quinta-feira, 9 de junho de 2011
MENIPO
Que amor é esse da morte que se apoderou de ti, de uma coisa que a maioria não ama?
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 87
Que amor é esse da morte que se apoderou de ti, de uma coisa que a maioria não ama?
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 87
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
Luciano,
Morte
Helena
HERMES
Este crânio aqui é Helena.
MENIPO
E então, foi por isto que milhares de navios se encheram de homens vindos de toda a Hélade e que tantos caíram, Gregos e Bárbaros, e tantas cidades destruídas!
HERMES
Mas não viste, ó Ménipo, a mulher viva, porque terias dito, também tu, que era desculpável «por tal mulher sofrer dores por muito tempo», visto como até as flores, quando secas, se alguém as olhar acreditará naturalmente que não têm beleza. Mas quando elas estão em floração e têm as suas cores, são lindíssimas.
MENIPO
Portanto, aquilo que me surpreende, ó Hermes, é que os Aqueus não tivessem compreendido que sofriam por uma coisa tão efémera e que tão facilmente perde a flor.
HERMES
Não tenho vagar para filosofar contigo, ó Menipo. E, assim, escolhe o lugar, onde quiseres, deita-te e fica estendido. Eu, por mim, vou imediatamente ao encontro dos outros mortos.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 68/9
Este crânio aqui é Helena.
MENIPO
E então, foi por isto que milhares de navios se encheram de homens vindos de toda a Hélade e que tantos caíram, Gregos e Bárbaros, e tantas cidades destruídas!
HERMES
Mas não viste, ó Ménipo, a mulher viva, porque terias dito, também tu, que era desculpável «por tal mulher sofrer dores por muito tempo», visto como até as flores, quando secas, se alguém as olhar acreditará naturalmente que não têm beleza. Mas quando elas estão em floração e têm as suas cores, são lindíssimas.
MENIPO
Portanto, aquilo que me surpreende, ó Hermes, é que os Aqueus não tivessem compreendido que sofriam por uma coisa tão efémera e que tão facilmente perde a flor.
HERMES
Não tenho vagar para filosofar contigo, ó Menipo. E, assim, escolhe o lugar, onde quiseres, deita-te e fica estendido. Eu, por mim, vou imediatamente ao encontro dos outros mortos.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 68/9
quarta-feira, 8 de junho de 2011
dizia-se que, não podendo resistir àquele divertimento, tinham enlouquecido.
«O combóio» reunia-se ordinariamente junto das tabernas e no mercado. Bebia, comia, praguejava porcamente e, à passagem das mulheres de porte duvidoso, lançava assobios agudos. Os nossos vendeiros, para distraírem aquela canalha, obrigavam os cães e os gatos a beberem vodka, ou amarravam uma lata de petróleo vazia ao rabo dum cão para depois o açularem. O cão desatava a correr pela rua fora, arrastando a lata, e a ganir de medo, julgando-se perseguido por um monstro; corria pela cidade, pelos campos, até parar completamente exausto. Havia na cidade alguns cães que estavam sempre a tremer, com o rabo metido entre as pernas: dizia-se que, não podendo resistir àquele divertimento, tinham enlouquecido.»
Anton Tcheckoff. Romance duma vida. Trad. de Cordeiro de Brito. Vasco Rodrigues Editor, Porto, 1938, p.26
Etiquetas:
Anton Tchekov,
escritor e dramaturgo russo
terça-feira, 7 de junho de 2011
«Os ulmeiros, cobertos de orvalho, enchiam o espaço dum perfume suave. Sentia-me triste; não queria abandonar a cidade...Amava a minha terra! Parecia-me tão bela e tão terna! Gostava da sua verdura, das manhãs soalheiras e calmas, do repicar dos sinos; mas as pessoas com quem convivia na cidade eram-me estranhas, aborreciam-me, chegavam a ser-me repelentes. Não gostava delas nem as entendia. Não era capaz de compreender de que e porque viviam aqueles sessenta e cinco mil homens.»
Anton Tcheckoff. Romance duma vida. Trad. de Cordeiro de Brito. Vasco Rodrigues Editor, Porto, 1938, p.26
Etiquetas:
Anton Tchekov,
escritor e dramaturgo russo
sábado, 4 de junho de 2011
XVII MENIPO E TÂNTALO
MENIPO
Porque choras, ó Tântalo? ou porque te lamentas, de pé, à beira do lago?
TÂNTALO
Porque, ó Menipo, morro de sede.
MENIPO
És assim tão preguiçoso que te não abaixas para beber, ou então, por Zeus, para recolher a água na concha da mão?
TÂNTALO
Isso de nada me valeria, se eu me abaixasse, porque a água foge, sempre que me sente aproximar. E se alguma vez a recolho e aproximo dos lábios, não humedeço suficientemente depressa a ponta dos lábios que, escapando-se por entre os dedos, não sei como, ela me não deixe de novo a mão seca.
MENIPO
É extraordinário o que te acontece, ó Tântalo. Todavia, diz-me cá: porque é que ainda tens a necessidade de beber? Na verdade, não tens corpo, mas está sepultado algures na Lídia aquilo que justamente podia ter fome e ter sede, mas tu, que és alma, como é que ainda podes ter sede?
TÂNTALO
Isso é exactamente o meu castigo, ter a alma sede como se fosse corpo.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 66
Porque choras, ó Tântalo? ou porque te lamentas, de pé, à beira do lago?
TÂNTALO
Porque, ó Menipo, morro de sede.
MENIPO
És assim tão preguiçoso que te não abaixas para beber, ou então, por Zeus, para recolher a água na concha da mão?
TÂNTALO
Isso de nada me valeria, se eu me abaixasse, porque a água foge, sempre que me sente aproximar. E se alguma vez a recolho e aproximo dos lábios, não humedeço suficientemente depressa a ponta dos lábios que, escapando-se por entre os dedos, não sei como, ela me não deixe de novo a mão seca.
MENIPO
É extraordinário o que te acontece, ó Tântalo. Todavia, diz-me cá: porque é que ainda tens a necessidade de beber? Na verdade, não tens corpo, mas está sepultado algures na Lídia aquilo que justamente podia ter fome e ter sede, mas tu, que és alma, como é que ainda podes ter sede?
