sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
«A adulação faz parte da tão honrada Eloquência, e mais ainda da Medicina, e participa, em alto grau, na Poesia. Ela é o mel e o tempero de todas as relações entre os homens.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 80/1
«Quanto menos talento têm, mais pretensões e impertinências ostentam, mais se envaidecem e vangloriam. E todos conseguem vender as suas obras, porque é sempre o mais inábil que mais admiradores encontra. O pior agrada necessariamente à maioria, porque esta é dominada pela loucura. É também o mais inábil o mais contente consigo próprio e o mais admirado. Por isso, para quê preferir a verdadeira erudição, difícil de conseguir, enfadonha e prudente e que a tão poucos agrada?»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 78
«Depois de ter posto os livros de parte, cheguei à conclusão: és um niilista erótico. Qual o seu significado? Para dizer as coisas de uma forma mais simplificada, a mulher que mais aprecio é aquela cuja presença não me incomoda, aquela que não está presente. O que, como já referi, é um caso totalmente comum e era praticamente isso em mim que perturbava Bertha.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 68
«Para melhor compreender Bertha torna-se necessário recorrer ao mito. Também os nossos psicólogos e caracterologistas encontram aqui, frequentemente, sem disso se aperceberem, as suas bases. Um capítulo de Plutarco ou de Vico diz-me mais do que as suas tabelas de avaliação.
O que nos ligava a Bertha e a mim, não era apenas o gosto mas também a paixão. Devemos a Stendhal a diferença, foi ele quem a determinou. À medida que a paixão diminuía, o bom gosto impedia que entre nós se gerasse uma desarmonia ao estilo de Strindberg. Não havia nem um outro homem, nem uma outra mulher. Afastávamo-nos um do outro, o que a ambos causava sofrimento - certamente que Bertha se perguntava, tal como eu, em que medida a culpa seria sua.
Não deixou de fazer pequenas tentativas que as mulheres entendem melhor do que nós. A propósito de aniversários, por exemplo, que nós esquecemos mais facilmente que elas - porquê hoje as flores em cima da mesa? É verdade, era o aniversário da nossa primeira noite juntos. Outro dia era o meu prato favorito que era servido à refeição, ou então punha uma jóia barata oferecida por mim enquanto estudante. Eram recordações dos velhos tempos, nada mais nada do que recordações.
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Mas o afastamento teria acontecido de qualquer forma, mesmo sem a profissão que me absorvia cada vez mais, e começava até a prejudicar a minha saúde, sobretudo quando a agência se revestiu de uma importância inesperada. Se se pudesse falar em culpa seria toda minha - do meu carácter que se revelara com a profissão; todavia, noutras circunstâncias, o tempo certamente teria actuado, obtendo o mesmo resultado. Como dizia um moralista, com a idade, não só se manifestam os perfis como também os caracteres, cujos contornos se desenham mais claramente.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 66/67
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«Terei já mencionado o facto de me dar bem com qualquer mulher desde que não me seja adversa por natureza. Bertha também o sabia. Um dia, quando nos encontrávamos deitados lado a lado, disse-me: «Penso que me amas menos por ser eu própria, do que por ser uma mulher - não achas isso ofensivo para mim?»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 65
Também no casamento
«Também no casamento, uma crise aguda é preferível a uma dor crónica; uma cena violenta desanuvia o ar e restabelece a paz doméstica.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 65
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 65
«Na maioria das vezes lia até altas horas da madrugada, pois para mim um dia sem livros é um dia perdido.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 64
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«Chega também o momento em que a despedida se torna tão dolorosa que praticamente se anseia que o morto se encontre debaixo da terra.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 63
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 63
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Morte
«Acrescente-se que a morte ocorre sobretudo durante a noite.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 59
«Dormíamos com um único cobertor e quando o pavor me acordava à noite, sonhava como seria bom se nunca mais nos levantássemos. Estendia a mão e tocava em Bertha, que se encontrava junto a mim. Aqui estava em segurança; desejava que durasse sempre e que, acordando de vez em quando, repousássemos assim, um perto do outro, durante anos...durante séculos.
No entanto, esta época foi proveitosa para a minha leitura. Aprendi mais com os livros do que com a universidade. Vivia dia e noite com os filósofos, com os clássicos e também com a Bíblia, como numa montanha com as suas fontes e os seus vales, desde que não estivesse ocupado a redigir anúncios ou à procura de emprego. »
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 55
«O Estado converteu-se num polvo gigante, de braços múltiplos, que aplica milhares de ventosas. Apenas uma única coisa me agradava mais do que no Leste: nos tempos livres não era preciso marchar atrás da bandeira e gritar «Hurra», podendo-se aqui ler e escrever aquilo que a cada um lhe bem apetecesse.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 54
«Tinha duas irmãs: a Friederike e a Erika. Friederike era uma patinha sem graça, um pouco disforme, de carácter afável e uma dona-de-casa perfeita. Erika era bonita, ficou solteira, e pereceu na queda de Berlim em circunstâncias que prefiro calar.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 49
«O que eu queria estar longe da família, nem que fosse para o campo de trabalho. Só me dava pena a minha mãe, que não sabia quão pouco me conhece. Que depois de eu partir pensará mais vezes em mim do que eu nela.»
Herta Muller. Tudo o que eu tenho trago comigo. Tradução do alemão por Aires Graça. D. Quixote, Lisboa, 2009., p. 14
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Prémio Nobel da Literatura 2009
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
«Oh, angústia! Pesa e dói o coração...É ela?»
António Machado. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento.2ª Edição, Edições Cotovia, 1999., p. 27
XIV
«Cante Hondo»
Eu meditava absorto, enovelando
os fios do tédio e da tristeza,
quando chegou aos meus ouvidos,
pela janela do meu quarto, aberta
a uma ardente noite de Verão,
o carpir de uma copla sonolenta,
quebrada pelos trémulos sombrios
das músicas que há na minha terra.
...E era o Amor, como uma rubra chama...
-Nervosa mão sobre umas cordas tensas
punha um moroso suspirar dourado,
que se tornava num jorrar de estrelas -.
...E era a Morte, de gadanha ao ombro,
passos rasgados, turva e esquelética.
-Tal como em menino eu a sonhava -.
E na guitarra, ressoante e trémula,
a brusca mão, ao dedilhar, fingia
o pousar de um ataúde em terra.
E era um pranto solitário o sopro
que lança a cinza ao vento e o pó dispersa.
António Machado. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento.2ª Edição, Edições Cotovia, 1999., p. 25
Eu meditava absorto, enovelando
os fios do tédio e da tristeza,
quando chegou aos meus ouvidos,
pela janela do meu quarto, aberta
a uma ardente noite de Verão,
o carpir de uma copla sonolenta,
quebrada pelos trémulos sombrios
das músicas que há na minha terra.
...E era o Amor, como uma rubra chama...
-Nervosa mão sobre umas cordas tensas
punha um moroso suspirar dourado,
que se tornava num jorrar de estrelas -.
