terça-feira, 8 de dezembro de 2015

João Salaviza: "Se calhar filmei pela última vez esse desejo de cruzar adolescência e Lisboa"




Numa tarde de 2012 pouco tempo depois de João Salaviza ter ganhado o Urso de Ouro de Berlim com a curta-metragem Rafa, o café Vá-Vá, em Lisboa, mitologia fundadora do Cinema Novo português – Os Verdes Anos, de Paulo Rocha, aconteceu ali –, foi o espaço onde o cineasta explicitou o que também tinha sido fundador no seu cinema: a nostalgia, a nostalgia por uma vida de bairro que já não viveu.
João, contou nessa conversa, habitou entre os 10 e os 16 anos aquele território a que se chama as Avenidas Novas, espaço carregado de memórias (ainda por cima o pai, Edgar Feldman, assistiu Paulo Rocha), mas na altura da sua solitária adolescência era já um cenário esvaziado de vida. Filho da classe média, deu por si a desejar viver – isto é, a ocupar intensamente a rua com o futebol, com a música... – como "os miúdos das periferias" faziam, atacando a cidade de skate como os índios investiam sobre Monument Valley. Foi ele próprio, nessa conversa, que deu o exemplo do jovem Martin Scorsese a olhar da janela para a Elizabeth Street, em Little Italy, Nova Iorque, e a ver de longe os rufias que o assustavam e fascinavam, com enorme vontade de descer até à rua e de lhes apertar a mão.
Desse jogo de projecções nasceram Arena (2009, Palma de Ouro em Cannes),Cerro Negro (2011), Rafa (2012, Urso de Ouro em Berlim): três curtas-metragens que se equilibram entre o ardor da projecção emocional e a distância "antropológica" (palavra agora usada por Salaviza nesta entrevista), entre a sua memória construída e o território de experiência dos outros.
Montanha, a primeira longa-metragem do realizador de 31 anos, que sábado, 5 de Setembro, tem a primeira projecção de imprensa no Festival de Veneza (e como não ser um dos títulos mais aguardados deste ano?), continua embalado por esse território, explicitanto a viagem da escuridão para a luz, dos quartos para o exterior – a abertura para outros horizontes como outras tantas hipóteses de fechamento para as personagens de adolescentes que se descobrem adultos.



