domingo, 10 de janeiro de 2016


«Isso serve para coisas insignificantes, principalmente quando se trata de raparigas, que sempre nos atraiçoam e falam de mais se se vêem aflitas.»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 89

sábado, 9 de janeiro de 2016

«Durante quinze dias tinha-me encerrado no meu quarto, e rodeado dos livros em voga nesse tempo (há dezasseis ou dezassete anos); quer dizer, dos livros em que se tratava da arte de tornar os povos felizes, sábios e ricos, em vinte e quatro horas. Tinha então digerido –ou melhor, devorado – todas as lucubrações de todos esses empreiteiros da felicidade pública -, daqueles que aconselham a todos os pobres que se façam escravos, e daqueles que persuadem de que eles são todos reis destronados. – Não causará pois surpresa que eu me encontrasse então num estado de espírito vizinho da vertigem ou da estupidez.
Parecia-me tão-somente que senti, confinado na âmago do meu intelecto, o germe obscuro duma ideia superior a todas as fórmulas de boa dona de casa de que eu tinha recentemente percorrido o dicionário. Mas não era mais que a ideia duma ideia, qualquer coisa de infinitamente vago.
E saí com uma grande sede. Pois o gosto apaixonado das más leituras engendra uma proporcional necessidade de ar puro e refrescos.
Quando ia a entrar num botequim, um mendigo estendeu-me chapéu, com um desses olhares inolvidáveis que derrubariam os tronos, se o espírito agitasse a matéria, e se os olhos dum magnetizador fizesse amadurecer as uvas.
Ao mesmo tempo, ouvi uma voz que murmurava ao meu ouvido, uma voz que logo reconheci; era a um Anjo bom, ou dum bom Demónio, que me acompanha para toda a parte. Visto que Sócrates tinha o seu bom Demónio, porque não terei eu o meu bom Anjo, e porque não terei eu a honra, como Sócrates, de obter a minha licença de loucura, assinada pelo subtil Lélut e pelo sábio Baillarger?
Existe uma diferença entre o Demónio de Sócrates e o meu: o de Sócrates só se lhe manifestava para defender, advertir, coibir; o meu digna-se aconselhar, sugerir, persuadir. Esse pobre Sócrates não tinha senão um Demónio proibitivo; o meu é um grande afirmador, o meu é um Demónio de acção, ou Demónio de combate.
Ora a sua voz murmurava-me isto: "Só é igual a qualquer outro aquele que o prova, e só é digno da liberdade aquele que sabe conquistá-la."
Imediatamente, saltei sobre o mendigo. Com um único soco esmurrei-lhe um olho que ficou, num segundo, do tamanho duma bola. Parti as unhas a esmurrar-lhe os dentes, e como não me sentia suficientemente forte, pois nasci delicado e tenho feito pouco boxe, para derrubar rapidamente esse velho, segurei-lhe com uma das mãos o colete do fato, e com a outra agarrei-lhe o pescoço, e sacudi-lhe violentamente a cabeça de encontro à parede. Devo acrescentar que tinha antecipadamente inspeccionado os arredores com um golpe de vista, e que tinha verificado que nesse lugar afastado e deserto me encontrava, havia já algum tempo, fora do alcance de qualquer agente da polícia.
Tendo em seguida, com um pontapé dado nas costas e assaz enérgico para lhe partir as omoplatas, estendido por terra esse sexagenário enfraquecido, peguei num forte ramo de árvore que estava no chão, e bati-lhe com a energia obstinada dos cozinheiros que querem tornar tenro um bife.
De repente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência da sua teoria! -, vi aquela antiga carcaça voltar-se, levantar-se com energia que eu nunca teria suspeitado numa máquina tão singularmente desarranjada, e, com um olhar de ódio que me pareceu de bom augúrio, o malandrim decrépito atirou-se a mim, socou-me os dois olhos, partiu-me quatro dentes, e com o mesmo ramo de árvore malhou em mim como em centeio verde. – Com a minha medicação enérgica, tinha-lhe assim restituído o orgulho e a vida.
Então, eu fiz-lhe muitos sinais para lhe fazer compreender que considerava a discussão como finda, e levantando-me com a satisfação dum sofista do Pórtico, disse-lhe: "Senhor, sois o meu semelhante! Queira fazer-me a honra de partilhar comigo a minha bolsa; lembre-se, se é realmente filantropo, que é preciso aplicar a todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmola, a teoria que eu tive a mágoa de experimentar nas suas costas." »

- Charles Baudelaire , "O Spleen de Paris" (trad. port. da relógio d’Água)
«Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor.»