...E era a Morte, de gadanha ao ombro,
passos rasgados, turva e esquelética.
-Tal como em menino eu a sonhava -.
E na guitarra, ressoante e trémula,
a brusca mão, ao dedilhar, fingia
o pousar de um ataúde em terra.
E era um pranto solitário o sopro
que lança a cinza ao vento e o pó dispersa.
António Machado. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento.2ª Edição, Edições Cotovia, 1999., p. 25
«Assim, ela e o amor que se lhe dedica não são mais do que uma projecção da fantasia, e do sonho: ama-se o que não existe, o que existe somente na fantasia, no sonho, afinal no desespero. Enganadores? Como Leonor foi longamente amada, e procurada e encontrada depois de não ser, Guiomar será amada antes de ser, e na verdade não será nunca. «Todo o amor é fantasia; /ele inventa o ano, o dia, /a hora e sua melodia; /inventa o amante e, mais, / a amada. Não prova nada, /contra o amor, que a amada/ não tenha havido jamais.» É uma das Canções a Guiomar.
in Prólogo
António Machado. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento.2ª Edição, Edições Cotovia, 1999
não exprimir o que se pensa ou sente; reprimir-se; dominar-se
contém In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-05].
Disponível na www:http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/cont%C3%A9m
>.Muitas vezes, demasiadas vezes até, não exprimo o que penso ou sinto; reprimo dentro de mim as palavras, numa espécie de mutismo.contém In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-05].
Disponível na www:
De Antonio Machado a su grande y secreto amor
«Em Madrid, o poeta e Pilar de Valderrama começam por encontrar-se nos jardins da Moncloa e depois num café de bairro, modesto e retirado, onde uma vez por semana nos víamos. […] Fora daquele modesto café não nos víamos nunca, segundo palavras escritas por Pilar de Valderrama.»
«Em Madrid, o poeta e Pilar de Valderrama começam por encontrar-se nos jardins da Moncloa e depois num café de bairro, modesto e retirado, onde uma vez por semana nos víamos. […] Fora daquele modesto café não nos víamos nunca, segundo palavras escritas por Pilar de Valderrama.»
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
«A vila ainda não tinha acordado. Os pássaros cantavam em goteiras, arbustos, árvores, em fios telegráficos, grades, cercas, postes, e mastros molhados, nem por amor nem por alegria, mas para afastar os outros pássaros.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 97
domingo, 1 de dezembro de 2013
Love in the Asylum
A stranger has come To share my room in the house not right in the head, A girl mad as birds Bolting the night of the door with her arm her plume. Strait in the mazed bed She deludes the heaven-proof house with entering clouds Yet she deludes with walking the nightmarish room, At large as the dead, Or rides the imagined oceans of the male wards. She has come possessed Who admits the delusive light through the bouncing wall, Possessed by the skies She sleeps in the narrow trough yet she walks the dust Yet raves at her will On the madhouse boards worn thin by my walking tears. And taken by light in her arms at long and dear last I may without fail Suffer the first vision that set fire to the stars. |
«Uma rapariga vestida de algodão pôs a boca no ouvido dele. «Levo-te a correr para o mar», disse ela, e os seios saltavam-lhe ao correr à frente dele, o cabelo revolto a esvoaçar, até à orla do mar que não era feito de água e aos seixos miúdos e trovejantes que se despedaçavam em mil bocados quando o mar seco avançava.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 84
«Então ela endireitou as roupas e alisou o cabelo quando o dia começou a morrer, rolou para a esquerda, despreocupada do sol raso e da extensão que escurecia. O rapaz acordou cautelosamente para um sonho mais curioso, uma visão estival mais vasta do que a nuvem negra pousada no centro intacto ao cimo de uma coluna de luz; ele veio do amor atravessando um vento cheio de facas rodopiantes e uma gruta cheia de pássaros brancos-carne até uma nova cumiada, especado como uma pedra que enfrenta as estrelas a soprar e resiste à sem cerimónia do vento marinho, um rapaz duro e zangado em cima dum montículo no meio dum anoitecer campestre; ergueu o peito e disse palavras duras ao mundo.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 81
«Faltava-me um amigo com quem pudesse compartilhar o meu sofrimento e a minha nostalgia, um parceiro de conversa. Sentia falta de Jagello - embora vivêssemos na mesma cidade, encontrávamo-nos mais afastados um do outro do que os antípodas.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 45
automutilação
«É a pior coisa a seguir ao suicídio, o qual constitui a deserção suprema.»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 25
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 25
Ela levantou o vestido até à cintura.
«Ela levantou o vestido até à cintura.
Se ela me for amar até eu morrer, disse para si o rapaz debaixo da sétima árvore no monte que não era o mesmo durante três minutos seguidos, leva-me dentro dela, foge comigo a chocalhar lá dentro para um covil num bosque, para um buraco numa árvore onde o tio nunca me vai encontrar. Isto é uma história dum rapaz a ser roubado. Ela meteu-me uma faca na barriga e deu a volta ao meu estômago.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 80
«Os longos dedos dela tocaram-lhe as pálpebras. Isto é uma história, disse ele para si, acerca dum rapaz em férias que é beijado por uma montadora de vassouras; ela voou duma árvore para um monte que muda de tamanho como um sapo quando fica irritado; ela afagou-lhe os olhos e pôs o peito contra ele; e depois de o ter amado até ele morrer, levou-o dentro dela para um covil num bosque. »
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 79
Yeah, c'mon
When the music's over
When the music's over, yeah
When the music's over, turn out the lights
Turn out the lights, turn out the lights, yeah
When the music's over, yeah
When the music's over, turn out the lights
Turn out the lights, turn out the lights, yeah
When the music's over
When the music's over
When the music's over, turn out the lights
Turn out the lights, turn out the lights
When the music's over
When the music's over, turn out the lights
Turn out the lights, turn out the lights
For the music is your special friend
Dance on fire as it intends
Music is your only friend until the end
Until the end, until the end
Dance on fire as it intends
Music is your only friend until the end
Until the end, until the end
Cancel my subscription to the Resurrection
Send my credentials to the House of Detention
Send my credentials to the House of Detention
I got some friends inside
The face in the mirror won't stop
The girl in the window won't drop
The girl in the window won't drop
A feast of friends, "Alive!" she cried
Waitin' for me outsider
Waitin' for me outsider
Before I sink into the big sleep
I want to hear, I want to hear
The scream of the butterfly
I want to hear, I want to hear
The scream of the butterfly
Come back baby, back into my arm
We're gettin' tired of hangin' around
Waitin' around with our heads to the ground
We're gettin' tired of hangin' around
Waitin' around with our heads to the ground
I hear a very gentle sound
Very near yet very far
Very soft, yeah, very clear
Come today, come today
Very near yet very far
Very soft, yeah, very clear
Come today, come today
What have they done to the earth?
What have they done to our fair sister?