TÂNTALO
Isso é exactamente o meu castigo, ter a alma sede como se fosse corpo.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 66
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
excerto,
Luciano
DIÓGENES
«Mas sabes o que hás-de fazer? Vou dar-te um remédio para a tua tristeza. Visto que o eléboro não cresce aqui, ao menos procura a água do Letes e bebe à boca cheia e volta a beber e faz isso muitas vezes. Assim cessarás de aborrecer-te com os bens de Aristóteles.»
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 57
«Mas sabes o que hás-de fazer? Vou dar-te um remédio para a tua tristeza. Visto que o eléboro não cresce aqui, ao menos procura a água do Letes e bebe à boca cheia e volta a beber e faz isso muitas vezes. Assim cessarás de aborrecer-te com os bens de Aristóteles.»
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 57
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
excerto,
Luciano
«Não te fazem sofrer estas coisas, quando te vêm à memória? Porque choras, ó palerma? Não foi isto que o sábio Aristóteles te ensinou, a saber, não acreditar que são estáveis as coisas dependentes da sorte?»
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 57
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 57
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
excerto,
Luciano
«Sinto-me envergonhado de meus anos
a que pudera dar um melhor uso,
buscando a paz e não seguindo enganos.»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.49
a que pudera dar um melhor uso,
buscando a paz e não seguindo enganos.»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.49
Etiquetas:
escritor espanhol,
excerto,
Francisco Quevedo,
poesia
«Como de entre meus dedos tu resvalas!
Minha idade, como és fugidia!»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.45
Minha idade, como és fugidia!»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.45
Etiquetas:
escritor espanhol,
excerto,
Francisco Quevedo,
poesia
Arrependimento e lágrimas devidas ao engano da vida
Foge sem perceber-se, lento, o dia,
e a hora secreta e recatada
silenciosa chega e, maltratada,
leva consigo a minha louçania.
A vida nova, que em infância ardia,
a juventude forte e enganada,
no derradeiro inverno sepultada,
jazem em negra sombra e neve fria.
Não senti resvalar, mudos, os anos;
hoje choro-os passados, bem os vejo
rir-se de minhas lágrimas e danos.
O meu remorso deva a meu desejo,
pois devem-me a vida os meus enganos,
não creio nem na dor em que latejo.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
e a hora secreta e recatada
silenciosa chega e, maltratada,
leva consigo a minha louçania.
A vida nova, que em infância ardia,
a juventude forte e enganada,
no derradeiro inverno sepultada,
jazem em negra sombra e neve fria.
Não senti resvalar, mudos, os anos;
hoje choro-os passados, bem os vejo
rir-se de minhas lágrimas e danos.
O meu remorso deva a meu desejo,
pois devem-me a vida os meus enganos,
não creio nem na dor em que latejo.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
Etiquetas:
escritor espanhol,
Francisco Quevedo,
poesia
sexta-feira, 3 de junho de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
MENIPO
Um filósofo, ó Hermes, ou antes, um impostor, pleno de
charlatanice. Assim, fá-lo despir-se também! Verás muitas
coisas, e bem risíveis, que ele esconde sob o manto.
HERMES
Põe de parte a postura, em primeiro lugar, de depois tudo
isso mais! Ó Zéus, quanta fanfarronice ele transporta, e quanta
cretinice e chicanice e gloríola e as perguntas insolúveis e os
discursos espinhosos e as conjecturas intrincadas. E ainda a
grande quantidade de esforço vão e a tagarelice não pequena e
as ninharias e a pequenez de espírito,e, por Zeus, todo esse ouro
que está à vista e a vida regalada, o descaro, a preguiça, o gozo
sensual e a moleza. Nada disso me passou despercebido, por muito
bem que o escondas. Deita fora também a mentira, a presunção
e o acreditar que és melhor do que os outros, porque se embarcares
com tudo isso, qual o navio de cinquenta remadores, capaz de te receber?
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 43/4
Um filósofo, ó Hermes, ou antes, um impostor, pleno de
charlatanice. Assim, fá-lo despir-se também! Verás muitas
coisas, e bem risíveis, que ele esconde sob o manto.
HERMES
Põe de parte a postura, em primeiro lugar, de depois tudo
isso mais! Ó Zéus, quanta fanfarronice ele transporta, e quanta
cretinice e chicanice e gloríola e as perguntas insolúveis e os
discursos espinhosos e as conjecturas intrincadas. E ainda a
grande quantidade de esforço vão e a tagarelice não pequena e
as ninharias e a pequenez de espírito,e, por Zeus, todo esse ouro
que está à vista e a vida regalada, o descaro, a preguiça, o gozo
sensual e a moleza. Nada disso me passou despercebido, por muito
bem que o escondas. Deita fora também a mentira, a presunção
e o acreditar que és melhor do que os outros, porque se embarcares
com tudo isso, qual o navio de cinquenta remadores, capaz de te receber?
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 43/4
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
Luciano
HERMES
E a crueldade e a insensatez e a insolência e a cólera, lança
também tudo isso fora!
LAMPICO
Vê lá, estou despido.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 42
E a crueldade e a insensatez e a insolência e a cólera, lança
também tudo isso fora!
LAMPICO
Vê lá, estou despido.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 42
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
Luciano
HERMES
Deita fora também a vaidade, ó Lampico, e a altivez. Caindo
aqui dentro, elas farão peso no barco.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 41
Deita fora também a vaidade, ó Lampico, e a altivez. Caindo
aqui dentro, elas farão peso no barco.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 41
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
Luciano
CNÉMON
Isto é o que diz o provérbio: o veado caçou o leão.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 34
Isto é o que diz o provérbio: o veado caçou o leão.
Luciano. Diálogo dos Mortos. Textos Clássicos -31. Introdução, Versão do Grego e notas de Américo da Costa Ramalho. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de estudos clássicos e humanísticos da Universidade de Coimbra, 1989, p. 34
Etiquetas:
Diálogo dos Mortos,
Luciano
''Io! Foi por um homem valente que uma mulher foi vencida!''
