quinta-feira, 2 de julho de 2015

"Não foi por acaso que o meu sangue que veio do sul
se cruzou com o meu sangue que veio do norte
não foi por acaso que o meu sangue que veio do oriente
encontrou o meu sangue que estava no ocidente
não foi por acaso nada do que hoje sou
desde há muitos séculos se sabia
que eu havia de ser aquele onde se juntariam todos os
[ sangues da terra
e por isso me estimaram através da História
ansiosos por este meu resultado que até hoje foi sempre
[ futuro.
E aqui me tendes hoje
incapaz de não amar a todos
um por um
que todos são meus e me pertencem
e por isso mesmo não lhes perdoo faltas de amor!
Mas porque maldição me não entendem
se eu os entendo a todos?
Eu sei, eu sei porquê:
Falta-lhes a eles terem, como eu, a correr-lhes pelas veias
[todos os sangues da terra.
mas, ó maldição que pesa sobre mim,
cada um dos sangues da terra não me inclui entre os seus!
Não pertenço a nenhum sangue de raça
sou da raça de todos os sangues,
o meu amor não tem condições que excluam criaturas
não é amor natural
é amor buscado por boas mãos
desde o primeiro dia das boas mãos
através de tempos desiguais e de estilos que se contradizem
com os olhos no futuro melhor
e a esperança convicta de que se ainda hoje não são todos
[como eu
é questão apenas de a humanidade viver outra vez
tanto como viveu até hoje
ou de mais ainda,
é questão de mais tempo,
ainda mais tempo,
é o tempo que há-de fazer
o que apenas se pode atrasar.
Entretanto deixai que se convençam
aquelas experiências que ainda não se tinham feito
e ainda tão longe do realismo da redondeza da terra!
Entretanto deixai que os números se espantem
de que a totalidade seja sempre ainda mais pr'além!
Deixai os números instruir-se da verdadeira capacidade
[do infinito
deixai que a ciência prossiga em sua loucura galopante
explicando todas as suas falhas com desculpas geniais
enquanto não esgota a sua especialidade,
a especialidade de nos meter a todos nela,
o que é um estilo
um estilo mais
e não o último
porque nenhum estilo é o último senão a liberdade!
Deixai que milhões se juntem para formar uma força
enquanto outros isolados se reconheçam o bastante para
[ ter a liberdade,
deixai-os a ambos que nada os deterá,
eles são duas metamorfoses minhas
das quais ainda conservo uma vaga memória.
Tal qual eles agora, eu já estive num e noutros antigamente,
quando na História
nos altos e baixos da minha ascendência
tomei também cada metamorfose minha
por minha definitiva realidade.
Deixai primeiro que o sangue deles
leve tanto tempo a dar a volta ao mundo
como o que levou o meu sangue
ou a História do Homem.
Deixai que a natureza consinta ainda em parcialidades
que o tempo consente temporariamente.
Deixai que o ardente desejo de totalidade, não possa ainda
[funcionar senão pelo meio ou pelas pontas.
Deixai que cada especialidade acabe de vez com a sua
[impertinência
Deixai que os sangues mais intactos morram por isolamento
ou espalhem morte e terror com o verdadeiro medo,
[a certeza de acabar.
Deixai que a Democracia e a Aristocracia
se cansem de não caber isoladas em parte nenhuma
já que não cabem juntas no nosso entendimento.
Deixai que Uma e Outra esgotem todos os quadriláteros
onde a Democracia não cabe
e, por conseguinte, a Aristocracia não sai.
Deixai sumir-se até ao fim a confusão de Nobreza e
[Fidalguia com Aristocracia.
Deixai que a Democracia repare que é um corpo sem
[ cabeça
e que a Aristocracia uma cabeça sem corpo.
E é o corpo que há-de buscar a cabeça
ou a cabeça que há-de buscar o corpo?
Esperai que venha esta resposta.
Entretanto deixai que a liberdade também esteja à espera
[desta resposta.
Deixai que se expliquem por si coisas terrenas que nada
[mais ultrapassem do que o nosso entendimento
condenado a acreditar nos sentidos
mais do que em todo o trajecto desde o princípio do
[mundo até hoje"