Ravaged and plundered and ripped her and bit her
Stuck her with knives in the side of the dawn
And tied her with fences and dragged her down
I hear a very gentle sound
With your ear down to the ground
We want the world and we want it
We want the world and we want it now
Now, now
We want the world and we want it
We want the world and we want it now
Now, now
Persian night, babe
See the light, babe
Save us, Jesus, save us
See the light, babe
Save us, Jesus, save us
So when the music's over
When the music's over, yeah
When the music's over turn out the lights
Turn out the lights, turn out the lights
Well the music is your special friend
Dance on fire as it intends
Music is your only friend until the end
Until the end, until the end
Music is your only friend until the end
Until the end, until the end
«Dei-lhe o meu ácido e ele morreu», disse o médico. «E, dez minutos depois, a galinha morta pôs-se em pé; esfregou-se contra o vidro como um gato, e vi a sua cabeça de gato. Foi morte de dez minutos.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 69
«Leio muito, talvez até demais, desde que a minha preocupação me oprime. Isto contribui igualmente para o enfraquecimento; primeiro a preocupação, depois as insónias, tornando-se estas por sua vez, a preocupação capital. Como se encontram ligados os elos da corrente?»
Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 16
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
domingo, 24 de novembro de 2013
argúcia
nome feminino
1. agudeza de espírito; finura de observação
2. raciocínio capcioso
3. subtileza
4. chiste
(Do latim argutĭa-, «idem»)
1. agudeza de espírito; finura de observação
2. raciocínio capcioso
3. subtileza
4. chiste
(Do latim argutĭa-, «idem»)
«Como todos os que se dedicam à filosofia têm em geral pouca sorte na vida, e em especial na sua progenitura, parece-me que, deste modo, a Natureza, previdentemente, impede a propagação desta praga - a sabedoria.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 47
«As mulheres não me poderão levar a mal que lhes atribua a loucura, a mim, que também sou, além de mulher, a própria Loucura. Vendo bem as coisas, é o dom da loucura que lhes permite serem, em muitos aspectos, mais felizes do que os homens. Têm sobre eles, em primeiro lugar, a vantagem da beleza, que põem, com razão, acima de tudo e que lhes serve para tiranizar os próprios tiranos. O homem tem as formas rudes, a pele rugosa, a barba selvagem, que o envelhece, e que, ao mesmo tempo, é sinal de sabedoria; as mulheres, com a face macia, a voz doce, a pele lisa, têm a favor os atributos da juventude eterna. Por isso, que procurarão elas na vida, senão agradar aos homens o mais possível? Não será essa a razão de tantos vestidos, pinturas, banhos, penteados, pomadas e perfumes, de toda a arte de brincar ou disfarçar o rosto, os olhos e a pele? E não será a Loucura que melhor lhes entrega os homens? Eles prometem-lhes tudo, e em troca de quê? De prazer. Mas elas só o conseguem graças à Loucura. Isto é evidente, se pensarmos em todas as parvoíces que um homem diz, nas loucuras que pratica, quando procura beneficiar das graças de uma mulher.
Sabeis agora qual é o primeiro e o principal prazer da vida, e qual a sua origem.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 37
Harpócrates
Deus do silêncio, representado com um dedo sobre os lábios.
in Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 35
in Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 35
cordace
Dança grotesca, por vezes obscena, que precede a representação das comédias antigas.
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 35
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 35
Cupido
Deus do amor, filho de Vénus, deus representado sempre como uma criança.
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 30
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 30
ditado popular
«Só a Loucura conserva a juventude e afasta a velhice importuna.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 30
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 30
Rio Lete
«Rio do Inferno, a que chamavam «rio do esquecimento», pois as almas dos mortos, ao beberem as sua águas, esqueciam o seu passado.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 27
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 27
VI.
« - Assim, imitaríamos os retóricos do nosso tempo, que se julgam pequenos deuses, por utilizarem duas línguas, como as sanguessugas, e se maravilharem com a habilidade de misturar no seu latim algumas palavras gregas, do que resulta um mosaico nem sempre muito a propósito. Se por acaso lhes faltam os termos estrangeiros, vão buscar os pergaminhos bolorentos quatro ou cinco fórmulas arcaicas, que lançam como poeira aos olhos do leitor, para que os que compreendem se deleitem e os ignorantes ainda mais os admirem. Com efeito, as pessoas admiram com prazer maior o que menos compreendem, pois a sua vaidade está nisso interessada. Assim, riem, aplaudem, abanam as orelhas como os burros, para mostrarem deste modo que compreenderam perfeitamente: «É assim mesmo, é tal e qual!» Mas voltando ao meu assunto...»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 19/20
EM SUMA NÃO POSSUO PARA EXPRIMIR A MINHA VIDA
Em suma, não possuo para exprimir a minha vida senão a minha morte.
E, depois de tudo, ao cabo da natureza ordenada e do pardal em bloco, adormeço, familiarmente, com minha sombra.
E, ao descer do acto venerável e do outro gemido, pouso a pensar na marcha impávida do tempo.
...Porquê a corda, então, se o ar é tão simples? Para quê a corrente, se existe o ferro por si só?
César Vallejo, o acento com que amas, o verbo com que escreves, a brisa com que ouves, sabem de tu somente pela tua garganta.
César Vallejo, prostra-te, por isso, com indistinto orgulho, com um tálamo de áspides ornamentais e de hexagonais ecos.
Restitui-te ao favo corpóreo, à beleza; perfuma as rolhas em flor, fecha ambas as grutas ao furioso antropóide; atende, enfim, o teu antipático veado; tem pena de ti.
Que não há coisa mais densa que o ódio na voz passiva, nem úbere mais mísero que o amor!
Que já não posso andar, a não ser em duas harpas!
Que já não me conheces, senão porque te sigo instrumental, prolixamente!
Que já não dou vermes, mas breves!
Que já não te envolvo tanto, que meio que te aguças!
Que já levo uns tímidos legumes e outros ferozes!
Pois o afecto que se quebra de noite em meus brônquios, trouxeram-no uns ocultos deões durante o dia e, se amanheço pálido, é pela minha obra; e, se anoiteço vermelho, por meu obreiro. Isto explica, igualmente, estes meus cansaços e estes despojos, meus famosos tios. Isto explica, enfim, esta lágrima que brindo pela ventura dos homens.
César Vallejo, parece mentira que assim dormem teus parentes,
sabendo que ando cativo,
sabendo que jazes livre!
Vistosa e infame sorte!
César Vallejo, odeio-te com ternura!
25 Nov. 1937
E, depois de tudo, ao cabo da natureza ordenada e do pardal em bloco, adormeço, familiarmente, com minha sombra.
E, ao descer do acto venerável e do outro gemido, pouso a pensar na marcha impávida do tempo.
...Porquê a corda, então, se o ar é tão simples? Para quê a corrente, se existe o ferro por si só?
