente por terrenos bravios sente o desejo de uma cidade. Finalmente chega a Isidora, cidade onde os prédios têm escadas de caracol incrustadas de búzios marinhos, onde se fabricam astísticos óculos e violinos, onde quando o forasteiro está indeciso entre duas mulheres encontra sempre uma terceira, onde as lutas de galos degeneram em brigas sangrentas entre os apostantes. Era em todas estas coisas que ele pensava quando desejava uma cidade. Assim Isidora é a cidade dos seus sonhos: com uma diferença. A vida sonhada continha-o jovem; a Isidora chega em idade tardia. Na praça há o paredão dos velhos que vêem passar a juventude; ele está sentado em fila com eles.
Os desejos são já recordações.
Italo Calvino. As Cidades Invisíveis.Tradução de José Colaço Barreiros.Editorial Teorema, Lisboa, 1990
Dor estival
A morte no verão caminha a meu lado:
nunca a minha dor é tão grande
como quando o verão floresce pleno
nem tão seca a minha melancolia
como quando a beleza do verão se oferece:
orgia mortal
A ausência de Deus não a sinto tão dolorosa
como quando contemplo as borboletas
condenadas a morrer
buscando em ziguezague um sítio onde pousas
a sua morte
nem sinto a presença de Deus tão ameaçadora
como quando retumba o trovão
e relâmpagos iluminam o céu
com seus sinais de fogo
Nunca me sinto tão só
como quando no verão as pessoas
aumentam o júbilo da sua companhia
nem tão supérflua
como quando contemplo a exuberância
do verão
Parecem-me tão distantes
as coisas que amo
Nunca o meu desejo de viver é tão frágil!
como no verão:
preciso de lutar
para não conceder a minha mão à morte
Não sei
quantos verões me faltam:
a todos temo
esperando que me salve
o outono.
Maria Wine. 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 159
nunca a minha dor é tão grande
como quando o verão floresce pleno
nem tão seca a minha melancolia
como quando a beleza do verão se oferece:
orgia mortal
A ausência de Deus não a sinto tão dolorosa
como quando contemplo as borboletas
condenadas a morrer
buscando em ziguezague um sítio onde pousas
a sua morte
nem sinto a presença de Deus tão ameaçadora
como quando retumba o trovão
e relâmpagos iluminam o céu
com seus sinais de fogo
Nunca me sinto tão só
como quando no verão as pessoas
aumentam o júbilo da sua companhia
nem tão supérflua
como quando contemplo a exuberância
do verão
Parecem-me tão distantes
as coisas que amo
Nunca o meu desejo de viver é tão frágil!
como no verão:
preciso de lutar
para não conceder a minha mão à morte
Não sei
quantos verões me faltam:
a todos temo
esperando que me salve
o outono.
Maria Wine. 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 159
As pedras
As pedras que lançámos, ouço-as
cair claras como o vidro pelos anos fora. No vale
voam agitados os gestos do momento
gritando de copa para copa, calando-se
ao fino ar desse momento, deslizando
como andorinhas de cume
para cume até alcançarem
os planaltos extremos
ao longo da fronteira da existência. Aí caem,
claros como o vidro
os nossos actos
ao encontro apenas do chão
que nós próprios somos.
Tomas Tranströmer. 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 137
cair claras como o vidro pelos anos fora. No vale
voam agitados os gestos do momento
gritando de copa para copa, calando-se
ao fino ar desse momento, deslizando
como andorinhas de cume
para cume até alcançarem
os planaltos extremos
ao longo da fronteira da existência. Aí caem,
claros como o vidro
os nossos actos
ao encontro apenas do chão
que nós próprios somos.
Tomas Tranströmer. 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 137
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Prémio Nobel da Literatura em 2011,
TOMAS TRANSTRÖMER
114
Porque é que as noites não têm nome? Porque metade da vida, exactamente metade da vida, é-nos desconhecida. A qualquer um de nós.
(A.H.)
Göran Palm. 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 106
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
domingo, 2 de dezembro de 2012
Tu e Eu
(Ty so mnói)
Tu e eu - e cada instante me é caro.
Talvez haja muitos anos à nossa frente,
Mas chega sempre a separação, da qual
Não é costume haver novos encontros.
Só as estrelas a qualquer hora se encontram
Correndo atrás das suas luzes pálidas.
Onde poderei, no universo frio,
Querida amiga, encontrar as tuas pegadas?
