terça-feira, 5 de maio de 2020

sevandija

se.van.di.ja
səvɐ̃ˈdiʒɐ
nome feminino
designação extensiva a todos os animais imundos e parasitas
nome de 2 géneros
1.
pessoa que vive à custa de outrem, parasita
2.
pessoa servil, que se deixa humilhar
3.
pessoa vil, desprezívelpatife
com todas as veras
com toda a força, com vontade, com empenho

''caldo de osso''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 37

''com a alma na boca''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 36

''represálias escarninhas''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 36

res.mo.ne.ar

«O que o confundia nesse olhar dela, que o atravessava, que o ignorava, era a ausência momentânea de ódio, banido pelo afluxo, pela amargura, pelo ardor, de uma irresistível saudade.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 32

Albert Rudomine. UNTITLED (ORIGINE DU MONDE), circa 1930


«Espevitou os carvões, na braseira que aquele Fevereiro áspero ainda requeria, e, sentindo um calor de sono, de exaustação, começar a possuí-la nebulosamente, abandonou-se, abençoou a brandura desse cair do pano, essa trégua fisiológica que era o melhor dos seus dias.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 31

a.gra.vo

«Todo ele intumescia nesse apetite de bater, de esmagar, de afirmar a sua justiça, se alguém ousava acicatar-lhe o orgulho, contestar-lhe a autoridade, a razão.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 31

''olhos sobrancelhudos''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 31
por acinte
de propósito, de caso pensado
«(...) cuspiu-lhe repetidas vezes para dentro, raivosamente, com um sorriso triste, mole, e falso, de cadela espancada e acovardada.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 30

segunda-feira, 4 de maio de 2020

«E sabia, entretanto, visceralmente que o amava no próprio ódio (que fora o crime a alavanca sagrada desse horrível amor), nesses mesmos predicados físicos e morais que tanto a enojavam.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 29

grenha

Village, nd Albert Rudomine


«Ficou só um castelo de cinza crepitando mansamente, num silêncio de redoma.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 27/8
« A sombra das chamas, como um ninho de víboras, floria de remorso - mas que remorso? - e de saudade absurda a alvura em fuga da parede caiada, apojada de grumos que aquele luzeiro avolumava e que sempre eram, um por um, na hora da solidão, referências aos segredos antigos.
    Uma pequena fogueira num cinzeiro de louça. Apenas um papel a mirrar, já negro, encarquilhado, e sangrando ainda, pelo canto que sobrava, aquele resplendor de uma última e cínica despedida.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 27
On n'a de droit que sur les choses
Por lesquelles on a souffert

Robert de Montesquiou

''economia dramática''

Claude Michel Cluny

«Nomeemos pois um novo mundo e, nomeando-o, o recriaremos e, recriando-o, o transformaremos.»

Claude Michel Cluny no Prefácio do Livro: Bastardos do Sol, Urbano Tavares Rodrigues., p. 20

''energia instintual''

hipótese freudiana

«civilização repressiva»

Marcuse, Eros et civilisation, Editions de Minuit.

emasculação

''colinas glabras''

Nude Couple, 1930s. Albert Rudomine.


pro.pug.nar

obra apologética

«Aquilo por que Irisalva, a jovem que é o centro do romance, sofreu, é o direito a viver-livre, o direito à dignidade e à felicidade - e, destruída a felicidade, o direito a um refúgio na solidão.»


Claude Michel Cluny no Prefácio do Livro: Bastardos do Sol, Urbano Tavares Rodrigues., p. 13

«Se a iluminação da tragédia implica uma distância - e é uma luz crua de tragédia que se erguem os bastardos do sol, - a luz mais directa do testemunho ilumina bem a escolha de um tema que vai exigir do escritor, para ser expresso o mais intensamente possível que ele retire da narrativa a sua própria figura, apenas deixando frente a frente forças obscuras que emanam de uma espécie de mitologia social.»