César Vallejo, o acento com que amas, o verbo com que escreves, a brisa com que ouves, sabem de tu somente pela tua garganta.
César Vallejo, prostra-te, por isso, com indistinto orgulho, com um tálamo de áspides ornamentais e de hexagonais ecos.
Restitui-te ao favo corpóreo, à beleza; perfuma as rolhas em flor, fecha ambas as grutas ao furioso antropóide; atende, enfim, o teu antipático veado; tem pena de ti.
Que não há coisa mais densa que o ódio na voz passiva, nem úbere mais mísero que o amor!
Que já não posso andar, a não ser em duas harpas!
Que já não me conheces, senão porque te sigo instrumental, prolixamente!
Que já não dou vermes, mas breves!
Que já não te envolvo tanto, que meio que te aguças!
Que já levo uns tímidos legumes e outros ferozes!
Pois o afecto que se quebra de noite em meus brônquios, trouxeram-no uns ocultos deões durante o dia e, se amanheço pálido, é pela minha obra; e, se anoiteço vermelho, por meu obreiro. Isto explica, igualmente, estes meus cansaços e estes despojos, meus famosos tios. Isto explica, enfim, esta lágrima que brindo pela ventura dos homens.
César Vallejo, parece mentira que assim dormem teus parentes,
sabendo que ando cativo,
sabendo que jazes livre!
Vistosa e infame sorte!
César Vallejo, odeio-te com ternura!
25 Nov. 1937
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 131/2
«seria segunda-feira, talvez, vir-me-ia a ideia ao coração
o pranto ao cérebro
e à garganta uma ânsia medonha de afogar
o que sinto agora,
como um homem que sou e que tenho sofrido.»
21 Nov. 1937
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 129
« a fim de não gritar ou de chorar, já que os olhos
possuem, independentes de cada qual, suas pobrezas,
quero dizer, o seu ofício, alguma coisa
que resvala da alma e cai à alma.»
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 129
PALMAS E GUITARRA
Agora, aqui entre nós dois,
vem comigo, traz o teu corpo pela mão
e ceemos juntos e passemos um instante a vida
a duas vidas e dando uma parte à nossa morte.
Agora, vem contigo, faz o favor
de te queixar em meu nome e à luz da noite tenebrosa
em que trazes tua alma pela mão
e nas pontas dos pés fugimos de nós mesmos.
Vem a mim, sim, e a ti, sim,
com passo par, ver-nos os dois com passo ímpar,
marcar o passo da despedida.
Até quando voltarmos! Até à volta!
Até quando lermos, ignorantes!
Até quando voltarmos, despeçamo-nos!
Que me importam as espingardas?,
escuta-me.
Escuta-me -, que me importam,
se a bala circula já no nível da minha assinatura?
Que te importam as balas,
se a espingarda fumega já em teu odor?
Hoje mesmo pesaremos
nos braços de um cego a nossa estrela
e, depois de me teres cantado, choraremos.
Hoje mesmo, formosa, com o teu passo par
e a tua confiança a que chegou o meu alarme,
sairemos de nós próprios, dois a dois.
Até que sejamos cegos!
Até
que choremos de tanto voltar!
Agora,
entre nós, traz
a tua doce personagem pela mão
e ceemos juntos e passemos um instante a vida
e a duas vidas e dando uma parte à nossa morte.
Agora, vem contigo, faz o favor
de cantar
e tocar em tua alma, e bater palmas.
Até quando voltarmos! Até esse dia!
Até quando partimos, despeçamo-nos!
8 Nov. 1937
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 124/5
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«Pois como resultado
do sofrimento, há alguns
que nascem, outros crescem, outros morrem,
e outros que nascem e não morrem, outros
que sem ter nascido morrem, e outros
que não nascem nem morrem (a maioria).»
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 118
Babe, I'm Gonna Leave You
Babe, i'm gonna leave you
Tell you when i'm gonna leave you
Leave you when ol'summer time,
Summer comes a-rolling
Leave you when ol'summer comes along
Babe, the highway is a-callin'
The old highway's a-callin'
Callin'me to travel on, travel on out the westward
Callin'me to travel on alone
Babe,i'd like to stay here
You know i'd really like to stay here
My feet start goin'down,goin'down the highway
My feet start goin'down, goin'down alone
Babe,i got to ramble
You know i got to ramble
My feet start goin'down and i got to follow
My feet start goin'down, and i got to go
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«Estamos nus? Temos os nossos ossos e os nossos órgãos, a nossa pele e a nossa carne. Há uma fita de sangue a prender o teu cabelo. Não tenhas medo. Tens um tecido de veias à volta das coxas. O mundo passou numa carga sobre eles, o vento caiu em nada, soprando os frutos da batalha sob a lua. Peter ouviu as canções dos pássaros, mas não eram como as que ouvira aos pássaros, no parapeito do quarto, lançar das gargantas. Os pássaros estavam cegos.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 58
Once upon a time you dressed so fine
You threw the bums a dime in your prime, didn’t you?
People’d call, say, “Beware doll, you’re bound to fall”
You thought they were all kiddin’ you
You used to laugh about
Everybody that was hangin’ out
Now you don’t talk so loud
Now you don’t seem so proud
About having to be scrounging for your next meal
How does it feel
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
You’ve gone to the finest school all right, Miss Lonely
But you know you only used to get juiced in it
And nobody has ever taught you how to live on the street
And now you find out you’re gonna have to get used to it
You said you’d never compromise
With the mystery tramp, but now you realize
He’s not selling any alibis
As you stare into the vacuum of his eyes
And ask him do you want to make a deal?
How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
You never turned around to see the frowns on the jugglers and the clowns
When they all come down and did tricks for you
You never understood that it ain’t no good
You shouldn’t let other people get your kicks for you
You used to ride on the chrome horse with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain’t it hard when you discover that
He really wasn’t where it’s at
After he took from you everything he could steal
How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
Princess on the steeple and all the pretty people
They’re drinkin’, thinkin’ that they got it made
Exchanging all kinds of precious gifts and things
But you’d better lift your diamond ring, you’d better pawn it babe
You used to be so amused
At Napoleon in rags and the language that he used
Go to him now, he calls you, you can’t refuse
When you got nothing, you got nothing to lose
You’re invisible now, you got no secrets to conceal
How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?
«Lá fora na noite andavam à procura dum louco. Tinha os olhos verdes, diziam, e tinha desposado uma senhora. Diziam que lhe tinha cortado os lábios porque sorria aos homens. Levaram-no, mas roubou a faca da cozinha e retalhou o guarda e evadiu-se para os vales brancos.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 46
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 46
«Se achasse o sono, o sono seria uma rapariga. Nas duas últimas noites, ao caminhar ou correr pela região deserta, tinha sonhado com aquele encontro. «Deita-te», diria ela, e dar-lhe-ia do seu vestido para ele se deitar, estendendo-se ao seu lado. Tinha ele sonhado, e as vergônteas sob os pés fugitivos feito um ruído como o roçagar do vestido dela, quando o inimigo gritou nos campos.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 45
«Achou que era uma mulher misteriosa que gostava do escuro porque era escuro. Era velho demais para questionar os segredos da escuridão, e agora, com o fato preto rasgado e molhado e as mãos finas envoltas nas ligaduras da estranha mulher, sentiu-se mais velho do que nunca.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p. 37
terça-feira, 19 de novembro de 2013
C'est la vie, mort de la Mort!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 105
«Compreendo sem esforço
que o homem fica, às vezes, pensativo
como a querer chorar
...
