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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

 Sei os teus seios.

Sei-os de cor.


Alexandre O'Neill

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

O Poema Pouco Original do Medo



O medo vai ter tudo 
pernas 
ambulâncias 
e o luxo blindado 
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja 
mãozinhas cautelosas 
enredos quase inocentes 
ouvidos não só nas paredes 
mas também no chão 
no tecto 
no murmúrio dos esgotos 
e talvez até (cautela!) 
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo 
fantasmas na ópera 
sessões contínuas de espiritismo 
milagres 
cortejos 
frases corajosas 
meninas exemplares 
seguras casas de penhor 
maliciosas casas de passe 
conferências várias 
congressos muitos 
óptimos empregos 
poemas originais 
e poemas como este 
projectos altamente porcos 
heróis 
(o medo vai ter heróis!) 
costureiras reais e irreais 
operários 
(assim assim) 
escriturários 
(muitos) 
intelectuais 
(o que se sabe) 
a tua voz talvez 
talvez a minha 
com certeza a deles
Vai ter capitais 
países 
suspeitas como toda a gente 
muitíssimos amigos 
beijos 
namorados esverdeados 
amantes silenciosos 
ardentes 
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo 
tudo
(Penso no que o medo vai ter 
e tenho medo 
que é justamente 
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo 
quase tudo 
e cada um por seu caminho 
havemos todos de chegar 
quase todos 
a ratos

Sim 
a ratos


Há palavras que nos beijam


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes

domingo, 29 de setembro de 2024



''Era uma época em que tudo cheirava e sabia a ranço, em que o amor era vigiado e mal tolerado, em que um jovem não era senhor dos seus passos (errados ou certos, não interessa).''

Alexandre O'Neill

Um Adeus Português





Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Há palavras que nos beijam


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes



*



O amor é o amor


O amor é o amor - e depois?!
vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
o amor é o amor - e depois?!

Alexandre O'Neill

domingo, 22 de setembro de 2024

A meu favor

A meu favor
tenho o verde secreto dos teus olhos
algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
o tapete que vai partir para o infinito
esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
as paredes que insultam devagar
certo refúgio acima do murmúrio
que da vida corrente teime em vir
o barco escondido pela folhagem
o jardim onde a aventura recomeça.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Alexandre O’Neill avisava em poema: “O medo vai ter tudo”.

sábado, 2 de novembro de 2019

''A MUDA QUEIXA AMENDOADA
DUNS OLHOS PESTANÍTIDOS ''

Alexandre O'Neill

sábado, 5 de maio de 2018

Um encontro de poetas na Casa de Mateus, anos 80. Alberto Pimenta com Vasco Graça Moura, Alexandre O’Neill, Miguel Torga, Eugénio de Andrade e Pedro Tamen


domingo, 28 de janeiro de 2018

AS CIDADES PROCURAM-SE

As cidades procuram-se as cidades
Hão-de encontrar-se num tempo mais puro
Agora beijam-se através dum muro
Crivado de balas de obscenidades

De lágrimas de sangue de verdades
Escritas depressa e onde é mais escuro
E por enquanto do amor futuro
Conhecemos os gestos das cidades

Nas mãos que se levantam desesperadas
Nos olhos cansados de não ver
E nas bocas fechadas e amargas

Há outros gestos prontos a romper
Palavras em silêncio acumuladas
Cidades e cidades por nascer.


Fevereiro de 1952


Alexandre O' Neill

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca

(...)

Alexandre O ' Neill
«Às dores inventadas
Prefere as reais
Doem muito menos
Ou então muito mais »

Alexandre O' Neill

«Resto de amor que se deixou na cama »

Alexandre O'Neill

segunda-feira, 27 de abril de 2015

AVENTURA NOS POÇOS DO DESEJO

"Ao olho incendiado que me despe fujo delicadamente ( as grandes oportunidades que por delicadeza se perdem!).
E o amor feito e desfeito como uma cama.."

-"Poemas Com Endereço"
- Alexandre O'Neill
- Moraes Editores, 1962 (Primeira Edição)
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