«Caminhe adiante a cativa, triste e de cabelos desgrenhados,
toda ela resplandecente de brancura, se o consentissem as faces magoadas.
Teria sido bem melhor que estivesse lívida de sinais deixados pelos lábios,
e que no colo delicado mostrasse marcas dos dentes.
Enfim, se eu estava a deixar-me levar à maneira de uma torrente impetuosa,
e uma raiva cega me tinha feito presa sua,
não teria bastante praguejar contra uma mulher assustada
e gritar ameaças bem cruéis
ou mandar-lhe abaixo a túnica, à bruta, do cimo do rosto
até meio corpo? No meio, a cintura, havia de trazer-lhe ajuda.
Mas não me contive e arrepanhei-lhe os cabelos da testa
e, com crueldade, marquei-lhe, com as unhas, as faces delicadas.
Ela para ali ficou, desvairada e sem pinga de sangue na palidez do rosto,
qual pedaço de mármore caído das colinas de Paros;
o corpo inanimado e os membros a tremer, eis o que eu vi,
tal como a brisa agita a folhagem do choupo,
tal como é sacudido pelo sopro leve do Zéfiro o vime frágil
ou o cimo da onda é golpeado à passagem morna do Noto.
Largo tempo contidas, começaram as lágrimas a deslizar-lhe pelo rosto,
como de um manto de neve escorre a água.
Então, comecei eu, primeiro, a sentir-me culpado;
eram sangue meu as lágrimas que ela derramava.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 45
toda ela resplandecente de brancura, se o consentissem as faces magoadas.
Teria sido bem melhor que estivesse lívida de sinais deixados pelos lábios,
e que no colo delicado mostrasse marcas dos dentes.
Enfim, se eu estava a deixar-me levar à maneira de uma torrente impetuosa,
e uma raiva cega me tinha feito presa sua,
não teria bastante praguejar contra uma mulher assustada
e gritar ameaças bem cruéis
ou mandar-lhe abaixo a túnica, à bruta, do cimo do rosto
até meio corpo? No meio, a cintura, havia de trazer-lhe ajuda.
Mas não me contive e arrepanhei-lhe os cabelos da testa
e, com crueldade, marquei-lhe, com as unhas, as faces delicadas.
Ela para ali ficou, desvairada e sem pinga de sangue na palidez do rosto,
qual pedaço de mármore caído das colinas de Paros;
o corpo inanimado e os membros a tremer, eis o que eu vi,
tal como a brisa agita a folhagem do choupo,
tal como é sacudido pelo sopro leve do Zéfiro o vime frágil
ou o cimo da onda é golpeado à passagem morna do Noto.
Largo tempo contidas, começaram as lágrimas a deslizar-lhe pelo rosto,
como de um manto de neve escorre a água.
Então, comecei eu, primeiro, a sentir-me culpado;
eram sangue meu as lágrimas que ela derramava.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 45
Etiquetas:
Amores,
excerto,
Ovídio,
poeta romano
«(...); não receio sombras, que esvoaçam pela
noite,
não receio mãos estendidas para minha perdição;
é a ti, por seres teimoso demais, que eu receio, só a ti quero amansar;
és tu quem possui o raio com que podes levar-me à perdição.
Vê bem (e, para veres, dá meia folga ao portal)
como está encharcada a porta com minhas lágrimas.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 41
noite,
não receio mãos estendidas para minha perdição;
é a ti, por seres teimoso demais, que eu receio, só a ti quero amansar;
és tu quem possui o raio com que podes levar-me à perdição.
Vê bem (e, para veres, dá meia folga ao portal)
como está encharcada a porta com minhas lágrimas.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 41
Etiquetas:
Amores,
Ovídio,
poeta romano
sábado, 28 de maio de 2011
Significa-se a própria brevidade da vida sem pensar e com padecer, assaltada pela morte
Foi sonho ontem; será amanhã terra;
pouco antes, nada; pouco depois, fumo;
e destino ambições, até presumo
um só momento o cerco que me encerra.
Breve combate de importuna guerra,
pr'a defender-me, sou perigo sumo;
quando com minhas armas me consumo,
menos me hospeda o corpo, que me enterra.
Foi-se o ontem; amanhã é esperado;
hoje passa, e é, e foi com movimento
que me conduz à morte despenhado.
Enxadas são a hora e o momento;
pagas por minha pena e meu cuidado,
cavam em meu viver meu monumento.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
pouco antes, nada; pouco depois, fumo;
e destino ambições, até presumo
um só momento o cerco que me encerra.
Breve combate de importuna guerra,
pr'a defender-me, sou perigo sumo;
quando com minhas armas me consumo,
menos me hospeda o corpo, que me enterra.
Foi-se o ontem; amanhã é esperado;
hoje passa, e é, e foi com movimento
que me conduz à morte despenhado.
Enxadas são a hora e o momento;
pagas por minha pena e meu cuidado,
cavam em meu viver meu monumento.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
Etiquetas:
escritor espanhol,
Francisco Quevedo
«palavras, hás-de lê-las nos dedos, palavras escritas com vinho puro.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 37
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 37
Etiquetas:
Amores,
Ovídio,
poeta romano
sexta-feira, 27 de maio de 2011
(...)
«Mesmo então, não poucos, se bem te conheço, vais inflamar,
mesmo então, ao passar, muitas serão as feridas que vais fazer;
não são capazes de descansar, ainda que tu mesmo o queiras, as tuas setas;
o ardor da chama é nefasto a quem lhe está próximo, com o seu bafo.
Assim era Baco, quando dominou as terras do Ganges;
tu és penoso com os teus pássaros, ele foi-o com seus tigres.
Já que eu posso, portanto, ser parte do teu sagrado triunfo,
poupa-te e não gastes em mim as tuas forças de vencedor;
contempla os exércitos venturosos do César, teu parente;
por onde alcançou vitórias, os vencidos ele os protege com sua mão.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 35
«Mesmo então, não poucos, se bem te conheço, vais inflamar,
mesmo então, ao passar, muitas serão as feridas que vais fazer;
não são capazes de descansar, ainda que tu mesmo o queiras, as tuas setas;
o ardor da chama é nefasto a quem lhe está próximo, com o seu bafo.