Compreendo
que ele sabe que lhe quero,
que o odeio com afecto e, resumindo, me é indiferente...»
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 92
que o homem fica, às vezes, pensativo
como a querer chorar
...
Compreendo
que ele sabe que lhe quero,
que o odeio com afecto e, resumindo, me é indiferente...»
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 92
Perdeu o rosto no amor
«Existe um mutilado, não de um combatente mas de um abraço, não da guerra mas da paz. Perdeu o rosto no amor e não no ódio.»
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 84
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 84
You must leave now, take what you need, you think will last
But whatever you wish to keep, you better grab it fast
Yonder stands your orphan with his gun
Crying like a fire in the sun
Look out the saints are comin’ through
And it’s all over now, Baby Blue
The highway is for gamblers, better use your sense
Take what you have gathered from coincidence
The empty-handed painter from your streets
Is drawing crazy patterns on your sheets
This sky, too, is folding under you
And it’s all over now, Baby Blue
All your seasick sailors, they are rowing home
All your reindeer armies, are all going home
The lover who just walked out your door
Has taken all his blankets from the floor
The carpet, too, is moving under you
And it’s all over now, Baby Blue
Leave your stepping stones behind, something calls for you
Forget the dead you’ve left, they will not follow you
The vagabond who’s rapping at your door
Is standing in the clothes that you once wore
Strike another match, go start anew
And it’s all over now, Baby Blue
- JÁ NÃO VIVE NINGUÉM NA CASA - DIZES-ME -
«- Já não vive ninguém na casa - dizes-me -; todos partiram. A sala, o quarto, o pátio jazem despovoados. Já não resta ninguém, pois todos partiram.
E eu digo-te: Quando alguém parte, alguém fica. O ponto por onde passou um homem, já não está só. Unicamente está só, de solidão humana, o lugar por onde nenhum homem passou. As casas novas estão mais mortas que as velhas, porque as suas paredes são de pedra ou de aço, mas não de homens. Uma casa vem ao mundo não quando acabam de edificá-la, mas quando começam a habitá-la. Uma casa vive unicamente de homens, como um sepulcro. Daqui essa irresistível semelhança que há entre uma casa e um sepulcro. Somente que a casa se nutre da vida de um homem, enquanto que o sepulcro se nutre da morte do homem. Por isso a primeira está de pé, enquanto o segundo está deitado.
Todos partiram da casa, na realidade, mas todos na verdade ficaram. E não é a recordação deles o que fica, mas eles mesmos. E não é tão-pouco que eles fiquem na casa, mas que continuam pela casa. As funções e os actos partem da casa, de comboio ou de avião ou a cavalo, a pé ou arrastando-se. O que continua na casa é o órgão, o agente em gerúndio e em círculo. Os passos partiram, os beijos, os perdões, os crimes. O que continua na casa é o pé, os lábios, os olhos, o coração. As negações e as afirmações, o bem e o mal, dispersaram-se. O que continua na casa é o sujeito do acto.»
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 83
VOU FALAR DA ESPERANÇA
Eu não sofro esta dor como César Vallejo. Não padeço agora como artista, como homem nem como simples ser vivo sequer. Eu não sofro esta dor como católico, como maometano nem como ateu. Hoje sofro somente. Se não me chamasse César Vallejo, também sofreria esta mesma dor. Se não fosse artista, também a sofreria. Se não fosse homem nem ser vivo sequer, também a sofreria. Se não fosse católico, nem ateu nem maometano, também a sofreria. Hoje sofro deste mais fundo. Hoje sofro somente.
Padeço agora sem explicações. A minha dor é tão funda que não teve sequer causa nem carece de causa. Qual seria a sua causa? Onde está aquilo tão importante que deixasse de ser a sua causa? Nada é a sua causa; nada pôde deixar de ser a sua causa. Para que nasceu esta dor, por si mesma? Minha dor é do vento do norte e do vento do sul, como esses ovos neutros que algumas aves estranhas põem do vento. Se tivesse morrido a minha noiva, a minha dor seria igual. Se a vida fosse, enfim, de modo diferente, a minha dor seria igual. Hoje sofro desde mais alto. Hoje sofro somente.
Olho a dor do faminto e vejo que a sua fome anda tão longe do meu sofrimento, que por ficar em jejum até morrer, sairia sempre da minha sepultura uma fibra de erva, pelo menos. Do mesmo modo, o enamorado. Que sangue o seu mais engendrado, para o meu sem fonte sem consumo!
Eu cria até agora que todas as coisas do universo eram, inevitavelmente, pais ou filhos. Mas eis que a minha dor de hoje não é pai nem filho. Falta-lhe dorso para anoitecer, tanto como lhe sobra peito para amanhecer, e se a pusessem num quarto escuro não daria à luz e se a pusessem num quarto luminoso não daria sombra. Hoje sofro, suceda o que suceder. Hoje sofro somente.»
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 79/80
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
«Rezei à arvore», disse a criança.
«Reza sempre a uma árvore», disse o jardineiro, pensando no Calvário e no Éden.
«Rezo à árvore todas as noites.»
«Reza a uma árvore.»
O arame escorregou nos dentes.
«Eu rezo àquela árvore.»
O arame rebentou.
(...)
«Deus cresce em lugares estranhos», disse o velho. «As árvores d'Ele vêm ficar a lugares estranhos.»
À medida que ele ia desenrolando a história dos doze passos da cruz, a árvore acenou os ramos à criança. Uma voz de apóstolo elevou-se dos pulmões poluídos.
Então içaram-no a uma árvore e espetaram-lhe cravos na barriga e nos pés.
Havia o sangue do sol do meio-dia no tronco da antiga, manchando a casca.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p.24/5
«Estendeu a mão e acariciou o escuro, pensando sentir uma cabeça seca e de veludo deslizar sob os dedos e alojar-se, como nevoeiro, nas unhas. Mas nada havia. Abriu a porta da frente e as sombras escaparam para o jardim.»
Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa, p.22
mondar
conjugação
verbo transitivo
1. arrancar (ervas nocivas) de junto dos cereais; limpar
2. cortar (ramos secos ou desnecessários); desramar
3. desbastar (frutos ou plantas, quando, pela demasia, se prejudicam mutuamente)
4. figurado expurgar de tudo o que é supérfluo ou prejudicial
5. figurado corrigir
verbo intransitivo
fazer a monda
(Do latim mundāre, «limpar; purificar»)
verbo transitivo
1. arrancar (ervas nocivas) de junto dos cereais; limpar
2. cortar (ramos secos ou desnecessários); desramar
3. desbastar (frutos ou plantas, quando, pela demasia, se prejudicam mutuamente)
4. figurado expurgar de tudo o que é supérfluo ou prejudicial
5. figurado corrigir
verbo intransitivo
fazer a monda
(Do latim mundāre, «limpar; purificar»)
sábado, 16 de novembro de 2013
A VIOLÊNCIA DAS HORAS
Todos morreram.
Morreu D.Antónia, a rouca, que fazia pão barato na cidade.
Morreu no padre Santiago, que gostava de ser saudado pelos rapazes e as raparigas, respondendo a todos, fosse a quem fosse: «Bons dias, José! Bons dias, Maria!»
Morreu aquela jovem loura, Carlota, deixando um filhinho de meses, que também morreu, oito dias após a mãe.
Morreu minha tia Albina, que costumava cantar tempos e modos de herdade, enquanto costurava nas galerias, para Isidora, a criada de profissão, a honradíssima mulher.
Morreu um velho zarolho, não me lembro do nome, mas dormia ao sol da manhã, sentado à porta do funileiro da esquina.
Morreu Raio, o cão da minha altura, ferido por uma bala de não se sabe quem.
Morreu Lucas, meu cunhado nas paz das cinturas, de que me lembro quando chove e não há ninguém na minha experiência.
Morreu no meu revólver minha mãe, em meu punho a minha irmã e meu irmão na víscera sangrenta, os três ligados por um género triste de tristeza, no mês de Agosto de anos sucessivos.
Morreu o músico Méndez, alto e muito bêbedo, que solfejava no seu clarinete tocatas melancólicas, a cujo articulado adormeciam as galinhas do meu bairro, muito antes do pôr do Sol.
Morreu minha eternidade e eu estou a velá-la.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 75
Morreu D.Antónia, a rouca, que fazia pão barato na cidade.
Morreu no padre Santiago, que gostava de ser saudado pelos rapazes e as raparigas, respondendo a todos, fosse a quem fosse: «Bons dias, José! Bons dias, Maria!»
Morreu aquela jovem loura, Carlota, deixando um filhinho de meses, que também morreu, oito dias após a mãe.
Morreu minha tia Albina, que costumava cantar tempos e modos de herdade, enquanto costurava nas galerias, para Isidora, a criada de profissão, a honradíssima mulher.
Morreu um velho zarolho, não me lembro do nome, mas dormia ao sol da manhã, sentado à porta do funileiro da esquina.
Morreu Raio, o cão da minha altura, ferido por uma bala de não se sabe quem.
Morreu Lucas, meu cunhado nas paz das cinturas, de que me lembro quando chove e não há ninguém na minha experiência.
Morreu no meu revólver minha mãe, em meu punho a minha irmã e meu irmão na víscera sangrenta, os três ligados por um género triste de tristeza, no mês de Agosto de anos sucessivos.
Morreu o músico Méndez, alto e muito bêbedo, que solfejava no seu clarinete tocatas melancólicas, a cujo articulado adormeciam as galinhas do meu bairro, muito antes do pôr do Sol.
Morreu minha eternidade e eu estou a velá-la.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 75
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
LXXV
Estais mortos.
Que estranha maneira de estar mortos. Quem quer que seja
diria que não o estais. Mas, na verdade, estais mortos.
Flutuais nadamente por trás dessa membrana que, pêndulo
do zénite ao nadir, vem e vai de crepúsculo a crepúsculo,
vibrando diante da sonora caixa de uma ferida que não vos
dói. Digo-vos, pois, que a vida está no espelho, e que sois o
original, a morte.
Enquanto a onda vai, enquanto a onda vem, quão
impunemente se está morto. Só quando as águas se
quebram, nas margens enfrentadas e se dobram e dobram,
então transfigurai-vos e, julgando morrer, descobris a sexta
corda que já não é vossa.
Estais mortos, não tendo nunca antes vivido. Quem quer
que seja diria que, não sendo agora, fosses em outro tempo.
Mas, em verdade, vós sois os cadáveres de uma vida que
nunca foi. Triste destino. O não ter sido senão mortos
sempre. O ser folha seca sem ter sido verde jamais.
Orfandade de orfandades.
E contudo, os mortos não são, não podem ser cadáveres
de uma vida que ainda não viveram. Morreram sempre de
vida.
Estais mortos.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 70
Que estranha maneira de estar mortos. Quem quer que seja
diria que não o estais. Mas, na verdade, estais mortos.
Flutuais nadamente por trás dessa membrana que, pêndulo
do zénite ao nadir, vem e vai de crepúsculo a crepúsculo,
vibrando diante da sonora caixa de uma ferida que não vos
dói. Digo-vos, pois, que a vida está no espelho, e que sois o
original, a morte.
Enquanto a onda vai, enquanto a onda vem, quão
impunemente se está morto. Só quando as águas se
quebram, nas margens enfrentadas e se dobram e dobram,
então transfigurai-vos e, julgando morrer, descobris a sexta
corda que já não é vossa.
Estais mortos, não tendo nunca antes vivido. Quem quer
que seja diria que, não sendo agora, fosses em outro tempo.
Mas, em verdade, vós sois os cadáveres de uma vida que
nunca foi. Triste destino. O não ter sido senão mortos
sempre. O ser folha seca sem ter sido verde jamais.
Orfandade de orfandades.
E contudo, os mortos não são, não podem ser cadáveres
de uma vida que ainda não viveram. Morreram sempre de
vida.
Estais mortos.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 70
terça-feira, 12 de novembro de 2013
LVII
Caracterizados os pontos mais altos, os pontos
do amor, de ser maiúsculo, belo, jejuo, ab-
sorvo heroína para a dor, para o latejo
laço e contra a correcção.
Posso dizer que nos atraiçoaram? Não.
Que todos foram bons? Tão-pouco. Mas
ali está uma boa vontade, sem dúvida,
e, sobretudo, o ser assim.
E que quem se ame muito! Procuro-me
em meu próprio desígnio que devia ser obra
minha, em vão: nada conseguiu ser livre.
E contudo, quem me impele.
A que não me atrevo a fechar a quinta janela.
E o papel de amar-se e persistir junto às
horas e ao indevido
E o este e o aquele.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 63
do amor, de ser maiúsculo, belo, jejuo, ab-
sorvo heroína para a dor, para o latejo
laço e contra a correcção.
Posso dizer que nos atraiçoaram? Não.
Que todos foram bons? Tão-pouco. Mas
ali está uma boa vontade, sem dúvida,
e, sobretudo, o ser assim.
E que quem se ame muito! Procuro-me
em meu próprio desígnio que devia ser obra
minha, em vão: nada conseguiu ser livre.
E contudo, quem me impele.
