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sábado, 8 de março de 2014

TRINUFO

    O acrobata pairava sobre um silêncio de morte. Ele suspenso por dois fios de seda vermelha e uma vara de bambu; a multidão suspensa pelo prazer doloroso de gozar o perigo que ele sofria.

    De repente um grito e o acrobata caindo... Desceu num voo, tombou: e toda a gente se ergueu, gritou, a-cla-mooou!!
  
    Agora, mesmo aqueles que só o tinham condenado, todos sorriam de completa satisfação e diziam: Que belo! Aqueles saltos no ar, aquelas idas  e vindas com os braços a voar!...

     Mas isto era o que ele fazia todas as noites e que raros apreciavam. Hoje, a mais, só tinha feito o cair, trabalhar mal e cair.

    Quando a multidão serenou e de novo olhou a pista, então viu: as pessoas que tinham acudido levando nos braços o corpo quebrado e morto do acrobata que tinha conseguido fazer compreender o seu valor.



Branquinho da Fonseca in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 196

«Ou seja: que tudo existe,
e em nós é eco: responde.
E a vida só nos é triste
por não sabermos o Aonde.»


Branquinho da Fonseca in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 189
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