Claude Michel Cluny no Prefácio do Livro: Bastardos do Sol, Urbano Tavares Rodrigues., p. 12/3

« Só temos direitos sobre as coisas pelas quais sofremos.»

Robert de Montesquiou

''excessiva consciência''


Claude Michel Cluny no Prefácio do Livro: Bastardos do Sol, Urbano Tavares Rodrigues., p. 12

«(...) realidade miserável em ficção trágica,»

Claude Michel Cluny no Prefácio do Livro: Bastardos do Sol, Urbano Tavares Rodrigues., p. 11

gin com laranja

« A obra tende a criar uma passagem da individualidade à pluralidade, da solidão de pensamento a uma consciência histórica partilhada: quaisquer que sejam os seus avatares e o seu alcance ou eficácia, foi a partir desta diferença que se manifestaram os romantismos nacionalistas do século XX tal como o sentimento do absurdo que nos é contemporâneo.»

Claude Michel Cluny no Prefácio do Livro: Bastardos do Sol, Urbano Tavares Rodrigues., p. 11

domingo, 3 de maio de 2020

“Mãos Mortas” de Howard Barker

“O Crime de Aldeia Velha” de Bernardo Santareno

mordaças sociais

The Unhappy Marriage of Mikhail Glinka


A iluminação da tragédia

« nunca fui nem serei camponês. Mas como poeta,
criatura de palavras, com um secreto rosto de feridas
e de estrelas, tenho também sobre esta terra os meus direitos.»

Urbano Tavares Rodrigues, na voz da personagem principal, na novela Terra Vermelha

«Portugal é um país imóvel num mundo revolto.»

Claude Michel Cluny no Prefácio do Livro: Bastardos do Sol, Urbano Tavares Rodrigues
dar sebo nas botas
coloquial fugir apressadamente

não se pode cair na pieguice


Mais l'implacable Vénus regarde au loin
je ne sais quoi avec ses yeux de marbre.

Charles Baudelaire
«(...), mas haveis de sobreviver também vazios nesse mundo vazio, sem sequer o humano conforto da dor.»

Inimigo Rumor. Manuel Resende. Livros Cotovia., p. 82

«Tu sempre aqui a reviver os mesmos momentos, como quem revira o colarinho gasto duma camisa velha, querendo dar-lhe nova vida, mas só para o gastar ainda mais.»

Inimigo Rumor. Manuel Resende. Livros Cotovia., p. 81
« Tu que, ao cruzares uma desconhecida, sentes crescer em ti uma roseira de luz. Tu cujas mãos choram de alegria diante de um gato só por ser gato.»

Inimigo Rumor. Manuel Resende. Livros Cotovia., p. 80

''O meu coração que odiava a guerra'' - disse o poeta.

''O meu coração que odiava a guerra'' - disse o poeta. E quando deixou de a odiar, entrou-lhe dentro o sangue do inimigo, a voz do inimigo, o coração do inimigo, do odiado odioso inimigo. É esse o momento do perigo e temos de passar por ele.» 

Inimigo Rumor. Manuel Resende. Livros Cotovia., p. 80

corpos despossuídos



«Civilização, quero ser, quero ser, o único escravo no teu mundo de homens livres.»

Inimigo Rumor. Manuel Resende. Livros Cotovia., p. 79

''Vós sabeis que não queremos a verdade,''

Inimigo Rumor. Manuel Resende. Livros Cotovia., p. 78

«Quero levar-te comigo, porque é preciso gritar à beira do abismo, inaudito dom de humanidade, tu, outra voz que só morrerá de viver noutras vozes.»

Inimigo Rumor. Manuel Resende. Livros Cotovia., p. 78

sábado, 2 de maio de 2020

insaciado – «apetite vital de «sentido» para a existência».

