sexta-feira, 27 de maio de 2016
“Não há melhor remédio para a tristeza do que chorar” (Santos, 2000, p. 32). E zangar-se também.
“No princípio da minha carreira de psiquiatra, há muitos anos, fui chamado para ver uma senhora que estava num estado de depressão, de angústia, de perplexidade, de sideração extremamente impressionante. Tinha-lhe morrido um filho (...) E eu fiquei bastante desarmado perante aquilo, sem saber o que havia de fazer (...) fiquei ali, com vontade de chorar talvez, ou pelo menos muito impressionado, a ouvir a senhora.(...) e ouvi-a, ouvia-a, muito tempo, muito tempo, muito tempo, até que ela começou a chorar...E então ela contou-me, contou-me depois, que já não chorava havia muitos meses, desde que tinha sido feito o diagnóstico e ela sabia que o filho ia morrer. E então de certa maneira agradeceu-me por eu lhe ter permitido chorar, por a ter deixado chorar” (Santos, 2000, p. 32).
Excerto do filme "Ordinary People".
Santos, J. (2000). Se não sabe porque é que pergunta?.
Conversas com João Sousa Monteiro. Lisboa. Assírio & Alvim.
Conversas com João Sousa Monteiro. Lisboa. Assírio & Alvim.
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quinta-feira, 26 de maio de 2016
“Everything that is tearing us down today will become a memory, and this memory will be shared as an anecdote or a story or a poem or a play or a warning. It will be shared with another human being, who will then understand that he is not alone in his sadness. This is why we show up for others and tell our tales and listen to others. The great congregation meets daily, and you are someone’s angel today.”
Tennessee Williams/Interview with James Grissom
Tennessee Williams/Interview with James Grissom
quarta-feira, 25 de maio de 2016
4
Descrente,
limitei-me no espaço e no tempo,
no espaço e no tempo...
Há em mim
desejos de distâncias e nuvens,
de cavalgar através de desertos,
falcão em riste e rédea solta,
o sangue turbulento!
Descrente,
limitei-me no espaço e no tempo,
no espaço e no tempo...
............................................................................
Mas se me limitei no espaço e no tempo,
no espaço e no tempo!...
Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 72
''cemitérios luarentos''
Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 53
corações e almas de luto...
Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001., p. 28
''braços nús''
Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001.
EM CADA DIA SE MORRE...
Tomaz Kim. Obra Poética. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001.
domingo, 15 de maio de 2016
« a minha camisa de morte mudei-a cada dia.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 79
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não são contas do teu rosário não tens nada com isso, isso não te diz respeito
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vejam os ares daqueles que estão acima das vossas
cabeças,
os seus olhos cordialmente preocupados, sorrindo para
as objectivas;
vejam as têmporas espiritualizadas, atrás das quais
o extermínio das vossas cidades é ensaiado;
vejam as mãos tratadas, que com pena dourada
ordenam: a terra sob a roda!
absolvam, senhores juízes, o jovem assassino!
sentem-no na cadeira curul, ele será connosco
mais misericordioso.
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 65
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«parteiro da própria morte,»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 41
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verso solto
(...)
« viver
e deixar viver. mas humildade e medo
em doses saudáveis.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 37
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(...)
«interioridade, trágica, ser incompreendido
nas mansardas.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 35
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poesia
(...)
«não. és-me indiferente. não cheiras bem.
tipos como tu não faltam.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 27
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«(...) ofereçam as fitas às putas, para se enfeitarem.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 23
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verso solto
utopia
o dia sobre com grande força
atira através das nuvens suas garras
o leiteiro tamborila nas suas latas
sonatas: para o céu sobem os noivos
em escadas rolantes: fervorosos com grande força
agitam-se chapéus pretos e brancos.
as abelhas fazem greve. pelas nuves
piruetam os procuradores,
das trapeiras trilam papas.
emoção reina e escárnio
e júbilo. veleiros
dobram-se com folhas dos balanços.