José de Almada Negreiros
"Sobretudo, não desesperar. Não cair no ódio, nem na renúncia. Ser homem no meio de carneiros, ter lógica no meio de sofismas, amar o povo no meio da retórica"

 Miguel Torga, Diário (1947).

quarta-feira, 1 de julho de 2015

árvore-da-morte; mancenilheira, mançanilheira e mancenilha

monomania

nome feminino

1. (psiquiatria) delírio parcial caracterizado por uma preocupação obsessiva
2. ideia fixa

insaciabilidade

«Os gemidos poéticos deste século não passam de sofismas.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 265
«O homem de lábios de enxofre soube da fraqueza do seu aliado;»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 257

«FÍGADOS DE TIGRE
     Que diabo de embrulhada é essa?!

PEDRO
     Isto, cá na literatura, chama-se demonstração lógica.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 53
«Paixões além da campa, sinto que sois tristes como a morte!»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 45

''bugiarias teatrais''

«A abstinência é uma qualidade das almas superiores.»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 39

Laura Antonelli is The Divine Nymph


“A melhor maneira de aprender a fazer
um filme é fazer um.”

Stanley Kubrick

O Gato e a Lua - W. B. Yeats (1865-1939)


O gato passeava aqui, ali
E a lua girava como um pião,
E, parente próximo da lua,
O furtivo gato, contemplava o céu.
O negro Minnaloushe admirava fixamente a lua,
Pois, embora miasse, vagueando,
A pura e fria luz no céu
Conturbava o seu sangue animal.
Minnaloushe corre pela erva
Erguendo as delicadas patas.
Danças, Minnaloushe, danças?
Quando dois parentes se encontram
Haverá coisa melhor do que dançar?
Talvez a lua possa aprender,
Cansada dessa moda cortesã,
Um novo passo de dança.

Minnaloushe desliza pela erva
De um lugar enluarado a outro,
E a sagrada lua nas alturas
Entrou agora numa nova fase.
Saberá Minnaloushe que as suas pupilas
Passarão de mudança em mudança,
E que da lua cheia à minguante,
Da minguante à cheia elas irão mudar?
Minnaloushe desliza pela erva
Sozinho, importante e sábio,
E ergue até a lua em transição
Os olhos em mudança.

SEIS EMBUÇADOS ANÓNIMOS

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 36
«as reminiscências lacrimárias das antigas tragédias, não estavam ainda de todo apagadas então, e as mães de família não iam para o teatro sem provisão de lenços, para enxugar os olhos durante os esfaqueamentos dos galãs, (...)


In Prólogo

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 27

Óperas de Offenbach

terça-feira, 30 de junho de 2015

«paródia de melodramas»

Fígados de Tigre

«a planta excepcional que imprevisivelmente floresceu no jardim do nosso teatro romântico.»

In Prefácio

Francisco Gomes de Amorim. Fígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 17

Escravatura Branca


Comédie sérieuse

segunda-feira, 29 de junho de 2015

"Nenhum crime é vulgar; mas toda a vulgaridade é um crime."
É absurdo ter uma lei inflexível sobre o que se deva ou não ler. A cultura moderna depende em grande parte do que se não devia ler."
"Os ideias são perigosos; as realidades têm mais valor"

-"A Juventude É Uma Arte"
- Oscar Wilde
ONDE MORREM OS SONHOS
"Há-de haver um fundo inesperado no extremo oposto onde
morrem os sonhos, sob os pés onde procuramos a própria
sombra, fundida talvez à luz que um dia ameaçou o regresso
das dores passadas, logo a seguir à infância, muito antes da
poesia."
-"Ou a Empatia"
- António Quadros Ferro

Boys with Bicycles, Portland Road, North Kensington, 1957 Roger Mayne


putéfia

«Quando penso que um dos meus doentes está estabilizado...ele suicida-se!!!»