''deambulações polissémicas''

''incessante desafio e risco hermenêuticos''

A Noite Passada - Sérgio Godinho

A noite passada acordei com o teu beijo
Descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
Vinhas numa barca que não vi passar
Corri pela margem até à beira do mar
Até que te vi num castelo de areia
Cantavas: "Sou gaivota e fui sereia"
Ri-me de ti: "Então porque não voas?"
E então tu olhaste
Depois sorriste
Abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
A viola irmã cuidou de me arrastar
Chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
Olhei para baixo dormias lá no fundo
Faltou-me o pé senti que me afundava
Por entre as algas teu cabelo boiava
A lua cheia escureceu nas águas
E então falámos
E então dissemos
Aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
Pela fresta aberta o meu peito fugiu
Estavas do outro lado a tricotar janelas
Vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
Cheguei-me a ti disse baixinho: "Olá!"
Toquei-te no ombro e a marca ficou lá
O sol inteiro caiu entre os montes
E então olhaste
Depois sorriste
Disseste: "Aínda bem que voltaste!"

Compositores: Sergio De Barros Godinho

O ethos ensaístico lourenciano

, a ausência de dogmatismo

''Em princípio, todo o português que sabe ler e escrever se acha apto para tudo, e o que é mais espantoso é que ninguém se espante com isso.''

LOURENÇO, 2005: «Somos um povo de pobres com mentalidade de ricos».

sexta-feira, 1 de maio de 2020

quinta-feira, 30 de abril de 2020


‘‘Pain is inevitable; suffering is optional’’ (author unknown)

quarta-feira, 29 de abril de 2020


Três poemas de Carlos Bessa

Linha do horizonte
 
Crescer, sair de casa
para os fantasmas da rua e
envelhecer, na tortura
da meteorologia. Do que muda.
 
O medo, qual linha contínua,
porque a infância, os sonhos,
o peso da genealogia.
 
Dores e rugas, ruas e mais ruas,
com os seus becos e paredes sujas.
O medo sempre, essa moldura.
 
O medo de demolir, o medo do novo,
de não estar à altura.
O medo da tradição e do ridículo.
 
E mesmo assim querer. Querer muito.
Um lugar no tempo,
um quinhão do negócio,
um lugar na comitiva.

*

Religião
 
Às vezes o ódio, algodão doce,
os pequenos tons.
O nojo em todo o seu esplendor.
 
A tradição de passar por baixo,
porque há um código de bem servir,
porque o vazio tem o dom de encher.
 
Dizem, és sábio. E sorriem,
como é próprio do reconhecimento
entre lobos.
 
Os nomes são apenas isso, operações,
maneiras de transformar o medo,
de conduzir os rebanhos.
 
Todos os impérios se servem do mesmo.
Todos soçobram com estrondo.
Apêndices, adereços, notas de rodapé.

*

Dissimulação
 
A dor tem capítulos, muitos. Um cúmulo eloquente,
sonoro. Durante.
Dá nas vistas? Sim e não,
porque alcança, porque se perde.
E permanece, precisa de provar o arrependimento,
precisa de louvar a festa.
A dor, contraditória, elegante.
Persistente.

Em 1520, o rei Francis I da França usava um fato de veludo preto com 13.400 botões dourados.

Sementes de Boca-de-Leão

Tigela de Ágate

Inimigo Rumor. Marcos Siscar. Livros Cotovia., p. 74

Às vezes, em jeito de desabafo, diz que lhe dói essa gente que, por nada sentir, de tudo tenta fazer uma arena ou um circo.


«Sempre leu muito, mas nunca exibiu nem livros nem leituras. Publicou um ou dois de poesia. Cada vez mais só e com os mesmos problemas de sempre, continua a procurar palavras que não obscureçam o mundo. Sabe que as palavras, como os gestos, são eleições e que quem ama outrém tenta falar-lhe tão naturalmente quando lhe é possível. Às vezes, em jeito de desabafo, diz que lhe dói essa gente que, por nada sentir, de tudo tenta fazer uma arena ou um circo.»