Assim era Baco, quando dominou as terras do Ganges;
tu és penoso com os teus pássaros, ele foi-o com seus tigres.
Já que eu posso, portanto, ser parte do teu sagrado triunfo,
poupa-te e não gastes em mim as tuas forças de vencedor;
contempla os exércitos venturosos do César, teu parente;
por onde alcançou vitórias, os vencidos ele os protege com sua mão.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 35
Etiquetas:
Amores,
Ovídio,
poeta romano
"Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos, apenas duramos."
(Padre António Vieira)
(Padre António Vieira)
Etiquetas:
citações,
Padre António Vieira
« Eu mesmo, a tua presa mais recente, hei-de padecer da ferida sofrida há
pouco
e suportar no coração cativo novos grilhões.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 34
pouco
e suportar no coração cativo novos grilhões.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 34
Etiquetas:
Amores,
Ovídio,
poeta romano
Na antecâmara dos Amores
«Mas o que é, afinal, o amor para este homem, versejador fácil e amante confesso e compulsivo? Uma espécie de divertimento? A busca do prazer? O culto reiterado do sexo? Um estranho caldear de emoções e afectos?
E o que significará, para ele, a mulher? O outro parceiro de uma relação a dois? O segundo elemento de uma partilha? O simples objecto do prazer? Um alvo ou uma vítima da perversão masculina? Um mero instrumento da satisfação dos desejos do homem?
E de que se tece a relação a dois, pois que de relação a dois se trata? Da espontaneidade de sentimentos? Da explosão do desejo e dos sentidos? Do engano? Da lealdade? Da traição? De sementes de um projecto? De jogos de sedução? De arranjos tácticos e ocasionais?
E qual o ideal de parceiro na relação amorosa? A mulher? O homem? Com um padrão de beleza? Com um perfil de carácter?»
Introdução Carlos Ascenso André
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 9
E o que significará, para ele, a mulher? O outro parceiro de uma relação a dois? O segundo elemento de uma partilha? O simples objecto do prazer? Um alvo ou uma vítima da perversão masculina? Um mero instrumento da satisfação dos desejos do homem?
E de que se tece a relação a dois, pois que de relação a dois se trata? Da espontaneidade de sentimentos? Da explosão do desejo e dos sentidos? Do engano? Da lealdade? Da traição? De sementes de um projecto? De jogos de sedução? De arranjos tácticos e ocasionais?
E qual o ideal de parceiro na relação amorosa? A mulher? O homem? Com um padrão de beleza? Com um perfil de carácter?»
Introdução Carlos Ascenso André
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 9
quarta-feira, 25 de maio de 2011
«Meu caro! Que seria a vida sem esperança? Uma Faísca que salta do carvão e se apaga; e não seríamos nós como uma rajada de vento, que se ouve em estação inóspita, e que por um momento assobia para depois deixar de se ouvir?»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 39
Etiquetas:
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
André Ivanoff
«Sofria duma espécie de apatia e, pelo outono e pela primavera, dizia-se sempre que estava às portas da morte. Mas depois de permanecer deitado algum tempo, levantava-se e dizia espantado, logo a seguir: «Ora esta, ainda não morri!»
Anton Tcheckoff. Romance duma vida. Trad. de Cordeiro de Brito. Vasco Rodrigues Editor, Porto, 1938, p.19/20
Etiquetas:
Anton Tchekoff,
excerto,
romance
terça-feira, 24 de maio de 2011
O director disse-me:
-Só continua a ser meu funcionário por causa da estima que tenho pelo seu excelente pai. Se não fosse isso já o tinha feito voar há muito pelos ares fora.
Respondi-lhe:
-Vossa Excelência lisonjeia-me, senhor director, supondo que eu possa voar pelos ares fora.
Ouvi-o acrescentar:
- Ponham lá fora este senhor; mexe-me com os nervos-
Dois dias mais tarde fui despedido.
Anton Tcheckoff. Romance duma vida. Trad. de Cordeiro de Brito. Vasco Rodrigues Editor, Porto, 1938
-Só continua a ser meu funcionário por causa da estima que tenho pelo seu excelente pai. Se não fosse isso já o tinha feito voar há muito pelos ares fora.
Respondi-lhe:
-Vossa Excelência lisonjeia-me, senhor director, supondo que eu possa voar pelos ares fora.
Ouvi-o acrescentar:
- Ponham lá fora este senhor; mexe-me com os nervos-
Dois dias mais tarde fui despedido.
Anton Tcheckoff. Romance duma vida. Trad. de Cordeiro de Brito. Vasco Rodrigues Editor, Porto, 1938
Etiquetas:
Anton Tchekov,
excerto,
romance
quinta-feira, 19 de maio de 2011
XVII
O dolce sonno
Ingannala ancora tu,
un poco.
Consuma queste ultime ore,
e, inavvertito,
falle valicare la soglia.
Pier Paolo Pasolini
Ingannala ancora tu,
un poco.
Consuma queste ultime ore,
e, inavvertito,
falle valicare la soglia.
Pier Paolo Pasolini
Etiquetas:
cineasta italiano,
Pier Paolo Pasolini,
poeta italiano
Bisogna bruciare per arrivare
consumati all’ ultimo fuoco.
Pier Paolo Pasolini
consumati all’ ultimo fuoco.
Pier Paolo Pasolini
Etiquetas:
cineasta italiano,
Pier Paolo Pasolini,
poeta italiano
Una furiosa luna sulle zolle
Non arate, le secche impalcature,
spande fuoco. Tanto più folle
quanto più calmo il passo mi conduce
verso angoscie che furono pure.
Pier Paolo Pasolini
Non arate, le secche impalcature,
spande fuoco. Tanto più folle
quanto più calmo il passo mi conduce
verso angoscie che furono pure.