A Palma de Ouro de Cannes a Arena foi atribuída por John Boorman. Que nos seja permitido delirar com a hipótese de ter havido aí um reconhecimento: a luz como encarceramento, tal como em Point Blank, o filme de 1967 do britânico. No final dessa curta as personagens pareciam peões numa arquitectura distópica. A luz continua a agredir em Montanha. Por isso as personagens – uma hipótese de triângulo amoroso, em que um dos vértices, o jovem interpretado por David Mourato, é personagem em crise: mãe ausente, morte iminente do avô... – transportam consigo a escuridão.
É um filme que continua embalado pela infância e pela adolescência. Mas transcende os circunstancialismos sociais das curtas anteriores, para se elevar e suspender num cume rarefeito – até porque pode ser uma última vez... – de jogos entre a exposição cruel da luz e a protecção das sombras. Salaviza filma como os "antigos", e este é um filme de um sereno esplendor – abstracto, se não tivermos medo da palavra. Utiliza o bairro dos Olivais, em Lisboa, como um Monument Valley para a cavalgada (anti-)heróica da sua personagem, que testa o território em busca do sopro épico que nunca (lhe) acontece.
As personagens de Montanha vivem em ambientes de sombra. Com a exposição à luz tratam de perceber que lugar, afinal, podem ter. Há uma sequência exemplar, belíssima: a corrida da personagem principal por uma rua do bairro dos Olivais. É uma cavalgada, como se tentasse dominar o território, o que nunca acontece  na verdade, todos transportam sempre a sombra com eles.
Sobre o trabalho da luz e das formas, por muito que a primeira leitura possa ser plástica, tento sempre que se ligue às formas da vida. Neste filme aconteceu uma coisa inesperada com um dos descontrolos que o filme teve, caminhos que ganhou. Montanha foi pensado inicialmente de forma mais solar e com uma presença mais quente do Verão – não só no sentido da temperatura, também no sentido dos afectos. Começámos a filmar e a primeira semana foi catastrófica – não deve haver um único plano que sobreviveu na montagem. Eu estava perdido, porque estava a achar muito contraditório o encontro destes dois desejos que era fazer um filme de Verão com imensa vida dos corpos e de alegria, apesar do lado meio loser do miúdo, apesar de uma morte que se anuncia, a do avô, apesar do primeiro amor falhado. O contraponto seria o Verão em Lisboa, a pele, o suor. Fizemos a pausa na primeira semana de rodagem, estava perdido, fui beber copos para o Bairro Alto e encontrei os três miúdos à noite [David Mourato, Rodrigo Perdigão, Cheyenne Domingues]. Havia ali uma tensão, levemente erótica, entre os três, uma promessa de triângulo amoroso – isso não estava sequer no guião – e houve uma revelação: a escuridão dá uma protecção que, afinal, revela mais do que a luz.
É como se a escuridão se passeasse com as personagens  há sequências de moto em que o veículo parece não descolar da câmara, como se não se conseguisse afastar, autonomizar, de um casulo.
E em todos os travellings isso acontece.
Excepto na tal cavalgada, que parece tentativa de conquista, de experimentar território...
Tinha a referência do Fúria de Viver [Nicholas Ray, 1955], ideia de uma adolescência perdida – pensei também nos Verdes Anos [Paulo Rocha, 1963] e no Sangue [Pedro Costa, 1989] –, em que há aquele elemento clássico na passagem para o terceiro acto, que é sempre uma corrida de motos ou de carros desesperada. Filmei muitas corridas durante a rodagem sem saber para o que serviriam. Interessava-me esse elemento de fôlego, até porque o filme acaba com um suspiro, o culminar de um cansaço que aquele miúdo vai acumulando. Filmei sempre muitas corridas, ficou essa, até pela relação intemporal com aqueles prédios dos Olivais, com aquela rua que remete para uma arquitectura de Inglaterra.
Inicialmente o filme foi pensado nos sítios da minha adolescência – entre os 10 e os 16 anos vivi num prédio de militares nas Avenidas Novas, andei muito por aquelas traseiras de prédios, onde também se filmaram muitas cenas dosVerdes Anos [Paulo Rocha, 1963]. Queria ter filmado aí, mas por uma série de constrangimentos fomos para os Olivais. A ideia de um miúdo a correr numa cidade vazia, onde desapareceram os vestígios de outras infâncias, pareceu-me uma coisa profundamente solitária, que me lembrou a minha adolescência naqueles prédios enormíssimos da Av. dos Estados Unidos da América e da Av. de Roma. Apesar de ser uma tentativa de filmar uma memória minha da adolescência, não é uma projecção, porque os Olivais estão mais envelhecidos do que o bairro onde cresci e vivi – na cena em que os miúdos conversam nas piscinas destruídas dos Olivais: já foram um ícone de uma fase de Lisboa; vi fotos daquelas piscinas com três mil pessoas nas bancadas a assistirem a provas de natação e de saltos para água.



Voltando ao encontro com os miúdos no Bairro Alto... teve de reescrever a história?
Houve muitas coisas que mudaram nesse dia. Houve logo uma reescrita, e não necessariamente no papel, a repensar as cenas. É um filme rarefeito, com poucos elementos cénicos...
...é um filme que se respira, mais do que se agarra...
... sim, três ou quatro personagens, centrado num miúdo, numa casa, no hospital. Tratou-se de repensar todo o filme a partir desses elementos – houve personagens que desapareceram. Nessa semana, filmei corridas, filmei o miúdo sozinho, coisas que não sabia que lugar teriam na narrativa, mas que queria filmar. Estávamos em Setembro, filmei as cenas de dia nesse final do Verão, e deixei as cenas de noite para os dias de Inverno, com chuva e frio. A casa transformou-se numa espécie de estúdio protegido e muito íntimo onde pudemos reconstruir o filme com os miúdos.