o chanceler joga ao berlinde com um vadio
os fundos secretos. o amor
é politicamente permitido,
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 15
atira através das nuvens suas garras
o leiteiro tamborila nas suas latas
sonatas: para o céu sobem os noivos
em escadas rolantes: fervorosos com grande força
agitam-se chapéus pretos e brancos.
as abelhas fazem greve. pelas nuves
piruetam os procuradores,
das trapeiras trilam papas.
emoção reina e escárnio
e júbilo. veleiros
dobram-se com folhas dos balanços.
o chanceler joga ao berlinde com um vadio
os fundos secretos. o amor
é politicamente permitido,
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 15
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sábado, 14 de maio de 2016
segunda-feira, 9 de maio de 2016
"Agora, és outra pessoa,
cheia de banalidades e pequenas alegrias.
O tempo e a distância encarregaram-se disso.
Sim, na minha ausência é costume desmoronarem-se
as encostas, outrora cuidadosamente escoradas.
cheia de banalidades e pequenas alegrias.
O tempo e a distância encarregaram-se disso.
Sim, na minha ausência é costume desmoronarem-se
as encostas, outrora cuidadosamente escoradas.
Mas, mesmo colocando de parte o meu ego,
é evidente o encanto da normalidade,
da paz doméstica e social
e do correcto dimensionamento de cada um,
sem megalomanias nem paióis de pólvora seca,
sem insónias nem gritos
nem fantasmas de grandes artistas e pequenos ditadores
(ou vice-versa)
a correrem pela casa.
é evidente o encanto da normalidade,
da paz doméstica e social
e do correcto dimensionamento de cada um,
sem megalomanias nem paióis de pólvora seca,
sem insónias nem gritos
nem fantasmas de grandes artistas e pequenos ditadores
(ou vice-versa)
a correrem pela casa.
Não gosto de gatos nem de crianças,
de celebrações colectivas e famílias,
de prolongadas distensões estivais,
nem sei estar indubitavelmente presente,
como o frasco dos picles, na prateleira de baixo do armário.
Nunca soube nem fingi saber – conceder-me-ás isso,
assim como reconheço que nunca, sequer, senti culpa
por todos os pecados que pequei e pecarei
enquanto o tabaco não me paralisar os pulmões.
de celebrações colectivas e famílias,
de prolongadas distensões estivais,
nem sei estar indubitavelmente presente,
como o frasco dos picles, na prateleira de baixo do armário.
Nunca soube nem fingi saber – conceder-me-ás isso,
assim como reconheço que nunca, sequer, senti culpa
por todos os pecados que pequei e pecarei
enquanto o tabaco não me paralisar os pulmões.
Os meus dias são feitos de excessos e vazios
e o vazio excessivo é a própria matéria por que pugno
o muito tempo todo em que não me calha compor
estas vagas linhas sobrepostas
a que insistem em chamar poesia
mas que são apenas a minha maneira de bocejar sem sono.
e o vazio excessivo é a própria matéria por que pugno
o muito tempo todo em que não me calha compor
estas vagas linhas sobrepostas
a que insistem em chamar poesia
mas que são apenas a minha maneira de bocejar sem sono.
Era impossível permanecermos juntos –
dizem-mo a razão e a urgência de um impulso vital
para qualquer coisa só por ser a seguinte. No entanto,
uma mágoa moinha-me a pequena hélice do coração,
enquanto, à pressa, trinco uma sandes de mundo
na cantina do niilismo (ou vice-versa)
ou conduzo um carro de vento rumo ao Magreb medieval.
dizem-mo a razão e a urgência de um impulso vital
para qualquer coisa só por ser a seguinte. No entanto,
uma mágoa moinha-me a pequena hélice do coração,
enquanto, à pressa, trinco uma sandes de mundo
na cantina do niilismo (ou vice-versa)
ou conduzo um carro de vento rumo ao Magreb medieval.
Das horas que passámos juntos não há remissão
e isso consola-me como nada mais, num recanto
muito fotogénico da memória ou talvez disso a que se chama alma.
e isso consola-me como nada mais, num recanto
muito fotogénico da memória ou talvez disso a que se chama alma.
