«Considerava inevitável que uma pessoa com vida interior movimentada e rica tivesse segredos e lembranças ocultas nas suas gavetas íntimas. Apenas exigia dessa pessoa que mais tarde soubesse usar isso com elevação.
Certa ocasião, quando alguém a quem contara esse episódio da sua adolescência perguntou se essa lembrança não o envergonhava, respondeu sorrindo:
-Não nego que era uma degradação. Porque não? Ela passou. Mas algo dela permaneceu para sempre: aquela mínima porção de veneno necessária para que a alma não fique excessivamente confiante e tranquila, conferindo-lhe qualidades mais refinadas, aguçadas e sábias.
«De qualquer modo, contaríamos as horas de degradação que todas as grandes paixões gravam com fogo a nossa alma?»
Robert Musil. O Jovem Törless. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 195