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segunda-feira, 13 de julho de 2020



«(...); um rosto de deserção, murcho e contrito: era o rosto , que ela amara, imaturo e pervertido, de um homem, se homem inteiramente se lhe podia chamar, incompleto e desgraçadamente deslumbrado consigo próprio, empolgado por uma intranquila vocação de experiência e de mudança, que lhe não permitia fixar-se em ninguém, em coisa alguma. Estrago com facilidades, desde a infância pródiga, e ainda justo, ainda generoso, mas vacilante, no fim daquela adolescência desbaratada em jogatinas, em bilhetes de cafés, em cinemas de matar o tempo, perdido em colecções de amorios até ao fastio, entre os seios de meninas radiofónicas, de coristas, de americanas estéreis em busca de macho, sem um ideal qualquer, bastante forte para o polarizar.»


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 71/2

domingo, 14 de junho de 2020

''o jogo da dureza tem os seus atractivos.''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 69
«Só depois de a haver beijado e desvendado e de a ter perturbado e revolvido como ninguém até então, com gestos novos e macios, é que ele - só então - se ilhara dela a fumar, resserenado, »

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 55


«Quando as rosas se acabavam, arranjava outras flores, mensagens de segundo grau (do tempo intervalar que menos lhes pertencia), mas onde ainda pudessem encontrar alguma sugestão de carne, ou mesmo de ferida, e de paixão.»


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 53

«À entrada desta rua,

À saída desta estrada,
Terás a rosa de sangue
Qu'inda não foi desfolhada.»


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 53



«; e a vila, que não tinha por costume festejar o filho pródigo, a ele, sim senhor, rendia-se-lhe à sua madracice fantasista, ao seu instinto da gentileza com um grão de insolência.

- Toma, mandei-a vir de Lisboa. Como agora não há rosas... - dizia, com uma suavidade experiente e ambígua de menino de coro, estendendo-lhe a caixa de plástico transparente em cujo fundo dormia uma orquídea roxa e amarela.» 
 Tinha uma palheta de ouro no fundo dos olhos pretos. E era esse  misto de candura e cinismo, só para ela, o que mais a prendia àquele rapaz confessamente egoísta e leviano »

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 50

''vaidade ferida''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 46

''Já a geada lhe picava as mãos.''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 41

terça-feira, 5 de maio de 2020

''caldo de osso''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 37

''com a alma na boca''


Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 36
«O que o confundia nesse olhar dela, que o atravessava, que o ignorava, era a ausência momentânea de ódio, banido pelo afluxo, pela amargura, pelo ardor, de uma irresistível saudade.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 32
«Espevitou os carvões, na braseira que aquele Fevereiro áspero ainda requeria, e, sentindo um calor de sono, de exaustação, começar a possuí-la nebulosamente, abandonou-se, abençoou a brandura desse cair do pano, essa trégua fisiológica que era o melhor dos seus dias.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 31
«Todo ele intumescia nesse apetite de bater, de esmagar, de afirmar a sua justiça, se alguém ousava acicatar-lhe o orgulho, contestar-lhe a autoridade, a razão.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 31
«(...) cuspiu-lhe repetidas vezes para dentro, raivosamente, com um sorriso triste, mole, e falso, de cadela espancada e acovardada.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 30

segunda-feira, 4 de maio de 2020

«E sabia, entretanto, visceralmente que o amava no próprio ódio (que fora o crime a alavanca sagrada desse horrível amor), nesses mesmos predicados físicos e morais que tanto a enojavam.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 29

«Ficou só um castelo de cinza crepitando mansamente, num silêncio de redoma.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 27/8
« A sombra das chamas, como um ninho de víboras, floria de remorso - mas que remorso? - e de saudade absurda a alvura em fuga da parede caiada, apojada de grumos que aquele luzeiro avolumava e que sempre eram, um por um, na hora da solidão, referências aos segredos antigos.
    Uma pequena fogueira num cinzeiro de louça. Apenas um papel a mirrar, já negro, encarquilhado, e sangrando ainda, pelo canto que sobrava, aquele resplendor de uma última e cínica despedida.»

Urbano Tavares Rodrigues. Bastardos do Sol. Prefácio de Claude Michel Cluny. Círculo de Leitores, 1974., p. 27

domingo, 3 de maio de 2020

« nunca fui nem serei camponês. Mas como poeta,
criatura de palavras, com um secreto rosto de feridas
e de estrelas, tenho também sobre esta terra os meus direitos.»

Urbano Tavares Rodrigues, na voz da personagem principal, na novela Terra Vermelha
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