Porque derrama noite o sentimento
por todo o cerco desta chama pura,
e amortecido o sol em sombra escura
dá lágrimas ao fogo e voz ao vento;
porque da morte o negro encerramento
descobre com tremor a sepultura,
e o monte, que separa da planura
o mar vizinho, divide-se atento,
de pedra é, homem duro, de diamante
teu coração, pois morte tão severa
não afoga com pranto teu semblante.
Mas de pedra não é. Sendo-o, qual cera,
de compaixão por ver a Deus amante,
ao rolar entre as pedras se rompera.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.75
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sexta-feira, 10 de junho de 2011
«Bebeu a sede nos regatos puros;»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.67
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.67
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«Não me calo, por mais que com o dedo,
tocando tua boca ou sobre a fronte
silêncio imponhas ou ameaces medo.
Não há-de haver um espírito valente?
Há-de sempre sentir-se o que se disse?
Nunca se há-de dizer o que se sente?»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.63
tocando tua boca ou sobre a fronte
silêncio imponhas ou ameaces medo.
Não há-de haver um espírito valente?
Há-de sempre sentir-se o que se disse?
Nunca se há-de dizer o que se sente?»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.63
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sábado, 4 de junho de 2011
«Sinto-me envergonhado de meus anos
a que pudera dar um melhor uso,
buscando a paz e não seguindo enganos.»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.49
a que pudera dar um melhor uso,
buscando a paz e não seguindo enganos.»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.49
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«Como de entre meus dedos tu resvalas!
Minha idade, como és fugidia!»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.45
Minha idade, como és fugidia!»
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.45
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Arrependimento e lágrimas devidas ao engano da vida
Foge sem perceber-se, lento, o dia,
e a hora secreta e recatada
silenciosa chega e, maltratada,
leva consigo a minha louçania.
A vida nova, que em infância ardia,
a juventude forte e enganada,
no derradeiro inverno sepultada,
jazem em negra sombra e neve fria.
Não senti resvalar, mudos, os anos;
hoje choro-os passados, bem os vejo
rir-se de minhas lágrimas e danos.
O meu remorso deva a meu desejo,
pois devem-me a vida os meus enganos,
não creio nem na dor em que latejo.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
e a hora secreta e recatada
silenciosa chega e, maltratada,
leva consigo a minha louçania.
A vida nova, que em infância ardia,
a juventude forte e enganada,
no derradeiro inverno sepultada,
jazem em negra sombra e neve fria.
Não senti resvalar, mudos, os anos;
hoje choro-os passados, bem os vejo
rir-se de minhas lágrimas e danos.
O meu remorso deva a meu desejo,
pois devem-me a vida os meus enganos,
não creio nem na dor em que latejo.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
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sábado, 28 de maio de 2011
Significa-se a própria brevidade da vida sem pensar e com padecer, assaltada pela morte
Foi sonho ontem; será amanhã terra;
pouco antes, nada; pouco depois, fumo;
e destino ambições, até presumo
um só momento o cerco que me encerra.
Breve combate de importuna guerra,
pr'a defender-me, sou perigo sumo;
quando com minhas armas me consumo,
menos me hospeda o corpo, que me enterra.
Foi-se o ontem; amanhã é esperado;
hoje passa, e é, e foi com movimento
que me conduz à morte despenhado.
Enxadas são a hora e o momento;
pagas por minha pena e meu cuidado,
cavam em meu viver meu monumento.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
pouco antes, nada; pouco depois, fumo;
e destino ambições, até presumo
um só momento o cerco que me encerra.
Breve combate de importuna guerra,
pr'a defender-me, sou perigo sumo;
quando com minhas armas me consumo,
menos me hospeda o corpo, que me enterra.
Foi-se o ontem; amanhã é esperado;
hoje passa, e é, e foi com movimento
que me conduz à morte despenhado.
Enxadas são a hora e o momento;
pagas por minha pena e meu cuidado,
cavam em meu viver meu monumento.
Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
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