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domingo, 2 de dezembro de 2012
Sozinho, sozinho, dizes que estás sozinho -
mas o príncipe de Emghion diz:
Primeiro eu amava Sherazade
e os seus contos
depois Dinarsad, a sua irmã mais nova,
depois a criada dela,
depois o amante da criada, um núbio
e então o seu engraxador
E quando me pus de joelhos
e lambi a graxa dos seus dedos
amei a poeira
e bebi uma golfada de ar tão funda
que tudo para mim enegreceu.
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 37
«(...)
Na minha mão a pedra tornou-se um pássaro vivo e
(levantou voo.
Eu fiquei só. Meu pássaro, ido embora
volta por vezes, por dever, por hábito.
Infeliz, canta. E deixa-me de novo.
Canta da sua vida, quer voar e voou!
(Uma luta diplomática pela liberdade)
E eu ficava ligado à pedra, tornava-me uma pedra.
Tudo em mim se revolvia, tudo se transformava.»
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 30
Na minha mão a pedra tornou-se um pássaro vivo e
(levantou voo.
Eu fiquei só. Meu pássaro, ido embora
volta por vezes, por dever, por hábito.
Infeliz, canta. E deixa-me de novo.
Canta da sua vida, quer voar e voou!
(Uma luta diplomática pela liberdade)
E eu ficava ligado à pedra, tornava-me uma pedra.
Tudo em mim se revolvia, tudo se transformava.»
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 30
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(...)
«Compram areia como farinha.
Vendem pedras como pão.»
Gunnar Ekelöf . 21 Poetas Suecos. Antologia coord. por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura. Vega, Lisboa, p. 29
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sexta-feira, 17 de junho de 2011
A Culpa é Sentirmo-nos Culpados
« A culpa é sentirmo-nos culpados, e não um resultado dos crimes cometidos; o ser inocente é alegre, feliz, e não deixa, seja em que caso for, que os acontecimentos perturbem a sua calma e a sua paz. É por isso que considero que a justiça erra quando executa os menos em vez dos mais culpados, quer dizer quando executa os criminosos e não aqueles que sentem que têm no coração a culpa do mundo. Isso equivale a executar crianças por acções que cometeram no escuro quando ignoravam tudo acerca do escuro e das reacções que provoca no funcionamento dos corpos. Uma vez que são culpados apenas os que se sentem culpados, seria necessário suprimir a justiça distribuitiva de castigos e substituí-la por uma justiça executora, porque ao fim de algum tempo aquele que a culpa mortifica já só aspira a morrer, a morrer pelas faltas do mundo como pelas suas próprias faltas, e pode sem a mínima hesitação, sim, sem a menor angústia de morte, uma vez que nada tem a esperar agora que tocou finalmente o fundo do mundo, pedir à justiça a sua pena de morte - e nunca outra cabeça se curvará mais graciosamente do que a sua por baixo da guilhotina, nunca colar algum terá acariciado a garganta de uma mulher com tanta delicadeza como a da corda ao aflorar-lhe o pescoço.»
Stig Dagerman, in "A Ilha dos Condenados"
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O Medo como Orientador da Nossa Vida
Uma vez que estamos sós no mundo, ou pelo menos não tão sós como gostaríamos de estar, temos o dever de dominar as nossas explosões, de fazer com que as explosões inevitáveis da nossa maldade ou da nossa bondade paradoxais vão aproximativamente no sentido do fim aproximativo. Quanto ao fim, talvez não seja lá muito importante determiná-lo com a precisão sádica que encontramos no sistema do mundo e no destino quando ambos se associam para determinar a posição do homem no espaço e no tempo.
Devemos evidentemente batermo-nos contra os dois, e como o mais importante é manter a direcção justa do fim talvez errado, é-nos necessário aguçar a nossa lucidez a fim de a tornarmos cortante como uma lâmina, acerada como uma seta, percuciente como uma punção. É graças a essa lucidez que funciona a nossa consciência, que não passa afinal de uma transcrição idílica do nosso medo, porque o medo lembra-nos infatigavelmente a direcção justa, e se sufocarmos o nosso medo, perderemos a possibilidade de nos orientarmos numa direcção determinada e daremos aqui e ali lugar a uma série de estúpidas explosões privadas, causando os piores estragos para um mínimo de resultados. É por isso que devemos conservar dentro de nós o nosso medo como um porto sempre livre de gelos que nos ajude a passar o Inverno, e também como uma corrente submarina vibrando por baixo da superfície gelada dos rios.
Devemos evidentemente batermo-nos contra os dois, e como o mais importante é manter a direcção justa do fim talvez errado, é-nos necessário aguçar a nossa lucidez a fim de a tornarmos cortante como uma lâmina, acerada como uma seta, percuciente como uma punção. É graças a essa lucidez que funciona a nossa consciência, que não passa afinal de uma transcrição idílica do nosso medo, porque o medo lembra-nos infatigavelmente a direcção justa, e se sufocarmos o nosso medo, perderemos a possibilidade de nos orientarmos numa direcção determinada e daremos aqui e ali lugar a uma série de estúpidas explosões privadas, causando os piores estragos para um mínimo de resultados. É por isso que devemos conservar dentro de nós o nosso medo como um porto sempre livre de gelos que nos ajude a passar o Inverno, e também como uma corrente submarina vibrando por baixo da superfície gelada dos rios.
Stig Dagerman, in 'A Ilha dos Condenados'
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