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segunda-feira, 5 de agosto de 2024



« - ele há de facto pessoas muito estranhas, diz a Rosa;
ele alguma coisa fez! traz decerto na consciência...
-então, e a rapariga ... - rapariga é só um dizer!
- ó homem, ela só traz leite no púcaro!
- algum conselho de médico;
- capaz...

sim, ele de resto parece que nem come, todos ao
domingo de fartos de o convidar, mas ele
ao domingo até sai, e na ilha festa com o cabrito!
aonde vai ninguém sabe; também não interessa,
interessam questões sadias, que idade terá ele?»

Alberto Pimenta. Ilhíada. Edições do Saguão., p. 78

 '' toalha molhada de lágrimas, cadeira molhada, dedos molhados, 

dilúvios ''


Alberto Pimenta. Ilhíada. Edições do Saguão., p. 74

domingo, 2 de junho de 2024

sábado, 5 de maio de 2018

''ténue, doce, recolhida (…)às vezes (…) tem os olhos rasos de lág/ rimas”, “olha na parede a imagem do papa, do/ santo velhinho (…)”, como que “(…) ajeita a saia, vinda da retrete onde/ foi urinar (…)”. Berta deixa 4 centímetros de pele agarrada à parte inferior do corpo da enguia, un/ ta então cuidadosamente o corpo esfolado/ das enguias com bastante manteiga tempera/ da com piri-piri e, à medida que as unta,/ vai-lhes puxando outra vez a pele para ci/ ma, para o seu primitivo lugar (…) na fronte austera do/ senhor director desenhar-se-á um afável s/ orriso e Berta terá aquele seu suspiro mu/ ito leve, quase imperceptível, muito leve”. (Espermático)''

Alberto Pimenta
Um encontro de poetas na Casa de Mateus, anos 80. Alberto Pimenta com Vasco Graça Moura, Alexandre O’Neill, Miguel Torga, Eugénio de Andrade e Pedro Tamen


''E é a língua constrói uma verdadeira comunicação, do que vimos, vivemos, de como existimos. A linguagem é a maior riqueza da humanidade, mas tem que ser usada de forma a gerar mais riqueza.''

Alberto Pimenta
''Há pessoas que se pudessem já tinham substituído as palavras todas, a linguagem, por uns sinais técnicos quaisquer.''

Alberto Pimenta
''Onde é que formou esse seu olhar grave e heterodoxo sobre o mundo?

Encontrei-me muito cedo com a consciência de que olhava para as coisas de forma diferente daquela que os outros à minha volta olhavam. Não falava nisso com os outros. Por exemplo, muito cedo me incomodou aquelas senhoras que vinham a nossa casa entregar cestas de fruta que iam buscar à Ribeira. Traziam-nas à cabeça aquela distância toda. Depois comiam qualquer coisa lá em casa e pediam como pagamento “aquilo que lhe quisessem dar”. Na minha casa isto era normal mas fazia-me uma impressão um mal-estar enorme. Teria apenas uns 7 anos. Não sei como foi que fiquei assim, assim Eu. Os desequilíbrios sociais perturbam-me até hoje, a brutalidade de certos trabalhos onde se gasta uma vida humana, a inutilidade de tantos outros. Dias e dias preenchidos no absurdo, no que não tem qualquer valor e relevância para melhorar a vida humana.''

Alberto Pimenta
''O caminho do verdadeiro silêncio vai pela recusa da palavra segura de si, da palavra auto-suficiente, da palavra que fala o seu falar: mas passa através da palavra que fala em busca do silêncio, em busca da sua morte.” (O Silêncio dos Poetas, 1978)

Alberto Pimenta

sábado, 19 de março de 2016

... a poesia inculca a ideia de que a palavra é livre e de que a língua é partilhada por todos, quando não há opressão maior e mais infame que a da língua.

Alberto Pimenta, IV de Ouros

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"um homem e uma mulher
aproximam-se de uma porta
com uma chave na mão.
avançam
como se não respirassem.
um deles
mete a chave na fechadura
e entram.
assim que fecham a porta
atrás de si,
olham-se um instante e
lança-se um ao outro,
prendendo-se com as mãos e
abrindo caminho com a cara, com a boca.
passado pouco tempo
arrastam-se no chão
procurando cada lugar do corpo
com cada lugar do corpo,
arqueando-se
ou amoldando-se e
vorazmente passando de uma para outra entrada.
ambos têm a boca molhada
quando se levantam,
passada uma hora,
arfando enlaçados,
mas
devora-os ainda
uma sede quase infinita
e impossível de satisfazer."


-"Obra Quase Incompleta"
- Alberto Pimenta
- Fenda, 1990 (1a Edição)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

|| triunfo dos porcos ||

"do elogio fúnebre, das últimas palavras com que os filhos-da-puta se despedem, se separam uns dos outros, na ocasião da morte. O elogio fúnebre é normalmente o momento máximo na carreira de todo o filho-da-puta, é a prova de confiança, é a garantia de que as preocupações foram coroadas de êxito e de que, ao seu nível e à sua medida, o filho-da-puta morto não se poupou a esforços para fazer a vida ais difícil e a morte mais fácil."


Alberto Pimenta. "Discurso Sobre o Filho-da-Puta"

domingo, 30 de março de 2014


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