MIGUEL MANSO
O que acabou por carregar o filme dessa sensação de que a escuridão é maior protecção do que a luz...
Sim, comecei a sentir que a casa era um refúgio.
Em sequências de exteriores a forma como a luz define a arquitectura é o oposto desse conforto da sombra: é tão límpida, tão evidente, é cruel. Isso leva-me a perguntar-lhe sobre um lado abstracto de Montanha: quem vir o filme daqui a uns anos, não terá elementos para o datar – por exemplo, nenhum miúdo tem telemóvel ou troca mensagens pelo telemóvel.
Isso também acontece no Arena. Por muito que existisse essa intenção prévia, acho que há uma dificuldade do cinema em lidar com a imaterialidade das coisas – mais do que com a espiritualidade. O [Robert] Bresson, o Apichatpong [Weerasethakul], o [Andrei] Tarkovsky filmam o invisível, mas a imaterialidade numa conversa, através de uma troca de mails ou de mensagens, ainda não consegui perceber como pode ser transformada em imagens.
A força de um email pode ser devastadora, como uma carta ou como uma despedida numa ponte num filme dos anos 50. Ao mesmo tempo, o meu fascínio pelo David teve que ver em reconhecer nele uma resistência, ingénua e inconsciente, a esta forma de comunicação que os miúdos hoje têm: não usava Facebook, esquecia-se do telemóvel, tinha uma relação muito mais física e corpórea com as coisas. É um miúdo com uma relação incrível com o corpo. Aquela cena em que ele está a fazer uma beat box com a cadeira de rodas aconteceu porque no dia em que estávamos a filmar num hospital ele estava aborrecidíssimo, à espera da luz, e pegou numa cadeira de rodas e em duas horas aprendeu a equilibrar-se, para se entreter e passar o tempo. Decidi filmá-lo a fazer isso depois numa outra cena.
O filme tornou-se mais negro...
Percebi que o filme era isso.
Foi o resultado de um dos descontrolos...
Foi duríssimo.
Achou que não ia conseguir?
[Pausa]. Durante a rodagem das curtas, todos os dias antes de dormir via o filme: são 15 minutos, estava sempre a ver o filme, a reconstruir plano a plano. Na longa-metragem senti o contrário, senti aquele cliché que os realizadores dizem: que o filme ganha vida por caminhos imprevistos. Isso aconteceu de facto. O desejo de ter o filme permeável à realidade e aos imprevistos, aproximando-se da natureza da realidade e da natureza das pessoas que tenho à frente da câmara, por quem sinto uma sensação de paixão, faz com que o processo seja muito menos lúcido. Mas já percebi – por isso espero que nos próximos não me venha a sentir perdido – que é possível filmar uma sequência inteira pensando apenas na energia dessa sequência, que pode ter vida própria.
Quando senti que não sabia para onde o filme estava a ir, agarrei-me ao miúdo, filmar coisas que me apetecia filmar com aquele corpo, aquela casa, os vestígios.
Ser a primeira longa, e devido à expectativa criada pelas curtas e pelos prémios, pesou nessa sensação?
Não. Cheguei à conclusão que uma pessoa faz os filmes que consegue fazer. Não conseguiria fazer o filme de outra forma. O que sei e o que me interessa está no filme. Portanto, a dificuldade é principalmente comigo próprio. Essa coisa de fazer os filmes para as pessoas... não tenho vergonha de dizer que o impulso para fazer o filme, numa fase inicial, é profundamente egoísta. Ninguém precisa mais deste filme do que eu. Depois, a forma como ele ecoa nas vidas de outras pessoas transcende-me. Não consigo antecipar as reacções das outras pessoas. É verdade que o dinheiro e o tempo que se tem para os filmes se baseiam num sistema que tem que ver com o sucesso anterior – isso para mim, como para todos os realizadores, com tudo o que de perverso esse sistema tem.
Numa conversa que tivemos, estava ainda numa fase inicial da escrita, falou do filme como um corte com o que estava para trás. Não o é. Acaba por se manter na adolescência e na infância. Há uma sequência em que a personagem parece ser embalada numa rede, é alguém que quer continuar a manter-se junto ao tempo da infância. O que é que o fez a si continuar a querer ser embalado, como cineasta, por este universo?
Não é um corte radical com as minhas curtas. Mas se calhar filmei pela última vez isso – esse desejo de cruzar Lisboa e a adolescência que existia nas curtas e que se materializou de forma mais complexa agora. Durante a montagem e a mistura de som, em Paris, comecei a pensar noutras ideias e noutros lugares que me interessam. Sinto que este filme da adolescência do David é um paralelo com a minha adolescência cinematográfica enquanto realizador...
... acaba aqui?