Inimigo Rumor. Carlos Bessa. Livros Cotovia., p. 73
«O Inverno, estação de um recolhimento todo cobertores, que faz da cama um lento e longo sussurro ( e estamos a falar de um tempo sem televisão e de poucos rádios), propícios aos sonhos, a essa outra maneira de viver tão comum entre misantropos e solidários. Que se deixam ir no rasto de caminhos sombrios e zonas escuras em que há muito mapearam o seu próprio interior. Que felicidade, pois, a do calor ruidoso, quando não luxuriante, dos livros, embora estes pouco mais façam do que agravar doenças e despertar fantasias.»

Inimigo Rumor. Carlos Bessa. Livros Cotovia., p. 72
«Por sorte, quando os tempos pouco mais são do que aridez, a caserna torna-se casa.»

Inimigo Rumor. Carlos Bessa. Livros Cotovia., p. 72

'' O que vai escrito no corpo, a amante não corrige.''

Inimigo Rumor. Fabrício Carpinejar. Livros Cotovia., p. 71

terça-feira, 28 de abril de 2020

areópago

nome masculino
1.
HISTÓRIA (Grécia antiga) antigo tribunal de Atenas onde se reunia o conselho dos anciãos
2.
assembleia de homens eminentes
3.
colina de Atenas onde se reunia o conselho dos anciãos, a que também se dava o mesmo nome

12- Maré alta

Letra e música de Sérgio Godinho

Aprend'a nadar, companheiro
aprend'a nadar, companheiro
que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta
(Aprend'a nadar,...)
(Aprend'a nadar,...)
Aprend'a nadar, companheiro
aprend'a nadar, companheiro
que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui

10- A linda Joana

Letra e música de Sérgio Godinho

Olhai a linda Joana
que linda que ela vai
com pombas no vestido
que muito bem lhe cai
e rolas na garganta
que ao cantar encanta
Que é da manta, qu'é da manta
levou-a pra dormir
Três homens a seguem
qual será seu
ai sim, ai não, ai sim, que sou eu
Olhai a feia Alcina
que feia que ela vai
com corvos no vestido
que muito mal lhe cai
e corujas na garganta
que os pardais espanta
Que é da manta, qu'é da manta
levou-a pra dormir
Três homens a seguem
qual será seu
ai não, ai sim, ai não, não sou eu
(Olhai a linda...)
Olhai a linda Joana
que linda que ela vai

11- Romance de um dia na estrada

Letra e música de Sérgio Godinho

Andava há já vinte dias
ao frio, ao vento e à fome
às escondidas da sorte
um dia fraco, outro forte
qu'o dia em que se não come
é um dia a menos pr'á morte
Um dia fraco, outro forte
Um dia fraco, outro forte
Quando um barulho de cama
a voltar-se d'impaciente
me fez parar de repente
era noite e o casarão
não tinhas lados nem frente
dentro havia luz e pão
Me fez parar de repente
Me fez parar de repente
Ó da casa, abram-m'a porta
fiz as luzes se apagarem
cheguei-me mais à janela
vi acender-se uma vela
passos de mulher andarem
e uma mulher muito bela
chegou-se mais à janela
chegou-se mais à janela
Não tenhas medo, eu não trago
nem ódio nem espingardas
trago paz numa viola
quase que não fui à escola
mas aprendi nas estradas
o amor que te consola
Trago paz numa viola
Trago paz numa viola
Meu marido foi pra longe
tomar conta das herdades
ela disse "Companheiro"
eu disse "Vem", ela "Tu primeiro"
"Tu que me falas de estradas"
"E eu só conheço um carreiro"
Ela disse "Companheiro"
Ela disse "Companheiro"
A contas com a nossa noite
afundados num colchão
entre arcas e um reposteiro
descobrimos um vulcão
era o mês de Fevereiro
e o Inverno se fez Verão
Descobrimos um vulcão
Descobrimos um vulcão
E eu que falava de estradas
e só conhecia atalhos
e ela a mostrar-me caminhos
entre chaminés e orvalhos
pela manhã, sem agasalhos
voltei a rumos sozinhos
E ela a mostrar-me caminhos
E ela a mostrar-me caminhos
Andarei mais vinte dias
ao frio, ao vento e à fome
às escondidas da sorte
um dia fraco, outro forte
qu'o dia em que se não come
é um dia a menos pr'á morte
Um dia fraco, outro forte
Um dia fraco, outro forte
Um dia fraco, outro forte
Um dia fraco, outro forte
Um dia fraco, outro forte
Um dia fraco, outro forte

