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domingo, 12 de julho de 2015

«(Fígados de Tigre enterra-lhe o punhal no coração, rebenta um repuxo de sangue da ferida, que bate nos olhos de Fígados de Tigre e cega-o.)»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 159
«FÍGADOS DE TIGRE
Que me importa a justiça? Não pode fazer nada pior que mandar-me para o inferno e eu já cá estou.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 157
«FÍGADOS DE TIGRE

Oh! mulher?...olha bem para mim! A vista do inferno não  te transtornou a cabeça?

(Imperatriz, chora sem responder).


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 155
«FÍGADOS DE TIGRE
E não come nunca? Como pode viver assim?

TÂNTALO
  Você não vê que eu estou morto, homem? Isto é a minha sombra.

FÍGADOS DE TIGRE
(cedendo ao raciocínio) Não me lembrava. Quem o ouve falar ...e o vê com esse apetite!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 142

Sísifo

«TÂNTALO

Sísifo? ...hum...rosna-se por aí, que não foi muito boa peça...valha a verdade; não sou eu que o digo. Ele afirma que o condenaram por ter sido sempre um homem de bem.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 141

terça-feira, 7 de julho de 2015

«(...) O cão, tendo três cabeças, tinha naturalmente três bocas; e não sei se por isso devia também ter três estômagos; o que é certo é que, atendendo à carestia dos géneros e às décimas e economias, que agora são moda para esfolar a torto e a direito, entendeu-se, que tão Cérbero era ele como uma como com três cabeças, e suprimiram-se-lhe as outras duas.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 120/1
«(...)

Debalde aguças o dente;
Cá não apanhas fatia.
Aqui não tens aliados
Como os de certa nação,
Que te engordou com presentes
E agora deve-te o pão!
Bem sabes de quem eu falo...
É dum país sem miolo, 
Que dá tudo aos estrangeiros
Para que lhe chamem tolo!
Qualquer charlatão o embaça
Com dois ou três palavrões!
É Por...mas não; chamo-lhe antes
Terra de parlapatões.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 117
«PEDRO

(à Imperatriz) Já recebeu notícias do inferno?

IMPERATRIZ

Não; meu marido não tem escrito.»



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 101
« PEDRO
        Coitada! Vi-a no outro dia com o começo dos seus achaques, e fez-me dó!»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 98
«(Cantando e chorando)

    Mas quem te há-de acender lume
     Para frigir o teu peixe?!»



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 97

Jurei-o !

«Jurei-o! Prometi não cortar mais as barbas desta cara e os cabelos desta cabeça; não comer, não beber, não descalçar as botas, nem dormir em povoado, enquanto não encontrar o meu rival, o roubador cobarde da minha Elisa...ou Tomásia...que ela chama-se Tomásia, mas eu embirrei em chamar-lhe Elisa, que é mais poético. Por onde andarão eles? Eu aqui estou, fechado com este pobre esqueleto, para ver se os encontro por acaso. Meti-me neste lúgubre subterrâneo, para preparar a minha vingança com sossego; isto aqui é mais seguro; eu não quero que o patife do Luís Gregório me assassine, antes de eu o matar a ele. (Olhando para o esqueleto acorrentado) Este infeliz talvez amasse também como eu?...Hei-de pôr o Luís Gregório no lugar dele? Oh lá se hei-de!»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 95

obscuridade alemã

«Que serias tu sem este sabor de obscuridade alemã, que faz com que sejas amada e cultivada, até pelos que menos te compreendem?!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 95
«Alguns, comidos de desejo ardente,
Pretendiam roer os cotovelos;
Outros, cravavam o aguçado dente
Na taça impura dos danados zelos!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 94
Quarto Quadro

Subterrâneo húmido e sombrio; paredes caídas a um lado, o tecto rachado e ameaçando ruína. Armas pendentes da parede. Um armário pintado de preto. Um esqueleto, de pé, com uma grande espada na mão, em posição de quem se defende de uma estocada e acorrentado à parede com grossas cadeias de ferro.



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 93
«Adeus! choremos todos,
Que o pranto é de rigor...
Depois, console o fado
A nossa triste dor.»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 90
CENA IV

FÍGADOS DE TIGRE

(só, cabisbaixo e andando com passo lento) Dizia minha avó que as águas do Letes apagam a memória; e a minha avó era mulher que sabia perfeitamente onde tinha o nariz. O Letes é o rio do esquecimento.»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 67/8

«Chorei a minha alma aos pedaços;»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 62
CENA I

JOANA

(oculta na floresta: grandes aves negras, de espécies desconhecidas, andam esvoaçando por toda a cena, entram no poço e tornam a sair, dando pios longos e sinistros. A orquestra toca uma peça estridente, sacudida, e que se interrompe a espaços. Cada vez que soam as notas mais agudas da música, ouvem-se gemidos dolorosos e saem do poço grandes labaredas. Pouco a pouco vão desaparecendo as aves, a música esmorece e Joana canta com voz plangente; música da ópera Safo no rondó final)

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 62
FÍGADOS DE TIGRE

Matem-me já por favor, que vou estando muito aborrecido com tudo isto.

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 61

quarta-feira, 1 de julho de 2015

«FÍGADOS DE TIGRE
     Que diabo de embrulhada é essa?!

PEDRO
     Isto, cá na literatura, chama-se demonstração lógica.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 53
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