Não sei se acaba, mas tão cedo não voltarei a filmar adolescentes em Lisboa. Há um tempo para tudo. Acho que o Larry Clark [cineasta americano, autor de Kids] deixou de conseguir filmar os adolescentes, porque também envelheceu. Dei por mim com uma sensação estranha: estava muito próximo e muito distante da adolescência do David. Já tenho 30 anos, não tenho idade para ser pai dele, mas não partilho uma série de vivências dele que já vivi de outra forma.
Esta adolescência não é uma adolescência do século XXI, contudo. Há um perfume da adolescência. Mais do que retratos de personagens e das suas circunstâncias sociais, como nas curtas, que, aí sim, estão objectivamente distantes de si, aqui há uma elevação em relação aos circunstancialismos. 
Quando comecei a pensar o filme, antecipava-se a crise. E eu tinha o desejo de tentar materializar o contexto do Portugal da crise, do que se está a passar agora e se antecipava na altura. E como é que um miúdo de 15 anos vivia essas mudanças. Era um desejo de incorporar estes factos. Conforme fui preparando, e depois de ter conhecido o David, comecei a achar que o mais forte era filmar não o país, mas o terreno da adolescência deste rapaz, que é completamente desligado e desinteressado do que está a acontecer.
Venho de uma família de esquerda, politizada, desde novo que tenho consciência do que se passa social e politicamente e descobrir isso foi um choque. Mas se calhar há uma ideia política na forma como estes miúdos viram as costas a um país tal como ele é mostrado nas televisões, pelas instituições, pela escola. É uma coisa quase punk, niilista. A adolescência sempre foi representada no cinema através dos seus antagonismos históricos e sociais e desta vez não havia forças de antagonismos, eram coisas mais interiores e espirituais que se materializavam. Comecei a interessar-me por fazer um filme que rejeitava uma ideia de país: estão a marimbar-se para os telejornais e para o país.
Uma dissidência...
Sim, e uma vez que não percebem, que não participam, viram as costas. Há uma ideia quase religiosa: eles propõem a salvação através da intimidade. Fiquei fascinado por fazer um filme que se passa em vãos de escada, em camas desfeitas, com mesas com a louça do dia anterior. Isso aconteceu por me sentir socialmente mais próximo do David do que das personagens das curtas, em que havia um sentimento mais antropológico. Não me interessava que o filme tivesse uma visão sociológica, jornalística. A intimidade é a zona que permite às personagens ligarem-se.
Vamos voltar à sequência da corrida à luz...
Ele corre sem rumo, deambula o filme inteiro, coisa que já acontecia às personagens dos filmes anteriores.
O que é bonito e aquilo que não acontece: é um movimento épico, de procura...
Como num western...
... exactamente, um pedaço dos Olivais como Monument Valley. Mas à personagem é-lhe negada a realização épica, a euforia. O final é o oposto disso, aliás... nem sequer é o drama.
... é o esvaziamento. A frase final do miúdo [dita à mãe] é: “Dorme, dorme, ainda é cedo.” A sensação de que é um filme, como disse, que se respira mais do que se agarra, tem que ver com o facto de propor uma suspensão do espaço e do tempo. Tentei filmar à procura dessa energia. O filme é concentrado, passa-se em três ou quatro dias, parece que o miúdo nunca chega a dormir, há sensação de cansaço, na primeira cena não se percebe se está a dormir ou se está acordado, se é um sono preocupado, nunca o vemos a deitar-se e a acordar. Esta ideia de filmar no último andar de um prédio, de haver cenas em passagens aéreas, em espaços suspensos, tentei que isso se articulasse com esta ideia de dias nebulosos e muito densos, em que o miúdo parece estar pouco lúcido. É uma sensação que recordo da adolescência, dias muito intensos em que o tempo se torna pouco linear. Essa sensação que o filme propõe tem que ver com ideias de cinema, mas fundamentalmente com ideias da adolescência, com coisas que identifiquei na minha adolescência e que procurei transformar em cinema.
Este miúdo é levado, mais do que se conduz a si próprio. Essa corrida é o momento em que ele parece correr de forma deliberada, para acompanhar qualquer coisa. Nos outros momentos ele está em transportes públicos, no carro com a mãe a ser levado, está a ser embalado pela rede na varanda – parece sempre caminhar sem saber. Estas ideias todas são mais do que ideias de cinema... para mim a dificuldade, mas também o prazer de filmar tem que ver com o entender a natureza das pessoas.»
Ver entrevista aqui