9- Cantiga da velha mãe e dos seus dois filhos

Letra de Sérgio Godinho
Música de José Mário Branco

Ai o meu pobre filho, que rico que é
ai o meu rico filho, que pobre que é
nascidos do mesmo ventre
um vive de joelhos pr'ó outro passar à frente
e esta velha mãe pr'áqui já no sol poente
Um dia há muito tempo, vi-os partir
levando cada um do outro o porvir
seguiram pla estrada fora
um voltou-se pra trás, disse adeus que me vou embora
voltaremos trazendo connosco a vitória
De que vitória falas, disse eu então
da que faz um escravo do teu irmão?
ou duma outra que rebenta
como um rio de fúria no peito feito tormenta
quando não há nada a perder no que se tenta?
Passaram muitos anos sem mais saber
nem por onde paravam, nem se por ter
criado os dois no mesmo chão
eram ainda irmãos, partilhavam ainda o pão
e o silêncio enchia de morte o meu coração
Depois vieram novas que o que vivia
da miséria do outro, se enriquecia
não foi pra isto que andei
dias que foram longos e noites que não contei
a lutar pra ter a justiça como lei
Às vezes rogo pragas de os ver assim
sinto assim uma faca dentro de mim
sei que estou velha e doente
mas para ver o mundo girar dum modo diferente
'inda sei gritar, e arreganhar o dente



Estou quase a ir embora, mas deixo aqui
duas palavras pra um filho que perdi
não quero dar-te conselhos
mas s'é o teu próprio irmão que te faz viver de joelhos
doa a quem doer, faz o que tens a fazer

8- Senhor marquês

Letra e música de Sérgio Godinho

Olhe pr'áqui uma vez
Senhor Marquês
do bairro da lata
está'gente farta
Senhor Marquês
e o nosso fim do mês
Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta
Ó da guarda, ladrões
plos meus brasões
ai meu Deus socorro
Jesus qu'eu morro
grita o Marquês
ninguém vem desta vez
Venha por aqui ver isto
Senhor Ministro
que estes bandidos
uns mal-nascidos
'inda sem dentes
e já delinquentes
Meta aqui o nariz
Senhor Juiz
nós somos bandidos
ou mal-nascidos?
Senhor Ministro
perdoe s'insisto
Se nós somos ladrões
temos razões
que não são as suas
são minhas, tuas
e d'outros mais
de muitos, muitos mais
(Olhe pr'áqui...)
Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta
pr'ó nosso fim do mês

7- Farto de voar

Letra e música de Sérgio Godinho

Farto de voar
pouso as palavras no chão
entro no mar
sinto o sal de mão em mão
Tenho um barco na vida espetado
só suspenso por fios dum lado
e do outro a cair
a cair
no arpão
no arpão
no arpão
Levo a dormir
os sonhos qu'andei pra trás
ergo o porvir
trago nos bolsos a paz
Tenho um corpo na morte espetado
só suspenso por balas dum lado
e do outro a escapar
a escapar
de raspão
de raspão
de raspão
Ponho a girar
cantos que ninguém encerra
de par em par
abro as janelas pr'á terra
Tenho um quarto na fome espetado
só suspenso por água dum lado
e do outro a cair
a cair
no alçapão
no alçapão
no alçapão