A que não me atrevo a fechar a quinta janela.
E o papel de amar-se e persistir junto às
horas e ao indevido
E o este e o aquele.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 63
XV
Naquele canto, onde tantas noites
dormimos juntos, vim sentar-me agora,
a caminhar. A cama dos noivos mortos
foi retirada, ou passou-se talvez alguma coisa.
Vieste cedo para outros assuntos
e já não estás aqui. Este é o canto
onde a teu lado uma noite li,
entre teus ternos pontos,
um conto de Daudet. É o canto
amado. Não o confundas.
Pus-me a lembrar aqueles dias
de verão passados, teu entrar e sair,
pequena e cansada e pálida nos quartos.
Nesta noite chuvosa,
já longe de nós dois, salto de súbito...
São duas portas abrindo-se fechando-se
duas portas que vão ao vento vão e vêm
sombra a sombra.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 44
dormimos juntos, vim sentar-me agora,
a caminhar. A cama dos noivos mortos
foi retirada, ou passou-se talvez alguma coisa.
Vieste cedo para outros assuntos
e já não estás aqui. Este é o canto
onde a teu lado uma noite li,
entre teus ternos pontos,
um conto de Daudet. É o canto
amado. Não o confundas.
Pus-me a lembrar aqueles dias
de verão passados, teu entrar e sair,
pequena e cansada e pálida nos quartos.
Nesta noite chuvosa,
já longe de nós dois, salto de súbito...
São duas portas abrindo-se fechando-se
duas portas que vão ao vento vão e vêm
sombra a sombra.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 44
XIII
Penso em teu sexo.
Simplificado o coração, penso em teu sexo,
diante a ilharga madura do dia.
Apalpo o botão de gozo, está maduro.
E morre um sentimento antigo
degenerado em prudência.
Penso em teu sexo, sulco mais prolífico
e harmonioso que o ventre da Sombra,
embora a Morte conceba e dê à luz
do próprio Deus.
Oh Consciência,
penso, sim, no bicho livre
que goza onde quer, onde pode.
Oh, escândalo de mel dos crepúsculos.
Oh estrondo mudo.
Odumodnortse!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 43
Simplificado o coração, penso em teu sexo,
diante a ilharga madura do dia.
Apalpo o botão de gozo, está maduro.
E morre um sentimento antigo
degenerado em prudência.
Penso em teu sexo, sulco mais prolífico
e harmonioso que o ventre da Sombra,
embora a Morte conceba e dê à luz
do próprio Deus.
Oh Consciência,
penso, sim, no bicho livre
que goza onde quer, onde pode.
Oh, escândalo de mel dos crepúsculos.
Oh estrondo mudo.
Odumodnortse!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 43
ÁGAPE
Hoje ninguém veio perguntar alguma coisa;
nem nesta tarde ninguém me pediu nada,
Não vi sequer uma flor de cemitério
em tão alegre procissão de luzes.
Perdoa-me Senhor: morri tão pouco!
Nesta tarde todos, todos passam
sem nada me perguntar nem pedir nada.
E não sei o que esquecem e que fica
e minhas mãos tão mal, qual coisa alheia.
Saí até à porta,
tenho vontade de gritar a todos:
Se alguma coisa vos falta, ela está aqui!
Porque em todas as tardes desta vida,
não sei que portas nos atiram na cara
e algo estranho se apodera da minha alma.
Não veio ninguém hoje;
e que pouco hoje nesta tarde morri!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 32
nem nesta tarde ninguém me pediu nada,
Não vi sequer uma flor de cemitério
em tão alegre procissão de luzes.
Perdoa-me Senhor: morri tão pouco!
Nesta tarde todos, todos passam
sem nada me perguntar nem pedir nada.
E não sei o que esquecem e que fica
e minhas mãos tão mal, qual coisa alheia.
Saí até à porta,
tenho vontade de gritar a todos:
Se alguma coisa vos falta, ela está aqui!
Porque em todas as tardes desta vida,
não sei que portas nos atiram na cara
e algo estranho se apodera da minha alma.
Não veio ninguém hoje;
e que pouco hoje nesta tarde morri!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 32
O eu e o não-eu
«O eu e o não-eu de Fichte travam um terrível combate neste espírito cheio de objectividade.»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 47
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 47
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
''Não é ainda este o último abismo.''
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 44
''levando no pensamento o vão fantasma desta noite''
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 43
«espectros onde sangra ainda o lugar do amor»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 32
« - deixai-o embriagar-se com o triunfo que acaba de obter, pois possui todos os recursos da dialéctica e, com ele, não tereis nunca a última palavra sobre o que quer que seja.»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 19
dialéctica
nome feminino
1. arte de argumentar ou discutir, através do raciocínio e com o objectivo de demonstrar algo
2. pejorativo argumentação enganosa e subtil
3. FILOSOFIA processo de um pensamento que toma consciência de si mesmo e se exprime por afirmações antitéticas que uma síntese englobante procura reduzir
4. FILOSOFIA processo de um pensamento ou de um devir que progride por uma alternância de movimentos de sentido inverso ou por um jogo de causalidade recíproca
5. FILOSOFIA método para compreender o objecto de um estudo, que consiste em colocá-lo de novo na realidade movente, histórica, concreta
6. FILOSOFIA (Aristóteles) dedução a partir de proposições simplesmente prováveis
7. FILOSOFIA (Escolásticos) lógica formal
8. FILOSOFIA (Kant) lógica de aparência
9. FILOSOFIA (Hegel, Marx) processo pelo qual o pensamento (que se confunde com o ser) se desenvolve segundo um ritmo ternário: tese, antítese, síntese
(Do grego dialektiké (tékhne), «a arte de discutir», pelo latim dialectĭca-, «dialética»)
1. arte de argumentar ou discutir, através do raciocínio e com o objectivo de demonstrar algo
2. pejorativo argumentação enganosa e subtil
3. FILOSOFIA processo de um pensamento que toma consciência de si mesmo e se exprime por afirmações antitéticas que uma síntese englobante procura reduzir
4. FILOSOFIA processo de um pensamento ou de um devir que progride por uma alternância de movimentos de sentido inverso ou por um jogo de causalidade recíproca
5. FILOSOFIA método para compreender o objecto de um estudo, que consiste em colocá-lo de novo na realidade movente, histórica, concreta
6. FILOSOFIA (Aristóteles) dedução a partir de proposições simplesmente prováveis
7. FILOSOFIA (Escolásticos) lógica formal
8. FILOSOFIA (Kant) lógica de aparência
9. FILOSOFIA (Hegel, Marx) processo pelo qual o pensamento (que se confunde com o ser) se desenvolve segundo um ritmo ternário: tese, antítese, síntese
(Do grego dialektiké (tékhne), «a arte de discutir», pelo latim dialectĭca-, «dialética»)
« o que não tinha remédio remediado estava»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 173
«Depois, passando do amargo sarcasmo à cólera, fez a singular declaração de que o «verme morde quando é pisado»; e, por fim, entregou-se a um terno pesar dizendo que se, ao menos, os culpados tivessem confiando nela, quantas coisas não lhes poderia ela ter sugerido!»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 172
domingo, 10 de novembro de 2013
Com o tempo, a paixão das grandes viagens apaga-se ...
