Estou cansado de viver na minha terra natal,
Pensativo nas vastidões do trigo negro,
A minha cabana vou abandonar
E partirei como vagabundo e ladrão.
Seguirei o dia de caracóis brancos
A procurar miserável abrigo.
E o meu melhor amigo afiará
Em mim a navalha tirada da bota.
A estrada atravessa o prado
Amarela de sol e Primavera,
E aquela de quem guardo o nome
Em mim, correr-me-á da sua porta.
E voltarei então à casa paterna,
Com a alegria de outro me consolarei,
E com a manga, uma noite verde,
Da janela me enforcarei.
Os salgueiros cinzentos na cerca
Inclinarão mais ternamente a cabeça.
E enterrar-me-ão sem me lavarem
Ao som dos cães a ladrar.
E a lua há-de vaguear e vaguear,
Deixando cair ramos nos lagos,
E a Rússia como dantes viverá
A dançar e a chorar na cerca.
Sergei Yesenin. Antologia da Poesia Soviética. Trad. de Manuel Seabra. Editorial Futura, Lisboa, 1973, p. 63/4