Farto de voar
pouso as palavras no chão
entro no mar
sinto o sal de mão em mão

6- O charlatão

Letra de Sérgio Godinho
Música de José Mário Branco

Numa rua de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama
anéis d'ouro a um tostão
enriquece o charlatão
No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f'rido
e outro em França anda perdido
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga
No beco dos mal-fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome
(É entrar,...)
Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-s'em quatro zonas
instalados em poltronas
Pr'á rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca d'alguns patacos
(É entrar,...)
Entre a rua e o país
vai o passo dum anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão
(É entrar,...)
É entrar, senhorias
É entrar, senhorias
É entrar, senho...

5- Que bom que é

Letra e música de Sérgio Godinho

Vivo c'uma faca espetada nas costas, ai!
que bom que é
que bom que é
que bom que é
Sentado à espera de D. Sebastião
a cadeira nem é minha, é do papão
que bom que ele é
que bom que ele é
- Um, dois, um-dois-três, paciência, fica pr'outra vez
Vivo com a fome entalada na garganta
que bom que é
que bom que é
que bom que é
Sentado à espera que o céu me dê pão
a cadeira, emprestou-ma o sacristão
que bom que ele é
que bom que ele é
- Um, dois, um-dois-três, paciência, fica pr'outra vez
Vivo com a guerra a bater à minha porta
que bom que é
que bom que é
que bom que é
Sentado à espera do obus dum canhão
a cadeira, emprestou-ma o capitão
que bom que ele é
que bom que ele é
- Um, dois, um-dois-três, paciência, fica pr'outra vez
Vivo a trabalhar nove dias por semana
que bom que é
que bom que é
que bom que é
Sentado à espera da revolução
a cadeira, emprestou-ma o meu patrão
que bom que ele é
que bom que ele é
- Um, dois, um-dois-três de Oliveira, quatro
Vivo c'uma faca enterrada nas costas, ai!
que bom que é
que bom que é
que bom que é
Sentado à espera de D. Sebastião
a cadeira nem é minha, é do papão
que bom que ele é
que bom que ele é
- Um, dois, um-dois-três, esta agora vai de, um, dois, um-dois-três, esta agora vai de vez, ai!

3- Descansa a cabeça (Estalajadeira)

Letra e música de Sérgio Godinho

Vem
entra na minha casa
come a carne, abre as gavetas
leva a roupa e as camisas e os postais
Vai
dizer ao fim do mundo
as palavras que escorreram
na garganta dos que gritaram demais
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Vim
ao mundo por acaso
em Portugal, não tenho pátria
sou sozinho e sou da cama dos meus pais
Sou
donde vos apetecer
sou do mar e sou do corpo
das mulheres estranguladas nos canais
(Descansa a cabeça,...)
Sei
fazer a guerra à guerra
sei histórias verdadeiras
sei resistir ao calor, aos temporais
Sei
rasgar quando é preciso
é preciso tantas vezes
duas vezes, outras tantas, muitas mais
(Descansa a cabeça,...)
Se ao
partir pla madrugada
tiver fome, matarei
para comer, roubarei os vossos quintais
Se ao
partir pla estrada fora
encontrar vida no mundo
pararei onde calhar, entre os mortais
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem t'oferece é estalajadeira

2- A-A-E-I-O

Letra e música de Sérgio Godinho

A-A-E-I-O vai para a neta o que foi d'ávó
A-A-E-I-O vai para a neta o que foi d'ávó
A vida de quem anda
às ordens de quem manda
já cheira que tresanda
não anda nem desanda
não anda nem desanda
não anda nem desanda
A vida de quem cresce
a pensar que a merece
não esquenta nem aquece
nem sequer arrefece
nem sequer arrefece
nem sequer arrefece
(A-A-E-I-O...)
(A vida de quem anda...)
A vida de quem chora
à espera duma aurora
que leve a noite embora
bem perde pla demora
bem perde pla demora
bem perde pla demora
(A-A-E-I-O...)
(A vida de quem anda...)
A vida de quem cata
pulgas numa barata
é tão longa e tão chata
não ata nem desata
não ata nem desata
não ata nem desata
(A-A-E-I-O...)
A-A-E-I-O bate na neta quem bateu n'ávó
A-A-E-I-O bate na neta quem bateu n'ávó
A-A-E-E-I bate na neta quem bateu em ti
A-E-I-O-U s'a canção não t'agrada, mete-a no..