« Com o tempo, a paixão das grandes viagens apaga-se, a menos que tenhamos viajado tanto tempo que nos tornemos estranhos à pátria. O círculo estreita-se cada vez mais, aproximando-se pouco a pouco do lar. - Não podendo afastar-me muito nesse Outono, formara o projecto de uma simples viagem a Meaux.»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 17
já tive que ferir e defender-me
«Como sabem, não sou de muitas meiguices; já tive que ferir e defender-me. Várias vezes resisti e ataquei - a única forma, afinal, de resistir - sem atender ao preço e para acatar exigências deste género da vida em que fiz a asneira de me meter. Já vi o demónio da violência, o demónio da cupidez, o demónio do mais incendiado desejo, mas - por todas as estrelas do céu!- estes demónios fortes, vigorosos, com o olhar vermelho que domina e atiça os homens - digo homens, reparem lá bem.»
Joseph Conrad. O Coração das Trevas. Tradução e Introdução de Aníbal Fernandes.
Editorial Estampa, Lisboa, 1983., p. 31
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escritor britânico de origem polaca,
Joseph Conrad
sábado, 9 de novembro de 2013
« V. - Não preciso de vo-lo dizer; revelo-me, como já alguém afirmou, pela fronte e pelo olhar e, se alguém me quisesse tomar por Minerva ou pela Sabedoria, desenganá-lo-ia, sem precisar de discursos, com um único olhar, pois o espelho da alma é sempre o menos enganador. Nunca simulo no rosto o que me não vai no coração. Sou sempre igual a mim própria e nunca uso de disfarce, como os que pretendem passar por sábios e se passeiam como macacos vestidos de púrpura ou asnos cobertos com uma pele de leão. Qualquer que seja o disfarce, as orelhas acabam sempre por atraiçoar o velho Midas.»
Midas - desesperado com as suas orelhas, procurou escondê-las. O segredo foi descoberto pelo barbeiro, que, não podendo guardá-lo, resolveu cavar um buraco e aí o ocultar. Porém, as roseiras que cresceram nesse local repetiam a quem passava, sempre que o vento as abanava, o segredo das orelhas de Midas.
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 18/9
«Agrada-me fazer de sofista à vossa frente, não porém como aqueles que metem na cabeça dos jovens bagatelas enfadonhas e os ensinam a discutir com mais teimosia que as mulheres.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 16
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 16
sofisma
nome masculino
1. FILOSOFIA, LÓGICA erro de pensamento em que, deliberadamente, se empregam argumentos falsos, com aparência de verdadeiros; falácia
2. qualquer argumentação que procura induzir alguém em erro
3. popular ato de má-fé usado para enganar alguém; dolo, engano
(Do grego sóphisma, «subtileza de sofista», pelo latim sophisma, «idem»)
«Quando vos vejo agora, ébrios do néctar dos deuses de Homero, misturado a um pouco de nepentes, enquanto, há um momento ainda, estáveis para aí sentados, inquietos e tristes, como se acabásseis de chegar do antro de Trofónio.»
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nepentes - planta, cujo suco, misturado ao vinho, provocaria o esquecimento das preocupações e cuidados.
Trofónio - Legendário assassino, em cujo antro se encontrava um oráculo cuja consulta provocaria a tristeza para toda a vida.
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 15
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
« - Sim, tenciono dar-lhe a maior prova de ternura que me for possível e fazer-lhe a maior reparação. Para conseguir o meu fim, libertá-la-ei do sofrimento diário de um casamento desigual e da luta que lhe impõe o ter de o esconder. Ficará tão livre quanto estiver na minha mão fazê-lo.»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 143
terça-feira, 5 de novembro de 2013
«Pode ser a sua paciente companheira na velhice e nos achaques que a acompanham; a sua desvelada enfermeira na doença, a sua constante amiga no sofrimento e nos desgostos; trabalhar incansavelmente para o ajudar e por amor dele; velar por ele, consolá-lo...sentar-se junto do seu leito e conversar com ele, quando estiver acordado, e pedir a Deus por ele, quando estiver dormindo - que privilégios! Que de oportunidades para lhe provar a lealdade do seu amor. Será ela pessoa para fazer tudo isto?»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 82
« (...) mas os seus desolados pensamentos não se manifestaram em palavras.»
«Três ou quatro vezes sacudiu a cabeça como se lamentasse a perda de qualquer pessoa ou recordação, mas os seus desolados pensamentos não se manifestaram em palavras.»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 78/9
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 78/9
«-Diz o provérbio que, quando um pássaro sabe cantar e não quer, é preciso forçá-lo - rosnou Tackleton. - E que dirá o provérbio do mocho que não sabe cantar, que não deve cantar e que teima em cantar? A esse não há nada que se lhe obrigue a fazer?»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 74
«A sua alma perversa regalava-se com essas fantasias macabras.
Eram o seu único alívio e a sua válvula de segurança, e revelava-se magistral nessas invenções. Tudo o quanto sugerisse monstruosidade, fantasmagoria, bruxedo, deliciava-o. »
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p.
Eram o seu único alívio e a sua válvula de segurança, e revelava-se magistral nessas invenções. Tudo o quanto sugerisse monstruosidade, fantasmagoria, bruxedo, deliciava-o. »
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
domingo, 3 de novembro de 2013
«Clara adormece umas ruas mais à frente com a mesma imagem perfurada. O toque do telefone trespassa-lhe o sono. Os cravos inchados de vermelho erguem-se no escuro, a água brilha dentro da jarra. Estou em Viena, diz Pavel, em breve irá alguém a tua casa e dar-te-á o meu endereço e um passaporte, tens de vir imediatamente, senão já cá não estarei.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 232/3
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Já então a raposa era o caçador
«Eras capaz de abrir os dois cadáveres, perguntou Adina, Paul abriu e fechou a tesoura das unhas, seria pior do que ter de olhar as entranhas da minha mãe e do meu pai, disse ele. O meu pai batia-me muitas vezes, eu tinha medo dele. Às refeições, quando eu via a sua mãe segurar o pão, o meu medo passava. Nesse momento ele era como eu, nesse momento éramos iguais. Mas quando me batia, eu não conseguia imaginar que era também com aquela mão que ele levava o pão à boca.
Paul respirou fundo do cansaço de tantos dias. No lugar onde outros têm o coração, eles têm um cemitério, disse Adina, só têm mortos entre as suas têmporas, pequenos e sanguinolentos como framboesas enregeladas. Paul esfregou as lágrimas dos olhos, causam-me repugnância e eu sinto-me compelido a chorá-los. De onde vem esta comiseração, pergunta ele.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 232
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