Pier Paolo Pasolini
Etiquetas:
cineasta italiano,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Heráclito e Filosofia: a vida humana, o destino e a morte
Lucrécio e a Poesia do Materialismo
Na própria Antigüidade o epicurismo não sofreu reformulações. Os seguidores imediatos de Epicuro limitaram-se a cultuar a memória do mestre e a preservar e propagar suas idéias. Segundo Diógenes Laércio, a obra de Epicuro compreendia cerca de trezentos títulos, dentre os quais só Sobre a Natureza compreenderia 37 livros. Dessa grande quantidade de escritos, todavia, restou muito pouco: o próprio Diógenes Laércio conservou uma Carta a Heródoto (que trata da física), uma Carta a Pítocles (de "autenticidade contestada e tratando dos meteoros) e uma Carta a Meneceu (sobre moral); Diógenes Laércio faz seguir essas cartas de quarenta sentenças atribuídas a Epicuro e conhecidas sob a denominação de Máximas Principais.
Em 1888, K. Wotke descobriu, num manuscrito da biblioteca do Vaticano, 81 máximas de Epicuro, algumas já inseridas nas Máximas Principais. Por outro lado, as escavações realizadas em Herculanum trouxeram à luz uma biblioteca epicurista, contendo inclusive o Sobre a Natureza de Epicuro. Mas, se os escritos de Epicuro só são conhecidos de forma fragmentária, existe uma outra fonte para o conhecimento de sua doutrina: o poema Da Natureza das Coisas, de seu seguidor Lucrécio, que viveu em Roma entre os anos 99 e 55 a.C.
Pouco se sabe da vida de Tito Lucrécio Caro. Nasceu provavelmente em Roma, onde foi educado. Quando conheceu a doutrina de Epicuro — "honra da raça grega" —, Lucrécio deslumbrou-se com seus ensinamentos, que lhe pareceram a chave para desvendar os segredos do universo e para abrir as portas da felicidade humana. Seguindo as pegadas do mestre, Lucrécio propõe-se à tarefa de libertar os romanos da religião que os oprimia e que sobre eles pesava com mais força do que outrora pesara sobre os gregos.
Além de servir de fonte para conhecimento da doutrina epicurista, o poema de Lucrécio temimensa importância literária: através dele Lucrécio se revela um dos maiores poetas dalíngua latina. Lucrécio matou-se em 55 a.C. Seu poema, escrito em intervalos de ataques de loucura, ficou inacabado e foi completamente revisado, para publicação, segundo algumas fontes, por um irmão de Cícero chamado Quinto. Segundo outras fontes, aquele trabalho foi feito pelo próprio Cícero, que tinha pelo poeta do materialismo profunda admiração.
Fonte: Coleção Os Pensadores
Em 1888, K. Wotke descobriu, num manuscrito da biblioteca do Vaticano, 81 máximas de Epicuro, algumas já inseridas nas Máximas Principais. Por outro lado, as escavações realizadas em Herculanum trouxeram à luz uma biblioteca epicurista, contendo inclusive o Sobre a Natureza de Epicuro. Mas, se os escritos de Epicuro só são conhecidos de forma fragmentária, existe uma outra fonte para o conhecimento de sua doutrina: o poema Da Natureza das Coisas, de seu seguidor Lucrécio, que viveu em Roma entre os anos 99 e 55 a.C.
Pouco se sabe da vida de Tito Lucrécio Caro. Nasceu provavelmente em Roma, onde foi educado. Quando conheceu a doutrina de Epicuro — "honra da raça grega" —, Lucrécio deslumbrou-se com seus ensinamentos, que lhe pareceram a chave para desvendar os segredos do universo e para abrir as portas da felicidade humana. Seguindo as pegadas do mestre, Lucrécio propõe-se à tarefa de libertar os romanos da religião que os oprimia e que sobre eles pesava com mais força do que outrora pesara sobre os gregos.
Além de servir de fonte para conhecimento da doutrina epicurista, o poema de Lucrécio temimensa importância literária: através dele Lucrécio se revela um dos maiores poetas dalíngua latina. Lucrécio matou-se em 55 a.C. Seu poema, escrito em intervalos de ataques de loucura, ficou inacabado e foi completamente revisado, para publicação, segundo algumas fontes, por um irmão de Cícero chamado Quinto. Segundo outras fontes, aquele trabalho foi feito pelo próprio Cícero, que tinha pelo poeta do materialismo profunda admiração.
Fonte: Coleção Os Pensadores
terça-feira, 17 de maio de 2011
Passei a viver mais deliberadamente só
«Passei a viver mais deliberadamente só, e o suave espírito da juventude quase tinha desaparecido por completo da minha alma. Tornara-se-me evidente o estado deplorável do século, a partir de coisas que conto e de outras, que não conto, e faltava-me também o doce consolo de encontrar o meu mundo numa alma, de abraçar a minha espécie numa criatura amável.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 39
Etiquetas:
excerto,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Oh, a mim,...
«Oh, a mim, a mim a grandeza dos antigos dobrava-me, como uma tempestade, a cabeça, arrancava-me a floração do rosto, e muitas vezes ficava, sem que ninguém me visse, banhado em mil lágrimas, como um abeto abatido sobre um ribeiro, de copa murcha mergulhada nas águas. Como gostaria de ter comprado com o meu sangue um momento da vida de um grande homem!»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 34
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 34
Etiquetas:
excerto,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
«Onde poderia eu encontrar refúgio, senão nos amados dias da juventude?»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 33
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 33
Etiquetas:
citações,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
CORO
Sófocles. Filoctetes. Textos clássicos - 4. Introdução, versão do grego e notas de José Ribeiro Ferreira. 3ª edição. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Fundação Calouste Gulbenkian. Junta Nacional de Investigação Científico Tecnológica, 1997, p. 44
estrofe
Eu penso nele com piedade, porque
sem ter mortal que o assista,
sem a presença de um rosto amigo,
o infeliz, sempre sozinho,
sofre de cruel doença
e vagueia por todo o lado
em busca do que lhe falta. Como pode, como,
resistir o desgraçado?
Ó planos dos mortais,
ó desventurada raça humana,
quando excede a mediania.
antístrofe
E este homem que por certo às mais ilustres
famílias nada fica a dever,
privado de tudo na vida,
aqui está, sozinho, longe dos outros,
por companhia as malhadas e hirsutas
feras; e grita, a um tempo por dores
e fome torturado e incuráveis
cuidados oprimido,
enquanto o loquaz
Eco que vem dos seus tristes
lamentos ressoa ao longe.