''reúne os ramos mortos''


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 76
«(...) esquecer tudo o que me fere o coração, tudo o que me enche de um aflitivo desgosto.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 76

«E o morto que caminha é uma história inventada pelos ferreiros embriagados...»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 58

« -Eis o bode, que se mostra belo, com a goela de crápula! - resmungava a mãe de Ludmila.
         Alta e magra, com um largo rosto escurecido e os cabelos muito cortados depois de um ataque de tifo, parecia-se com uma vassoura já usada.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 55


«-Em breve, deixarei de fumar. Já tentei duas vezes, mas o meu coração deu-se mal.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 49

«Perto de mim, o cão de pêlo ruço tremia, com o seu focinho de raposa e uns bons olhos cheios de culpa.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 47
«Vai-se embora como uma sombra ao lume de água, como a febre nas veias: sem ruído. Estava nos meus braços, não é certo?...»

António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 209

«Dá-me um pouco de mel dos teus cabelos...»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 207

«Deus há-de-vos sarar: deveis ter fé.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 202

Henry Miller Asleep and Awake (Legendado) from Revista Usina on Vimeo.

«Um espantalho de chagas (...)»

negaça


nome feminino
1. coisa ou animal utilizado para atrair; engodo; isca
2. gesto, movimento ou comportamento para atrair ou provocar alguém, enganando ou iludindo
3. não aceitação; recusa

areia ruiva

«As espigas de pão ressumam pus, o olival em crostas...Como eu...»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 196

«O mar está sempre em flor, mesmo de inverno.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 194

«O céu que vê o mar é o mais feliz.»



António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 194
«A água do mar baloiça e reza: alenta.»




António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 194

seroar


verbo intransitivo
fazer serão; trabalhar de noite

O sonho dos pássaros

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

"Não, não é nada disso. Não tenho preocupações nenhumas a respeito do que se chama a Litaratura. Estou-me nas tintas. Tenho até um profundo desprezo pelos literatos, pela literatura que por aqui se vai fazendo. Parecem-me todos muito pequeninos, muito preocupados com pequenas coisas. Isso não interessa nada para o caso. Escrever é uma forma de me opor ao universo em que vivemos, de reinventá-lo, de destruí-lo, de lhe atirar à cara este nojo sem fim. Nada disto tem a ver com a literatura que se ensina nas escolas. Toda a escrita é uma porcaria - dizia-o um senhor chamado Antonin Artaud. Quem sabe se eu não acabarei ainda por compreender o meu velho professor de filosofia. Opor a morte à vida. Talvez eu oponha à vida as minhas histórias acerca da vida... da outra vida. Qual outra vida? A dos sonhos, naturalmente. A das nossas mais profundas obsessões."
- Nelson de Matos -
-"Coisas"
- Vitor Silva Tavares/ Pedro Oom/ Virgílio Martinho/ Paulo da Costa Domingos/ João Rodrigues...
- &Etc, 1974 (1a Edição)
- Primeiro livro da editora &Etc

«O meu coração põe-se a palpitar como uma cotovia.»



Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 40

''ramos de salgueiro acetinados''


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 39

''vermelho-sangue''


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 39

«Cheio de medo e de dores, comecei a chorar muito baixinho e, para que ninguém visse as minhas lágrimas, fechei os olhos; mas as lágrimas, claro, passavam sob as pestanas, corriam-me pelas têmporas e quase deslizavam para as orelhas.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 36

domingo, 6 de dezembro de 2015



«- Alexis, não consigo adormecer, há qualquer coisa que me causa medo; fala um pouco comigo...
    Meio ensonado, punha-me a contar-lhe alguma coisa e ela, sentada, calava-se e agitava-se no leito. Parecia-me que o seu corpo escaldante tinha o cheiro da cera e do incenso, e que entretanto ela acabaria por morrer. Não iria, de súbito, cair sobre o soalho, primeiro com a cabeça, e morrer em seguida?»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 23
« - Ah, espécie de barata maldita, erro de Deus!»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 22

« O Diabo tem espírito, mas Deus não gosta dele.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 22

agulhas de cobre


"Pode-se partir com a condição de deixar tudo na sua desordem e de confiar o seu destino ao acaso."

"Vida Secreta"
- Pascal Quignard
"Julgamos que nos libertamos dos lugares que deixamos para trás de nós. Mas o tempo não é o espaço e é o passado que está diante de nós. Deixá-lo não nos distância. Todos os dias vamos ao encontro daquilo que que fugimos. E aquilo de que sempre fugimos, como somos criaturas interrompidas, vamos abraça-lo no momento da morte. É por isso que se pode ficar no fundo de si mesmo como em dívida de redizer a responsabilidade e ao mesmo tempo consagrar a vida ao movimento de desengatar a sua vida.
São os livros. Pode-se desengatar."

-"Vida Secreta"
- Pascal Quignard
"Eu escrevo o prazer perigoso dos reencontros. Não há regresso que não corra o risco de desintegração de si ou de absorção.
A paixão súbita é igual.
A fascinação é igual.
Fulguratio, fascinatio não fazme mais que dizer este reencaixe num relâmpago, mais rápido que um relâmpago, na forma mais recente na forma mais antiga.
A fascinação é a forma do passado.
Melhor ainda: ela é o abraço do passado."

-"Vida Secreta"
- Pascal Quignard
Isto não é Paris
nem são cinco da tarde
nem chove
nem há cómicos na rua
e tampouco nesta esquina
desta cidade que não é Paris
há um realejo surpreendido
e um pintor boémio
e uma garrafa de vinho
porque às cinco da tarde
esta cidade não é Paris
e não existe um amor curioso
escondido atrás da cortina
enquanto Edith Piaf canta
Les amants de Paris
Nem a recordação do Sena
me leva as minhas memórias tristes
desta cidade sem noite
nem espelhos de mel
e não minto se disser
que Paul Éluard saiu do meu quarto
com asas de melro branco
pela janela desta cidade
que não tem pombas nem bêbados alegres
porque às cinco da tarde
esta cidade não é Paris.