1- Que força é essa

Letra e música de Sérgio Godinho

Vi-te a trabalhar o dia inteiro
construir as cidades pr'ós outros
carregar pedras, desperdiçar
muita força pra pouco dinheiro
Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Muita força pra pouco dinheiro

Que força é essa
que força é essa
que trazes nos braços
que só te serve para obedecer
que só te manda obedecer
Que força é essa, amigo
que força é essa, amigo
que te põe de bem com outros
e de mal contigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo

Não me digas que não me compr'endes
quando os dias se tornam azedos
não me digas que nunca sentiste
uma força a crescer-te nos dedos
e uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compr'endes

(Que força...)
(Vi-te a trabalhar...)

Que força é essa
que força é essa
que trazes nos braços
que só te serve para obedecer
que só te manda obedecer
Que força é essa, amigo
que força é essa, amigo
que te põe de bem com outros
e de mal contigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo

A Clausura

Ao revés das modas.

''respondeu com os olhos fechados''


Peter Handke. A Mulher Canhota. Tradução de Maria Adélia Silva Melo. Difel., p. 94

A dor é como uma hélice

Só que não vai a lado algum
E é só a hélice que gira.

Peter Handke. A Mulher Canhota. Tradução de Maria Adélia Silva Melo. Difel., p. 93





Por favor, não faça nenhuns projectos comigo.


« - Há tantas galáxias tão longe de nós que a sua luz é mais fraca do que a luminosidade difusa do céu da noite. Gostaria de estar consigo noutro sítio qualquer.
      A mulher respondeu imediatamente: - Por favor, não faça nenhuns projectos comigo.»

Peter Handke. A Mulher Canhota. Tradução de Maria Adélia Silva Melo. Difel., p. 92/3

''Em todas as lágrimas há uma esperança. ''

Simone de Beauvoir
« Por um momento vi toda a minha vida futura claramente à minha frente e enregelei até ao mais íntimo de mim mesma.»

Peter Handke. A Mulher Canhota. Tradução de Maria Adélia Silva Melo. Difel., p. 91
«Eu já nem via nada - em vez de olhos tinha buracos a queimarem. Agora já não dói tanto e a pouco e pouco estou a ver melhor.»

Peter Handke. A Mulher Canhota. Tradução de Maria Adélia Silva Melo. Difel., p. 89

domingo, 26 de abril de 2020


 “Creio no incrível, nas coisas assombrosas / Na ocupação do mundo pelas rosas / Creio que o Amor tem asas de ouro. Amém.”

Natália Correia

obra nataliana

nacionalismo místico-pessoano

Epístola aos Iamitas




Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Letra e música: Zeca Afonso
In: "Cantigas do maio", 1971
“a actuação dos ossos que procuram / o centro de uma casta e eterna fixidez / onde os deuses nos fitam com a frieza das jóias / e a vida nos espera para ressurgir de vez”

Natália Correia 

“No topázio mais triste da minha clarividência”

Natália Correia

“trevos de cinza pela Europa”

Natália Correia

definição dicionarizada

“Retrato talvez saudoso da menina insular''