Sófocles. Filoctetes. Textos clássicos - 4. Introdução, versão do grego e notas de José Ribeiro Ferreira. 3ª edição. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Fundação Calouste Gulbenkian. Junta Nacional de Investigação Científico Tecnológica, 1997, p. 44
Ulisses
Filho de nobre pai, também eu, quando era jovem tinha a língua preguiçosa e pronto o braço. Hoje, com a experiência, vejo que, entre os mortais, são as palavras e não as acções que conduzem tudo.
Sófocles. Filoctetes. Textos clássicos - 4. Introdução, versão do grego e notas de José Ribeiro Ferreira. 3ª edição. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Fundação Calouste Gulbenkian. Junta Nacional de Investigação Científico Tecnológica, 1997, p. 39
Filho de nobre pai, também eu, quando era jovem tinha a língua preguiçosa e pronto o braço. Hoje, com a experiência, vejo que, entre os mortais, são as palavras e não as acções que conduzem tudo.
Sófocles. Filoctetes. Textos clássicos - 4. Introdução, versão do grego e notas de José Ribeiro Ferreira. 3ª edição. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Fundação Calouste Gulbenkian. Junta Nacional de Investigação Científico Tecnológica, 1997, p. 39
domingo, 15 de maio de 2011
«Andava errante como um fogo-fátuo, agarrando tudo, sendo por tudo agarrado, mas só momentaneamente, e as forças inúteis esgotavam-se em vão. Sentia em todo o lado que algo me faltava e não era capaz de encontrar o meu objectivo.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 28
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 28
Etiquetas:
excerto,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion
«A inexperiência e a ingenuidade não lhe deixam distinguir perfeitamente o bem do mal e, por isso, é bastante influenciável. Sente-se enredado na argumentação sofística e pouco límpida de Ulisses. Dizem-lhe que o seu dever é obedecer, e ele, embora a custo, obedece; que não é vergonha dizer mentiras, e ele acredita. Com o evoluir da acção, porém, Neoptólemo confronta-se com a vida, com o sofrimento, com a injustiça, vê-se na necessidade de se definir, e então revolta-se contra as ordens e as leis que considera injustas. Não tinha experiência de vida, não lhe conhecia os meandros, nem sabia distinguir as variadas faces de um mesmo rosto; por isso, se deixou enredar. Depois, por experiência própria, por se ver no meio dos acontecimentos, por ter de decidir e tomar partido entre a justiça e a injustiça, a honradez e a traição, o humanitarismo e o interesseirismo, amadureceu e viu até onde tinha sido conduzido, até onde descera. Sentiu dentro de si uma dor profunda: sofria pela acção infame e baixa que cometera, sofria pela injustiça e traição que praticara. No entanto, está sob as ordens de Ulisses e deve-lhe obediência. Obedecer-lhe é, contudo, cometer uma acção injusta, desonesta, desonrosa. Neptólemo não sabe o que fazer nem onde está a verdade. Sofre, como bem demonstra a agitação que o toma a determinada altura e que Filoctetes detecta e sublinha nestas palavras:
Isso está bem patente agora na sua aflição pela falta que cometeu e pelo sofrimento que me causou.
(vv. 1011-1012)
É esta luta íntima que o amadurece, o torna homem.
[...] O contacto com Filoctetes mostra-lhe um outro modo de pensar a vida e de sentir os valores humanos e os problemas morais, bem diferente do de Ulisses. Dentro dele processa-se uma confrontação activa com duas maneiras tão díspares de actuar e de pensar, que lhe permitiram fazer a destrinça e proceder a uma escolha. Quando regressa no v. 1218, vem totalmente mudado: parece um outro homem. Cortara com Ulisses para aderir a Filoctetes. A honradez deste, a sua amizade, a confiança que nele depositara, a sua vida de sofrimento e a injustiça de que fora alvo conquistaram a alma generosa e justa do filho de Aquiles. Se, por momentos, a inexperiência e a ambição o haviam traído, a vida é, contudo, uma grande mestra, e Neoptólemo aprendeu à sua custa a distinguir o bem do mal; amargamente comprovou que, entre a argumentação e a realidade, entre as palavras e a verdade, medeia, por vezes, uma abissal distância.»
Sófocles. Filoctetes. Textos clássicos - 4. Introdução, versão do grego e notas de José Ribeiro Ferreira. 3ª edição. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Fundação Calouste Gulbenkian. Junta Nacional de Investigação Científico Tecnológica, 1997, p.25/6
sábado, 14 de maio de 2011
«Quantas vezes estiveste perto de mim quando há muito tempo te encontravas longe, me transfiguraste com a tua luz e me aqueceste tanto, que o meu coração apático se reanimou, como a fonte seca quando tocada por um raio vindo do céu! »
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 27/8
Etiquetas:
excerto,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
«Oh, um Deus é o homem quando sonha, um mendigo quando pensa e quando o entusiasmo desaparece fica como um filho pródigo, expulso de casa pelo pai, e olha para os míseros tostões que a compaixão lhe deu pelo caminho.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 23
Etiquetas:
excerto,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
Medito e encontro-me só
«Neste cume estou muitas vezes, ó meu Belarmino! Mas um momento de reflexão derruba-me. Medito e encontro-me só, como dantes, com todas as dores da mortalidade. e o asilo do meu coração, o mundo eternamente uno, desaparece; a Natureza recusa-me os seus braços, e fico diante dela como um estranho e não a entendo.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 23
Etiquetas:
excerto,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
«Unir-se a tudo o que vive, regressar ao todo da Natureza, em feliz esquecimento próprio, é o mais elevado pensamento e a maior das alegrias, é o sagrado cume do monte, o lugar do eterno descanso, onde o meio-dia perde o seu ar abafado e o trovão a sua voz e o mar embravecido se assemelha à ondulação dos campos de trigo.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 23
Etiquetas:
excerto,
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
«Agora todas as manhãs compareço nas alturas do istmo de Corinto e a minha alma, qual abelha entre flores, voa frequentemente num vaivém entre os mares, os que à direita e à esquerda refrescam o sopé dos meus montes ardentes.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 21
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 21
Etiquetas:
Friedrich Hölderlin,
Hipérion,
poetas alemães
“Eu já não sou o que era: devo ser o que me tornei.”