Espero que esta te vá encontrar bem,
com meninos à ilharga, um marido que leia
o Diário de Notícias e romances históricos
e, apesar de tudo, um sorriso
ante a imensa precisão com que coloco uma mão toda
nas feridas dos outros
para evitar o ardor da tintura de iodo
nas minhas."
com meninos à ilharga, um marido que leia
o Diário de Notícias e romances históricos
e, apesar de tudo, um sorriso
ante a imensa precisão com que coloco uma mão toda
nas feridas dos outros
para evitar o ardor da tintura de iodo
nas minhas."
Miguel Martins
7/5/2016
sábado, 7 de maio de 2016
Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...
Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára m cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.
Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...
Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára m cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.
Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'
Cómo tranquilizar a un ave caída (Por Carlo Horacio Balandra)
Las aves pueden elegir desplomarse,
Marcan rutas, y se desvían a placer.
Ellas pueden estrellarse en las ventanas,
si así lo desean.
Marcan rutas, y se desvían a placer.
Ellas pueden estrellarse en las ventanas,
si así lo desean.
Pueden ser pilotos con vista cansada;
pueden replegarse y caer por voluntad propia.
pueden replegarse y caer por voluntad propia.
Un mágico día, bien podría un ave pequeña,
caer en tus manos.
Pocas veces, las aves,
son capaces de sentirse cómodas en manos humanas.
caer en tus manos.
Pocas veces, las aves,
son capaces de sentirse cómodas en manos humanas.
- No vale perseguirla y atraparla -
Debe llegar por necesidad
a dejarse morir entre tus dedos o
a descansar después de una persecución.
a dejarse morir entre tus dedos o
a descansar después de una persecución.
Puede recurrir a tu serenidad
para calmar el dolor
que le provoca su livianidad.
Se decolorará llorando.
Se escuchará su sollozo,
y muy remotamente, se vern las lágrimas rodar por el pico.
para calmar el dolor
que le provoca su livianidad.
Se decolorará llorando.
Se escuchará su sollozo,
y muy remotamente, se vern las lágrimas rodar por el pico.
Ahora entonces...
...Acércala a tu aliento,
calma con tu cercanía su dolor invisible
No hables.
No puede entender las palabras.
Los tonos son tan bajos,
que sólo parecen ruido.
Silénciate.
Exhala muy cerca de ella,
hasta crearle una sola memoria en esa mentecita.
calma con tu cercanía su dolor invisible
No hables.
No puede entender las palabras.
Los tonos son tan bajos,
que sólo parecen ruido.
Silénciate.
Exhala muy cerca de ella,
hasta crearle una sola memoria en esa mentecita.
Puede olerte.
Y jamás olvidar tu aroma.
Un ave no puede sentir su peso mientras la sostienes,
sin embargo, si la conservas suficiente tiempo,
hasta que muera
o hasta que se recupere...
...Es posible que pueda sentir: cuán ligera es.
Y jamás olvidar tu aroma.
Un ave no puede sentir su peso mientras la sostienes,
sin embargo, si la conservas suficiente tiempo,
hasta que muera
o hasta que se recupere...
...Es posible que pueda sentir: cuán ligera es.
quarta-feira, 4 de maio de 2016
"falemos dos suspiros dos pássaros breves
habitando as àrvores da noite
contemplemos as paixões lúcidas das ruas escuras pela luz
dos candeeiros derramada em redor das paredes
e sigamos em frente sem nos determos
nos nós das portas ou nas frestas das persianas
como se afinal não importasse mais nada"
-"Os Pássaros Breves"
- José António Gonçalves
- Átrio, 1995 (1a Edição)
domingo, 24 de abril de 2016
"Falando acima dessa proibição global, evitei, por não poder ou não querer, defini-la. A verdade é que ela não é definível, exactamente porque não é fácil falar a seu respeito. A decência é aleatória e varia incessantemente. Varia mesmo individualmente."
