«Caminhe adiante a cativa, triste e de cabelos desgrenhados,
toda ela resplandecente de brancura, se o consentissem as faces magoadas.
Teria sido bem melhor que estivesse lívida de sinais deixados pelos lábios,
e que no colo delicado mostrasse marcas dos dentes.
Enfim, se eu estava a deixar-me levar à maneira de uma torrente impetuosa,
e uma raiva cega me tinha feito presa sua,
não teria bastante praguejar contra uma mulher assustada
e gritar ameaças bem cruéis
ou mandar-lhe abaixo a túnica, à bruta, do cimo do rosto
até meio corpo? No meio, a cintura, havia de trazer-lhe ajuda.
Mas não me contive e arrepanhei-lhe os cabelos da testa
e, com crueldade, marquei-lhe, com as unhas, as faces delicadas.
Ela para ali ficou, desvairada e sem pinga de sangue na palidez do rosto,
qual pedaço de mármore caído das colinas de Paros;
o corpo inanimado e os membros a tremer, eis o que eu vi,
tal como a brisa agita a folhagem do choupo,
tal como é sacudido pelo sopro leve do Zéfiro o vime frágil
ou o cimo da onda é golpeado à passagem morna do Noto.
Largo tempo contidas, começaram as lágrimas a deslizar-lhe pelo rosto,
como de um manto de neve escorre a água.
Então, comecei eu, primeiro, a sentir-me culpado;
eram sangue meu as lágrimas que ela derramava.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 45
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domingo, 29 de maio de 2011
«(...); não receio sombras, que esvoaçam pela
noite,
não receio mãos estendidas para minha perdição;
é a ti, por seres teimoso demais, que eu receio, só a ti quero amansar;
és tu quem possui o raio com que podes levar-me à perdição.
Vê bem (e, para veres, dá meia folga ao portal)
como está encharcada a porta com minhas lágrimas.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 41
noite,
não receio mãos estendidas para minha perdição;
é a ti, por seres teimoso demais, que eu receio, só a ti quero amansar;
és tu quem possui o raio com que podes levar-me à perdição.
Vê bem (e, para veres, dá meia folga ao portal)
como está encharcada a porta com minhas lágrimas.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 41
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sábado, 28 de maio de 2011
«palavras, hás-de lê-las nos dedos, palavras escritas com vinho puro.»
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 37
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 37
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sexta-feira, 27 de maio de 2011
(...)
«Mesmo então, não poucos, se bem te conheço, vais inflamar,
mesmo então, ao passar, muitas serão as feridas que vais fazer;
não são capazes de descansar, ainda que tu mesmo o queiras, as tuas setas;
o ardor da chama é nefasto a quem lhe está próximo, com o seu bafo.
Assim era Baco, quando dominou as terras do Ganges;
tu és penoso com os teus pássaros, ele foi-o com seus tigres.
Já que eu posso, portanto, ser parte do teu sagrado triunfo,
poupa-te e não gastes em mim as tuas forças de vencedor;
contempla os exércitos venturosos do César, teu parente;
por onde alcançou vitórias, os vencidos ele os protege com sua mão.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 35
«Mesmo então, não poucos, se bem te conheço, vais inflamar,
mesmo então, ao passar, muitas serão as feridas que vais fazer;
não são capazes de descansar, ainda que tu mesmo o queiras, as tuas setas;
o ardor da chama é nefasto a quem lhe está próximo, com o seu bafo.
Assim era Baco, quando dominou as terras do Ganges;
tu és penoso com os teus pássaros, ele foi-o com seus tigres.
Já que eu posso, portanto, ser parte do teu sagrado triunfo,
poupa-te e não gastes em mim as tuas forças de vencedor;
contempla os exércitos venturosos do César, teu parente;
por onde alcançou vitórias, os vencidos ele os protege com sua mão.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 35
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« Eu mesmo, a tua presa mais recente, hei-de padecer da ferida sofrida há
pouco
e suportar no coração cativo novos grilhões.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 34
pouco
e suportar no coração cativo novos grilhões.
Ovídio. Amores. Tradução, introdução e notas de Carlos Ascenso André. Livros Cotovia, Lisboa, 2006, p. 34
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domingo, 23 de janeiro de 2011
The Posture
Of like importance is the posture too,
In which the genial feat of Love we do:
For as the females of the four foot kind,
Receive the leapings of their Males behind;
So the good Wives, with loins uplifted high,
And leaning on their hands the fruitful stroke may try:
For in that posture will they best conceive:
Not when supinely laid they frisk and heave;
For active motions only break the blow,
And more of Strumpets than of Wives they show;
When answering stroke with stroke, the mingled liquors flow.
Endearments eager, and too brisk a bound,
Throws off the Plow-share from the furrow’d ground.
But common Harlots in conjunction heave,
Because ’tis less their business to conceive
Than to delight, and to provoke the deed;
A trick which honest Wives but little need.
Translated by John Dryden
Lucretius
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Titus Lucretius Carus
Address to Venus
Delight of Human kind, and Gods above;
Parent of Rome; Propitious Queen of Love;
Whose vital pow’r, Air, Earth, and Sea supplies;
And breeds what e’r is born beneath the rowling Skies:
For every kind, by thy prolifique might,
Springs, and beholds the Regions of the light:
Thee, Goddess thee, the clouds and tempests fear,
And at thy pleasing presence disappear:
For thee the Land in fragrant Flow’rs is drest,
For thee the Ocean smiles, and smooths her wavy breast;
And Heav’n it self with more serene, and purer light is blest.
For when the rising Spring adorns the Mead,
And a new Scene of Nature stands display’d,
When teeming Budds, and chearful greens appear,
And Western gales unlock the lazy year,
The joyous Birds thy welcome first express,
Whose native Songs thy genial fire confess:
Then savage Beasts bound o’re their slighted food,
Strook with thy darts, and tempt the raging floud:
All Nature is thy Gift; Earth, Air, and Sea:
Of all that breathes, the various progeny,
Stung with delight, is goaded on by thee.
O’er barren Mountains, o’er the flow’ry Plain,
The leavy Forest, and the liquid Main
Extends thy uncontroul’d and boundless reign.
Through all the living Regions dost thou move,
And scattr’st, where thou goest, the kindly seeds of Love:
Since then the race of every living thing,
Obeys thy pow’r; since nothing new can spring
Without thy warmth, without thy influence bear,
Or beautiful, or lovesome can appear,
Be thou my ayd: My tuneful Song inspire,
And kindle with thy own productive fire;
While all thy Province Nature, I survey,
And sing to Memmius an immortal lay
Of Heav’n, and Earth, and every where thy wond’rous pow’r display.
To Memmius, under thy sweet influence born,
Whom thou with all thy gifts and graces dost adorn.
The rather, then assist my Muse and me,
Infusing Verses worthy him and thee.
Mean time on Land and Sea let barb’rous discord cease,
And lull the listening world in universal peace.
To thee, Mankind their soft repose must owe,
For thou alone that blessing canst bestow;
Because the brutal business of the War
Is manag’d by thy dreadful Servant’s care:
Who oft retires from fighting fields, to prove
The pleasing pains of thy eternal Love:
And panting on thy breast, supinely lies,
While with thy heavenly form he feeds his famish’d eyes:
Sucks in with open lips, thy balmy breath,
By turns restor’d to life, and plung’d in pleasing death.
There while thy curling limbs about him move,
Involv’d and fetter’d in the links of Love,
When wishing all, he nothing can deny,
Thy charms in that auspicious moment try;
With winning eloquence our peace implore,
And quiet to the weary World restore.
Lucretius
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