Uberto Stabile

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015


"Me encontro em renomear o mundo
com palavras que já são dele:
amor, oceano é o mar que nos divide.
Às vezes resolve uma mulher
e sai andando por sobre o Atlântico
um dia você será daquela espécie de homem-
-marfim que parou de respirar
e agora só vive debaixo d'água."

-"Cantos de Estima"
- Júlia de Carvalho Hansen
"Não te beijou por a traição poder levá-lo
a nunca mais tirar da sua a tua boca.
Cycnos, o algoz; Phylios, o encantado.
A perfeição vã do arco-íris nos lagos,
o alcantil das queixas, o vosso abandono.
As faias, os ramos de vidoeiro, nada
nem um pomar encapelado que dissesse
sê bem-vindo aos meus braços no pavor do voo."

-"Alguns Antecedentes Mitológicos"
- Joaquim Manuel Magalhães / Ilda David
- Assírio & Alvim, 1984 (1a edição)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Carta ao poeta Eugénio Evtushenko a propósito de uma suposta autocrítica
Não te arrependas de nada.
Um verso está sempre certo
mesmo quando errado. A verdade
também, mesmo quando dói
ou fere ou parece inoportuna.
A verdade nunca é inoportuna.
O teu inconformismo é o preço
da nossa libertação e teus versos
florescem no coração do povo.
Não. Não te arrependas de nada.
Não torças o verso, não obrigues
a palavra: um poeta está
sempre certo. Não permitas que o óxido
dos políticos entre na lâmina
dos teus versos. Um poeta não se vende,
não se compra, não se emenda.
A um poeta corta-se-lhe a cabeça.
E uma cabeça cortada não dói, mas
tem uma importância danada.
Rui Knopfli

segunda-feira, 30 de novembro de 2015


"Ardem os campos
o lago bebe brasas
chove cinza na aldeia
sem estrelas a noite dilui-se
nenhuma pedra fala
em silêncio levanta-se o vento
escapei
recordo que esqueci"

-"Sigo a Água"
- Eva Christina Zeller

''As pessoas sofrem de fome de amor''– Joel Birman

''fracos de ódio, fracos de amor''

Conferência das Aves

Cada vez está mais vento, com mutações de Sol excessivas para os meus olhos que agora, com o ar, o sol e a cor, se fatigam. Eu explico. Trabalho muito com eles, fixando intensamente um ponto-paisagem antes de começar a escrever; depois, o decurso do texto depende do que essa concentração, num lugar vazio, permite. O olhar atento vai voltando a si mesmo e, então, o que eu consigo ouvir são as ondulações vibratórias entre esses dois pontos. Os meus olhos recebem, num ponto-voraz, as linhas que sustentam o espaço, feixes incidentes paralelos, raios que se afastam progressivamente, termos geométricos.
Lá onde estás, deve ser assim.
Nunca olhes o bordos de um texto. Tens que começar numa palavra. Numa palavra qualquer se conta. Mas, no ponto-voraz, surgem fugazes as imagens. Também lhes chamo figuras. Não ligues excessivamente ao sentido. A maior parte das vezes, é impostura da língua. Vou, finalmente, soletrar-te as imagens deste texto, antes que meus olhos se fatiguem. O milionésimo sentido da voz, "tiro o lápis da mão", o gesto de partir a luz, o pensamento de uma criança, cópias da noite, passeio nocturno, "era um dia verde", o afecto do negro, sob o lenço da noite. O indizível é feito de mim mesma, Gabi, agarrada ao silêncio que elas representam.

Maria Gabriela Llansol, «Um beijo dado mais tarde», Edições Rolim, 1990

Estado para um enriquecimento interior, Helena Almeida, 1976


"um homem e uma mulher
aproximam-se de uma porta
com uma chave na mão.
avançam
como se não respirassem.
um deles
mete a chave na fechadura
e entram.
assim que fecham a porta
atrás de si,
olham-se um instante e
lança-se um ao outro,
prendendo-se com as mãos e
abrindo caminho com a cara, com a boca.
passado pouco tempo
arrastam-se no chão
procurando cada lugar do corpo
com cada lugar do corpo,
arqueando-se
ou amoldando-se e
vorazmente passando de uma para outra entrada.
ambos têm a boca molhada
quando se levantam,
passada uma hora,
arfando enlaçados,
mas
devora-os ainda
uma sede quase infinita
e impossível de satisfazer."