-"O Erotismo: o Proibido e a Transgressão"
- Georges Bataille
-"O Erotismo: o Proibido e a Transgressão"
- Georges Bataille
«O chilrear das aves a inventar o paraíso.»
José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 82
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«Deixar o coração pensar, é preciso,»
José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 82
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verso solto
«Porque me assalta esta quebra de vontade
e o tempo se esfia sem sentido?
Como se à alma tudo se permitisse,
até o esquecimento de que existimos.»
José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 81
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«É preciso saciar este tempo que nos come e tem fome de justiça.»
José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 23
''madrugadas pesadas duma noite sombria''
José-António Chocolate
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quinta-feira, 21 de abril de 2016
«Frágil é a esperança e faz viver quem espera!»
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 195
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terça-feira, 19 de abril de 2016
segunda-feira, 18 de abril de 2016
«E eu que amo a vida mais do que o sonho
e o sonho e a vida juntos
mais do que ambos separados
e que não sei sonhar senão a vida
e que não sei viver senão o sonho.»
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 179
''Quando eu cheguei devia ser tarde,''
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 179
domingo, 17 de abril de 2016
Extingue-me os olhos, e eu consigo ver-te.
Fecha-me os ouvidos, e eu consigo escutar-te,
E sem pés eu vou até à tua beira,
E sem boca eu posso ainda esconjurar-te.
Quebra-me os braços, e eu consigo agarrar-te
Com o meu coração como se fosse uma mão.
Pára-me o coração e o meu cérebro há-de pulsar,
E se deitares fogo ao meu cérebro,
Vou levar-te no meu sangue.
Rilke
sábado, 16 de abril de 2016
segunda-feira, 11 de abril de 2016
domingo, 10 de abril de 2016
"Saiba morrer o que vive não soube.
Saiba morrer o que não viver soube.
Saiba morrer o que não viver não soube.
Saiba morrer o que viver soube.
Saiba não morrer o que vive não soube.
Saiba não morrer o que viver soube.
Saiba não morrer o que não viver não soube.
Saiba não morrer o que viver soube.
Não saiba morrer o que viver não soube.
Não saiba morrer o que não viver soube.
Não saiba morrer o que não viver não soube.
Nao saiba morrer o que viver soube.
Não saiba não morrer o que viver não soube.
Não saiba não morrer o que não viver soube.
Não saiba não morrer o que não viver não soube.
Não saiba não morrer o que viver soube."
Jorge de Sena,"Sequências", Moraes Editores, 1980 (1a edição)
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«Diziam que tinha a face de um deus
Mas havia quem nele visse um demónio de sandálias
E alguns caracóis entrelaçados em vinha
Veias corriam os seus braços de mármore cantando
Altas montanhas como uma névoa permeando
Uma abertura no coração e uma funda dourada
Que moldava em formas que não ousamos imaginar
Com a lâmina raspando os cantos da carência
Expondo os músculos de um amor por respigar
Somos os búfalos, uma raça em extinção
Arrastada em carroças, de osso magnífico
A vergonha é um êxtase que ninguèm pode possuir
Escravos abraçam-se enquanto a sabedoria geme
Volumes de nada escritos em pedra»
Patti Smith. "O Mar de Coral"
Mas havia quem nele visse um demónio de sandálias
E alguns caracóis entrelaçados em vinha
Veias corriam os seus braços de mármore cantando
Altas montanhas como uma névoa permeando
Uma abertura no coração e uma funda dourada
Que moldava em formas que não ousamos imaginar
Com a lâmina raspando os cantos da carência
Expondo os músculos de um amor por respigar
Somos os búfalos, uma raça em extinção
Arrastada em carroças, de osso magnífico
A vergonha é um êxtase que ninguèm pode possuir
Escravos abraçam-se enquanto a sabedoria geme
Volumes de nada escritos em pedra»
Patti Smith. "O Mar de Coral"
sábado, 9 de abril de 2016
"An artist, if he's unselfish and passionate, is always a living protest. Just to open his mouth is to protest: against conformism, against what is official, public, or national, what everyone else feels comfortable with, so the moment he opens his mouth, an artist is engaged, because opening his mouth is always scandalous."