Stepan Shchipachyov. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 104
QUE EU MORRA E OS ANOS PASSEM
Que eu morra e os anos passem,
Que eu em cinza seja para sempre.
Que venha pelos campos uma rapariga descalça:
Eu erguer-me-ei, vencendo a mortalidade,
Como poeira quente tocando as suas pernas
Que cheiram a margaridas até aos joelhos.
Stepan Shchipachyov. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 104
SABER APRECIAR O AMOR
Saber apreciar o amor,
Especialmente apreciá-lo com os anos.
O amor não são suspiros num banco
Nem passeios ao luar.
Será tudo: lama e as primeiras neves.
E uma vida que é preciso viver juntos.
O amor é parecido com um bom poema:
Um bom poema não se faz sem sofrimento.
Stepan Shchipachyov. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 103
A orelha de Van Gogh
Van Gogh corta a orelha
embrulha-a numa toalha
que devagar se tinge de vermelho
e envia-
-ta
(...)
Lars Forssell . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 52
embrulha-a numa toalha
que devagar se tinge de vermelho
e envia-
-ta
(...)
Lars Forssell . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 52
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Lars Forssell,
poesia,
poetas suecos
Sozinho, sozinho, dizes que estás sozinho -
mas o príncipe de Emghion diz:
Primeiro eu amava Sherazade
e os seus contos
depois Dinarsad, a sua irmã mais nova,
depois a criada dela,
depois o amante da criada, um núbio
e então o seu engraxador
E quando me pus de joelhos
e lambi a graxa dos seus dedos
amei a poeira
e bebi uma golfada de ar tão funda
que tudo para mim enegreceu.
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 37
«(...)
Na minha mão a pedra tornou-se um pássaro vivo e
(levantou voo.
Eu fiquei só. Meu pássaro, ido embora
volta por vezes, por dever, por hábito.
Infeliz, canta. E deixa-me de novo.
Canta da sua vida, quer voar e voou!
(Uma luta diplomática pela liberdade)
E eu ficava ligado à pedra, tornava-me uma pedra.
Tudo em mim se revolvia, tudo se transformava.»
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 30
Na minha mão a pedra tornou-se um pássaro vivo e
(levantou voo.
Eu fiquei só. Meu pássaro, ido embora
volta por vezes, por dever, por hábito.
Infeliz, canta. E deixa-me de novo.
Canta da sua vida, quer voar e voou!
(Uma luta diplomática pela liberdade)
E eu ficava ligado à pedra, tornava-me uma pedra.
Tudo em mim se revolvia, tudo se transformava.»
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 30
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Gunnar Ekelöf,
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(...)
«Compram areia como farinha.
Vendem pedras como pão.»
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 29
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012
NÓS DESAPRENDEMOS DE DAR AOS MENDIGOS
Nós desaprendemos de dar aos mendigos,
De inspirar sobre o mar o ar salgado.
De saudar o dia e de comprar na loja
Por tuta e meia o ouro dos limões.
É por acaso que até nós vêm os barcos
E os railes levam a sua carga habitual,
Vá, conta aos homens na minha terra -
E verás quantos mortos se erguerão ao apelo!
Mas tudo solenemente desprezamos.
Faca partida não é boa para o trabalho,
Mas esta faca negra e partida
Terá cortado páginas imortais.
Nikolai Tikhonov. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 87
OUVI UMA VOZ
Ouvi uma voz. Falava confiante,
Murmurando: 'Vem,
Deixa a Rússia para sempre.
Eu limpo o sangue das tuas mãos,
Do coração te arranco o negro pejo,
Com outro nome cubro
A injúria e a dor da derrota.'
Tapai os ouvidos com as mãos,
Para que essas palavras indignas
Não profanassem o meu espírito aflito.
Anna Akhmatova. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 77
ADEUS, MEU AMIGO, ADEUS
Adeus, meu amigo, adeus,
Querido amigo, que trago no coração.
A separação predestinada
Para mais tarde promete novo encontro.
Adeus, meu amigo, sem aperto de mão nem palavras.
Não lamentes e não haja dor nem pena, -
Nesta vida morrer não é nada de novo,
Mas também nada de novo é viver.
*Este poema foi encontrado junto do cadáver do poeta. Foi, sem dúvida, o seu último poema.
Sergei Yesenin. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 69
«Considerava inevitável que uma pessoa com vida interior movimentada e rica tivesse segredos e lembranças ocultas nas suas gavetas íntimas. Apenas exigia dessa pessoa que mais tarde soubesse usar isso com elevação.