Mário de Carvalho. Se perguntarem por mim, não estou. Editorial Caminho, Lisboa, 1999., p. 14
«Salgueiros do Salgueiral
Com um sol tão doentio,»

Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 121

''Tu tens um coração peninsular''


Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984.

''O nada que há em tudo.''


Fiama Hasse Pais Brandão
''Nenhuma metáfora me assine.''

Fiama Hasse Pais Brandão
''Polir o coração para reverdecer.''


Fiama Hasse Pais Brandão

domingo, 28 de junho de 2015

«O teu nome voava de boca em boca; actualmente és o assunto das nossas conversas solitárias.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 251

«Mas o doente só se tornou doente para seu próprio prazer;»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 244

"A vida é fictícia, as palavras perdem a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. Estamos aqui a matar o tempo"

 Raul Brandão, Húmus

''carúncula carnosa''


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 242

''imundos ossários das minhas horas de tédio''


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 241

"Procuro não ter planos para a vida para não atrapalhar os planos que a vida possa ter para mim."

Agostinho da Silva

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Exausta fujo as arenas do puro intolerável

Os deuses da destruição sentaram-se ao meu lado
A cidade onde habito é rica de desastres
Embora exista a praia lisa que sonhei

Sophia de Mello Breyner Andresen
«Ele tinha a faculdade especial de tomar formas irreconhecíveis para olhos experimentados.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 227



«Foi preciso que adivinhasse por mim mesmo os inumeráveis tesouros de ternura e castidade ocultos pelo bater do vosso coração  opresso. Peito ornado de grinaldas de rosas e de vetiver. Foi preciso que vos entreabrisse as pernas para vos conhecer e para que a minha boca ficasse suspensa das insígnias do vosso pudor. Mas (coisa importante de observar) não vos esqueçais de lavar todos os dias a pele das partes com água quente, porque senão iriam crescer-me cancros venéreos nas comissuras rasgadas dos lábios insatisfeitos.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 204

''coroa de feridas''

''ânus infundibuliforme''

"É preciso fazer um esforço contínuo para amar o presente. Viver pelo passado, pelo que se fez, pelo que se conseguiu, é o mesmo que alimentar uma fome premente com banquetes de outrora"

 Miguel Torga, Diário (1946)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

quarta-feira, 24 de junho de 2015

"O mundo é circular: ninguém morre senão nos funerais, e por
instantes, para não assustar os vivos"

Gonçalo M. Tavares, 1, 2011, p.58.
"Todas as opiniões que há sobre a Natureza
Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor"


Alberto Caeiro
"Que é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição?"

 Agustina Bessa-Luís

segunda-feira, 22 de junho de 2015


OUVIR A VONTADE
"eu queria ser o mais simplesdos cantores, aquele que uma trompa
acompanha em deslocação à província,
ter a teimada obstinação do grilo
e o grito da água, surpresa no alto dos penhascos,
e há pássaros que mergulham e me rasgam
para pousar no silêncio inteiro da queda.
tudo tentei: lugar de nascimento, morada, cartão
de identidade fixa,
férias no cabo do mundo, de livro na mão, declamado
a exacta simetria dos espaços;
a repetição até à agonia, do símil completo
e da elipse redonda;
tudo analisável, grosseiro, como compete
à purificação da língua, lavada escorrida
para uso nas escolas, as da vida e as
que não morrem.
saio para a rua e todos os homens trazem
braçadeiras brancas,
os pequenos polícias atiram sesgado,
estamos infelizes e mortais, como é costume.
depois disto ninguém vai acreditar quando disser
que veneno maior é o dedal da chuva,
que nele ouvi a luz que nos despede,
que nele ouvi a fome, a sede e o frio."