Pier Paolo Pasolini
The Canterbury Tales (1972)
sexta-feira, 8 de abril de 2016
quarta-feira, 6 de abril de 2016
domingo, 3 de abril de 2016
sexta-feira, 1 de abril de 2016
"O mundo é como quem diz uma vida
O sonho é como quem diz a sua morte
A alma é como quem diz o mundo
Este lapso da mente o colidir do relento
O colidir do relento (é como quem diz)
O sonho são olhos que se fecham ao real acompanhado
Como quem diz vagarosamente deslagrimagem
Que ama o poema mundo
Que desenha o poema inaudível
A memória ao abrir-se «à mulher que se banha
No seu própeio sol»
O eclodir da boca
O mundo é como quem diz uma vida
A alma é como quem diz o mundo
No interior de sua vida"
-"Torre de Juan Abad"
- António Poppe
O sonho é como quem diz a sua morte
A alma é como quem diz o mundo
Este lapso da mente o colidir do relento
O colidir do relento (é como quem diz)
O sonho são olhos que se fecham ao real acompanhado
Como quem diz vagarosamente deslagrimagem
Que ama o poema mundo
Que desenha o poema inaudível
A memória ao abrir-se «à mulher que se banha
No seu própeio sol»
O eclodir da boca
O mundo é como quem diz uma vida
A alma é como quem diz o mundo
No interior de sua vida"
-"Torre de Juan Abad"
- António Poppe
segunda-feira, 28 de março de 2016
Sobre o Cinema #
«Para isso, Frampton, herdeiro e seguidor das ideias de Deleuze relativamente ao cinema-pensamento, lançou a hipótese de o século XX ter sido o século em que, graças ao cinema, surgiu um novo tipo de filosofia: tal como o cinema se tornou filosófico, também a filosofia se tornou fílmica. Como afirma o autor,
Segundo Frampton,
Cinema is more than a handy catalogue of philosophical problems, and to say that film
can only present ideas in terms of story and dialogue is a narrow, literary view of film's
possible force and impact. If the starting point for these philosophers is 'what can film
do for philosophy?', how long will it take for them to realise what film offers.»
“What I am suggesting here is that films offers another future for philosophy.
Filmosophy is not better that philosophy, but another kind of philosophy” (Frampton
2006:183).
Cinema is more than a handy catalogue of philosophical problems, and to say that film
can only present ideas in terms of story and dialogue is a narrow, literary view of film's
possible force and impact. If the starting point for these philosophers is 'what can film
do for philosophy?', how long will it take for them to realise what film offers.»
«Se “o mundo é um cérebro” (Deleuze 1985:267), este mundo não está fechado, está exposto na sua vulnerabilidade pela membrana cerebral que rompe o todo fechado. Deleuze também afirma que “o cérebro é o ecrã” (Deleuze 2003: 264) no sentido em que, enquanto imagem-cerebral, o cinema consegue dar a ver como funciona o pensamento.»
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Gilles Deleuze,
sobre o cinema#
Sobre o Cinema #
''a imagem sonora e a imagem visual autonomizam-se, isto é, seguem movimentos distintos e é deste modo que a voz off não é uma descrição da imagem mas é exterior e autónoma, ao mesmo tempo que o faux-raccord é a imagem exterior do pensamento.''
Gilles Deleuze sintetiza as duas principais diferenças entre o cinema clássico da imagem-movimento e o cinema moderno da imagem-tempo:
''D’une part, l’image cinématographique devient une présentation directe du temps,
suivant les rapports non-commensurables et les coupures irrationnelles. D’autre part,
cette image-temps met la pensée en rapport avec un impensé, l’inévocable,
l’inexplicable, l’indécidable, l’incommensurable.'' (Deleuze 1985:279)
''D’une part, l’image cinématographique devient une présentation directe du temps,
suivant les rapports non-commensurables et les coupures irrationnelles. D’autre part,
cette image-temps met la pensée en rapport avec un impensé, l’inévocable,
l’inexplicable, l’indécidable, l’incommensurable.'' (Deleuze 1985:279)
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cinema,
filosofia,
Gilles Deleuze
A principal função do cinema é, para Deleuze, fazer pensar.