-Mateus, 9,36

"partimos de noite como dois operários. Assim eu venho para a grande fractura frente ao palácio. A princesa repousa da sua casa, trago-lhe o direito ao abandono nela. É encarregado da obra e da palavra, amigo da bondade e da beleza, o meu cão."
"Primavera Autónoma das Estradas"
- Mário Cesariny
"a vida é bela . comecemos
primeiro: o maior descanso
segundo: a maior liberdade
terceiro: o tratar-se dos pés
quarto: queimar"
-"Primavera Autónoma das Estradas"
- Mário Cesariny
"como é possível construir? individualizar? escolher?; se o corpo é tudo, a morte e os outros factos da vida podem significar? sobre esta areia ambígua, areia ou terra? o teu nome,, Jan, é uma violência, como outro nome qualquer; não sou chamado nem chamo, quando muito ressoam os movimentos dos lábios e das narinas,respirando; o barco de longe cumpre-se como espessura maior, tentativa para atingir o rígido perfil de um barco? ou uma ilha? uma dessas sombras que fizeram delirar os navegadores equivocados da minha pátria?
Jan, Jan, se quantas mortes morto? deste tempo e dia? de uma chuva extemporânea? do pulsar dos musgos? de que inverno antecipado?"
-"O Mensageiro Diferido"
- Rui Nunes
- Regra do Jogo, 1981 (1a Edição)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O MUNDO INTEIRO 
António Hernández 
Tradução de Inês Dias 
Língua Morta (2012)





«Mas eu sentia-me já apaixonado pela caça aos pássaros. Era uma tarefa que me agradava, me deixava independente e não fazia mal a ninguém, senão às pequenas aves. Comprei um bom material, e a conversa com velhos passarinheiros ensinou-me bastante. Ia sozinho para a caça, andava quase trinta verstas em redor, pela floresta de Kstovo, sobre as margens do Volga, onde encontrava os melharucos de Apolo, pequenos pássaros brancos, de comprida cauda e rara beleza, bastante apreciados pelos amadores.»



Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 183

«A primeira vez que conseguiu vender pássaros (...)»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 182

«Sente-se alegre na Primavera e, com a aproximação do Inverno, o seu gentil namorado abandonou-a, sem dúvida por troca com outra, e então o seu coração dolorido sofre.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 182

«Arranquem-me o meu coração e tomem-no

E enterrem-no no meio da neve branca!...»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 182

WC in «Ladies & Gentlemen... Mr. Leonard Cohen» Donald Brittain, Don Owen, 1965


revoada


nome feminino
1. ato ou efeito de revoar
2. bando de aves a voar
3. figurado profusão; grande quantidade

às revoadas
de espaço a espaço, aos magotes, em bando

Mas já fumas a erva-do-diabo?



«E, com um ar triunfante, tirei do bolso um maço de cigarros e acendi um com satisfação.

- Muito bem, assim é que é - disse o avô, observando todos os meus gestos. - Mas já fumas a erva-do-diabo? Não achas que ainda é cedo?»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 173

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

UIVOS AGOIRENTOS


Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 87

UMA TRAGÉDIA NO CEMITÉRIO


Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 78

maciço de urtigas

«- Formiga-leão, formiga-leão, responde ao que quero saber! Formiga-leão, formiga-leão, responde ao que quero saber!»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 74

Chim (David Seymour), Audrey Hepburn with balloons in Davis Park, 1956


belindre


«Tivera as melhores intenções e fora tratado como um cão - um verdadeiro cão. Mas ela havia de se arrepender um dia, talvez quando já fosse tarde de mais. Se ele ao menos pudesse morrer «temporariamente»!


Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 72
« - Oh! Tom! Então não é a primeira vez que estás noivo?
 Vendo-a chorar, Tom desculpou-se:
-Não te apoquentes, Becky! Eu já não gosto dela.
-Gostas, gostas. Sabes perfeitamente que sim, Tom.
  O rapaz tentou passar-lhe o braço em volta do pescoço, mas ela empurrou-o e, virando a cara para a parede, continuou a chorar. Tom tentou de novo, dizendo-lhe palavras meigas, mas continuou a ser repelido. Então, cedendo ao seu orgulho, muito mal disposto, olhando para a porta de vez em quando, à espera de que se arrependesse e fosse ter com ele. Não a vendo aparecer, pensou que podia ser injusto, e teve vontade de fazer nova tentativa de paz. Decidiu e entrou. Becky estava ainda sentada ao canto, a soluçar, de cara para a parede. Tom aproximou-se dela e ficou um instante com o coração confrangido, sem saber o que fazer, até que disse:
-Becky, não me dizes nada?
Mais soluços.
Tom tirou do bolso a sua melhor jóia, a maçaneta de metal de uma tenaz, e passou-a em volta dela para que a visse, dizendo:
-Não queres aceitar isto, Becky?
Ela atirou o presente para ao chão e Tom saiu da escola no propósito de lá não tornar naquele dia.
  Pouco depois, Becky suspeitou da sua intenção. Correu à porta, mas não o viu. Deu a volta ao pátio e, quando se convenceu de que não estava ali, chamou:
-Tom! Vem, Tom!
 Escutou atentamente, mas não teve resposta. À sua roda tudo era silêncio e solidão. Arrependida do que tinha feito, sentou-se e continuou a chorar, mas nessa altura já os outros alunos estavam de volta. Teve de esconder o seu desgosto e calar os lamentos do seu coração, carregado com a cruz de uma triste e longa tarde entre estranhos, sem ninguém com quem desabafar a sua tristeza.»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 68/9

chewing-gum

"Onde há uma empresa de sucesso,
alguém tomou uma decisão corajosa."

Peter Drucker

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Dan Weiner, New Years Eve, Times Square, 1951


«O diabo hoje é o impreciso. Por diabo entendo a negatividade sem resgate, de que não pode vir nenhum bem. Nos discursos imprecisos, na genericidade, na vagueza de pensamento e de linguagem, especialmente se acompanhados de bazófia e de petulância, podemos reconhecer o diabo como inimigo da clareza, tanto interior como nas relações com os outros, o diabo como personificação da mistificação e da automistificação. Falo do impreciso, não do complicado; quando as coisas não são simples, não são claras, pretender a clareza e a simplificação a todo o custo é facilitismo, e é exactamente esta pretensão que obriga os discursos a tornarem-se vagos, ou seja, mentirosos. Em contrapartida o esforço de tentar pensar e exprimir-se com a máxima precisão possível justamente perante as coisas mais complexas é o único comportamento útil e honesto. Conseguir definir as suas próprias dúvidas é muito mais concreto do que qualquer afirmação peremptória cujos fundamentos assentem no vazio, na repetição de palavras cujo significado se gastou devido ao excesso de uso.»

(Italo Calvino, excerto de «Notas sobre a linguagem política», in 'Ponto Final, Escritos sobre Literatura e Sociedade', tradução de José Colaço Barreiros,Teorema Editora, 2003)

Um poema de Ana Duarte


A Minha Saia


A minha saia é debruada de
dentes brancos
— saia rodada com pregas
e esconderijos que se abrem
sobre os precipícios da infância


É uma saia alta como janelas
remendada pelas mãos cuidadosas dos amantes


Debaixo da minha saia há
uma caixa com botões e olhos
que encontrei no leito seco dos caminhos
há um girassol que me aquece
o farelo e o sal dos ossos
há uma colmeia e o crescente negro
da sombra a roçar os joelhos


Há o riso dos velhos


Som de cordas, velas de moinho,
fábulas e exércitos balançam
dentro da minha saia
quando danço


Debaixo da minha saia há também casas
onde recolho o vento, e delas se avista
o pescoço curvo de dois bois mansos
alisando o pasto


Rodo o corpo e a minha saia aponta para o sul
baixo-a para desenhar círculos na poeira
ergo-a para atravessar o rio
na hora em que
a maré sobe
sobe
sobe
sobe


em Criatura, nº 6, Lisboa: Núcleo Autónomo Calíope da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Novembro de 2011, pp. 9-10.

Eddie Redmayne in The Danish Girl.



Um poema de Vítor Nogueira



Dança

A conversa é sobre quem somos
e o que queremos. Não devíamos brincar assim
com facas. De onde vêm estes homens?
Por que fazem estes gestos?

Às vezes a vida é uma dança estruturada.
Tipos que nos deixam aproximar um pouco mais
cada dia que passa. Nunca sabemos
qual deles se vai abaixo a seguir. E onde.

Enquanto a dança vai e vem, escondemos o medo
com isto: fragmentos das nossas memórias,
energia fornecida à tempestade,
o cheiro a tabaco retardado.

em Mar Largo, Lisboa: &etc, 2009, p. 18.