-"As Moradas 1& 2"
 António Franco Alexandre
"Frente a uma situação difícil, o Português opta pela espera de um milagre ou pela descompressão de uma anedota. O grave disto é que o milagre não vem e a anedota descomprime de tudo.
Ficamos assim à mercê do azar e sem restos de razão para mexer um dedo"

Vergílio Ferreira, Conta-Corrente, 2

domingo, 21 de junho de 2015

O CIÚME.

"O ciúme. Que irritante. Ele é uma expressão da avidez da propriedade. Ou da petulância do domínio. Ou do gosto da escravização"

Vergílio Ferreira, Conta-Corrente 5.

«Os segredos de amor têm profundezas difíceis de alcançar,»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 631

«A beleza reside no carácter »

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 630

« - A sua suave boca é como um ninho d'ave»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 627

OUTRA VERSÃO

«Uma revolução
florida, recebe
com o suor da vida
o sangue das flores.

Mas não é a cor
dos cravos vermelhos
-diz-nos a História -
o que está em causa.

O sangue dos homens
corre-me pela alma!»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 616

«Um peixe a teimar que quer ser homem!»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 605
«E abracei-te, amigo meu, já morto
e não acreditei.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 603
«As nossas mãos suadas, cansadas,
encostam-se à cabeça e ninguém vê
as lágrimas que caem, secamente,
sem pedir nada, sem saber porquê!»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 600

Sem Título, 2014


«Un pueblo suicida.»

Unamuno
«Que a tua vida seja uma lição!
Que a tua morte, pelos tempos, seja honrada!»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 592
«Etiquetar é encontrar a palavra que neutralize o que o outro diz, e me assegure de que o que digo continua certo.
   Se eu não etiquetar rapidamente, pode até acontecer que a dúvida entre no meu discurso e a minha segurança fique em causa.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 591

«Não esqueçamos o que fomos
para sermos.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 588


(...)

«Todos se masturbam
arquietctando
cordialidade
e corrupção.

Onde sou, estou.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 572
«Seja golpe de asa
a cura do espírito.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 571

sábado, 20 de junho de 2015

«Porque nem sempre a fome é saciada,»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 346

«A Lua é crua,»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 333
«(disseste-o, desmemoriada,»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 325

sexta-feira, 19 de junho de 2015


«os peixinhos encarnados
numa pia de água benta,»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 320

10

Os teus seios não cabem
nas minhas mãos.

Para que tê-los, então?

Tomo-os.

Entrego-os.

Mordidos.


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 312
«Aceito ainda uma bebida,
mas não me fales de Deus.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 309

''vai-à-tua-vida''

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 309
«Não te interessa a minha história. Eu já sabia,
mas tenho esperança, sou assim.
Ela ultimamente anda pior que o demo, nem na cama
me quer. Diz que cheiro mal, que transpiro!»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 307

«Emparedadas as garrafas olham com olhos emprestados.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 307

28

Adormecer, enfim, cumprindo o dia
de mágoa e de dor
física.
Supor que os sonhos que não vêm
hão-de vir.

Eis o meu desejo explícito,
enquanto vivo.


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 300
«Vaga, ténue,
aveludada, eriçada de espinhos,
a minha dor é comigo.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 299
«Não te dói se te pergunto: amas,
aqui no peito, fundo, lado esquerdo?»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 295

«E erros esvaídos de sentir?
Já me cansa e me dói sentir-me a mim,»

Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 178
«Embriagando-se indolentemente
Do cheiro transitório duma flor.»


Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 172
«Mas a tempestade
Acabará e há outro lugar onde
Não há a tempestade.»


Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 168

«/Com dolorosas incompreensões
E com compreensões mais dolorosas/»


Fernando Pessoa
Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 166
«Efeitos lúcidos do engano fácil
Que antepôs a si mesmo mais sentidos,»



Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 164
«Bem sei que a obra é para tristeza,
Mas há o fazê-la que a faz beleza,
Bem sei que a morte é seu fio e a dor
Constante no fiar. Mas fia com amor.»

Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 160

«Minha mortalha minha mão fria,
Fia-a contente de ter que fiar.»


Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 160
*

29-21*                                           Ao teu seio irei beber
                                                         O conforto de sofrer.



Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 155
«(...)                       Cesse, cesse
Para sempre a minha alma de ser minha,»


Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 146

''oca orgia''

Fernando PessoaFausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 145

etcetra e tal...

quinta-feira, 18 de junho de 2015


«Eu quero ser,
só o que sou.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 265

"Larga a cidade masturbadora, febril,
rabo decepado de lagartixa,
labirinto cego de toupeiras,
raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados,
anémicos, cancerosos e arseniados! 
Larga a cidade!
Larga a infâmia das ruas e dos boulevards
esse vaivém cínico de bandidos mudos
esse mexer esponjoso de carne viva
Esse ser-lesma nojento e macabro
Esse S ziguezague de chicote auto-fustigante
Esse ar expirado e espiritista...
Esse Inferno de Dante por cantar
Esse ruído de sol prostituído, impotente e velho
Esse silêncio pneumónico
de lua enxovalhada sem vir a lavadeira!
Larga a cidade e foge!
Larga a cidade!
Vence as lutas da família na vitória de a deixar.
Larga a casa, foge dela, larga tudo!
Nem te prendas com lágrimas, que lágrimas são cadeias!
Larga a casa e verás - vai-se-te o Pesadelo!
A família é lastro, deita-a fora e vais ao céu!
Mas larga tudo primeiro, ouviste?
Larga tudo!
– Os outros, os sentimentos, os instintos,
e larga-te a ti também, a ti principalmente!
Larga tudo e vai para o campo
e larga o campo também, larga tudo!
– Põe-te a nascer outra vez!
Não queiras ter pai nem mãe,
não queiras ter outros nem Inteligência!
A Inteligência é o meu cancro
eu sinto-A na cabeça com falta de ar!
A Inteligência é a febre da Humanidade
e ninguém a sabe regular!
E já há Inteligência a mais pode parar por aqui!
Depois põe-te a viver sem cabeça,
vê só o que os olhos virem,
cheira os cheiros da Terra
come o que a Terra der,
bebe dos rios e dos mares,
- põe-te na Natureza!
Ouve a Terra, escuta-A.
A Natureza à vontade só sabe rir e cantar!
Depois, põe-te a coca dos que nascem
e não os deixes nascer.
Vai depois pla noite nas sombras
e rouba a toda a gente a Inteligência
e raspa-lhos a cabeça por dentro
co'as tuas unhas e cacos de garrafa,
bem raspado, sem deixar nada,
e vai depois depressa muito depressa
sem que o sol te veja
deitar tudo no mar onde haja tubarões!
Larga tudo e a ti também!"


 José Almada Negreiros
poeta sensacionista
e Narciso do Egipto
                          «Sou o que era, velho.
Nas cinzas do meu ser ainda há calor
Para que o fogo lembre.»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 126
«Sei ler os vícios íntimos e os crimes
Nos olhares.»

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 124
«Acabará em mim parte de mim
E viverei morto para viver»

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 124

«(com um grito pavoroso F. atira-se de encontro à parede, dando com a cabeça uma, duas, três vezes até cair no chão inanimado).»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 123
«Eu dou-vos vida só para odiar-vos,
Eu são sou vosso.»


Fernando Pessoa.
 Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 110
«Duas solidões do meu ser e cada vez 
Mais dentro em mim.»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 110

''alucinadas pré-sensações''

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 107

«Beijar na boca uma consciência,»

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 106

« Há entre a alma e a alma um abismo.»

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 106

«Pudesse-te eu amar sem que existisses
E possuir-te sem que ali estivesses!»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 105

«Quero falar ternura e não o sei;»

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 104
«Eu não sei dizer mais; não aprendi
Como o amor faça, não, não aprendi,
Porque o amor não fala, não pode
Dizer-se todo, senão não seria
Amor, / ao menos este amor que eu sinto/.»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 102
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