''Le cinéma ne met pas seulement le mouvement dans l’image, il le met aussi dans
l’esprit. La vie spirituelle, c’est le mouvement de l’esprit. On va naturellement de la
philosophie au cinéma, mais aussi du cinéma à la philosophie.'' (Deleuze 2003:264)
''Le cinéma ne met pas seulement le mouvement dans l’image, il le met aussi dans
l’esprit. La vie spirituelle, c’est le mouvement de l’esprit. On va naturellement de la
philosophie au cinéma, mais aussi du cinéma à la philosophie.'' (Deleuze 2003:264)
Sobre o Cinema #
«Thomas Wartenberg coloca-nos ainda algumas questões relevantes sobre a distinção entre filmar a filosofia e fazer filosofia cinemática. Para o autor, filmes como Rashomon (1950) de Kurosawa, O Sétimo Selo (1957) de Bergman, Crimes e escapadelas (1989) de Woody Allen e The Matrix (1999) dos irmãos Wachowski, não só foram capazes de levantar questões filosóficas como de avançar com respostas. Deste modo, um filme (qualquer um dos citados anteriormente) pode adaptar por imagens ideias ou argumentos relativamente a uma questão (ontológica, política, ética, etc) ou pode ainda adaptar toda a obra de um filósofo conjugando, como num romance, vida e obra (por exemplo, Descartes (1974) de Roberto Rossellini ou Wittgenstein (1993) de Derek Jarman).»
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sobre o cinema#,
Thomas Wartenberg
sábado, 26 de março de 2016
«Na verdade, não há sono mais bem ganho do que o de um leão a dormir com restos de sangue ainda no focinho, como os leões de pedra que há nas escadarias por onde se sobe depois da batalha!»
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 168
in A Invenção do Dia Claro
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 168
«Não tenhas medo de estares a ver a tua cabeça a ir directamente para a loucura, não tenhas medo! Deixa-a ir até à loucura! ajuda-a a ir até à loucura, Vai tu também pessoalmente, co'a tua cabeça até à loucura! Vem ler a loucura escrita na palma da tua mão. Fecha a tua mão. Fecha a tua mão com força. Agarra bem a loucura dentro da tua mão!»
in A Invenção do Dia Claro
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 160
«VALOR DAS PALAVRAS
Há palavras que fazem bater mais depressa o coração - todas as palavras - umas mais do que outras, qualquer mais do que todas. Conforme os lugares e as posições das palavras. Segundo o lado onde se ouvem - do lado do Sol ou do lado onde não dá o Sol.
Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz falta ao universo. Todas as palavras juntas formam o Universo.
As palavras querem estar nos seus lugares!
NÓS E AS PALAVRAS
Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.»
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 158
*
AS PALAVRAS
O preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um.»
in A Invenção do Dia Claro
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 157
«Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar.»
in A Invenção do Dia Claro
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 154
*
Imaginava eu que havia tratados da vida das pessoas, como há tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecidos com o tratamento que há para os animais domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há!
Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia.
in A Invenção do Dia Claro
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 153
''osgas de veludo''
Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 91
"O amor produtivo implica sempre uma síndrome de atitudes; as de cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento. Se amo, cuido - isto é, estou activamente empenhado no crescimento e na felicidade da outra pessoa; não sou um espectador. Sou responsável, ou seja, respondo às suas necessidades, às que ela expressa e ainda mais àquelas que ela não expressa ou não pode expressar. Respeito-a, ou seja (de acordo com o sentido original de re-spicere), olho para ela como ela é, objectivamente e não distorcida pelos meus desejos e medos. Conheço-a, penetrei através da sua superfície em direcção ao âmago do seu ser e relaciono-me com ela a partir do meu âmago, a partir do centro, ao contrário da periferia, do meu ser"
Erich Fromm, The Sane Society, 1956, p.32.
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