Um poema de Wu Ki


O cavalo sedento bebe de qualquer água,
o pássaro faminto come de qualquer grão.
Ao homem novo e forte que a miséria acossa,
que outra cousa lhe resta senão tornar-se bandido?


em Mesa de Amigos, versões de poesia por Pedro da Silveira, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 35.

Versões

Gostaria de descrever

Gostaria de descrever uma emoção simples
como alegria ou tristeza
mas não como os outros fazem
socorrendo-se de restos de chuva ou sol

Gostaria de descrever uma luz
que começa a nascer em mim
mas que sei não se assemelhar
a alguma estrela
pois não é tão brilhante
nem tão pura
e é incerta

Gostaria de descrever coragem
sem arrastar atrás de mim um velho leão
e também ansiedade
sem entornar um copo de água

para dizê-lo de outra maneira
desistiria de todas as metáforas
em troca de uma palavra
retirada do meu peito como uma costela
uma palavra
nascida dentro das fronteiras
da minha pele

mas aparentemente isso não é possível

e só para dizer – amo
eu ando às voltas como um louco
à procura de mãos cheias de pássaros
e a minha ternura
que apesar de tudo não é feita de água
pede água para a cara

e a raiva
diferente do fogo
pede-lhe emprestado
o tom eloquente

está tudo obscuro
está tudo obscuro
em mim
que homem de cabelo grisalho
irá separar de uma vez por todas
dizendo
isto é a essência
e isto é a matéria

adormecemos
com uma mão debaixo das nossas cabeças
e com a outra em inúmeros planetas

os nossos pés abandonam-nos
e entram na terra
com as suas pequenas raízes
que na manhã seguinte
arrancamos com dor


Zbigniew Herbert, «I would like to describe», em The Collected Poems: 1956-1998, Ecco: 2007.
versão de manuel a. domingos

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Quem semeia ventos...

Entroncamento de azaradas coincidências

«uma lenta aristocratização»

Escrevia Fernando Pessoa, há quase cem anos atrás:

«A nossa civilização corre o risco de ficar submersa como a Grécia (Atenas) sob a extensão da democracia, de cair inteiramente nas mãos dos escravos, ou então de ficar como Roma, não nas mãos de imperadores filhos do acaso e da decadência, mas de grupos financeiros sem pátria, sem lar na inteligência, sem escrúpulos intelectuais e sem causa em Deus.»

"Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
como almirante em vez de sensação?..."

-"Amar É Pensar: Antologia de Poemas de Amor"
- Fernando Pessoa
"Temos de fingir que toda esta crueldade não significa nada. Lavamos o sangue com baldes de água gelada e caiamos as nossas paredes."

Tony Gerber
"Quando alguém desce, abaixo do campanário, os degraus, então o silêncio é vida; pois quando o corpo é vida; pois quando o corpo a tal ponto se destaca, depressa se forma uma figura do homem. As janelas de onde tocam os sinos parecem portas da beleza. Sim, as portas, parecendo ainda natureza, são à imagem das árvores da floresta. A pureza, que é simplicidade, é também bela."

-"Pelo Infinito"
- Friedrich Hölderlin 

domingo, 3 de janeiro de 2016

''psicanálise do fogo''



«(...) As pessoas são como são! Umas são inteligentes, outras são imbecis. Tu deverias ler os livros, em vez de andares para aí a tagarelar. Nos livros, naqueles que são bons, tudo deve estar explicado.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 167

«(,,,) e, de repente, o medo invadiu-me.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 164

« - O Senhor disse que o homem devia sofrer, então, que sofra! Não podes fazer nada, é esse o seu destino...
   Escuto essas palavras com dissabor, exasperam-me: não posso suportar a infâmia, recuso-me a aceitar que sejam desconfiados, injustos e malcriados comigo; sei perfeitamente que não mereço tal atitude. »

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 162


acabrunhamento


«Precisamos de ter piedade das pessoas, são todas infelizes; a vida é dura para toda a gente...»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 161

Marianne Breslauer - Self-Portrait (1933)


«Os homens podem fazer-nos enlouquecer, meu amigo, eles podem...Eles atacam como os percevejos, e acabou-se! Não há nada a fazer, são verdadeiros percevejos! Ou pior do que percevejos!...»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 161

«Tinha vontade de chorar, as lágrimas borbulhavam no meu peito e queimavam-me o coração; sentia-me realmente mal.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 139