Natália Correia

O sociólogo Boaventura de Sousa Santos acredita que as pandemias são a punição da natureza, pela sua violação sem limites, não no sentido de vingança, mas de “auto-defesa, para garantir a sua vida”. 3/5 “Sabemos hoje que todas estas grandes formas de mutação que os vírus estão a ter resultam de uma interação cada vez mais invasiva da vida humana na vida não humana. Desde há alguns séculos decidimos explorar a natureza sem limites. A vida humana é 0,01% da vida do planeta, a vida humana é muito pouca, o planeta não precisa de nós, nós precisamos mais do planeta do que ele de nós, e é evidente que temos de mudar o modelo de desenvolvimento e ter outra atenção à ecologia e à natureza”, afirmou.
Boaventura de Sousa Santos considera, pois, que “a primeira mudança que tem de ser feita é esta nova centralidade de um Estado protetor, de bem estar, onde o investimento na saúde publica não seja um custo como tem sido até agora – os cortes foram em praticamente em todos os países - mas um investimento”
“ao contrário do que se dizia nos últimos quarenta anos - que o Estado é ineficiente e que devemos privatizar a saúde, a educação, a previdência social -, vemos que começa uma pandemia e os mercados não existem, são silenciosos”

Boaventura de Sousa Santos


hipercapitalismo

a letalidade

comunidade sofredora

sábado, 25 de abril de 2020


Carqueja-amargosa.

A Baccharis trimera é uma espécie de Baccharis conhecida popularmente como Carqueja ou Carqueja-amargosa.

Família d'as Malheiras

in Carquejeiras. As escravas do Porto - Documentário 

''A Gracinda Manca''

Os molhos da carqueja

« - Não temos salário certo. Dias há que ganhamos 10 escudos e mais. Outros - nem 2.»

in Carquejeiras. As escravas do Porto - Documentário 

''nódoa cívica''

Carquejeiras
As escravas do Porto - Documentário 

Carquejeiras

As escravas do Porto

Calçada das carquejeiras

Estátua mutilada

''pasquim''

jornal sem categoria;

uma qualquer publicação de baixa qualidade

jornais empilhados

''ardinas''

pessoa que andava pelas ruas apregoando e vendendo jornais

polpa dos dedos

comoção

Linótipo

Linotipista

aquele que compõe o texto na tipografia

índole

Tipografia Prudêncio

Bíblia de Mazarino, Bíblia de Gutenberg ou Bíblia das 42 Linhas

Gutenberg ,1456

cunho ou carácter tipográfico

excentricidade

“O princípio que regula as relações sociais entre os dois sexos – a subordinação legal de um sexo ao outro – está em si mesmo errado, constituindo hoje um dos principais obstáculos ao desenvolvimento humano; e que, justamente por isso, deveria ser substituído por um princípio de perfeita igualdade, que não admitisse qualquer poder ou privilégio de um dos lados, nem discriminação do outro.” (MILL, 2006, p. 33.).

Stuart Mill in A sujeição das mulheres advoga.
Inácio Ludgero

A vindication for rights of women

«Mary Wollstonecraft, em 1792, escreveu a carta aberta A vindication for rights of women em resposta a um texto educativo intitulado Émile de Jean-Jacques Rousseau, em que o autor sugere que a educação “feminina deveria ter como objetivo tornar a mulher útil e apoiadora do homem racional” (TODD, 2011). »

sob a acusação de ser contrarrevolucionária

«Olympe de Gouges foi uma escritora e dramaturga francesa que teve grande participação nas manifestações durante o período da revolução em 1789. Além de lutar contra a monarquia absolutista, contra os privilégios feudais e aristocráticos ela introduziu nas manifestações a discussão sobre a necessidade da participação efetiva das mulheres na vida pública e política. Também introduziu a discussão acerca da igualdade de direitos e tratamentos entre homens e mulheres.»

«Em 1793, Gouges é guilhotinada pelo governo francês sob a acusação de ser contrarrevolucionária, por se opor abertamente à Robespierre e de ser considerada uma mulher desnaturada. (GOUGES, 1791.)»
Democracia 46 Anos Depois: 25 de abril


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