''Já que tudo está na nossa cabeça, é melhor a gente não perdê-la.”
Mademoiselle Coco Chanel
''Já que tudo está na nossa cabeça, é melhor a gente não perdê-la.”
Mademoiselle Coco Chanel
Etiquetas:
citações,
estilista francesa,
Gabrielle Bonheur Chanel
«É meia-noite. A chuva fustigava as vidraças. Estou calmo. Tudo dorme. Não obstante levanto-me e sento-me à secretária. Não tenho sono. A luz da lâmpada é firme e suave. Regulei-a para dar até de manhã. Ouço o bufo, ave nocturna. Que terrível grito de guerra! Outrora ouvia-o impassível. O meu filho dorme. Que durma. Virá a noite em que também, não podendo dormir, se sentará à mesa de trabalho. Estarei esquecido.»
Samuel Beckett. Molloy. Tradução de Rui Guedes da Silva. Editorial Presença, 1964., p 133
Etiquetas:
excerto,
Molloy,
Samuel Beckett
quinta-feira, 12 de maio de 2011
...........................Não havia homem algum no lugar,
ninguém que me socorresse e me ajudasse
a suportar a dor. Observei tudo
e nada encontrei que não fosse o desespero presente
e desse muita abundância, meu filho.
ninguém que me socorresse e me ajudasse
a suportar a dor. Observei tudo
e nada encontrei que não fosse o desespero presente
e desse muita abundância, meu filho.
(vv. 280-284)
Sófocles. Filoctetes. Textos clássicos - 4. Introdução, versão do grego e notas de José Ribeiro Ferreira. 3ª edição. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Fundação Calouste Gulbenkian. Junta Nacional de Investigação Científico Tecnológica, 1997, p.12
quarta-feira, 11 de maio de 2011
O Filoctetes
« O Filoctetes (409 a. C.) baseia-se no contraste entre três figuras, duas que se opõem frontalmente, Filoctetes e Ulisses, e uma terceira que é atraída ora para a esfera de um, ora para a esfera do outro, Neoptólemo. Filoctetes, o homem abandonado que a solidão e o sofrimento endureceram, sem lhe destruírem a sensibilidade; Ulisses, o político sem escrúpulos morais que age pelo oportunismo e interesse e utiliza quaisquer meios para conseguir os seus objectivos; Neoptólemo, o jovem ingénuo, bom e generoso, que aprende com as situações embaraçosas, e sofre uma visível transformação psicológica. Da correlação de forças entre estas três personagens nasce e se desenvolve a acção.»
Sófocles. Filoctetes. Textos clássicos - 4. Introdução, versão do grego e notas de José Ribeiro Ferreira. 3ª edição. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Fundação Calouste Gulbenkian. Junta Nacional de Investigação Científico Tecnológica, 1997, p.11
AS FOLHAS DA CEREJEIRA
A André Tarkovsky
Por cima de Casteldeci há uma igreja sem tecto e as paredes têm entre os braços uma cerejeira que cresceu no chão e cujos ramos tocam o céu.
Em Abril floresce e a brancura desliza da árvore até ao fundo do vale, depois nascem os frutos e comem-nos os melros e os pássaros bravos; entretanto as folhas ficam vermelhas e uma de cada vez caem no chão.
Se alguém assoma àquelas paredes com o desejo de pedir um milagre e há uma folha que cai nesse momento é sinal de que lá de cima terá uma resposta boa.
Tarkovsky passou lá em Novembro e precisava de fazer um pedido grande, mas as folhas já tinham caído todas e serviam de cama a duas ovelhas que dormiam.
Tonino Guerra. O Livro Das Igrejas Abandonadas. Tradução José Colaço Barreiros. Introdução de Vicente Jorge Silva. Assírio & Alvim, 1997, p. 45
Etiquetas:
escritor e roteirista italiano,
poeta italiano,
Tonino Guerra
O amado solo da Pátria de novo me enche de alegria e de sofrimento.
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 21
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 21
Etiquetas:
Friedrich Hölderlin,
Hipérion
«Outrora os povos partiram da harmonia das crianças; a harmonia dos espíritos será o princípio de uma nova história do mundo. Os homens começaram a par da felicidade das plantas e cresceram, cresceram até amadurecer; a partir de então, continuaram a fermentar incessantemente, por dentro e por fora, até que o género humano, agora infinitamente desagregado, se apresenta como o caos, de tal modo que todos os que ainda sentem e vêem ficam com vertigens; porém a beleza foge da vida dos homens para as alturas do espírito; torna-se ideal tudo o que era Natureza, e se a árvore, por baixo, está seca e degradada, há ainda nela uma copa fresca que dela saiu e verdeja à luz do Sol, como outrora o tronco nos dias de juventude; é ideal o que foi Natureza. Neste ideal, nesta divindade rejuvenescida se conhecem os poucos que são uma unidade, porque neles há unidade, e a partir deles começa a segunda idade do mundo - » (Carta 26)
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p. 13
Etiquetas:
Friedrich Hölderlin,
poetas alemães
Carta a Susette Gontard
«É em Susette que o Autor reconhece a sua Diotima, e Susette, que já conhece o Hipérion, vê também em Hölderlin o seu Autor. A versão definitina é escrita em Frankfurt e é objecto de conversas entre ambos. Que Susette não estava de acordo em que a heroína morresse ficou documentado na carta 199.»