UMA CARRAÇA CORREDORA E UM DESGOSTO

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 63

Elliott Erwitt, Bratsk, Siberia, 1967


«Então sentiu o coração despedaçar-se, teve ciúmes, zangou-se, chorou e odiou toda a gente. Tom era o mais detestado, pensava ela.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 40

«Uma certa Amy Lawrence desapareceu do seu coração sem deixar atrás de si o mais leve rasto. Pensara amá-la até à loucura, julgara a sua paixão uma espécie de idolatria, e agora via que não passava de uma simples inclinação. Levara meses a conquistá-la e, quando, uma semana antes, se decidira a aceitá-lo, julgara-se o rapaz mais feliz do mundo. Acontecera isto há uns escassos sete dias quando, ali, num instante, ela deixou de fazer parte da sua vida, como uma estranha que tivesse passado por ela.»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 26

FEITOS DE GUERRA E AMOR

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 24
«Se eu fosse rico, mandava-te frequentar a escola. Um homem sem instrução é como uma besta de carga: só serve para puxar a charrua e para o matadouro, só sabe agitar a cauda...»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 146

« - Porque metes medo a toda a gente, se és tão boa pessoa?»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 146

« - A estrela adormeceu.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 145
« O cigarro ao canto da boca continua a arder; num gesto feito com a língua, puxa longas fumaças e o seu rosto quase desaparece no meio do fumo. Por vezes, parece-nos que adormeceu; páro de ler e observo o maldito livro, que me enche o coração de angústia.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 139

«É preciso sempre saber excitar as mulheres - explica Iakov para Serge e Máximo, que o escutam com toda a atenção e têm um aspecto corado.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 138

Edward Hartwig, Lublin - Brama Krakowska, 1930



«A morte é obra de Deus; o ponto onde Deus toca no Homem.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 284/5

de martírio em martírio



« O espírito é uma ave carnívora que jamais cessa de ter fome, que devora a carne e a faz desaparecer, assimilando-a.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 277

« - Foi assim que tu quebraste o meu coração, Senhor! Não quero viver mais!»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 274

sábado, 2 de janeiro de 2016


«Os seus lábios tinham-se azulado.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 268

«Mas então eu era forte. Não me vejas como sou agora, envelheci, consumi-me, estou encarquilhado como uma passa. Mas naquele tempo o meu sangue estava em ebulição, não podia ficar de braços cruzados. A oração não me acalmava o suficiente. Deitei-me ao trabalho. Fiz caminhos por onde viemos fui eu que os construí. Fi-los - era o meu ofício, para isso é que eu tinha nascido.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 267

«O seu rosto corara. Acabava de se lembrar que se libertara do mundo e sentia-se imensamente feliz.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 267

Deus é «fogo que arde».


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 266


« - Padre Pacómio, como imaginas tu Deus?
Ele olhou-me, interdito, e depois de reflectir um pouco respondeu:
-Como um pai que ama os seus filhos.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 265

«Gritavam, esganiçavam-se, mas nenhum deles conseguia convencer o outro.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 263

«Só no deserto nascem as almas selvagens e indómitas que se rebelam contra o próprio Deus, se mantém de pé perante ele, e o seu espírito brilha quase consubstanciado no de Deus. E Deus vê-os e admira-os porque neles o seu sopro não se corrompeu nem se rebaixou, tornando-se homem.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 263

« Ao romper do dia levantei-me. Tinha pressa de ir para o deserto.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 263

"À minha volta reprovava-se a mentira, mas fugia-se cuidadosamente da verdade."

 Simone de Beauvoir

nefelibata



adjetivo de 2 géneros
1. que não tem o sentido das realidades
2. (escritor) que cultiva a forma em demasia

nome de 2 géneros
1. pessoa que anda nas nuvens, longe da realidade
2. escritor que cultiva exageradamente a forma, fugindo aos processos literários simples e conhecidos

abracadabras mágicas

panaceia

nome feminino
1. planta imaginária a que se atribuía a virtude de curar todas as doenças
2. figurado remédio para todos os males

O toque de Midas

David Lynch - Eraserhead


«Claramente preocupada com os tempos sombrios que se avizinham, uma idosa senhora inquiriu-me sobre como proteger-se de eventuais larápios. Talvez reforçando as portas e janelas, alvitrou. 
 "Sim, respondi, essa será uma medida que, com grande grau de probabilidade, a porá a salvo dos ladrões menos perigosos.
 " Ah, espantou-se ela, então e os mais malfazejos e ferozes? "
"São os profissionais, minha senhora. Esses entram-lhe em casa a qualquer hora, sem passar por porta nem janela."
"Mas entram por onde, então?"
"Ora, é fácil: entram pela televisão."»