-"Obra Quase Incompleta"
- Alberto Pimenta
- Fenda, 1990 (1a Edição)
"Carregando as persianas vem a noite.
Na sala tão severa, como cegos,
procuram-se uma à outra as nossas solidões.
Sobreviveu à tarde
a brancura gloriosa da tua carne.
No nosso amor há uma pena
parecida com a alma.
Tu
aque ainda ontem eras só toda a beleza
é agora também todo o amor."

-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges

domingo, 29 de novembro de 2015

"Todo o possível se eterniza, vive sempre mais que o realizado, prolonga-o, ilimita-o, da dele a pálida imagem duma realidade profunda, desafiadora"

Ernesto Sampaio."A Procura do Silêncio". Hiena, 1986 (1a Edição)

"A tarde que minou o nosso adeus.
Tarde acerada e deleitosa e mosntruosa como um anjo escuro.
Tarde em que viveram os nossos lábios na intimidade nua dos beijos.
O tempo inevitável transbordava
sobre o abraço inútil.
Na paixão fomos pródigos., não para nós, mas para a solidão mais próxima.
Rejeitou-nos a luz; a noite chegara com urgência.
Fugimos prá cancela com a gravidade da sombra que uma estrela alivia.
Como quem volta de um perdido prado voltei do teu abraço.
Como quem volta de um páis de espadas voltei das tuas lágrimas.
Tarde que dura, vívvida como um sonho
no meio das outras tardes.
Mais tarde fui atingindo e transpondo
noites e singruras."

-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges
"A única mulher com quem teria podido envelhecer era a Fernanda; a idade não seria capaz de empobrecer a nossa riqueza comum. Compreende agora o que uma tal fonte tinha de inesgotável, de constante, com uma abundância que nunca enfraquecia. Assim é o amor sobre o qual o tempo não tem poder, porque tudo o que podia diminuí-lo não faz mais do que avivá-lo; as suas raízes estendem-se até não deixar nada que não abracem. Só ele permanece, sem o corpo de onde nasceu; tudo o que vai passando e não tem a ver com ele fica irremediavelmente ferido de irrealidade."

-"Fernanda"
- Ernesto Sampaio
"Há vezes em que nos deixa pensativos a sensação «de já termos vivido esse momento». Os partidários do eterno retorno juram-nos que assim é e procuram uma comprovação da sua fé nesses perplexos estados. Esquecem que a recordação implicaria uma novidade que é a negação da tese e que o tempo a iria aperfeiçoando - até ao ciclo distante em que o indivíduo já prevê o seu destino e prefere operar de outro modo..."


-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges

«Mais mais, ainda mais que as tuas feridas, me faziam sofrer as tuas mãos...As tuas mãos, amor, via-as pisadas, como asas partidas, que ainda tremem...Eram a coisa mais triste que o sol viu. Os assassinos tinham-nas pisado. O ar, a luz, faziam-nas sofrer. E eu ouviu-os pisar: ouvia...ouvia...Oh! Foi como pisar pássaros mortos...»

António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166

1956, Elvis kissing a fan. This was just before he became hugely famous.


«A brancura de flor da tua pele era a luz da minha solidão.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166

''dias de hiena triste, a sonhar sangue''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166
«Foi nessa hora que eu nasci para a dor»



António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166
«As palavras, por si, dizem bem pouco; mas acordam a alma, meu amor. Se não fosse assim, para quê!?...falar...Fala-se para cair no teu silêncio - no silêncio em que a alma sorri toda...»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166

«Durmo nas lajes.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 164

Fado cravo



Come gather ’round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You’ll be drenched to the bone
If your time to you is worth savin’
Then you better start swimmin’ or you’ll sink like a stone
For the times they are a-changin’
Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
And there’s no tellin’ who that it’s namin’
For the loser now will be later to win
For the times they are a-changin’
Come senators, congressmen
Please heed the call
Don’t stand in the doorway
Don’t block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There’s a battle outside and it is ragin’
It’ll soon shake your windows and rattle your walls
For the times they are a-changin’
Come mothers and fathers
Throughout the land
And don’t criticize
What you can’t understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is rapidly agin’
Please get out of the new one if you can’t lend your hand
For the times they are a-changin’
The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is rapidly fadin’
And the first one now will later be last
For the times they are a-changin’


''caíam estrelas de sangue na água morta''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 163

«Põe sobre as mãos da Morta folhas secas.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 161

«O vento arrasta pelas lajes folhas secas.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 161

«Ela nunca se deitou sem te beijar.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 160

cor-de-cera

''prostituir o ar''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 158

saimento

nome masculino
1. saída
2. cortejo fúnebre; funeral; enterro

coactar

''expressão de ódio reprimido''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 157

almadraque

nome masculino
1. almofada usada como assento ou para encostar a cabeça; travesseiro; coxim
2. colchão grosseiro; enxerga

''(...) ver raiar nos olhos dela a Eternidade''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 155

e.dí.cu.la

«Para entender estrelas, o melhor, é viver como elas a arder sempre.»