Certa ocasião, quando alguém a quem contara esse episódio da sua adolescência perguntou se essa lembrança não o envergonhava, respondeu sorrindo:
-Não nego que era uma degradação. Porque não? Ela passou. Mas algo dela permaneceu para sempre: aquela mínima porção de veneno necessária para que a alma não fique excessivamente confiante e tranquila, conferindo-lhe qualidades mais refinadas, aguçadas e sábias.
«De qualquer modo, contaríamos as horas de degradação que todas as grandes paixões gravam com fogo a nossa alma?»
Robert Musil. O Jovem Törless. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 195
"Quando eu morrer, morre a guitarra também. O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele. Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.” Carlos Paredes |
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carlos paredes,
compositor e guitarrista português
domingo, 25 de novembro de 2012
«Era um pensamento....
«Era um pensamento rodeado de emoções como se o cercassem mulheres lascivas em longos vestidos de golas altas, usando máscaras. Törless não conhecia nenhum nome para essas emoções; não sabia o que ocultavam; nisso residia toda a fascinação.»
Robert Musil. O Jovem Törless. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 193
« A experiência que Törless tivera constituíra essa ocasião. Por uma surpresa, um mal-entendido, a interpretação errada de uma sensação, aqueles esconderijos secretos em que se reunira tudo o que a alma de Törless tinha de oculto, proibido, sufocante, inseguro e solitário - rebentou tudo e ele derramou sobre Basini os seus mais obscuros impulsos. Pois aí, estes depararam-se de súbito, com algo quente, que respirava, algo perfumado, algo que era carne, na qual os sonhos indecisos de Törless assumiam forma e tornavam-se parte da beleza, em lugar da ácida fealdade com que Bozena os maculava na solidão. Isso abrira-lhes repentinamente uma porta para a vida, e na penumbra tudo se misturava, desejo e realidade, loucas fantasias e impressões que traziam ainda os rastos ardentes da vida, sensações exteriores que as recebiam no seu interior, envolvendo-as e tornando-as irreconhecíveis.
Em Törless tudo isso era indistinto, formava uma só emoção, imprecisa e compacta, que, no choque inicial, se podia tomar por amor.
Robert Musil. O Jovem Törless. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 190
«Sussurrava: na solidão tudo é permitido.»
Robert Musil. O Jovem Törless. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 187
domingo, 11 de novembro de 2012
ESTOU CANSADO DE VIVER NA MINHA TERRA NATAL
Estou cansado de viver na minha terra natal,
Pensativo nas vastidões do trigo negro,
A minha cabana vou abandonar
E partirei como vagabundo e ladrão.
Seguirei o dia de caracóis brancos
A procurar miserável abrigo.
E o meu melhor amigo afiará
Em mim a navalha tirada da bota.
A estrada atravessa o prado
Amarela de sol e Primavera,
E aquela de quem guardo o nome
Em mim, correr-me-á da sua porta.
E voltarei então à casa paterna,
Com a alegria de outro me consolarei,
E com a manga, uma noite verde,
Da janela me enforcarei.
Os salgueiros cinzentos na cerca
Inclinarão mais ternamente a cabeça.
E enterrar-me-ão sem me lavarem
Ao som dos cães a ladrar.
E a lua há-de vaguear e vaguear,
Deixando cair ramos nos lagos,
E a Rússia como dantes viverá
A dançar e a chorar na cerca.
Sergei Yesenin. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 63/4
«A liberdade vem nua»
Alexei Kruchonykh. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 56
numismata
1. | pessoa versada em numismática |
2. | colecionador de moedas ou medalhas antigas; numismatista |
(Do francês numismate, «idem»)
« deitado
cobriu
os olhos cansados
como se
o seu coração
sob as palavras estivesse exausto,
como se
a sua alma
se arrastasse sob as frases.
Mas eu sabia
que aqueles olhos
captavam
verdadeiramente
tudo
o que se dizia -»
Vladimir Mayakovsky. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p.
sábado, 10 de novembro de 2012
«Sinto», anotou, «algo em mim, e não sei ao certo o que é».
Depois riscou depressa a frase e em seu lugar escreveu:
«Devo estar doente...insano!»
Sentiu um calafrio, pois essa palavra era agradavelmente patética. «Insano - o que me faz estranhar mais as coisas que são normais para os outros? E porque é que esta estranheza me atormenta? E porque é que esta estranheza provoca em mim uma sensualidade carnal?»
Robert Musil. O Jovem Törless. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 153
domingo, 4 de novembro de 2012
Gazela da morte sombria
Quero dormir como dormem as maçãs,
fugir do tumulto dos cemitérios.
