O acrobata pairava sobre um silêncio de morte. Ele suspenso por dois fios de seda vermelha e uma vara de bambu; a multidão suspensa pelo prazer doloroso de gozar o perigo que ele sofria.
De repente um grito e o acrobata caindo... Desceu num voo, tombou: e toda a gente se ergueu, gritou, a-cla-mooou!!
Agora, mesmo aqueles que só o tinham condenado, todos sorriam de completa satisfação e diziam: Que belo! Aqueles saltos no ar, aquelas idas e vindas com os braços a voar!...
Mas isto era o que ele fazia todas as noites e que raros apreciavam. Hoje, a mais, só tinha feito o cair, trabalhar mal e cair.
Quando a multidão serenou e de novo olhou a pista, então viu: as pessoas que tinham acudido levando nos braços o corpo quebrado e morto do acrobata que tinha conseguido fazer compreender o seu valor.
Branquinho da Fonseca in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 196