António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 141

«A saudade sei eu que é o olhar das almas; mas a Justiça, Afonso, é o olhar de Deus. É o que Deus sonha, o que o faz triste.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 140

Edward Hartwig - Ruiny Warszawy, 2003.


''Dizemos que alguma coisa é má apenas porque a nossa visão limitada do mundo a faz aparecer como má, isto é, como oposta ao que seria nosso desejo; as coisas deixarão de ser más (ou boas, como oposto a más), no momento em que transcendermos a nossa visão particular do Universo.''


Agostinho da Silva, Alcorão (1947).
"Paraíso é quando não sentimos o corpo. Quando nos esquecemos.
Ou quando o sentimos com tal intensidade que estamos mergulhados na chama, que parece eterna"


Casimiro de Brito, Da Frágil Sabedoria, 2001, p.99

''as árvores deformam-se na névoa''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 136


«                                       UMA MULHER

Vê! Todo o souto treme e não há vento...

                                         OUTRA MULHER

As nuvens caem no vale como mortas.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 134

«                                          UM VELHO

As árvores ficam com ossadas...Todas as folhas caem sobre a morta.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 134
«Anda a Morte entre as árvores, à espreita!...»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 133

«O meu coração jamais se abriu para que Deus entrasse;»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 215

«Duas lágrimas rolaram dos seus olhos vazios;»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 212

Edward Hartwig - Kalinowszczyzna, 1927 r.


«No cume da fome, da sede e da dor encontra-se Deus.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 211

«Muitos desses ascetas selvagens tornaram-se loucos. Acreditam que lhes foram dadas asas e tentam voar sobre o abismo. Em baixo, a margem está coberta de ossadas.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 209

fome canina


«-Tem paciência, não estejas triste. É necessário que a nossa alma resista bem e não sucumba porque se algumas almas soçobrarem no mundo, o mundo desmoronar-se-á. São essas almas que o sustêm. É pouco mas é bastante.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 204
«SIGLA: Porra!

                                               Pancada do ponteiro.

NINA: Desabafa, é a tua vez dos palavrões.»


José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p. 149


«SIGLA: Estás mas é louca, tu é que não percebes. Tu é que não vês a maneira como olhas às vezes. (Sorriso fatigado de Nina.) E os lapsos, Nina. Os silêncios em que ficas de repente...e tu nem notas.»

José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p. 135
«O que é preciso é ter memória, quando ninguém se lembra da gente.»


José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p. 122
« ESCUTA: Ao menos para passar fome, passo-a sozinha.»



José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p. 106

Then I Heard A Bachelor's Cry



Then I Heard A Bachelor's Cry

Lately I've been searching, searching for answers
I walk around the boulevards, looking for magicians
With a cold feet, black coat full of arms outstretched and a leading voice
And I can't help but shout at the top of my lungs
Who is next in line to get hurt
Who is next in line to get speared

Bad mouth, bad habits
Now leads icicles growing out me hair
Our past I'd guaranteed you if you'd stay with me your tomorrow will be endlessly free

Don't know what it was that had made you to come by
Though I know God created me beautifully but don't you know beauty will forever kill

Who is next in line to get hurt?

Who is next in line to get speared?

I am sorry
I can see our future
It isn't so bright
There isn't any light

Who is next in line to get hurt
Who is next in line to get my spear

And so I wait
I wait for my next prey
I wait
Here
“Temos, sobretudo, de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar”

Agostinho da Silva, “A Última Conversa” (1993), p.96.

ave embalsamada

iniludível

''o soutien é uma grinalda a comemorar o corpo''


José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p. 83

«-Eu até encontrava um certo charme ao tipo.
-Também eu, também eu. Mas na cama...só lhe digo: analfabeto como a menina não pode imaginar.»

José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p. 83

« SIGLA: Sei. Para mim é como estava: a menina que volta para casa debaixo de chuva. Tem até qualquer coisa de romântico, esse fim.

NINA: Romântica era a tua avó. E tu ainda és pior que queres que todos os fins acabem em casa, a dar ao rabo. »

José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p, 74

PLANO C


   Em mangas de camisa, pistola à vista, o Agente contempla o poster de uma mulher nua. 
   Tira um pente do bolso traseiro das calças e, sem deixar de olhar o cartaz, compõe o cabelo. Afasta-se e aproxima-se da figura, analisa pormenores, coçando os testículos de mão no bolso.

José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p 63
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