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domingo, 5 de junho de 2016
« um pouco de esquecimento agrada sempre.
um só ámen,
tanto faz a que credo,
e eu estaria sentado confortavelmente com eles
e poderia passar desta a melhor,
enforcar-me, ao fim e ao cabo,
consolado, e reconciliado, sem dúvidas,
com tudo o mundo.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 109
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«não me lembro. lamento aqueles
a quem a minha dúvida é indiferente.
esses têm outras preocupações»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 109
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« não, o vosso conselho de enforcar-me,
por bem intencionado que seja, não o seguirei.
amanhã também é dia (será?),
para abrir os olhos e ver:
algo bom, para dizer: eu não tinha razão.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 107
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« na escuridão flamejam sereias»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 103
«até que o livro te chegue às mãos,
para ler será
talvez escuro demais.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 93
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toma e lê
velho suicida.
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 91
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a separação
o céu seja entre ti e mim
cortado,
(...)
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 85
cortado,
(...)
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 85
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domingo, 15 de maio de 2016
« a minha camisa de morte mudei-a cada dia.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 79
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vejam os ares daqueles que estão acima das vossas
cabeças,
os seus olhos cordialmente preocupados, sorrindo para
as objectivas;
vejam as têmporas espiritualizadas, atrás das quais
o extermínio das vossas cidades é ensaiado;
vejam as mãos tratadas, que com pena dourada
ordenam: a terra sob a roda!
absolvam, senhores juízes, o jovem assassino!
sentem-no na cadeira curul, ele será connosco
mais misericordioso.
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 65
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«parteiro da própria morte,»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 41
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verso solto
(...)
« viver
e deixar viver. mas humildade e medo
em doses saudáveis.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 37
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(...)
«interioridade, trágica, ser incompreendido
nas mansardas.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 35
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(...)
«não. és-me indiferente. não cheiras bem.
tipos como tu não faltam.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 27
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«(...) ofereçam as fitas às putas, para se enfeitarem.»
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 23
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verso solto
utopia
o dia sobre com grande força
atira através das nuvens suas garras
o leiteiro tamborila nas suas latas
sonatas: para o céu sobem os noivos
em escadas rolantes: fervorosos com grande força
agitam-se chapéus pretos e brancos.
as abelhas fazem greve. pelas nuves
piruetam os procuradores,
das trapeiras trilam papas.
emoção reina e escárnio
e júbilo. veleiros
dobram-se com folhas dos balanços.
o chanceler joga ao berlinde com um vadio
os fundos secretos. o amor
é politicamente permitido,
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 15
atira através das nuvens suas garras
o leiteiro tamborila nas suas latas
sonatas: para o céu sobem os noivos
em escadas rolantes: fervorosos com grande força
agitam-se chapéus pretos e brancos.
as abelhas fazem greve. pelas nuves
piruetam os procuradores,
das trapeiras trilam papas.
emoção reina e escárnio
e júbilo. veleiros
dobram-se com folhas dos balanços.
o chanceler joga ao berlinde com um vadio
os fundos secretos. o amor
é politicamente permitido,
Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 15
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010
«O prazer da destruição é ao mesmo tempo o prazer da criação.»
Hans Magnus Enzensberger. Mausoléu. Trad. e prefácio de João Barrento. Edições Cotovia, Lisboa, 2004., p. 183
Hans Magnus Enzensberger. Mausoléu. Trad. e prefácio de João Barrento. Edições Cotovia, Lisboa, 2004., p. 183
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sábado, 27 de novembro de 2010
«Mas da casca nasce uma concha dura
que protege o corpo como uma carapaça.
Por isso não tenho nada a relatar
da minha vida a não ser
as minhas publicações.
Resumo diário: quatro horas de trabalho, no máximo,
depois da visita às estufas.
Longa sesta, enrolado num cachecol,
no sofá. Muda de roupa. Depois do jantar
alguém toca uma sonata ao piano.
Cedo para a cama. Insónias:
Passava quase sempre mal as noites,
ficava acordado ou sentado na cama.»
Hans Magnus Enzensberger. Mausoléu. Trad. e prefácio de João Barrento. Edições Cotovia, Lisboa, 2004., p. 179
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010
«(...) Todas as suas obras apodreceram e enferrujaram, e ele próprio queimou os seus papéis, desenhos e projectos. Desempenhou um papel importante na história do pão.
Hans Magnus Enzensberger. Mausoléu. Trad. e prefácio de João Barrento. Edições Cotovia, Lisboa, 2004., p. 121/123
IV
Muitas das palavras que utilizou (era construtor de carruagens) desapareceram: lança, tamancos, copa e albas. Teria sido capaz de nos explicar o que é um céu recolhido.V
...uma espécie que manipula a sua própria evolução por meio de intervenções planificadas nas suas condições de vida e no seu programa genético. A este processo chama-se auto-evolução. (Exemplo: o construtor de carruagens que desaparece enquanto tal ao inventar um carro a vapor. Também o moleiro não se extingue por si próprio.) Desconhece-se o fim último daquela intervenção planificada.
VI
O grão é levado da carrada de taleigos para a moega; daqui passa pelo orifício fundo da moega e corre pelo olho da mó para a caleira; escoa-se da caleira, para ser comprimido entre a mó andadeira e a fixa, cai pelo veio, vai dar ao tremonhado, acaba no limpador, a farinha é levada para a eira, peneirada, passa depois à câmara de mistura, junta-se no silo, passa pela mangueira de enchimento e cai na barrica. O moinho está cheio de moleiros suados; mestres-moleiros, homens com horas de moer, ajudantes; numa roda viva, vão movimentando os carolos, a farinha macia e a áspera, a farinha de primeira, de segunda, de resíduo, a flor-de-farinha, levantam-na e carregam-na, arrumam e transportam.
Depois aparece o inventor e constrói um moinho de onde desaparecem os moleiros. A única agitação no edifício sem vivalma é a das correias transportadoras de alcatruzes, dos monta-cargas, dos alimentadores, dos hélices da moagem: aparelhos pelos quais o grão, ora na horizontal, ora na vertical vai passando de um dispositivo para o outro através da máquina, evitando assim todo o trabalho manual e toda a sujidade.»
Hans Magnus Enzensberger. Mausoléu. Trad. e prefácio de João Barrento. Edições Cotovia, Lisboa, 2004., p. 121/123
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« ... Lembremo-nos, pois, como é difícil
fazer bem à espécie humana sem que ela nos pague
com maldade o bem que lhe fizemos.»
Hans Magnus Enzensberger. Mausoléu. Trad. e prefácio de João Barrento. Edições Cotovia, Lisboa, 2004., p. 113
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