Aqui tens o nosso Hipérion, querida! Este fruto dos nossos dias felizes dar-te-á pelo menos um pouco de alegria. Perdoa-me que Diotima morra. Por certo te lembras que na altura não fomos completamente unânimes nesse ponto. Eu achava que era necessário, devido a todo o conjunto de pressupostos. Meu Amor! toma tudo o que aqui e ali se diz dela e de nós, da vida da nossa vida, como um agradecimento, que ainda se torna tanto mais verdadeiro, quanto mais desajeitadamente se exprime. Tivesse eu podido formar, a teus pés, em mim gradualmente o artista, em silêncio e liberdade, sim penso que depressa o chegaria a ser - por isso anseia agora o meu coração, mergulhado em sofrimento, em sonhos e à luz do dia e muitas vezes em silencioso desespero. (Hölderlin)
«A linguagem das cartas «reais» é praticamente a mesma das ficcionadas, pois a vida aproximou-se do ideal e o fracasso deste reflectiu-se na vida e até premonitoriamente, se pensarmos que Susette vem realmente a morrer cedo e que Hölderlin lhe sobrevive no afastamento completo da vida «normal», no seu cemitério da Torre de Tübingen.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p.9/10
Etiquetas:
Friedrich Hölderlin,
Susette Gontard
«O homem gostaria de estar em tudo e acima de tudo, e a máxima inscrita no túmulo de Loyola:
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p.9
non coerceri maximo, contineri tamen a minimo
tanto pode referir-se ao pendor perigoso do homem, que tudo quer possuir e dominar, como ao estado máximo e magnífico que pode alcançar. Compete ao exercício livre da sua vontade decidir em que sentido ela deva valer.»
Friedrich Hölderlin. HIPÉRION ou o Eremita da Grécia. Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado. Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, p.9
Etiquetas:
Friedrich Hölderlin,
poetas alemães
segunda-feira, 9 de maio de 2011
O Livro das Igrejas Abandonadas
Eu abandono Roma
Os camponeses abandonam a terra
As andorinhas abandonam a minha aldeia
Os fiéis abandonam as igrejas
Os moleiros abandonam os moinhos
Os montanheses abandonam os montes
A graça de Deus abandona os homens
Alguém abandona tudo
Tonino Guerra. O Livro Das Igrejas Abandonadas. Tradução José Colaço Barreiros. Introdução de Vicente Jorge Silva. Assírio & Alvim, 1997, p. 18
Etiquetas:
autor italiano,
Tonino Guerra
Como dizia o Italo Calvino, «para Tonino Guerra tudo se transforma em conto e em poesia: de viva voz ou escrito ou nas sequências do cinema, em prosa ou em verso, em italiano ou em dialecto romanholo. Há sempre um conto em cada uma das suas poesias; há sempre uma poesia em cada um dos seus contos. E poesia quer dizer uma experiência precisa e concreta e inesperada, contendo dentro de si um sentimento e com o tom de uma voz que nos fala.»
Tonino Guerra. O Livro Das Igrejas Abandonadas. Tradução José Colaço Barreiros. Introdução de Vicente Jorge Silva. Assírio & Alvim, 1997, p. 15/6
Etiquetas:
Italo Calvino,
Tonino Guerra
domingo, 8 de maio de 2011
domingo, 1 de maio de 2011
Siddhartha tinha um único objectivo
«Siddhartha tinha um único objectivo: ficar vazio, vazio de sede, vazio de desejo, vazio de sonho, vazio de alegria e de tristeza. Deixar-se morrer, não ser mais Eu, encontrar a paz de um coração vazio, descobrir o milagre do pensamento puro, era o seu objectivo. Quando a totalidade do Eu estiver dominado e morto, quando todos os vícios e inclinações desaparecerem do coração, então despertará o mais profundo do Ser, aquilo que já não é o Eu, o grande segredo.»
Hermann Hesse.Siddhartha Um poema Indiano. Tradução de Pedro Miguel Dias. Casa das Letras. 1ª Edição, 1998, p. 22
Etiquetas:
escritor alemão,
excerto,
Hermann Hesse
«(...) A carne desapareceu das suas pernas e do rosto. Sonhos ardentes tremeluziam nos seus olhos enormes, nos seus dedos secos as unhas tornaram-se compridas e no seu queixo cresceu uma barba áspera e hisurta. O seu olhar era gelado, quando observava as mulheres; a sua boca enchia-se de desdém, quando atravessava uma cidade cheia de pessoas bem vestidas. Via mercadores a negociar, príncipes a caminho das caçadas, pessoas enlutadas chorando os seus mortos, prostitutas que se ofereciam a ele, médicos ocupados com os seus doentes, sacerdotes a determinarem o dia para as sementeiras, amantes a amarem, mães a embalarem os seus filhos - e tudo isto valia a seus olhos, tudo mentia, tudo cheirava mal, tudo cheirava a mentiras, tudo fingia sentido e sorte e beleza, tudo era uma oculta podridão. O mundo tinha um sabor amargo. A vida era sofrimento.»
Hermann Hesse.Siddhartha Um poema Indiano. Tradução de Pedro Miguel Dias. Casa das Letras. 1ª Edição, 1998, p. 21/2
Etiquetas:
escritor alemão,
excerto,
Hermann Hesse
«É necessário encontrar a Fonte Primordial no fundo do Eu, possuí-la em nós mesmos! Tudo o resto era demanda, era desvio, era erro.
Estes eram os pensamentos de Siddharta, esta era a sua sede, esta a sua dor.»
Hermann Hesse.Siddhartha Um poema Indiano. Tradução de Pedro Miguel Dias. Casa das Letras. 1ª Edição, 1998, p. 15
Etiquetas:
escritor alemão,
excerto,
Hermann Hesse,
Siddhartha
Atman
«(...) A quem fazer sacrifícios, a quem venerar, senão a Ele, ao Único, a Atman? E onde encontrar Atman, onde vive Ele, onde bate o Seu coração, senão no próprio Eu, nas profundezas imperecíveis que existem em todos nós? Mas onde, onde se encontra este Eu, esta Interioridade, esta Finalidade? Não é de carne e osso, não é o pensamento ou a consciência, assim ensinavam os mais sábios. Onde, onde era então? Penetrar no Eu, na Interioridade, em Atman - existiria outro caminho que valesse a pena ser procurado? Mas, ai, que ninguém o conhecia, nem o pai, nem os professores e sábios, nem os cânticos sagrados dos sacrifícios!»
Hermann Hesse.Siddhartha Um poema Indiano. Tradução de Pedro Miguel Dias. Casa das Letras. 1ª Edição, 1998, p. 14
Etiquetas:
escritor alemão,
excerto,
Hermann Hesse
Subscrever:
Mensagens (Atom)