Via Dragoscópio.

proxenetismo

''Liliput rilhafolesca''

locupletar

conjugação
verbo transitivo e pronominal
1. tornar(-se) rico; enriquecer
2. tornar ou ficar completamente cheio; saciar(-se); encher(-se)

Dentro de um fardo maior que o corpo.

"I never got to make that transition from little girl to young woman... and that really screws you up."

Natalie Cole

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015


''O cérebro alimenta-se de informação; a alma, de afecto.
Vivemos na era da informação. Quando chegará a do amor?
Tenhamos esperança; e trabalhemos de mão dadas para a construir.
E é tudo o que aprendo (e aprendi) na vida – quando, ao nascer do sol, te olho docemente.
De outro modo, é a banalidade das coisas e a insipidez dos seres.”

António Coimbra de Matos
Pinhal do Banzão, 14 de Janeiro de 2007
“Um corpo que não sonha é como uma casa desabitada – a ruína é o seu destino.”

António Coimbra de Matos

"Sobre a minha carne passa, grave de amor, a mesma língua que salva na minha velhice e acordo
envolto em coágulos de sombra
e da noite desprende-se
uma flor negra e húmida de pranto."
-"Ardem as Perdas"
- Antonio Gamoneda

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015



« - Ouvir-me-ás sempre em cada uma das tuas fugas.
-Nunca fugi. Avanço por toda a parte abandonando tudo aquilo que amei e o meu coração está dilacerado.
- Até quando?
-Até atingir o cume. Lá repousarei.
-Não há cume. Há apenas altitudes. Não há repouso. Há apenas lutas. Porque arregalas os olhos de espanto? Não descobriste ainda? Julgas que eu sou a voz de Deus? Não, sou a tua própria voz. Viajo contigo, não te deixo. O céu me livre de te abandonar! Um dia em que te encolerizaste deste-me um nome e eu conservo-o porque me agrada: a minha companheira, é a Víbora.
    Calou-se. Tinha-a reconhecido e o meu coração endureceu. Porquê temê-la? Viajámos sempre juntos. Comemos e bebemos os dois nas mesas do exílio, sofremos juntos, gozámos ambos as cidades, as mulheres, as ideias. E quando carregados de despojos, cobertos de feridas regressamos à nossa confortável cela, esta víbora aferra-se em silêncio na minha cabeça, enrosca-se no meu cérebro, esparsa-se pelo meu crânio porque é lá o seu antro, e, juntos, evocamos, sem falar, tudo o que vimos, e ardemos em desejos de ver tudo o que nos falta ver.
    Sentimo-nos felizes por verificar que o mundo, visível ou invisível, é um mistério profundo, impenetrável. Profundo, incompreensível, para lá da inteligência, do desejo, da certeza. Discutimos, eu e a minha companheira, a Víbora, e rimo-nos por sermos tão cruéis, tão ternos, tão insaciáveis, rimos desta insaciabilidade e pouco nos importa saber que uma noite acabaremos por jantar um punhado de terra e ficaremos saciados.
    Que alegria, ó alma do homem, ó companheira Víbora, viver, amar a terra, olhar a morte e não ter medo!»



Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 262
« Um riso terrível rebentou à minha direita, à minha esquerda, dentro de mim.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261
« - Pensaste que era indigno ir mais além. Chamam abismo àquilo que se não pode vencer. Não há abismo, não há fim. Há apenas a alma do homem e é ela que dá o nome a todas as coisas, conforme é cobarde ou corajosa.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261

Nikos Kazantzakis with his wife Eleni, at their house Maison Rose in Antibes, South France. 1948.


« - Cheguei ao fim e no fim de cada caminho encontrei sempre o abismo.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261

«Mas, de repente, o silêncio tornou-se voz e a minha alma pôs-se a tremer.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

«Cada um deles tinha pressa em falar para se sentir aliviado.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 257

«Deus é um estremecimento; uma doce lágrima.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 255

«Eu seguia cheio de alegria olhando as pedras terríveis das quais tinham nascido as suas virtudes: a vontade, a obstinação, a pertinácia, a resistência e, mais que tudo isso, originara um Deus, carne da sua carne, fogo do seu fogo, ao qual eles gritavam: - Dá-nos de comer! Mata os nossos inimigos! Leva-nos à Terra Prometida!»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 252

1899, Painting Class in a School Room by Frances Benjamin Johnston


Powered By Blogger