Quero dormir como dorme aquele moço
que queria cortar o coração no alto mar.
Não quero que me repitam que os mortos não per-
dem o sangue,
que a boca apodrecida continua a pedir água.
Não quero conhecer os suplícios que nos vêm da
erva
nem da lua com boca de serpente
que trabalha antes do amanhecer.
Quero dormir um pouco,
um pouco, um minuto, um século;
mas que todos saibam que não estou morto;
que há um estábulo de oiro nos meus lábios;
que sou o pequeno amigo do vento oeste;
que sou a imensa sombra das minhas lágrimas.
Cobre-me com um véu pela manhã,
porque me atirará punhados de formigas,
e molha com água dura os meus sapatos
para que neles resvale a pinça do lacrau.
Porque quero dormir como dormem as maçãs
para aprender um pranto que me limpe da terra;
porque quero viver como aquele moço sombrio
que queria cortar o coração no alto mar.
Frederico García Lorca. Antologia Poética. Selecção de Eugénio de Andrade com um estudo de Andrée Crabbé Rocha e um poema de Miguel Torga. Coimbra Editora, 1946., pp.139-141
''pai da tua agonia, camélia da tua morte,''
Frederico García Lorca. Antologia Poética. Selecção de Eugénio de Andrade com um estudo de Andrée Crabbé Rocha e um poema de Miguel Torga. Coimbra Editora, 1946., p.107
«Nem um só momento, velho e formoso Walt
Whitman,
deixei de olhar a tua barba cheia de borboletas,
nem os teus ombros de pano gastos pelo luar,
nem as tuas pernas de Apolo virginal,
nem a tua voz como uma coluna de cinza;
ancião formoso como a neve
que gemias como um pássaro
com o sexo atravessado por uma agulha.
Inimigo do sátiro.
Inimigo da vide
e amante dos corpos ocultos pelo pano grosseiro.
Nem um só momento, formusura viril
que entre montes de carvão, anúncios e caminhos
de ferro
sonhavas ser um rio e dormir como um rio
com aquele camarada que poria no teu peito
uma pequena dor de inconsciente leopardo.»
Frederico García Lorca. Antologia Poética. Selecção de Eugénio de Andrade com um estudo de Andrée Crabbé Rocha e um poema de Miguel Torga. Coimbra Editora, 1946., p.103
Whitman,
deixei de olhar a tua barba cheia de borboletas,
nem os teus ombros de pano gastos pelo luar,
nem as tuas pernas de Apolo virginal,
nem a tua voz como uma coluna de cinza;
ancião formoso como a neve
que gemias como um pássaro
com o sexo atravessado por uma agulha.
Inimigo do sátiro.
Inimigo da vide
e amante dos corpos ocultos pelo pano grosseiro.
Nem um só momento, formusura viril
que entre montes de carvão, anúncios e caminhos
de ferro
sonhavas ser um rio e dormir como um rio
com aquele camarada que poria no teu peito
uma pequena dor de inconsciente leopardo.»
Frederico García Lorca. Antologia Poética. Selecção de Eugénio de Andrade com um estudo de Andrée Crabbé Rocha e um poema de Miguel Torga. Coimbra Editora, 1946., p.103
Encontro
Nem tu nem eu estamos
na disposição
de nos encontrar.
Tu...pelo que já sabes.
E eu desejei-a tanto!
Segue essa vereda.
Nas mãos
tenho as feridas
dos cravos.
Não vês como estou
sangrando?
Não olhes nunca para trás,
vai devagar
e reza como eu
a São Caetano,
que nem tu nem eu estamos
na disposição
de nos encontrar.
Frederico García Lorca. Antologia Poética. Selecção de Eugénio de Andrade com um estudo de Andrée Crabbé Rocha e um poema de Miguel Torga. Coimbra Editora, 1946., p. 87
na disposição
de nos encontrar.
Tu...pelo que já sabes.
E eu desejei-a tanto!
Segue essa vereda.
Nas mãos
tenho as feridas
dos cravos.
Não vês como estou
sangrando?
Não olhes nunca para trás,
vai devagar
e reza como eu
a São Caetano,
que nem tu nem eu estamos
na disposição
de nos encontrar.
Frederico García Lorca. Antologia Poética. Selecção de Eugénio de Andrade com um estudo de Andrée Crabbé Rocha e um poema de Miguel Torga. Coimbra Editora, 1946., p. 87
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